Editorial – edição 79

jomar78

O telefone tocou e do outro lado da linha o homem se apresentou com uma voz firme, dizendo-se um leitor da Panorama da AQÜICULTURA. Falou que eu não o conhecia, mas que tinha um convite a me fazer, adiantando que ficaria muito honrado se eu o aceitasse. A seguir pôs-se a falar do seu passado, contando-me que sempre atuou na comercialização de pescados, e do seu desejo de fazer algo para impulsionar as vendas da tilápia processada. Pus-me a escutar, mas cá comigo, só lembrava que eu já tinha assistido a esse filme antes.

A medida que a conversa evoluía, porém, foi dando pra perceber que o sonhador do outro lado da linha sabia vender o seu peixe e parecia estar seguro do que estava dizendo. Desliguei sem saber exatamente o que pensar, mas prometi a ele que faria tudo para aceitar o tal convite que era, nada mais nada menos, que estar presente em uma reunião em Londrina, na qual ele pretendia juntar todos os processadores de tilápia que hoje operam no País.
O sujeito estava apostando alto, pensei, medindo o tamanho do desafio que era atrair, de uma hora para outra, pessoas de vários estados até Londrina. E por quê Londrina? Bem, até hoje não sei direito.

Muitos e-mails e telefonemas depois, me peguei sentado na sala de reuniões de um confortável hotel londrinense, e junto comigo, pasmem, estavam presentes os representantes de 24 empresas processadoras de tilápia. Não é que o cara havia conseguido?!

Os detalhes do que aconteceu lá, vocês terão oportunidade de ler nesta edição. Mas o que me encantou nessa história toda foi a determinação do Carlos Roberto Floriani, um filho de Brusque – SC, como gosta de ser reconhecido, pertinaz nos seus 45 anos, possivelmente da mesma forma como foi na sua adolescência. Para encurtar: o Floriani, acabou sendo eleito por unanimidade o primeiro presidente da AB-Tilápia, a recém criada Associação Brasileira dos Processadores de Tilápia.

É claro que muita água ainda vai passar por debaixo dessa ponte, mas senti que um importante elo da cadeia produtiva da tilápia começou a se fortalecer, graças a iniciativa dele e de todos os que atenderam ao seu convite. Só me vinha na cabeça que foi esse mesmo setor que ficou por muitos anos, de mãos atadas, vendo passar na sua porta os caminhões levando sua matéria-prima para os pesque-pagues, esperando as sobras para processar. Dá dó lembrar das processadoras que quebraram no meio da década passada levando junto com elas o sonho de tantos. O tempo parece solucionar pacientemente as coisas, e é melhor que seja assim.

Para terminar, quero desejar aos leitores um Feliz Natal e um próspero Ano Novo, já que a próxima edição só será distribuída em janeiro do ano que vem. Assim, aproveito a oportunidade também para compartilhar a boa impressão que experimento, neste momento, ao olhar a aqüicultura brasileira, apesar dos desacertos, tropeços e frustrações de muita gente. Coisas de um país grande, onde existem muitos consertos a serem feitos nas leis, na forma de se trabalhar e no coração dos homens.

A todos uma boa leitura e a determinação necessária para um 2004 de muita prosperidade.

Biólogo e Editor