Fenacam 2013 comemora o 10º aniversário com polêmica e palestras de alto nível

5606Por:
Jomar Carvalho Filho

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Itamar Rocha
Itamar Rocha

A 10ª versão da Feira Nacional do Camarão – Fenacam, que aconteceu de 10 e 13 de junho, ficará marcada pelo protesto promovido pelos organizadores, tendo como alvo o Ministério da Pesca e Aquicultura que, pela primeira vez em dez anos, não patrocinou, nem tampouco participou do evento anual, o mais importante da aquicultura brasileira. O protesto foi marcado por fitas adesivas pretas que cobriam a logomarca do MPA em todo material promocional espalhado pelo Centro de Convenções de Natal, fato que a primeira vista deixou congressistas e visitantes num misto de curiosidade e perplexidade. Pessoas ligadas à organização do evento davam a entender que a ausência do MPA foi uma retaliação ao processo judicial movido pela ABCC contra a importação do camarão argentino, numa ação civil pública protocolada na 8ª Vara Federal em Brasília no último dia 27 de maio.

O episódio fez com que, também pela primeira vez em 10 anos, um ministro do MPA não fizesse o pronunciamento na cerimônia de abertura, uma espécie de prestação de contas da atuação da pasta. Quem também entrava no pavilhão da feira de produtos e serviços da Fenacam se deparava com o espaço vazio onde tradicionalmente é montado o estande do MPA. No seu lugar um cartaz adesivado no piso onde se lia “Espaço reservado para o Ministro Crivella apresentar o que vem realizando no ministério pela carcinicultura e piscicultura no Brasil”. Bem longe de Natal, Crivella, nos dias do evento, acompanhado de uma comitiva de empresários, técnicos e parlamentares, visitava Israel para conhecer os avanços da atividade naquele país. Sua assessoria de comunicação, entretanto, no dia seguinte ao término da Fenacam, emitiu nota explicando que “a legítima luta da ABCC, em defesa do produtor nacional, bem como as ações e atitudes de seu presidente, em nenhum momento deram causa à decisão do Ministério de, pela primeira vez, não patrocinar a realização do evento”. Ainda segundo a nota os recursos para o patrocínio foram bloqueados, entre outros motivos, por faltar uma comprovação por parte da ABCC, de que fornecedores contratados para as feiras de 2010 e 2011 não possuíam dívidas previdenciárias ou tributárias de qualquer natureza. Sobre a liberação do camarão argentino a nota esclareceu que o MPA tomou todas as providências e atestou que não há risco para a produção nacional na possibilidade de importação. Disse também que a posição do MPA está alinhada com a política internacional do governo federal e que isso foi reconhecido por decisão da Justiça Federal, que negou, no último dia 12, pedido da ABCC para suspender, por liminar, a autorização de importação. No seu parecer, diz a nota do MPA, o juiz Márcio de Franca Moreira, da 8ª Vara Federal, em Brasília, justificou a decisão, informando que a ABCC não conseguiu provar o alegado risco sanitário à produção nacional e ainda lembrou que o Brasil, como signatário da Organização Mundial do Comércio, não poderia, simplesmente, impor uma “medida discriminatória disfarçada ao comércio inter-nacional, com nítida intenção protecionista injustificada do produto nacional, em detrimento dos princípios de igualdade comercial e do livre comércio entre as nações, estabelecidas pela OMC”. Em resposta, em 21 de junho a ABCC, divulgou uma carta aberta dirigida ao Ministro Crivella intitulada “A verdade dos fatos”, onde rebate todas essas acusações.

Muito aplaudido na cerimônia de abertura da Fenacam, Itamar Rocha recebeu o apoio dos presidentes da Associação Norte Rio-grandense de criadores de camarão, Origenes Monte, e da Associação Cearense de Criadores de Camarão, Cristiano Peixoto Maia. Em seu pronunciamento lembrou que a ABCC fez parte da coordenação da resistência para tirar a aquicultura do Ibama e do Ministério da Agricultura, para transformá-la num ministério forte. Agora, “esse mesmo ministério está querendo acabar com o setor que foi responsável pela sua criação”, disse Itamar antes de denunciar que o MPA, depois de liberar a importação do camarão argentino, está liberando a importação da tilápia produzida em Singapura e já estuda a entrada de tilápia do Vietnã e do Equador.

Especialistas nacionais e internacionais

A programação da Fenacam 2013 contemplou os principais temas que permeiam o dia a dia da aquicultura brasileira. Shirlene Maria Anthonysamy, especialista da Infofish – Malásia, estava entre os 17 convidados estrangeiros que, junto com um time de especialista nacionais, ofereceram mini cursos e palestras. Sua apresentação sobre o panorama atual da indústria do camarão cultivado foi a escolhida para abrir o 10º Simpósio Internacional de Carcinicultura. Segundo Shirlene Anthonysamy, a produção mundial de camarão aumentou de forma significativa na última década, e já atingiu a casa dos 7,5 milhões de toneladas, em 2011. E a boa notícia é que a aquicultura já é a responsável por 55% dessa oferta, sendo o L. vannamei a espécie responsável por 70% de toda produção mundial de camarão cultivado. A Ásia continua, e por muito tempo continuará, a ser a principal região produtora, responsável por 87% dos camarões cultivados no mundo, seguida das Américas, que produzem 13% do volume mundial. China, Tailândia, Vietnã, Indonésia, Equador e Bangladesh foram os seis principais produtores de camarão cultivado em 2011. A má noticia, segundo Shirlene, é que as importações dos três tradicionais mercados de camarão – Japão, EUA e UE registou uma quebra de 7,6% em 2012, em comparação com 2011. As importações de camarão nos EUA oscilaram entre 550 mil e 580 mil toneladas no período de 2007 a 2012. Segundo a especialista, considerando a crise econômica e a escassez da oferta, não se espera aumento dessas importações no futuro próximo. Já na Europa, a persistente crise econômica reduziu a demanda, com uma queda na importação vinda dos grandes fornecedores de camarão. Na Ásia, o camarão cultivado está disponível a preços cada vez mais acessíveis, o que, desta forma, incentiva o consumo interno. Para se ter uma ideia, na Tailândia, o quilo do camarão fresco poda ser comprado a US$ 8.1 (R$ 16,49) e na Malásia US$ 9.6 (R$ 19.50). Mas, segundo a especialista da Infofish, por conta da Síndrome de Mortalidade Precoce (EMS), a previsão deste ano para a produção de camarão em cativeiro na Ásia é bastante sombria. Na América Latina a doença da mancha branca voltou a atingir duramente a produção de camarão cultivado e, coincidentemente, os desembarques de camarões selvagens têm sido decepcionantes ao longo da costa do Pacífico. Por todo o mundo o cenário, de forma geral, é muito dinâmico e cheio de incertezas.

O manejo na fase de berçário passou a ser um dos itens mais importantes quando se deseja uma engorda mais segura e estável. Uma fase de berçário mais prolongada, que pressupõe um povoamento com animais maiores, tem sido a arma mais utilizada para aumentar a sobrevivência na presença de patógenos, visto que a capacidade de defesa dos animais aumenta na medida que crescem. Esse foi um dos temnas abordados por Daniel Arana Braidi, da Bernaqua-InVivo, na sua palestra “Estratégias de manejo de pós-larvas e juvenis para cultivo em sistemas intensivos”, e na de Ed Labord, da Prilabsa, na sua palestra “Berçários intensivos: ferramenta insispensável para a intensificação da produção”.

O surgimento da Mionecrose Infecciosa (IMNV ou NIM) no Brasil, uma doença causada por um vírus, e sua posterior disseminação nas fazendas de P. vannamei da Indonésia, na visão de Grant D. Stentiford especialista da CEFAS do Reino Unido, pode ser visto como símbolo da “lição não aprendida” de experiências anteriores com o comércio sem licença de reprodutores infectados e pós larvas”. A NIM na Ásia já causa prejuízos superiores a 1 bilhão de dólares, o que é, por si só, enorme motivo para que se realize estudos prévios bem aprofundados antes de uma importação. Em sua palestra “Riscos da importação de camarão para os crustáceos nativos cultivados do país importador”, Stentiford discutiu as implicações da lista da OIE para o comércio global de crustáceos.

Bioflocos e os sistemas intensivos foram temas abordados por diversos palestrantes. Tzachi Samocha abordou a produção intensiva em berçários e raceways. Txomin Badiola, da Blue Aqua falou dos cultivos intensivos no Sudeste Asiático. O tema também foi abordado por Santana Junior, que falou de sua experiência com o cultivo intensivo na Acquabrasilis/Aquafarm, aqui no Brasil. Na próxima edição, mais sobre as palestras apresentadas na Fenacam.

A Feira

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A 10ª Feira Internacional de Serviços e Produtos para Aquicultura, atraiu as principais e mais tradicionais empresas do setor, oportunidade em que puderam tanto receber os seus clientes, como conquistar novos consumidores fortalecendo laços de inestimável importância. Muitas dessas empresas são parceiras da Panorama da AQÜICULTURA, entre elas a Alfakit, Artek, Biorigin, Wenger, Ocea, Bernauer, InVivo, Engepesca, Aquatec, Poli-Nutri, Trevisan, Nutriad, Nutreco Fri-Ribe, Fav do Brasil e Escama Forte.

A Fenacam 2014 acontecerá em Fortaleza, quebrando o ciclo de 10 anos em que foi sediada em Natal. O secretário da Secretaria de Pesca e Aquicultura do Ceará (SPA), Ricardo Campos foi incumbido pelo o governador Cid Gomes de representá-lo no evento, e recebeu sinal verde dos gestores municipal e estadual, para negociar a ida do evento em 2014, para a capital cearense. O Governo do Estado do Ceará abrigou em seu estande a Associação Cearense dos Criadores de Camarão (ACCC), a Associação Cearense de Aquicultores (Aceaq) e o Instituto Agropolos. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará-FAEC, Flávio Viriato de Saboya Neto, responsável pela realização do Pecnordeste, também foi a Natal para participar de uma reunião com o presidente da ABCC, onde ficou acertada a mudança da cidade que sediará o evento.

O estande da Nutreco/Fri-Ribe contou com a presença do gerente geral de Aquicultura da Nutreco do Brasil, Marcelo Toledo. Na feira Toledo disponibilizou aos visitantes os programas nutricionais da empresa e os produtos de alta digestibilidade específicos para tilápia, peixes onívoros e carnívoros. Animado com a compra de mais duas unidades fabris até 2016, na Região Centro-Oeste, Marcelo Toledo acredita que a piscicultura deverá crescer 9% ao ano, tendo o pirarucu como a espécie mais importante dos próximos cinco anos. Para a carcinicultura, Toledo está apostando num crescimento anual de 6%.

A Biorigin Brasil, que atua nos mercados de tilápia e camarão, com leveduras fontes de proteína, vitaminas e aminoácidos foi representada pelo seu executivo de negócios para a América Latina, Olavo Silva, que apresentou os projetos da empresa, desenvolvidos em parceria com universidades e institutos de pesquisa. Durante a Fenacam a Biorigin lançou o seu novo produto Protemyc, um adsorvente de micotoxinas, adequado para a aquicultura. A equipe técnica da empresa ficou à disposição dos visitantes para tirar dúvidas quanto aos produtos e apresentar todas as soluções que melhoram as defesas naturais, o desempenho global de produção e saúde intestinal dos animais. Estes produtos foram desenvolvidos para reduzir os riscos de vírus, bactérias e parasitos contribuindo para a redução da mortalidade.

A Presence, uma marca da Evialis, esteve representada por seu gerente de produtos de aquacultura Otávio Serino de Castro, que acredita que a Fenacam é de extrema importância, pois possibilita difundir as novas tecnologias e conceitos de sustentabilidade das marcas do Grupo InVivo. Otávio de Castro aproveitou o ambiente da feira para divulgar a nova linha desenvolvida com foco no cultivo com bioflocos. Segundo Castro a larvicultura brasileira tem apresentado resultados muito positivos e o Grupo InVivo está atento ao segmento. A InVivo foi criada em 2010 e é o fruto da fusão entre a sua Divisão Nutrição e Saúde Animais e o Grupo Evialis. Está presente em 18 países e conta com 5 mil colaboradores.

O gerente Nacional de Aquicultura da Poli-Nutri Alimentos, Pedro Dezen, atendeu e orientou clientes e produtores apresentando os recentes avanços científicos adotados nos programas nutricionais da Poli-Nutri, tanto para carcinicultura como para piscicultura, atividade em crescimento no país e particularmente no Nordeste onde faz investimentos, duplicando a capacidade de produção de uma de suas unidades.

O estande da Trevisan Equipamentos e sua parceira de longa data AquaSystem já é considerado um dos mais visitados da Fenacam. O representante da empresa para todo o Brasil, Nedyr Chiesa, presente em todas as edições anteriores do evento disse que a Fenacam proporciona um ótimo contato com o público, que está cada vez mais segmentado e envolvido com a aquicultura e com o crescimento sustentável do setor.

A Ocea, empresa Chilena que é uma das principais fornecedoras de equipamentos e soluções para a aquicultura, aproveitou a Fenacam para firmar a sua participação no mercado do Brasil. O gerente de negócios da empresa, Oscar Proessel se disse otimista com o setor aquícola brasileiro porque a indústria está crescendo significativamente. Para Oscar, a feira foi uma excelente oportunidade de conhecer quais são as necessidades específicas dos clientes. “Ao ouvi-los e conhecê-los melhor, podemos oferecer um serviço de excelência, que é o que nos motiva”, disse. Além das filiais no Chile, a Ocea está estabelecida em todos os principais mercados da aquicultura mundial.

Os negócios fechados na Fenacam superaram as expectativas da Bernauer Aquacultura, empresa catarinense, também conhecida como Beraqua. Sua gama de produtos incluem aeradores, incubadoras, alimentadores automáticos, medidores de oxigênio, caixas de transporte de peixes e camarões, dentre outros equipamentos indispensáveis no dia a dia. A Beraqua é também distribuidora exclusiva da empresa americana YSI Incorporated, fabricante de aparelhos para o controle e monitoramento da qualidade da água.

André Camargo, diretor da Escama Forte Piscicultura, manteve seu estande cheio, apresentando a diversidade dos produtos que oferece. A empresa, inicialmente produtora de alevinos de tilápia das linhagens Tailandesa e GIFT, e peixes para abate, ampliou sua gama de produtos, entre eles os equipamentos para monitorar a qualidade da água, produtos veterinários, redes, telas e tanques-rede. A Escama Forte representa no Brasil os produtos e sistemas de recirculação da israelense AquaMaof. “O compromisso com a eficiência é uma característica da Escama Forte desde a sua fundação, por isso disponibilizamos ferramentas modernas para garantir toda a satisfação aos nossos clientes”, disse Camargo.

Antonio Carlos Falcão da empresa Artek – Tecnologia em ar, comorava a receptividade da sua linha de sopradores radiais com carcaça em alumínio de 1/2 a 10 HP de potência do motor. Junto a esses, a grande vedete da feira foi o soprador radial acoplado a um motor movido a gasolina, que vai garantir a tranquilidade do produtor nos momentos de falta de energia elétrica. Além disso, fez grande sucesso a linha de difusores de ar por microbolha, capazes de atender viveiros de até 3 hectares.

Representando a Wenger, estavam o diretor de vendas da América Latina, José Maurício Bernardi e o Gerente de Engenharia de Processo para Aquacultura Joseph P. Kearns, que falou em sua palestra sobre os avanços tecnológicos na fabricação para camarão marinho e peixes.