Além de luminosidade e das águas abundantes em nutrientes, tão necessárias para o cultivo da alga Gracilaria, os pescadores do Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, vão poder contar também com cerca de US$ 360 mil fornecidos pela FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, para que desenvolvam um projeto piloto que visa a implantação de cultivos sustentáveis desse vegetal marinho no Brasil. A Gracilaria é uma macroalga marinha de grande importância comercial por ser uma excelente fonte de matéria prima para produção de agar-agar e carragena, utilizados na fabricação de alimentos, na indústria química e de cosméticos, e já é cultivada com muito sucesso por vários países, entre eles o Chile.
A proposta da FAO, junto com o Instituto Terramar, uma ONG – Organização Não Governamental – que assiste aos pescadores artesanais, e a OCEC – Organização das Cooperativas do Estado do Ceará, é repassar às comunidades carentes a tecnologia e a experiência do cultivo de algas utilizadas para a extração de agar-agar e carragena, já que há uma tendência do mercado mundial de recusar os produtos das indústrias que processam as algas oriundas do extrativismo.
Áreas do litoral nordeste apresentam aspectos favoráveis, como o bom crescimento da espécie em temperaturas altas, grande disponibilidade de energia solar, importante para o crescimento e secagem natural das algas, bem como a existência e disponibilidade de mão de obra distribuída em vilas de pescadores e única infra-estrutura industrial estabelecida para processamento. Segundo o técnico Toivi Masih Neto, do Instituto Terramar, a alga escolhida foi a Gracilaria sp3. (a terceira planta do gênero Gracilaria em fase de identificação na USP), por ter apresentado uma produtividade ainda melhor do que a apresentada pela Gracilaria cornea, espécie estudada inicialmente pelo Laboratório de Recursos Aquáticos da UFC – Universidade Federal do Ceará. As plantas dessa espécie, segundo o especialista, crescem de 30 a 900 gramas em 90 dias, período que coincide com o ciclo de um cultivo, feitos em sistema long line. O Instituto Terramar está prevendo uma produtividade de 57 toneladas de algas por hectare por ano, que podem ser obtidas com baixos custos de capital inicial e operacional e com mão de obra pouco especializada. Pequenos cultivos podem ser facilmente operados, podendo até mesmo servir de uma atividade complementar à outras rotineiramente praticadas, como a pesca. Assim, os cultivos têm sido considerados como uma boa alternativa de emprego e renda, e a idéia do projeto é repetir com a alga a iniciativa positiva conquistada com a mitilicultura desenvolvida na costa catarinense.
A demanda mundial de algas tem apresentado crescimento nos últimos 30 anos e somente pode ser atendida através dos cultivos comerciais. A atual produção brasileira, desenvolvida principalmente no litoral que vai de Alagoas ao Ceará, além de pequena é extrativista. A empresa Agar Brasileiro Indústria e Comércio Ltda., localizada em João Pessoa – PB, é por ora a única indústria nacional de processamento de algas, dedicando-se principalmente ao agar alimentício, e muitas vezes se vê as voltas com a falta de matéria prima, já que é coletada em bancos naturais limitados e sujeitos a flutuações.
A tarefa dos pescadores começará pelo Ceará, para, numa fase posterior, abranger as outras regiões envolvidas no projeto. Com o apoio do Instituto Terramar, que recebeu US$ 23 mil dos recursos da FAO, foram colocadas no mar no dia 13 de outubro último, as primeiras estruturas na praia de Flecheiras, no município cearence de Trairi. O Ceará também abrigará a segunda indústria de processamento de algas do País, um empreendimento da indústria paulista de cosméticos Beauty Mineral, que está implantando-se no litoral do município de Icapui.
Imagem: https://www.algaebarn.com/product/gracilaria-parvispora/