Entrevista: Adilon de Souza

O Ministro Marcus Vinicius Pratini de Moraes dá posse ao novo presidente da ABRAq Adilon de Sousa

ABRAq ressurge com novas propostas


ABRAq – Associação Brasileira de Aqüicultura reúne entre seus associados, membros de todos os setores da aqüicultura nacional. São pesquisadores, estudantes e produtores de peixes, camarões, rãs, mexilhões, ostras e algas, que estão, desde o último SIMBRAq ocorrido em Florianópolis-SC, sob a presidência de Adilon de Souza, sociólogo e pequeno aqüicultor em Rubiataba (Goiás), eleito em plenário, para o biênio 01/02. Em 5 de abril passado, em cerimônia inédita e bastante concorrida, realizada no auditório do Ministério da Agricultura, Adilon de Souza e grande parte da sua diretoria, tomou posse da presidência da ABRAq em ato presidido pessoalmente pelo Ministro Pratini de Moraes, numa demonstração explicita da importância que tem para o seu ministério, os caminhos pelos quais deverá passar o desenvolvimento da atividade aqüícola nacional. Do novo presidente espera-se uma estratégia que vença a grande crise por que vem passando a associação, em parte advinda da sua dificuldade em integrar os diversos segmentos da aqüicultura, bem como pela pouca participação do setor produtivo. Adilon, no entanto, demonstra intimidade com os inúmeros problemas com que a ABRAq vem convivendo e está seguro de que, entre os principais pontos fracos detectados, está a própria atuação da associação, restrita a ser uma representante dos pesquisadores que mantém pouca representatividade nas esferas governamentais e empresariais. Adilon frisou porém, que para assumir um cargo de presidente de uma associação é preciso ser otimista e lembrou que se a ABRAq possui entraves, possui também muitos pontos fortes como o fato de congregar membros de uma atividade emergente que já reúne os setores produtivos, de pesquisa, da extensão, e a indústria. Apesar de criticada e desacreditada por muitos, é inegável o papel da ABRAq no atual cenário da aqüicultura nacional e, assim sendo, sua função de porta voz dos aqüicultores brasileiros junto aos responsáveis pela política aqüícola nacional se reveste de grande importância. Com os leitores da Panorama da AQÜICULTURA, as novas idéias da ABRAq através do seu novo presidente.


Panorama – A aqüicultura em geral, e não só a ABRAq possuem uma série de pontos que precisam ser atacados urgentemente. Quais os pontos prioritários e o que os associados devem esperar da atual diretoria?

Adilon de Souza – A ABRAq está tentando priorizar suas ações de implantação do plano estratégico – aquacenários 2001-2006. Algumas propostas têm sido elaboradas pela sua diretoria, entre elas a reestruturação da associação, de forma que haja uma real integração entre os aqüicultores, comunidade científica, profissionais liberais e demais entidades que atuam na aqüicultura brasileira. Pretendemos estimular o desenvolvimento de Programas de Capacitação, realizar um diagnóstico completo da situação da atividade em nosso país, bem como incentivar o associativismo e a parceria com entidades públicas e privadas, particularmente com o Ministério da Agricultura e do Abastecimento e as municipalidades de todo o país, vez que nestas se constrói o Brasil. A ABRAq deseja também promover eventos que possibilitem a expansão, a divulgação da atividade e, ainda, o engajamento efetivo dos elos integrantes da cadeia produtiva. Irá dinamizar canais de comunicação; se empenhará em obter atualização tecnológica e, para isso, procurará participar de fóruns nacionais e internacionais. Em poucas palavras, vai verdadeiramente integrar-se no agronegócio brasileiro e cooperar na organização das cadeias produtivas da aqüicultura.

Panorama – A atual diretoria sabe das reais dificuldades que irá enfrentar?

Adilon de Souza – A atuação da ABRAq tem sido restrita nos últimos anos, e com pouca representatividade nas esferas governamentais e empresariais. É preciso, antes de tudo, definir sua função, já que a associação não possuía diretrizes claras. Isso decorre em pouca atração junto aos associados, cuja participação dos produtores é ainda pequena. Falta atuação e articulação em todos os elos da cadeia produtiva. É preciso se inter-relacionar com todos os setores, e também atualizar seu cadastro. Sabemos que o País é extenso, o que facilita a falta de comunicação entre os estados. Por outro lado, a ABRAq não tem recursos, nem para garantir seu funcionamento. Precisamos de verbas para mobilizar o setor organizado em todos os níveis (federal, estadual, municipal) e assim abranger todos os ramos profissionais da atividade. Nosso maior desafio será profissionalizar a atuação da ABRAq.

Panorama – Foi com o objetivo de reunir pesquisadores da área de aqüicultura que a ABRAq foi fundada e, historicamente, ela é um fórum de pesquisadores não sendo muito atrativa para o setor produtivo. O que fazer para atrair o produtor?

Adilon de Souza – Para começar, sugere-se que seja feita ampla divulgação do Plano Estratégico da ABRAq junto às instituições públicas e privadas, mas de forma especial nas entidades de produtores que integram as cadeias produtivas da aqüicultura. Para isso serão realizados Fóruns Regionais sobre aqüicultura a fim de divulgar e implantar nosso plano estratégico, a discussão de questões relevantes e a consolidação de articulações em torno do plano de ação da ABRAq. Vamos também promover os estudos sobre a demanda dos produtos da aqüicultura, desenvolver um programa de marketing e o selo de qualidade para produtos da aqüicultura. Isto terá forte influência na comercialização desses produtos e certamente estimulará a participação do setor produtivo na ABRAq e vice-versa. Lembrando sempre que a forma como agimos influencia, positiva ou negativamente, o funcionamento da cadeia produtiva. Nenhum elo é suficiente por si mesmo, todos são necessários e interdependentes. O produtor somente se filiará à ABRAq se, realmente, esta representar e defender seus reais interesses.

Panorama – Falando em produtos, hoje existe um clima favorável aos produtos aqüícolas, mas para que esses produtos cheguem com qualidade e com a freqüência necessária à mesa do consumidor é preciso que haja uma organização do setor, de forma a poder oferecer ao mercado atacadista quantidades com periodicidade confiável, fato que ainda não está estruturado na atividade. É tempo de associativismo e cooperativismo para competitividade, escala, etc… Como a ABRAq vê este momento pelo qual a aqüicultura está passando?

Adilon de Souza – É preciso regularidade e padrão da produção e da comercialização para se conquistar e, sobretudo, ampliar e manter mercado. Existe uma pulverização de diversas associações, mas falta reconhecimento oficial do setor. A aqüicultura é tratada ainda como uma atividade informal o que gera um setor desorganizado e desunido. Há falta de participação das bases na tomada de decisão das organizações que envolvem o setor, a assistência técnica não é suficiente, e nem sempre qualificada e muitas doenças estão relacionadas à produção. A associação pretende estimular a implantação da APPCC – Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, da ISO 14.000 e de outros sistemas de gestão pela qualidade nas cadeias produtivas, e criar selo de qualidade dos produtos da aqüicultura. Tudo isso junto a um bom plano de marketing vai ajudar a colocar o produto nas prateleiras.

Panorama – Na aqüicultura de hoje não há mais espaço para amadorismos. É preciso saber aproveitar as oportunidades, melhorar os processos produtivos e gerenciais, de forma a se obter resultados compartilhados por toda a cadeia produtiva. Como a ABRAq vê esta questão?

Na recepção da posse do novo presidente da ABRAq. Adilon de Souza, o Ministro Pratini de Moraes serve-se de um tambaqui cultivado e especialmente preparado para ele
Na recepção da posse do novo presidente da ABRAq. Adilon de Souza, o Ministro Pratini de Moraes serve-se de um tambaqui cultivado e especialmente preparado para ele

Adilon de Souza – Muitos projetos falham porque seus gestores olham para dentro apenas, descuidando de uma premissa cada vez mais verdadeira: desenvolver um negócio é olhar para fora, onde está o cliente e suas necessidades ou também ver além, antevendo e abrindo mercados, como novas fontes de oportunidades, sem nunca perder o foco. Lá estarão os aquacenários à espera dos empreendedores. Qualificação é fundamental, especialmente na implantação da aqüicultura empresarial, na qual interessam os conhecimentos voltados para estratégias, interesses e necessidades dos clientes. Se neste novo milênio, o conhecimento é a principal ferramenta, com certeza a educação é o melhor processo para consegui-la. Nesses novos aquacenários, o conhecimento é a força motriz que possibilitará a empresa e pessoas conquistarem e manterem mercados, lidando melhor com os riscos e desafios da nova economia mundial. É preciso talento para tornar a aqüicultura uma boa oportunidade de negócios. A aqüicultura empresarial é uma atividade emergente e plena de potencialidades mas não tem ainda, como um todo, uma expressão econômica, a representatividade política e o reconhecimento merecido dos governos (Federal, Estadual e Municipal) para figurar no primeiro plano de suas preocupações. Virar esse jogo é tarefa e desafio basicamente nossos e não só do poder público. Aqüicultura é negócio com possibilidades e riscos, como qualquer atividade empresarial, exige muito profissionalismo, compromisso ético e competência na sua gestão.

Panorama – Para isso é preciso que se tenha uma visão da aqüicultura como um todo, como uma cadeia produtiva…

Adilon de Souza – Claro. Não ter uma visão sistêmica e uma compreensão da realidade de toda a aqüicultura interfere na qualidade das decisões, das medidas e também no aproveitamento das oportunidades ou na superação das ameaças e riscos. Temos que tomar, como base, o todo – a cadeia produtiva da aqüicultura – para montar o processo de resolução dos problemas de nossa atividade. Pretendemos que essa visão sistêmica, adotada pela nova ABRAq, funcione como um catalisador do agronegócio do pescado, acelerando o desenvolvimento integrado e sustentado da atividade, comprometendo a todos os elos da cadeia produtiva.

Panorama – A restrição ao crescimento da aqüicultura é muitas vezes devido à falta de uma legislação específica e da não regulamentação da legislação existente.A ABRAq atuará visando uma legislação pertinente?

Adilon de Souza – Acredito que a aqüicultura deve ser desenvolvida com a consciência da preservação ambiental e, para que se transforme numa atividade com sustentabilidade é preciso a participação dos associados, cujos representantes estaduais desempenham um importante papel. É possível fortalecer a sustentabilidade até como pressuposto da rentabilidade. As associações já existentes deverão contribuir trazendo para atual diretoria sugestões de questões como legislação, impacto ambiental e outras de igual importância. A ABRAq deverá ter como missão, a liderança do desenvolvimento sustentável e competitivo da aqüicultura brasileira e, como princípios a cooperação, o comprometimento com a ética e com o profissionalismo desenvolvido com a sustentabilidade e com qualidade de vida.

Panorama – A atual estrutura organizacional da ABRAq é constituída de um Presidente e Vice-Presidentes, de um Conselho Consultivo, um Conselho Fiscal e Diretorias Setoriais. Essa estrutura será mantida nesta gestão?

Adilon de Souza – Não pretendemos isso. Temos um “Plano de Reestruturação” que estuda a criação da “CONAQUA – Confederação Brasileira de Aquacultura” e ativará rapidamente a constituição das “FEAQUAs – Federações de Aquacultura Estaduais”, como por exemplo a FEAQUA – Mato Grosso, a FEAQUA – São Paulo, etc… Nas localidades e nas microrregiões serão criadas as Federações de Aquacultura pelas Associações Locais de Aquacultores e/ou de piscicultores. Essas Federações serão formadas obedecendo aos seguintes critérios: 1º – Será constituída uma Coordenação Estadual quando o estado tiver, efetivamente, pelo menos 5 associações locais ou microrregionais, com um mínimo de 100 sócios inscritos nelas; 2º – Criada a coordenação, se iniciará o processo de sua estruturação; 3º – Quando o número de associações atingir o mínimo de 10 associações, com o mínimo de 200 sócios, será realizada a Assembléia Geral dessas associações e se criará a FEAQUA – Federação de Aquacultura.

Panorama – Como se darão as afiliações?

Adilon de Souza – Os sócios, pessoas físicas somente, poderão se filiar em associações locais c/ou microrregionais. A contribuição anual estipulada para o ano 2001 será de R$ 54,00. Poderá ser parcelada em 2 ou 3 pagamentos de R$ 30,00 ou de R$ 20,00, respectivamente, sempre através de cheque nominal, de boleto bancário ou depósito, diretamente à conta da ABRAq no Banco do Brasil. O rateio do valor dessas contribuições será feito obedecendo as seguintes proporções: para a ABRAq 40% e para a FEAQUA 60%, que, por sua vez, repassará 50% deste valor à Associação sediada no município de residência do associado. Caso não exista uma Associação na localidade de residência do Associado, a parcela de 50% será destinada à AMAQUA – Associação Metropolitana de Aquacultura ou, na inexistência desta, este percentual pertencerá à respectiva FEAQUA.

Panorama – E as Associações de âmbito nacional, elas se filiarão à ABRAq?

Adilon de Souza – Sim, até que seja criada a CONAQUA. Criada a CONAQUA, as suas inscrições serão, automaticamente, transferidas pela ABRAq para aquela sem qualquer ônus. Serão, pois, mantidas e fortalecidas essas associações que, somadas às FEAQUA, comporão a CONAQUA. A contribuição anual das afiliadas terá o valor de R$ 180,00 no ano 2001, depositada na conta corrente da ABRAq, podendo ser dividido em 2 ou 3 parcelas mensais de R$ 90,00 ou de R$ 60,00, respectivamente. A receita gerada pela afiliação dessas instituições será assim rateada: para a ABRAq 40% e para a FEAQUA 60%, que repassará 50% deste valor à associação de piscicultores de aqüicultura sediada no município-sede da Associação. Esses 50% serão repassados à FEAQUA do Estado-sede da respectiva Associação de âmbito nacional.

Panorama – As empresas e/ou outras instituições admitidas e integrantes de quaisquer dos segmentos da cadeia produtiva de pescado se filiarão à ABRAq, até que seja criada a CONAQUA?

Adilon de Souza – É isso mesmo. A contribuição anual dessas empresas e/ou instituições terá o valor de R$ 180,00 no ano de 2001, depositada na conta-corrente da ABRAq e a receita gerada pela afiliação dessas empresas e/ou instituições será rateada para a ABRAq 40% e para a FEAQUA 60% que repassará a metade deste valor à Associação sediada no município-sede da empresa e/ou instituição. Caso não exista uma associação na localidade-sede da empresa e/ou instituição, essa parcela (30%) será destinada à Associação Metropolitana de Aquacultura (AMAQUA) ou na inexistência desta, toda a parcela de 60% pertencerá à respectiva FEAQUA.

Panorama – Diante dessas modificações, o que acontece com os sócios atuais da ABRAq?

Adilon de Souza – Os sócios pessoas jurídicas seriam transferidos, automaticamente, para a CONAQUA, sem qualquer ônus, observadas as normas acima fixadas. Os sócios pessoas físicas seriam transferidos para as respectivas Associações de seus locais de residência, seja AMAQUA (Capital de Estado) ou a Associação Local ou Microrregional competente.

Panorama – Quando se dará a criação da CONAQUA e onde será a sua sede?

Adilon de Souza – A CONAQUA foi apenas sugerida e somente será criada em Assembléia Geral de, pelo menos, 10 (dez) FEAQUAs e das Associações de âmbito nacional. Sua sede será em Brasília – DF.

Panorama – Infelizmente nos últimos anos a ABRAq acabou por perder sua importância no cenário da aqüicultura brasileira e acabou lamentavelmente sendo esquecida pelos associados. Os associados porém devem ter em mente que uma associação é fruto da participação de todos que dela fazem parte. Uma nova ABRAq é um grande desafio para a atual diretoria e a Panorama da Aqüicultura deseja boa sorte a todos aqueles que, de fato, estejam interessados no restabelecimento da associação.

Adilon de Souza – Muito obrigado, em nome de toda a diretoria da ABRAq. O endereço da ABRAq é: Av. Anhanguera, 1.077 – Setor Leste Universitário – CEP: 74.610-010 – Goiânia – Goiás. Telefax: (62) 209-1329 email: [email protected]