Grande mortalidade de tilápias deixa perplexos os piscicultores de Paulo Afonso

A abertura dos vertedouros das usinas de Paulo Afonso IV, Moxotó e da Cachoeira de Paulo Afonso, em 27 de janeiro, pode ter sido o estopim do acidente, ainda sem causas conhecidas até o fechamento desta edição, que provocou a morte de 106 toneladas de tilápias cultivadas em tanques-rede por diversas associações de produtores na região de Paulo Afonso.

O aumento da vazão, da ordem de 400% (10.000 m3/s), veio acompanhado de uma mancha de cor amarela e restos de macrófitas flutuantes misturados a peixes nativos mortos e lixo doméstico, e seguiu causando mais prejuízos rio abaixo. Quatro dias depois das primeiras mortalidades e 40 km mais adiante, já no Estado de Alagoas, essas águas pegaram de surpresa o maior piscicultor da região, Luiz Cavalcante que, sozinho, amargou a morte de mais de 300 toneladas de tilápias que engordava em seus tanques-rede.

O município de Paulo Afonso sedia em seu complexo de barragens um importante e inovador projeto de piscicultura implantado pela Bahia Pesca em parceria com a Prefeitura Municipal de Paulo Afonso e Associações de Pequenos Produtores Rurais. São 1.200 gaiolas flutuantes ou tanques-rede para produção de tilápias, manejadas com esmero técnico, alcançando produtividades de até 800 kg/tanque-rede/ciclo. No ano passado foram produzidas cerca de 1.000 toneladas de tilápias, vendidas a preços que variaram entre R$ 2,60 a R$ 2,80 por quilo do peixe inteiro, nos Estados do Ceará, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.

Os Acontecimentos

No dia 2 de fevereiro foram registradas as primeiras mortalidades nos tanques-rede dos produtores de Malhada Grande II. De forma fulminante, 51 toneladas de tilápias cultivadas morreram em um período de apenas quatro horas. Simultaneamente ocorreu a mortalidade de 50% dos peixes da associação vizinha, Malhada Grande III, cujo restante morreu no dia seguinte, acrescentando 20 toneladas de peixes ao saldo da tragédia.

As necrópsias realizadas nos peixes constataram sinais compatíveis com intoxicação aguda como: fígado hemorrágico e friável, hemorragia intraocular, exoftalmia, hemorragia nas brânquias, e formação de bolhas gasosas em vários locais do tegumento, principalmente, nas nadadeiras, junto aos olhos e brânquias. Foram necessárias caçambas, carregadeiras e mão-de-obra cedidas pela Prefeitura Municipal de Paulo Afonso para que os peixes mortos fossem retirados e enterrados em local apropriado.

No dia 05 de fevereiro mais 165 gaiolas com 32 toneladas de peixes de diversos tamanhos em Malhada Grande, Lagoa do Junco e Xingozinho, também foram atingidas, restando apenas aos produtores o trabalho de enterrar seus peixes.

A rápida evolução do quadro rio abaixo fez com que associações de produtores que não foram atingidas, providenciassem, sob a coordenação da Bahia Pesca, despescas preventivas de seus peixes. Em apenas três dias, na presença de uma médica veterinária da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, foram abatidas 31 toneladas de peixes entre 600 gramas e 1,2 kg, que foram evisceradas, congeladas e estocadas em unidade frigorífica. Exames posteriores realizados nesses peixes, que foram abatidos vivos e assintomáticos, os recomendam para consumo.

A Bahia Pesca, através da Unidade Técnica de Paulo Afonso, monitorou, desde o inicio das mortalidades, a qualidade das águas do reservatório, recolhendo amostras na tentativa de determinar o agente causador. Pela sintomatologia observada especula-se que a causa mais provável para a mortalidade, tanto dos peixes de cultivo quanto dos nativos, pode estar associada a um grande florescimento de microalgas, provocada pela suspensão da matéria orgânica do fundo do reservatório, em decorrência do aumento da vazão e pelas altas temperaturas da água registradas no período. Da mesma forma, especula-se que as altas concentrações de oxigênio dissolvido também possam estar associadas às mortalidades. Estas são apenas hipóteses que somente poderão ser confirmadas com os resultados das análises dos parâmetros físico-químicos e biológicos das amostras de água e de peixes que foram encaminhadas para diversos laboratórios especializados.

A partir do dia 12 de fevereiro não foi registrada nenhuma ocorrência de mortalidade de peixes. A estimativa é que somente na região de Paulo Afonso os prejuízos tenham somado R$ 442 mil e deixado muitos produtores perplexos sem saberem como dar andamento aos seus empreendimentos, muitos deles tendo que honrar compromissos com os bancos que financiaram os seus cultivos.