Por: Jomar Carvalho Filho
[email protected]
Na segunda semana de março, a convite do governo britânico, uma delegação composta por sete brasileiros, acompanhados de quatro britânicos, participou da Aquaculture Inward Mission in UK, uma missão que teve o objetivo de visitar os principais centros de pesquisa em aqüicultura do Reino Unido. A delegação brasileira teve a oportunidade de conhecer o Centro de Ciências Ambientais, Pesqueiras e Aqüicultura – CEFAS (Centre for Environment, Fisheries & Aquaculture Science), localizado na pequena Lowestoft, cidade da costa leste da Inglaterra; o Instituto de Aqüicultura da Universidade de Stirling, na Escócia; visitou a Blue Water Flatfish Farms, uma fazenda de alta tecnologia, que cultiva turbot (linguado) e seabass utilizando um sistema indoor com circuito fechado e, o Centro de Pesquisa para Aqüicultura Sustentável (CSAR na sigla em inglês), da Universidade de Swansea, no País de Gales. Toda a logística da viagem ficou a cargo da UK Trade & Investment, uma organização do governo britânico que apóia exportações e parcerias de empresas britânicas no comércio internacional, bem como oferece suporte para as empresas estrangeiras que buscam investir no Reino Unido (http://www.ukinvest.gov.uk/pt-BR-index.html).
O grupo de brasileiros que fez parte da missão foi formado por: Débora M. Fracalossi, professora do Departamento de Aqüicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, e supervisora do Laboratório de Nutrição de Organismos Aquáticos; Ronaldo Cavalli, professor do Departamento de Pesca e Aqüicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco; José Oswaldo Siqueira, diretor de Programas Temáticos e Setoriais do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Ciência e Tecnologia – CNPq/MCT; Itamar de Paiva Rocha – Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão; Dirceu Lopes – Secretário Executivo da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP; Eric Routledge – Coordenador Geral de Incentivo à Pesquisa de Geração de Novas Tecnologias da SEAP e, Jomar Carvalho Filho, Editor da Revista Panorama da AQÜICULTURA. Também participaram da Missão, Chris Cobb, Gerente de Aqüicultura e Pesca do Consulado Britânico, operando do escritório de Recife – PE; David Fletcher, Consultor de Aqüicultura do International Agri-Technology Centre (IATC); Paula Taylor e Laura Stubbs, respectivamente gerente e assistente de projetos do IATC.
CEFAS em 10 de março de 2008
A primeira visita da missão brasileira foi às instalações do Centro de Ciências Ambientais, Pesqueiras e Aqüicultura – CEFAS (Centre for Environment, Fisheries & Aquaculture Science), localizado em Lowestoft, na costa leste da Inglaterra. O CEFAS é uma instituição multidisciplinar de pesquisa e consultoria, com mais de 500 funcionários distribuídos nas suas três instalações nas cidades de Lowestoft, Burnham e Weymouth. Atua nas áreas de manejo e avaliação dos estoques pesqueiros, monitoramento ambiental e aqüicultura, não apenas no Reino Unido, mas também em vários outros países, onde presta consultoria.
Em Lowestoft, onde o CEFAS nasceu em 1902, um total de 320 pessoas trabalham nas pesquisas voltadas, principalmente, para o manejo e avaliação dos estoques pesqueiros e no monitoramento dos ecossistemas costeiros. Lá, a delegação brasileira foi recepcionada por Carl O’Brien, diretor da Divisão de Recursos Pesqueiros, dando início a um encontro que durou um dia inteiro. Na parte da manhã, Eric Routledge, da SEAP e Débora Fracalossi, da UFSC, se encarregaram de fazer as apresentações das pesquisas realizadas no Brasil, da mesma forma os pesquisadores ingleses apresentaram os projetos de pesquisa desenvolvidos em todas as três instalações do CEFAS.
Na área de aqüicultura, as pesquisas se concentram, principalmente, nas instalações de Weymouth, cidade localizada na costa sul da Inglaterra. Lá são desenvolvidas pesquisas com peixes, moluscos e crustáceos, principalmente nas áreas de inspeção de pescados, histopatologia, parasitologia, poluentes causadores de doenças e virologia. Ainda na área de sanidade, o CEFAS de Weymouth possui um laboratório certificado para trabalhar com patógenos exóticos, mantendo uma coleção de referência dos principais vírus e bactérias que hoje prejudicam a aqüicultura em todos os cantos do planeta. Além disso, o CEFAS é a instituição que tem a responsabilidade de monitorar os 27 laboratórios de referência espalhados pela comunidade européia, com o intuito de assegurar que todos estejam trabalhando com os mesmos métodos corretos para a realização dos exames laboratoriais.
A delegação brasileira foi ciceroneada pelos pesquisadores ingleses, para conhecer os principais laboratórios das instalações do CEFAS de Lowestoft. Mereceram destaque o laboratório de eletrônica, que projeta e fabrica dispositivos miniaturizados para a marcação de peixes; o laboratório de plâncton, que faz a identificação e contagem dos ovos das espécies de interesse comercial com a finalidade de estabelecer as cotas permitidas de captura para a frota comercial; e, o laboratório de qualidade de água, que fabrica modernas bóias oceânicas capazes de coletar amostras de água, efetuar as análises e enviar os resultados via satélite.
Universidade de Stirling
A segunda instituição visitada pela delegação brasileira foi o Instituto de Aqüicultura da Universidade de Stirling, na Escócia, um dos mais conhecidos e respeitados centros de ensino e pesquisa em aqüicultura em todo o mundo, e uma referência mundial no que diz respeito a diagnósticos. O Instituto de Aqüicultura possui hoje um staff de 110 pessoas, além de aproximadamente 120 estudantes de pós-graduação, provenientes de diversos países. Na chegada a Stirling, a delegação brasileira recebeu as boas vindas de Richard Randolph, diretor do Instituto, sendo levada, a seguir, para conhecer todos os laboratórios da instituição, iniciando pelo de patologia e virologia, chefiado pela Drª Margareth Crumlish. A equipe desse laboratório tem uma enorme tradição na área de diagnósticos e presta esse tipo de serviço para vários países do mundo através do Centro de Tecnologia de Aqüicultura (ATC na sigla em inglês), uma iniciativa da universidade que permite aos especialistas da instituição comercializarem seus produtos e serviços, como as vacinas, uma das especialidades da equipe. O laboratório de patologia é também conhecido por dispor dos mais modernos equipamentos científicos utilizados para o diagnóstico, incluindo microscópios eletrônicos de última geração. Outro laboratório visitado foi o de parasitologia, que investiga praticamente todos os parasitas de importância econômica para a aqüicultura praticada em todo o mundo.
O laboratório de nutrição também foi visitado pela delegação brasileira. Lá são pesquisadas as alternativas possíveis para a substituição de farinha e do óleo de pescado nas dietas aquáticas, por produtos de origem vegetal. As parcerias com as empresas de alimentos e com o setor produtivo permitem que os pesquisadores possam testar as rações experimentais nas mesmas condições do cultivo comercial. Além disso, os pesquisadores desse laboratório se valem dos avanços da tecnologia molecular para avaliar, através de análises de amostras de RNA, as modificações provocadas pelas rações testadas, podendo saber, de forma mais precisa, a forma como os ingredientes testados estão sendo aproveitados pelos animais.
Em seguida os brasileiros assistiram às apresentações do grupo que desenvolve o Sistema de Informação Geográfica (SIG), antes de visitarem as instalações onde são mantidas inúmeras espécies tropicais num ambiente totalmente climatizado. Tilápias de diversas origens e seus híbridos são mantidas sob reprodução controlada, bem como outras espécies tropicais, como o Macrobrachium rosenbergii, também conhecido como o camarão da Malásia.
Os brasileiros conheceram o laboratório de vacina da Drª Sandra Adams, que também desenvolve kits rápidos para detecção de viroses, o laboratório de análise genômica e o de reprodução, onde estão sendo realizados no momento experimentos com modificações no fotoperíodo.
A seguir, José Oswaldo Siqueira, diretor de Programas Temáticos e Setoriais do CNPq/MCT, fez uma palestra mostrando como a instituição apóia os programas de pesquisa no Brasil, e de que forma pode também apoiar convênios de facilitação, para intercâmbio de estudantes e especialistas do Brasil para as instituições do Reino Unido, e vice-versa de lá para cá.
O convite para a publicação do artigo que ocupa as próximas páginas, abordando a possível utilização das microalgas para a produção de biocombustível, surgiu a partir dos resultados das pesquisas realizadas pela equipe da Universidade de Swansea, no País de Gales, e que foram apresentados à delegação brasileira durante a visita.
As outras instituições visitadas pelos brasileiros e os resultados práticos dessas visitas, especialmente os acordos e convênios que possivelmente serão celebrados entre as intuições do Brasil e do Reino Unido, serão publicados na próxima edição da Panorama da AQÜICULTURA.
Panorama da AQÜICULTURA e International Fish Farming estabelecem parceria editorial Kenny McCaffrey, editor da Fish Farming International, recebeu na sua redação, em Londres, Jomar Carvalho Filho, editor da Revista Panorama da AQÜICULTURA. Na ocasião foi estabelecido um acordo editorial entre as publicações. A parceria vai permitir, a partir das próximas edições, que os leitores da Fish Farming International conheçam um pouco mais a respeito da indústria aqüícola brasileira, da mesma forma que as notícias internacionais de interesse dos aqüicultores brasileiros estarão mais disponíveis na Panorama da AQÜICULTURA. |