Editorial – Edição 90

O cultivo de peixes marinhos tem tudo para ser a próxima fronteira a ser desbravada pela aqüicultura brasileira. Afinal, temos mais de nove mil quilômetros de costa e uma vastidão de águas, o que nos deixa sem entender como ninguém, até hoje, se aventurou a cultivar peixes, ao invés de apenas pescá-los. Além de vasto, nosso litoral está inserido nas faixas tropicais e subtropicais do planeta, longe de tufões, furacões, tormentas e fortes correntes, entre tantas outras vantagens ambientais que fazem inveja a qualquer nação de tradições aqüícolas.

Diante de toda essa vocação para a piscicultura marinha, não cabem justificativas para que o Brasil continue a conviver com o seu baixíssimo consumo per capita de pescados. O nosso potencial para criar peixes em tanques-rede no mar é muito grande. As temperaturas elevadas do litoral nordestino, por exemplo, são excepcionais para engordar comercialmente a maior parte dos peixes marinhos cultivados atualmente ao redor do mundo, inclusive o bijupirá, um peixe cujo cultivo o atual governo, através da SEAP, decidiu apoiar com transferência de recursos públicos para a construção, na Bahia e em São Paulo, de laboratórios para produzir alevinos e tanques-rede para engorda demonstrativa.

O que se espera, além disso, é que o governo não esqueça de fomentar a formação de mão de obra especializada e a geração de novos conhecimentos a partir de pesquisas voltadas para a biologia do bijupirá, sua fisiologia, seus parasitas, seus inimigos naturais, suas necessidades nutricionais e tudo o mais que possa, efetivamente, dar suporte aos primeiros empreendedores. De nada adiantará a simples construção de laboratórios para a produção de alevinos, se não tivermos bons profissionais conduzindo programas de domesticação desse peixe, com tudo o que isso possa significar na prática.

E, para aprendermos um pouco com a experiência de Taiwan, país onde o cultivo do bijupirá já se tornou popular, convidamos Jorge Pan, um engenheiro de aqüicultura recém-formado na UFSC, para contar nesta edição, um pouco da sua recente estada na ilha de Peng Hu, onde trabalhou por três meses em uma fazenda marinha de cobia, nome pelo qual é conhecido o bijupirá na língua inglesa.

Trazemos também uma reflexão sobre a piscicultura na vastidão de águas da Bacia Amazônica; a opinião de especialistas sobre as melhores formas de se produzir camarão na presença de patógenos; uma análise econômica da carcinicultura; uma discussão da viabilidade técnica e ambiental do catfish no Rio Grande do Sul, e tantos outros temas importantes da aqüicultura nacional e internacional. Leitores, aproveitem…Mais uma vez preparamos uma edição com um ótimo conteúdo para vocês.

Uma boa leitura para todos,

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor