Em algumas situações dentro da produção intensiva de peixes, os animais são expostos a fatores estressantes, tais como manuseio excessivo, transporte e adensamento, que induzem a respostas de estresse, com consequências negativas sobre o desempenho produtivo, resposta imune e resistência a patógenos. O uso profilático dos antibióticos tem sido aplicado em pisciculturas intensivas e são amplamente criticados e proibidos em muitos países, por representar problema com segurança alimentar, motivo pelo qual atualmente a ciência está avaliando possíveis alternativas, tais como boas práticas de manejo e o uso de imunoestimulantes.
Na aquicultura, o uso de imunoestimulantes tem sido amplamente utilizado devido à facilidade de sua aplicação. Dentre eles podemos destacar os β-glucanos e nucleotídeos. Os β-glucanos são conhecidos como “modificadores da resposta biológica” devido à sua capacidade de ativar o sistema imunológico através do reconhecimento do não próprio (GANNAM, 2015), sendo um dos imunoestimulantes mais utilizados na aquicultura. São encontrados nas células de levedura e fungos, sendo formados por blocos de glicose unidos por meio de ligações β (1-3) e β (1-6) (COOK et al., 2003). Esses compostos modulam a resposta imune, incluindo a produção de radicais oxidativos de neutrófilos no sangue e na produção de ânion superóxido em macrófagos ativados (PILARSKI et al., 2017), resultando em reduções significativas na mortalidade e aumento nas taxas de desempenho (SÁ, 2020).
Os nucleotídeos são compostos intracelulares de baixo peso molecular, que desempenham papéis-chaves em diversos processos bioquímicos (GIL, 2002). Atuam ainda em inúmeras funções fisiológicas essenciais, codificação de informações genéticas, mediação do metabolismo energético e sinalização celular; nucleotídeos são também componentes de coenzimas, efetores alostéricos e agonistas celulares (LI e GATLIN, 2015). Em peixes seu uso demonstra atuação em respostas imunes, aumentado a resistência frente às doenças, eficácia dos programas de vacinação e aumento da capacidade osmorregulatória (BURRELS et al., 2001; LEONARDI et al., 2003; LOW et al., 2003).
Desempenho produtivo
Em um experimento conduzido no Laboratório de Aquicultura e Ecologia Aquática da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (Campus JK), em Diamantina – MG, em parceria com a Universidade José do Rosário Vellanoas, juvenis de tilápia do Nilo foram alimentadas com β-Glucano (MacroGard, mín. 60% de betas-glucanas purificadas), fonte de nucleotídeos (Biotide extra, mín. 15% de RNA), e a combinação de ambos, tendo sido avaliado o desempenho produtivo, taxa de sobrevivência e resistência frente a desafio por alta salinidade e hipóxia.
Os tratamentos testados foram: Ração Controle – RC (dieta comercial sem suplementação de aditivos); Ração MacroGard – RM (dieta comercial com suplementação de 0,75 g kg-1 de MacroGard); Ração Biotide extra – RB (dieta comercial com suplementação de 2 g kg-1 de Biotide extra) e Ração MacroGard + Biotide extra – RMB (dieta comercial com suplementação de 0,75 g kg-1 de MacroGard + 2 g kg-1 de Biotide extra).
Juvenis de tilápia do Nilo (200 peixes) de um mesmo lote, com peso inicial de 5,16 ± 1,73g, foram distribuídos em 20 aquários de 100 litros, com aeração constante e fotoperíodo controlado, na densidade de 1,0 peixe/litro. O período experimental foi de 60 dias e ao término do período de arraçoamento os animais foram submetidos a dois tipos de estresse: salinidade e hipóxia. Os resultados de desempenho produtivo estão apresentados na tabela 1.
Em relação às taxas de sobrevivência, tanto ao término do desempenho produtivo (60 dias), quanto após o desafio do estresse por salinidade e teste de exposição aérea (hipóxia), os resultados encontram-se nas figuras abaixo.
Discussão
A melhora dos parâmetros zootécnicos em tilápias com a inclusão de B-glucanas e Nucleotídeos corroboram dados da literatura (ARAMLI et al., 2015; RINGO et al., 2011). Esses resultados podem estar relacionados a ação prébiótica da fonte purificada de beta-glucanas (MacroGard) e atuação na multiplicação celular da fonte de nucleotídeos (Biotide extra), consequentemente melhorando a integridade da barreira intestinal contra bactérias e toxinas, além de melhorar o desempenho das vilosidades, que por sua vez, possibilitaram maior absorção de nutrientes com o consequente maior desempenho dos animais.
Mesmo antes da realização dos estudos de desafio ambiental (salinidade e hipóxia), verificou-se que a inclusão dos aditivos Macrogard, Biotide e a associação de ambos na dieta, possibilitou taxa de sobrevivência média de 86,5% em juvenis de tilápia, sendo 38,5% maior comparada a animais não suplementados (53,1%, Figura A). Betas-glucanas e nucleotídeos, conforme elucidado anteriormente, atuam diretamente no sistema de defesa dos animais, estimulando o sistema imunológico e ainda reforçando o crescimento da microbiota nativa dos intestinos (LOVATELLI e CHEN, 2009). Com isso, a adoção de protocolos para a utilização desses imunoestimulantes para peixes permite maximizar sua proteção em situações de estresse (Figuras B e C), evitando o estabelecimento de doenças na criação, contribuindo para melhorar o desempenho zootécnico e sobrevivência dos animais, o que, consequentemente, reduzirá as perdas econômicas no processo produtivo (CHAGAS, 2013).
Considerações finais
A suplementação de juvenis de tilápias do Nilo com Biotide extra, MacroGard ou associação de ambos os produtos demonstrou que os aditivos são importantes ferramentas para serem utilizadas na produção intensiva de peixes. Além de melhorar o desempenho produtivo dos animais, os aditivos proporcionaram maior sobrevivência após situações de hipóxia e desafio por alta salinidade. Testes de desafios são importantes por simularem situações comuns dentro das pisciculturas e, por isso, foram aplicados nesse estudo. Conheça mais sobre o Biotide extra e o MacroGard e entenda como estes produtos podem trazer maior retorno sobre o seu investimento.
