Entrevista: Itamar de Paiva Rocha

 

Panorama – E o futuro da aqüicultura?

Itamar – A aqüicultura é a única alternativa para o crescimento do setor pesqueiro, inclusive, as projeções da FAO apontam para a necessidade de um aumento de 30 milhões de toneladas na produção pesqueira mundial até o ano 2.000, sendo que a pesca extrativa praticamente já atingiu o seu limite máximo sustentável, o que. significa dizer, que caberá a aqüicultura, a grande responsabilidade pelo incremento dessa produção. Desse modo, a aqüicultura, que já vem crescendo a uma taxa de 8, 7 % ao ano, terá que crescer a uma taxa superior a 20 %. Isso, apenas para manter os atuais níveis mundiais de oferta de pescado.

Panorama – E isso será possível?

Itamar – Tenho certeza. Em alguns países a aqüicultura já alcançou grande importância e é interessante citar o exemplo da China, onde a produção da aqüicultura é de cerca de 5 milhões de toneladas/ano, o quegeramaisde 5 milhões de empregos diretos. O mesmo ocorre naAmericaLatina, onde no Equador, através da exploração de 133.000 hectares,foramproduzidas 116.000 toneladas de camarão marinho em 1992, gerando cerca de 200.000 empregos diretos e divisas da ordem de 520 milhões de dólares/ano.

Panorama – Nesse quadro, como fica o Brasil?

Itamar – No contexto geral da produção mundial de pescados, o Brasil não tem qualquer representatividade, inclusive, sua produção de 1.000.000 de toneladas, que já era insignificante em 1985, foi reduzida a apenas 700.000 toneladas em 1993. Isso, em comparação com 6 milhões de toneladas do Perú e Chile e 11 milhões de toneladas da China, Japão e Russia, por exemplo. Apenas a produção de aqüicultura da China é quase 8 vezes a produção pesqueira brasileira, que sem dúvida detém muito mais potencialidade natural para a exploração da aqüicultura do que a China. No entanto, nesses países, o crescimento da produção pesqueira, tanto através da pesca extrativa, como da aqüicultura, está intimamente relacionado com a adoção de políticas setoriais de incentivos e de apoio aos seus desenvolvimentos.

Panorama – A que podemos atribuir essa situação?

Itamar -No Brasil, a despeito do imensurávelpotencialnatural, há muito se ressente de um comando institucional, hierarquicamente forte, capaz de implementar uma política setorial para apoiar e nortear o desenvolvimento da aqüicultura. As atividades empresariais dirigidas ao cultivo de peixes e camarões durante toda a década de 80 foram desenvolvidas em termos apenas modestos, quase incipientes, se comparadas com o ritmo registrado em outras partes do mundo, onde a produção oriunda da aqüicultura, passou a ocupar um lugar de destaque como produto de exportação por excelência. A situação em que o Brasil se encontra pode ser atribuida à falta ou deficiência de uma política setorial; de programas de pesquisa em ciência e tecnologia; de uma política ambiental que compatibilize projetos produtivos com a preservação ecológica,’ de um sistema de intercâmbio tecnológico e de incentivos para atrair investimentos. A sociedade brasileira precisa saber que a experiência acumulada nos países onde a aqüicultura vem mostrando um crescimento acelerado, revela que a exploração de peixes e camarões pode ser conduzida com bom nível de eficiência de emprego de capital, tanto por pequenos como por médios e grandes produtores.

Panorama – Finalmente, muito se tem falado que a aqüicultura é uma atividade impactante ao meio ambiente. Qual a sua opinião a respeito?

Itamar – O aspecto ecológico da atividade, está diretamente relacionado com a preservação do meio ambiente, uma vez que esta atividade necessita de condições hidrobiológicas favoráveis, sendo, portanto, compatível com qualquer programa de preservação ambienta/. Também por sua importância, cabe destacar a capacidade de integração da aqüicultura continental com os demais elementos produtivos do meio rural, em especial com os projetos de agricultura irrigada, em que a água enriquecida de nutrientes e de matéria orgânica decorrente da produção biológica nos viveiros pode e deve ser utilizada na irrigação, racionalizando os meio de produção com reflexos diretos na melhoria dos índices de rentabilidade mal dos diversos segmentos produtivos das propriedades rurais.