Fenômeno da embolia gasosa volta a matar tilápias nos tanques-rede do São Francisco

Mortalidades de tilápia voltaram a acontecer nos cultivos de tilápia feitos nos tanque-rede na região de Paulo Afonso, Bahia. Da mesma forma como ocorreu em janeiro do ano passado, a abertura das comportas dos reservatórios controlados pela Chesf – Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco, causou a mortalidade de cerca de cinco toneladas de tilápias, um volume bastante inferior ao do ano passado, quando cerca de 450 toneladas morreram ao longo de uma semana. Passado um ano do desastre que abateu financeiramente inúmeros piscicultores da região, até agora não foi divulgado nenhum resultado conclusivo das investigações que visaram identificar o que de fato aconteceu. Os estudos foram conduzidos pela Chesf, Bahia Pesca, Instituto Xingó, UFBA, ITEP – Instituto Tecnológico de Pernambuco e SEAP.

Recentemente, este problema foi tema da Lista de Discussão Panorama-L, onde o biólogo Ricardo Tsukamoto explicou o fenômeno. A seguir é reproduzida a sua opinião: “A embolia gasosa relatada agora pela segunda vez no Rio São Francisco se deve à abertura repentina das comportas da barragem. Isso faz com que um grande volume de água supersaturada com ar (nitrogênio) seja liberada à jusante. A supersaturação ocorre, neste caso, pela diferença de coluna d´água entre montante e jusante, o que pressuriza a água várias vezes acima da pressão atmosférica. Sob pressão elevada, muito mais ar se dissolve na água. Quando a água é liberada à jusante, a pressão é aliviada, passando de volta para o patamar da pressão atmosférica normal. Com isso, o ar dissolvido à alta pressão fica supersaturado nesta água à baixa pressão. O ar supersaturado passa então a ser expulso da água sob a forma de bolhas (semelhante ao borbulhamento que ocorre quando abrimos uma garrafa de refrigerante).

Como a difusão de gases é rápida nas brânquias dos peixes, o nitrogênio da água supersaturada com ar penetra rapidamente nas brânquias, e só vai formar as bolhas dentro dos vasos sanguíneos do peixe. Algumas bolhas são grandes o suficiente para bloquear os vasos sanguíneos, impedindo a circulação do sangue pelo corpo, o que acaba matando o peixe. É um fenômeno semelhante ao de mergulhadores humanos quando sobem muito rápido de grandes profundidades para a superfície da água. Do mesmo modo que nos humanos, a taxa de mortalidade depende do grau com que o peixe foi afetado. Nos peixes, a embolia gasosa só é causada pelo nitrogênio. Mesmo com supersaturação de oxigênio na água, o metabolismo do peixe consome o excesso de oxigênio, não deixando formar bolhas. Já o gás nitrogênio é inerte.

A ocorrência da embolia gasosa em peixes é rara no Brasil, mas muito comum nos países norte-americanos e europeus. Por isso, é comum que os piscicultores intensivos daqueles países que vivem à jusante de represas ou que usam água pressurizada, meçam constantemente a saturação de gases na água através de um equipamento chamado saturômetro, para evitar surpresas desagradáveis.”