Editorial – edição 94

jomar78

Ir ao teatro nem sempre foi um programa onde o público assiste ao espetáculo comportadamente sentado, e que somente ao término da apresentação se manifesta, ou não, com aplausos.

Ao redor do século XVI, as manifestações das platéias eram diferentes das atuais. Os teatros europeus, por exemplo, eram freqüentados por um público ruidoso, disposto a discordar dos autores em cena aberta, muitas vezes aos gritos, que eram algumas vezes acompanhados de objetos jogados nos atores. Tomates e coxas de galinhas voavam agressivamente para expressar a discordância e desaprovação. Os atores, por sua vez, eram treinados para ter um jogo de cintura, ou seria um jogo de cena, para fazer as adaptações necessárias, improvisando ações para levar a peça até o final. Ainda nos dias de hoje, durante as apresentações das óperas, a vaia continua sendo usada em cena aberta, seja para discordar da encenação dos intérpretes, da concepção do diretor, da qualidade da orquestra, ou até mesmo da inspiração do autor. O público freqüentador das óperas é tido como um dos mais exigentes, e não raro, ainda leva a vaia no bolso do colete, da mesma forma que leva balas de hortelã.
A aprovação por seus atos é uma das principais necessidades do ser humano. A reprovação dificilmente é bem-vinda, ainda mais quando vem sob a forma de uma vaia, que denota a reprovação por um grande número de pessoas.

Recentemente o IBAMA foi calorosamente vaiado no plenário da II Conferência Nacional de Aqüicultura e Pesca (II CNAP), ao se mostrar publicamente contrário à criação de um Ministério da Aqüicultura e Pesca, uma proposta que veio acompanhada da transferência de competências que hoje cabem ao IBAMA, e que, no entender dos delegados presentes, devem ser de responsabilidade desse novo ministério.

É muito difícil saber se o Ministério da Aqüicultura e Pesca será criado ou não. Essa resposta depende de uma configuração política que ainda é cedo para prever. Até porque, existem outras estruturas institucionais que podem também gerenciar com seriedade o fomento e o ordenamento sustentável da aqüicultura e da pesca.

A vaia na plenária da II CNAP ainda ecoa nos ouvidos de todos os que lá estavam presentes. O cenário institucional parece que não está do agrado do público, que ao vaiar pediu criatividade aos atores para que mudem o roteiro, pois entendem que o espetáculo está enfadonho e seu fim é previsível demais. De toda forma, um recado muito contundente foi dado: a vaia significou um pedido para que o IBAMA reveja seus conceitos.

A II Conferência Nacional de Aqüicultura é apenas um dos assuntos que trazemos nessa edição. O leitor encontrará nas páginas à seguir, temas de grande interesse, como o uso da branchoneta na alimentação de peixes carnívoros ornamentais; a larvicultura do caranguejo-uçá; o aproveitamento dos resíduos de pescado; o licenciamento de tanques-rede nas águas públicas do Estado de São Paulo, entre outros temas que esperamos sejam do interesse de todos.

Uma boa leitura…

Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor