“O Brasil luta pela conservação ambiental. No Instituto de Biologia/UFBA, as “CONSULTORIAS” atendem as empresas poluidoras, degradadoras e a projetos de Carcinicultivo! Temos que dar um basta e abrir os olhos que está enriquecendo com o nosso nome institucional. Vamos criar a lista negra dos CONSULTORES e sua empresa que funcionam, clandestinamente, no seio da UFBA! Chega de ataques na imprensa a nossa instituição – ELA É SAGRADA!” (texto original)
E. Q. (Professor da Universidade Federal da Bahia).
A mensagem acima foi enviada para uma lista de discussão, por um professor universitário, revoltado com a carta da ABCC, em resposta ao documento “Carta de Fortaleza dos Povos das Águas”, gerado durante um seminário ambientalista. Ao ler o quase “grito de guerra” desse professor, fiquei preocupado com a liberdade de expressão, com o futuro dos pesquisadores brasileiros e com os rumos que as discussões acerca da carcinicultura estão tomando. Até porque, tenho reparado que a palavra “enfrentamento” vem sendo utilizada sem a menor parcimônia pelos que se autodenominam “ambientalistas”.
Assim que li o texto, me veio a imagem de um pesquisador tendo que medir cada uma das suas palavras, para evitar que ele ou mesmo a sua instituição venham a figurar em alguma “lista negra”. Lembrei-me então, do macartismo, um movimento conservador, surgido nos EUA na década de 50, também conhecido como “Caça às Bruxas”. Em nome dos valores democráticos, o senador republicano Joseph McCarthy desencadeou uma feroz campanha anticomunista, que levou dezenas de artistas, produtores e intelectuais à falência, ao desespero, e alguns até ao suicídio. Muitos entraram na “lista negra” do senador McCarthy, apenas por serem suspeitos de pertencer ao Partido Comunista ou de simpatizar com os ideais socialistas. Foram anos de horror. Na ocasião, os suspeitos de exercerem atividades antiamericanas, tinham suas correspondências violadas, podiam ser presos e muitos, sob pressão, eram obrigados a se manifestarem publicamente a favor das causas conservadoras. Uma das vítimas mais conhecidas dessa campanha foi Charles Chaplin que, perseguido pelo FBI por causa dos seus filmes humanistas, acabou deixando os Estados Unidos em 1952.
Não acho que os enfrentamentos e as “listas negras” sejam a solução. Ao contrário, acho que as pessoas em geral e, especialmente os pesquisadores, deveriam ter total liberdade para pensar, pesquisar e apresentar os argumentos que lhes cabem, frente às dúvidas sobre esse ou aquele tema. Aliás, estudos sérios e fundamentados parecem ser o melhor caminho para o entendimento. E isso, é claro, não vai ser possível se os pesquisadores temerem viver no ostracismo, usando um chapéu de burro escrito “inimigo da natureza” e uma estrela amarela costurada no peito com a inscrição “sou um idiota, apoiei a carcinicultura”.
Para que você fique ainda mais por dentro dessa polêmica, publicamos nessa edição as duas cartas que geraram a manifestação desse professor. Nas próximas páginas estão também excelentes artigos, um deles – o de capa – sobre as pesquisas brasileiras que buscam alternativas para a carcinicultura, desta vez, com a utilização de um sistema com troca zero de água.
A todos, boa leitura.
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor