Entrevista: Luiz Ayroza

O entrevistado dessa edição 151 é Luiz Marques da Silva Ayroza, Pesquisador Científico da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, que acaba de ser conduzido para o cargo de Diretor de Departamento do Instituto de Pesca de São Paulo, em substituição a Edison Kubo. Luiz Ayroza assume com o objetivo de estreitar a relação com a cadeia produtiva, de aproximar a pesquisa de sua aplicação prática no campo, proporcionando mais tecnologia ao produtor rural. Outras metas do novo diretor são ampliar as condições ao Programa de Pós-graduação e estabelecer parcerias com produtores, universidades e outras instituições. Ayroza é formado em Zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e doutor em Aquicultura pelo Centro de Aquicultura da Unesp de Jaboticabal, sendo especializado em sistema de produção de peixes em tanques-rede.

Panorama da AQÜICULTURA: Edison Kubo ocupou a Diretoria de Departamento do Instituto desde 2002. Como é substituí-lo no cargo? 
Luiz Ayroza:
 É uma responsabilidade muito grande, porque foi uma gestão de mais de 12 anos a frente dessa instituição de pesquisa. Estamos fazendo uma transição muito tranquila, pois tínhamos, além de um contato profissional, um contato de amizade. Eu solicitei que ele ficasse próximo da minha sala, e estamos trocando informações. Aos poucos ele está me passando as suas experiências no cargo.

Panorama da AQÜICULTURA: Você está há 20 anos no Pesca. É isso mesmo?
Luiz Ayroza: 
Estou há mais de 20 anos! Há 21 anos eu estou na região do Vale do Paranapanema, no Polo Regional. Em 1985, quando me formei, fui para o Vale do Ribeira em um programa de apoio a pequena agricultura e, em 1987, entrei no concurso do Instituto de Pesca, quando elaboramos o projeto para a criação do Centro de Pesquisa em Aquicultura no Vale do Ribeira, e lá fiquei até final de 1993. Em janeiro de 1994 me mudei para Assis.

Panorama da AQÜICULTURA: Você assume o cargo com o objetivo claro de desenvolver um trabalho de integração entre o Instituto de Pesca e a cadeia produtiva. Isso é um toque pessoal ou já existe essa política no Instituto?
Luiz Ayroza:
 Isso é uma posição pessoal, mas também um comprometimento com o Secretário de Agricultura e Abastecimento (SAA) Arnaldo Jardim. Procuro exatamente essa integração com o segmento produtivo para saber quais são os anseios do setor e como podemos contribuir da melhor forma para o desenvolvimento da cadeia produtiva do pescado. A intenção é diminuir a distância que existe entre o conhecimento das pesquisas e sua aplicação prática no campo, bem como desenvolver novas pesquisas direcionadas às demandas do setor. Além disso, quero buscar a integração com os polos regionais da APTA, que conta com mais de 18 pesquisadores, a maioria com doutorado em várias especialidades, bem como com as universidades que atuam nesse segmento. Precisamos otimizar estruturas, recursos financeiros e humanos. Também acredito que o caminho sempre foi o desenvolvimento de projetos multidisciplinares e interinstitucionais, ainda mais na atual conjuntura na qual os recursos são escassos. Esse tipo de projeto também facilita a aprovação em instituições financiadoras, como a Fapesp, CNPq, entre outras.

Panorama da AQÜICULTURA: Quantos são os polos regionais da APTA?
Luiz Ayroza:
 Hoje são 14 polos regionais distribuídos no estado, com 19 pesquisadores na área de aquicultura. Quero trazê-los para dentro do Instituto de Pesca, para que possamos fazer projetos integrados em colaboração com os nossos centros temáticos. Além disso, quero trazer também a coordenadoria da defesa agropecuária e a coordenadoria de assistência técnica integral, pois somos todos da SAA e trabalhamos complementarmente.

Panorama da AQÜICULTURA: Nesses anos todos atuando, principalmente, na área de regulamentação e licenciamento, o distanciamento entre a pesquisa e o setor produtivo na aquicultura paulista se mostrou um gargalo?
Luiz Ayroza: 
Sim, eu acho que essa distância é um grande gargalo. Com relação ao segmento produtivo, precisamos reunir esforços e atuar juntos em uma mesma direção. Existem questões eminentemente técnicas, mas existem questões relacionadas ao dia a dia das pisciculturas e aos anseios dos piscicultores. Já a integração com os outros órgãos de pesquisa e extensão é necessária e pode contribuir para facilitar a regulamentação, pois quanto maior a geração de informações e a transferência das mesmas aos produtores, maior será a segurança dos técnicos licenciadores.

Panorama da AQÜICULTURA: O Instituto de Pesca, como uma instituição acadêmica, está indo bem? Existe alguma novidade com relação aos cursos de pós-graduação? 
Luiz Ayroza: 
Você sabe que dos seis institutos de pesquisa da SAA, cinco possuem programa de pós-graduação. Como assumi recentemente, preciso conhecer mais profundamente a instituição, as linhas de pesquisa que estão sendo desenvolvidas nos centros temáticos e o perfil de atuação de cada pesquisador. Eu ainda não tive muito contato com o programa, mas têm projetos excelentes que estão sendo feitos em várias áreas. Então é preciso levar esses resultados para o segmento produtivo. O que pretendo fazer junto com a coordenação da pós é direcionar os novos projetos do programa com foco principal em geração de tecnologia, visando atender, principalmente, a demanda do segmento produtivo. Entretanto, também são necessárias pesquisas básicas, bem como apoio à continuidade de projetos que já vem sendo desenvolvidos com êxito pelos pesquisadores do IP.

Panorama da AQÜICULTURA: Você acha que os trabalhos de finalização dos alunos que fizerem curso no Pesca, vão tender mais ao pragmatismo, a uma coisa mais ligada à cadeia produtiva?
Luiz Ayroza:
 Eu gostaria que isso acontecesse, considero fundamental. Como eu afirmei, preciso conhecer melhor o programa, mas acredito que seja essa a tendência em médio prazo.

Panorama da AQÜICULTURA: Hoje há um movimento bastante organizado do setor produtivo paulista voltado para a regulamentação e licenciamento ambiental da piscicultura. Como é que você pretende lidar com essa organização?
Luiz Ayroza: 
Já venho participando do trabalho que está sendo desenvolvido pelo segmento produtivo na Câmara Setorial do Pescado, ligada ao gabinete do secretário de Agricultura. Nós temos uma câmara setorial muito forte, muito ativa, cujo presidente é o Emerson Esteves, da região noroeste. Nós instituímos há uns quatro meses, uma comissão técnica de regularização que é constituída pelas principais lideranças do segmento, um pesquisador da Apta de Pirassununga e eu, que, no início de novembro, realizamos a última reunião para reformular o Decreto nº 60.582, de 27/06/2014. O que é essa reformulação? Instruímos tecnicamente e ambientalmente uma série de mudanças no Decreto, para que se torne mais factível e menos burocrático para o produtor rural. Também, propusemos que seja mais fácil a elaboração dos projetos e a redução dos valores para a licença prévia, de instalação e de operação.

Panorama da AQÜICULTURA: Na prática, em quanto tempo essas mudanças chegarão ao setor produtivo? O que o produtor pode esperar?
Luiz Ayroza: 
Até o final de novembro o Martinho Colpani, que é produtor e presidente da Comissão, entregará este documento ao Secretário de Agricultura, que irá enfatizar que essas mudanças no Decreto atendem ao segmento produtivo, com o apoio técnico da SAA. As perspectivas são de mudanças em um curto prazo, embora as solicitações ainda precisem ser avaliadas na Secretaria do Meio Ambiente. Mas há um empenho do Secretário e de deputados. O mais importante, porém, é que o setor está organizado em torno desta reinvindicação.

Panorama da AQÜICULTURA: Você acredita que toda a produção paulista poderá se regularizar se for aprovado o documento que está sendo elaborado agora?
Luiz Ayroza:
 Eu acredito que sim. A data para que todos entrem, pelo menos com protocolo de solicitação do licenciamento na CETESB é 27/06/2016. Então, espero que em janeiro a gente já tenha o novo Decreto aprovado para começarmos a divulgá-lo. Incentivaremos o produtor a se regularizar. Se for assim, a perspectiva é de regularização da maioria dos empreendimentos, não só em viveiros escavados, como em tanques-rede em águas da União e em águas estaduais.

Panorama da AQÜICULTURA: O Instituto de Pesca tem uma equipe de pesquisadores que já atuam há muitos anos e brevemente muitos já poderão requerer as suas aposentadorias. Existe alguma expectativa com relação a concursos?
Luiz Ayroza:
 Eu não posso dizer exatamente qual é esse percentual, mas acredito que por volta de 20% dos pesquisadores estão solicitando a aposentadoria no próximo ano e hoje ainda não temos perspectiva de reposição dos cargos nas áreas de excelência que você conhece no Instituto de Pesca. Olha Jomar, existia a perspectiva de um concurso no começo de 2015, mas devido às condições econômicas, não só no Estado de São Paulo, como do Brasil, o concurso foi cancelado. A gente acredita e tem que ser otimista, que a partir do próximo ano vá haver uma reavaliação por parte do governo estadual para efetivar o concurso que, aliás, já está pronto, com toda a parte de regulamentação, número de pesquisadores, áreas de pesquisa, etc.

Panorama da AQÜICULTURA: Queremos lhe desejar sucesso, e deixamos para você as últimas colocações, principalmente para aqueles que estão atuando no Estado de São Paulo.
Luiz Ayroza: 
A característica da nova gestão do Instituto de Pesca será, principalmente, a de aproximação com o segmento produtivo e a integração com outras instituições de pesquisa. Temos quatro centros temáticos no Instituto de Pesca que são: o Centro de Pescado Marinho, o Centro de Pescado de Recursos Hídricos, o Centro de Aquicultura e o Centro de Pescado Continental. Estou iniciando uma avaliação, em conjunto com minha assessoria técnica, de todos os projetos que estão sendo realizados nesses centros, para identificar aqueles que trazem inovações tecnológicas direcionadas às demandas regionais do segmento produtivo, com foco na pequena propriedade, para levar essas inovações ao produtor. Também gostaria de trazer o segmento produtivo para utilizar as infraestruturas existentes no Instituto de Pesca porque os recursos estão muito escassos. Precisamos começar a fazer parcerias e utilizar as infraestruturas que são muito boas, com excelentes e bem estruturados laboratórios. É lógico que alguns precisam de reposições, mas com parcerias a gente vai conseguir equipá-los melhor e otimizar o uso dos mesmos. Existem linhas de financiamento para empresas e também contamos com o apoio de fundações, por meio das quais é permitida a parceria com a iniciativa privada. Só tenho a agradecer o apoio que a Panorama da AQÜICULTURA tem dado ao setor, inclusive na divulgação de pesquisas, e dizer que também conto com sua parceria na nova gestão do Pesca.