Entrevista: Ricardo Martino

Word Aquaculture Society elege um brasileiro como presidente

Os resultados das últimas eleições da Sociedade Mundial de Aquicultura (World Aquaculture Society – WAS) para o biênio 2011-2012, apontaram pela primeira vez um brasileiro para ocupar o cargo de presidente da mais importante associação de aquicultura do mundo. Ricardo C. Martino ([email protected]) é biólogo, com mestrado em Fisheries Science/Aquicultura, pela Tokyo University of Fisheries e doutorado em Bioquímica de Alimentos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. De 2004 até 2006, foi presidente do Capítulo Latino Americano e Caribenho da WAS e, atualmente, ocupa o cargo de Chefe da Unidade de Tecnologia do Pescado da FIPERJ – Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro. A Revista Panorama da AQÜICULTURA felicita o novo presidente eleito da WAS e aproveita para desejar-lhe, de público, o melhor para sua gestão, pois há muito trabalho pela frente, já que teremos o evento da WAS acontecendo em 2011, em Natal (RN), ocasião em que Martino tomará posse. Aproveitamos esse espaço também para reproduzir uma entrevista feita através de uma troca de e-mails entre o novo presidente da WAS e o editor da Panorama da AQÜICULTURA, Jomar Carvalho Filho. Na ocasião Ricardo Martino se encontrava em San Diego, por ocasião do Aquaculture 2010, um dos eventos da WAS.


Jomar Carvalho Filho: Você já tinha a idéia de um dia ser presidente da WAS, ou foi algo que nunca planejou?
Ricardo Martino: Sim, já havia concorrido duas vezes, após ter sido presidente do Capítulo Latino Americano e do Caribe da WAS, tendo perdido por pouquíssimos votos. Na realidade, não basta querer ser candidato, mas sim, ser nomeado pelo Comitê Executivo da Sociedade e ter então seu nome referendado para concorrer à eleição. Eu acho que meu desempenho como presidente do Capítulo Latino Americano e Caribenho me credenciou para esta nomeação.

Jomar Carvalho Filho: O que o motivou a disputar a presidência da WAS?
Ricardo Martino: As motivações foram muitas, mas a principal foi o incentivo e o apoio dos colegas de profissão do Brasil e do exterior, bem como da minha instituição, a FIPERJ (Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio de Janeiro). Ela e todos os colegas serão os meus grandes parceiros nesta caminhada.

Jomar Carvalho Filho: De que forma um brasileiro à frente da Sociedade Mundial de Aquicultura pode trazer benefícios para o desenvolvimento do setor, no país?
Ricardo Martino: Como presidente da WAS, a minha visão tem que ser mais global. Mas, em minha opinião, a minha eleição é uma resposta positiva da comunidade internacional ao trabalho que vem sendo feito no Brasil, tanto pelo setor acadêmico, como pelo setor produtivo. Se a capacidade dos profissionais brasileiros não fosse reconhecida, eu com certeza não teria sido eleito.

Jomar Carvalho Filho: Quais são as prioridades da sua gestão e quais devem ser os próximos passos da WAS?
Ricardo Martino: As minhas prioridades foram discriminadas na minha cédula de votação. Uma maior interação com o setor produtivo e com Sociedades regionais e um forte apoio aos Capítulos regionais da WAS. Um forte apoio aos estudantes que são o futuro da aquicultura, também se encontra entre minhas prioridades. Entretanto, como outras prioridades poderão ser incluídas quando da minha posse no evento em Natal (RN), no ano que vem.

Jomar Carvalho Filho: Qual é a sua expectativa com a realização no Brasil, do maior evento da aquicultura mundial?
Ricardo Martino: Você é testemunha do meu esforço para trazer o WAS 2011 para o Brasil. Eu acho que podemos reeditar o sucesso da WAS 2003, em Salvador. É óbvio que muitas coisas mudaram desde aquele ano, por exemplo, a situação da carcinicultura brasileira, que era fantástica na ocasião, e hoje, apesar de uma excelente recuperação, ainda está longe daquele patamar. Por outro lado, hoje temos o Ministério da Pesca e da Aquicultura, que não existia em 2003. Além disso, a experiência obtida na organização do WAS 2003 irá contribuir muito para o sucesso do WAS 2011.

Jomar Carvalho Filho: Como você avalia o crescimento da aquicultura nos últimos anos?
Ricardo Martino: A aquicultura mundial vem crescendo de forma robusta, com cerca de 9% ao ano, que é uma taxa fantástica, se comparada com outras indústrias de produção de alimento. Obviamente que a crise mundial afetou todo o comércio internacional e, com a aquicultura, não foi diferente.

Jomar Carvalho Filho: Como você avalia o atual momento da produção aquícola no Brasil?
Ricardo Martino: Como eu disse antes, a criação do Ministério da Pesca e da Aquicultura foi extremamente positiva. Sem dúvida precisávamos  de um órgão para regulamentar o setor e fazê-lo se representar junto aos demais órgãos governamentais, lutando pelos nossos interesses. O cultivo de camarão começa a se recuperar após alguns anos de perdas consideráveis causada por vários fatores. O surgimento de novas empresas internacionais no mercado nacional, como algumas de produção de rações é um indicador bastante positivo.  

Jomar Carvalho Filho: O que os produtores brasileiros encontrarão de novo durante o próximo evento?
Ricardo Martino: O próximo evento se realizará de 06 a 10 de junho de 2011 com o tema “Aquaculture for a changing world”. Nele os produtores irão encontrar o que existe de mais moderno para a produção aquícola e também os melhores profissionais do setor. Especialistas nacionais e internacionais estarão proferindo palestras em sessões especialmente preparadas para o setor produtivo. Algumas palestras internacionais, principalmente aquelas dirigidas aos produtores serão traduzidas simultaneamente em algumas salas para o português. Em suma, o WAS 2011, tanto abrangerá o setor acadêmico, como o produtivo.

Jomar Carvalho Filho: Os eventos da WAS em outros países contam com uma forte participação dos estudantes. Como você pretende aproximar a Associação dos estudantes brasileiros? Qual o papel da WAS na atração das novas gerações para a aquicultura? O que pode ser feito para que este diálogo seja agilizado e ampliado?
Ricardo Martino: O congresso conta com um comitê exclusivo para estudantes. A participação de estudantes no WAS 2003 foi um dos pontos mais marcantes. Muitos daqueles estudantes tornaram-se profissionais do setor da aquicultura. A WAS tem uma grande preocupação com os estudantes, estimulando a criação de comitês específicos. Em todos os congressos temos uma recepção exclusiva para eles, que são o futuro da aquicultura. Na realidade teremos um preço especial para os brasileiros, da mesma forma que foi no WAS 2003. Os valores já estão acertados e estarão disponibilizados para todos os brasileiros em breve.

Jomar Carvalho Filho: O que a indústria de insumos e serviços pode esperar da Feira de Produtos & Serviços que acontecerá paralela ao WAS 2011 no Rio Grande do Norte?
Ricardo Martino: Eu acho que a feira será um grande sucesso. A FENACAM que ocorre todos os anos em Natal, e que já se consagrou como um importante evento para a indústria aquícola apresentar os seus produtos é a nossa parceira no WAS 2011. Muitos fabricantes estão procurando o estande do WAS 2011 aqui em San Diego, durante o Aquaculture 2010, demonstrando grande interesse em expor aí no Brasil durante a nossa feira. A minha expectativa é a melhor possível, principalmente pelas pessoas que estão envolvidas na organização deste importante evento.