Editorial – Edição 85

O IBAMA divulgou recentemente as estatísticas da pesca e da aqüicultura em 2002. Nunca consegui entender porque o órgão insiste em divulgar anualmente as estatísticas da produção aqüícola, já que ele próprio não coleta dados no campo, se restringindo, apenas, a manusear informações de instituições que, sabe-se lá porque, também não movem uma palha para coletar as informações da produção aqüícola, e ainda assim insistem em divulgar números. Parece coisa de doido…

Apesar do documento ter a austeridade e a frieza que convém a um relatório estatístico, alguns detalhes nos levam a desconfiar de que estamos diante de dados sem nenhuma consistência. Consta, por exemplo, que a aqüicultura continental brasileira produziu exatas 180.173 toneladas de pescados em 2002, 15,1% a mais que no ano anterior. Seriam esses números um enorme chute, resultantes do somatório de vários chutinhos?

Tudo indica que sim. Se consultarmos os dados oficiais da Emater-PR, uma das raras exceções no rigor da coleta de dados de produção aqüícola no país, vamos ver que em 2002 o Paraná produziu 18.239 toneladas e não as 23.113 que constam nas estatísticas do IBAMA. Causa também estranheza as 3.800 toneladas de crustáceos de água doce produzidas no Estado do Rio de Janeiro, as 28.815 toneladas de carpas produzidas somente pelo Estado do Rio Grande do Sul, para não falar das 4 de mero, 5 de robalo, 12,5 de tainhas, 1,5 de pescadas e das 5,5 toneladas de carapebas que foram produzidas pela maricultura sergipana.

Tal qual uma mentira, que repetida a exaustão pode se tornar uma “verdade”, logo veremos esses números inconsistentes sendo validados Brasil afora, à medida que forem sendo repetidos nas aberturas das palestras técnicas dos inúmeros seminários de aqüicultura, até serem finalmente incorporados nas estatísticas da FAO, que passará então a ser citada como fonte desses números. Já vimos esse filme antes.

Por ser editor de uma revista especializada há 15 anos, não sei quantas vezes me perguntaram sobre o volume de pescado produzido pela aqüicultura brasileira. Sempre me desculpo e me nego a responder, já que nem eu, nem o IBAMA e nem ninguém, conhece essa resposta, que só saberemos no dia em que uma estratégia séria e confiável for implantada no campo, com a finalidade real de coletar essas informações.

E falando em 15 anos, estamos comemorando nosso aniversário. Quero, agradecer a todos da família Panorama, aos colaboradores e aos patrocinadores, alguns deles ocupando nossas páginas desde os primeiros exemplares.

Olhando para trás nessa longa caminhada, posso até dizer que não foi nada simples, como pode até ter parecido, mostrar os resultados de uma atividade recente, que engatinhou e cresceu junto com a nossa revista. Mas garanto que foi, sim, um grande prazer fazer cada uma das 85 edições, com o firme propósito de publicar notícias e, principalmente, discutir o setor.
Boa leitura a todos.

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor