Lendo o Boletim Pesca e Mar, do Sindicato dos Armadores de Pesca do RJ, me chamou a atenção um comentário a respeito de um livro de Jeremy Rifkin, chamado “Além do Bife: Ascensão e Queda da Cultura do Gado” (Beyond the Beef: The Rise and Fall of the Cattle Culture), ainda não publicado no Brasil. Segundo o autor, a carne vermelha deve ser eliminada do cardápio das sociedades humanas contemporâneas. E vai mais longe: a carne vermelha é uma ameaça à sobrevivência ecológica e econômica da humanidade. Rifkin argumenta que há 1,3 bilhões de bois e vacas no mundo, ocupando 24% das terras úteis do planeta, com um peso coletivo superior ao dos humanos. A crescente população bovina afeta diversos ecossistemas, destruindo habitats em seis continentes, sendo um dos principais fatores para a destruição de florestas tropicais e de desertificação. Além disso, o gado consome cerca de um terço de toda safra de grãos do planeta, enquanto um bilhão de pessoas sofrem de fome crônica e desnutrição. Em decorrência, milhões de humanos no mundo morrem de doenças provocadas por excesso de carne vermelha. São as doenças da riqueza: derrames, ataques cardíacos e câncer. Para Rifkin, o gado poderá continuar sua parceria com o ser humano, mas apenas fornecendo leite, couro e força animal.
Os argumentos de Rifkin reforçam ainda mais o que já sabemos a respeito dos males provocados pelo excesso de consumo de carnes vermelhas e nos remete mais uma vez a importância do consumo dos pescados, cujas proteínas além de serem de qualidade superior são mais adequadas ao consumo humano.
Mas, como anda o consumo de pescados no Brasil? Nesta edição, através de um artigo de José Roberto Borghetti, ficamos sabendo que os pescados representam 7,5% de toda a produção global de alimentos, sendo atualmente a quinta maior fonte, perdendo apenas para o arroz, produtos florestais, leite e trigo. Ficamos sabendo também que dessa quinta fonte, o brasileiro consome apenas 6,4 quilos por ano, uma dos mais baixos consumos per capta de pescados do mundo e, mesmo mesmo assim, porque gasta anualmente US$ 228,00 milhões com a importação dos pescados que não consegue produzir.
Mas nem tudo está perdido. Também nesta edição, ficamos sabendo que bastariam 21 km2, ou apenas 1% da área das represas do Estado de São Paulo, utilizadas com o cultivo em tanques rede, para se produzir 63 mil toneladas de peixes, 30% a mais do que as 50 mil toneladas desembarcadas pela pesca comercial em São Paulo.
Felizmente a aqüicultura brasileira, mesmo não sendo prioridade nesse país, consegue crescer e ter vida própria. Salve o aqüicultor, responsável por este milagre, que hoje parece se divertir abastecendo pesque-pagues, para o deleite de um grande, e até então desconhecido, contingente de pescadores esportivos. Quem sabe um treino puxado para uma missão de amanhã, muito maior e muito mais nobre: alimentar com qualidade a população brasileira com pescados produzidos aqui mesmo. À todos, uma boa leitura.
Jomar Carvalho Filho
Biólogo e Editor