Editorial – Edição 89

jomar78

Quando a Panorama da Aqüicultura estampou, em julho de 2004, a manchete: “IMNV o vírus que ameaça a aqüicultura brasileira”, fui severamente criticado por ter usado a palavra “ameaça” na capa da revista, como se a carcinicultura fosse uma entidade imune a ameaças, e não uma atividade zootécnica como as demais, que convive todo o tempo com doenças e formas de combatê-las.

Está fazendo um ano que publicamos esse artigo, escrito pelos pesquisadores do Cedecam/Labomar/UFC, e pela primeira vez abordávamos o IMNV, o vírus causador da NIM, a necrose infecciosa muscular. Na ocasião, minha decisão de trazer o tema para a pauta da revista se deu porque as informações que vinham do campo, falavam de severas mortalidades e grandes prejuízos. Além disso, as empresas de venda e distribuição de insumos já experimentavam uma acentuada queda nos negócios, com uma preocupante inadimplência.
O ano era 2004, e naqueles primeiros meses já era possível antever uma queda significativa na produção, confirmado, agora, pelo censo recentemente divulgado pela ABCC. Passados dois anos, desde o aparecimento em agosto de 2002, dos primeiros casos da doença em viveiros do Piauí, quase nenhum avanço havia sido conquistado para se conhecer melhor a ação do vírus IMNV. Poucos, naquela ocasião, se davam conta de que a NIM, e seu agente causador, o vírus IMNV, eram uma exclusividade brasileira, não tendo sido descritos anteriormente na literatura científica de nenhum outro país. Portanto, nenhum pesquisador estrangeiro havia feito o favor de estudar o IMNV, para nos dar de bandeja todas as informações que pudéssemos precisar para conviver com ele. A indústria do camarão cultivado no Brasil ficou, então, pela primeira vez, refém dos nossos especialistas, e da capacidade deles de gerar informações sobre a melhor forma de produzir com a presença desse vírus. Bem, mas isso já é outro papo…

Hoje, um ano depois de publicada a matéria sobre o IMNV, a NIM segue batendo forte, e ainda pouca coisa se sabe sobre ela, além do fato de que continua atacando, com golpes diretos, o bolso do produtor.
Em palestra recente, Enox Maia, um dos principais formadores de opinião da carcinicultura brasileira, falou que hoje, por conta da NIM, as sobrevivências médias andam ao redor de 45%; as taxas de conversão alimentar próximas de 3:1, e os custos de produção variando de R$ 6,00 a R$ 10,00. Ao falar sobre a necessidade dos carcinicultores partirem para o policultivo do camarão com a tilápia, Enox não deu como justificativa da sua opinião, a presença detectada do WSSV no Nordeste, e sim o vírus causador da NIM. Isso, por si só, mostra que o IMNV é, sem sombra de dúvidas, a maior ameaça que a carcinicultura brasileira já conviveu na sua história recente, mesmo que sejam poucos os produtores que têm a coragem de reconhecer publicamente o que se passa nos seus viveiros.
Agora estamos nos deparando com a descoberta da presença do vírus da mancha branca em viveiros no Ceará. O WSSV, somado ao IMNV-NIM-IHHNV-NHP, incrementa ainda mais a indigesta “sopa de letrinhas” em que estão imersos os camarões cultivados no Brasil. A diferença é que já se sabe muita coisa sobre o WSSV, o que pode servir para tranqüilizar os produtores, além do fato dele estar presente nos viveiros de todos os países que concorrem com o Brasil no mercado internacional.

Mas, e a NIM? Até quando ela vai nos ameaçar? O que está sendo feito, efetivamente, para reduzir o seu impacto no bolso do produtor? Com a palavra os pesquisadores brasileiros.

Uma boa leitura para todos,

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor