Efeito do MacroGard no desempenho de produção de tilápias do Nilo submetidas a estresse metabólico por carboidratos da dieta

A intensificação da produção de peixes e camarões se tornou uma atividade necessária para otimizar os ciclos de produção, produzindo maior biomassa em áreas cada vez mais restritas. No entanto, o processo de intensificação aumenta a dependência por rações de melhor qualidade, que atendam às necessidades em macro e micronutrientes necessários para o desenvolvimento e saúde dos animais.


Sabe-se que hoje em dia o custo com as rações em sistemas intensivos de cultivo de peixes pode representar até 70% dos custos de produção, portanto, a redução dos níveis de proteínas e lipídios na ração e a substituição parcial por carboidratos (CHO) podem tornar a ração mais acessível (Kabir et al., 2020). O amido é um polissacarídeo com alta disponibilidade, e preço relativamente baixo, utilizado em dietas para peixes como fonte de energia objetivando estimular a ação poupadora de proteínas e lipídios do catabolismo (Ma et al., 2019). Por outro lado, alguns estudos recentes demonstraram que dietas ricas em CHO podem induzir a doença hepática gordurosa em peixes (Luo et al., 2020).

A β-glucana (βG), encontrada naturalmente na parede celular de leveduras está entre os prebióticos mais utilizados na aquicultura, reconhecida pelo efeito em respostas imunológicas, aumento da resposta vacinal, cicatrização de feridas, sobrevivência em desafios patogênicos, bem como no crescimento dos peixes. Embora contenha mais de 60 artigos científicos publicados com o MacroGard (β-1,3/1,6 glucanas purificadas com 60% de concentração) em peixes, nenhum estudo avaliou seu uso potencial como possível redutor nos estoques de lipídios, bem como, seus efeitos nas enzimas metabólicas ligados à ingestão de carboidratos em peixes. Portanto, o objetivo do estudo realizado pela Msc. Thaise Mota sob orientação do Prof. Dr. Leonardo Takahashi foi investigar se a β-glucana apresentaria a capacidade de atuar no crescimento e na redução dos distúrbios metabólicos causados pelo excesso de gordura no fígado em tilápias do Nilo alimentadas com alto teor de carboidrato.

O experimento foi realizado no Laboratório de Tilapicultura do Centro de Aquicultura da Unesp, campus Jaboticabal. O delineamento experimental foi em arranjo fatorial 2 x 4, com dois níveis de amido (CHO-L 270 g kg-1 e CHO-H 620 g kg-1) e quatro níveis de β-glucana Macrogard® (0,0; 1,0; 3,0 e 6,0 g kg-1), com quatro repetições por tratamento. Juvenis de tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus), com peso inicial de 25,4 ± 0,8 g foram distribuídos em 32 tanques de 200-L (11 peixes/tanque), em sistema fechado de recirculação de água. Os peixes foram alimentados com as dietas experimentais até a saciedade aparente, em duas refeições diárias, por 77 dias.

A inclusão do MacroGard promoveu aumento no ganho de peso diário das tilápias do Nilo (P<0,05), em que, a inclusão de 1 g kg-1 obteve melhor média (Tabela 1). Além disso, foi possível observar que houve interação entre os fatores MacroGard e carboidratos (P<0,05).

Tabela 1.* Desempenho de crescimento de juvenis de tilápia do Nilo após 77 dias de alimentação com diferentes doses de MacroGard e carboidratos na dieta

A concentração de triglicerídeos mais elevada foi observada nos peixes que receberam a dieta contendo alto carboidrato sem a inclusão do MacroGard (Tabela 2). No entanto, a inclusão de 1 g kg-1 do produto foi suficiente para atuar na redução das concentrações deste metabólito em ambos os teores de CHOs (P<0,05) (Tabela 2). Além disso, o Macrogard também foi capaz de reduzir o índice hepatossomático nas tilápias do Nilo.

Tabela 2.* Reserva energética e índice somático de juvenis de tilápia do Nilo após 77 dias de alimentação com diferentes doses de MacroGard e carboidratos na dieta

Os resultados obtidos demonstraram melhor crescimento dos peixes alimentados com níveis elevados de amido, e quando houve a inclusão de 1 g kg-1 do MacroGard as respostas de desempenho dos juvenis de tilápias foram potencializados. Sabidamente as β-glucanas atuam na microbiota intestinal (Meena et al., 2013), sendo esses ingredientes alimentares não digeríveis, atuando como um prebiótico, beneficiando o hospedeiro a promover crescimento e atividade de bactérias intestinais. Dessa forma, as glucanas possivelmente proporcionaram melhor digestão e utilização de nutrientes ao atuar na microbiota benéfica, produzindo enzimas digestivas no trato gastrointestinal (Dawood; Koshio; Esteban, 2018). 

A glucana é reconhecida e consolidada no mercado como imunomodulador, porém, com os resultados inéditos obtidos nesse estudo, foi possível verificar que o MacroGard também possui efeito metabólico, atuando na redução dos estoques lipídicos, já que promoveu redução do índice hepatossomático e triglicerídeos. Dietas contendo altos teores de carboidratos resultam em excesso de glicose que pode estar relacionado a lipogênese, que ocorre quando há sobra de energia, e essa energia será estocada. Assim, esse excesso pode promover gordura corporal e visceral, contribuindo para a perda da qualidade da carne, devido ao processo de rancificação, podendo reduzir o tempo de prateleira do peixe e alterar a textura. Outro ponto negativo é que a gordura ao acumular-se principalmente na cavidade abdominal, reduz a porcentagem do rendimento de filé, afetando o valor comercial do peixe. Fatores esses que resultam em sistema imunológico enfraquecido, alta mortalidade e baixa qualidade dos peixes cultivados, consequentemente causando perdas econômicas.

Os mecanismos envolvendo o efeito benéfico da glucana ainda são desconhecidos na lipogênese em peixes, mas resultados obtidos com glucanas derivada de cereais em humanos diz estar relacionado à formação de soluções altamente viscosas no intestino (Rondanelli et al., 2009; Khoury et al., 2012).

Conclusão: A inclusão de 1 g kg-1 do MacroGard foi suficiente para potencializar as respostas de crescimento e capaz de reduzir triglicerídeos e índice hepatossomático, atenuando os distúrbios metabólicos causados em tilápias do Nilo alimentadas com alto carboidrato.


Referências Bibliográficas

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MEENA, D. K. et al. Beta-glucan: an ideal immunostimulant in aquaculture (a review). Fish physiology and biochemistry, v. 39, p. 431-457, 2013.

RONDANELLI, M.; OPIZZI, A.; MONTEFERRARIO, F. The biological activity of beta-glucans. Minerva medica, v. 100, n. 3, p. 237-245, 2009.