Índios do Paraná já lidam com a Aqüicultura

Índia da Reserva Terra Indígena Laranjinha no curso de preparo das tilápias despescadas (Foto: Emater/Schmitt)

O peixe, um alimento tradicional e determinante na dieta nutricional dos índios brasileiros, e que até então era pescado diretamente nos rios e riachos já chega às aldeias através da aqüicultura.

Desde março passado, a tilápia é criada pelos habitantes da Reserva Terra Indígena Laranjinha, localizada na região de Santa Amélia e Abatia, no Paraná. Em três dos cinco tanques escavados na aldeia, são cultivados 10 mil juvenis de tilápia, em um hectare de lâmina d´água. Uma parte dos peixes é para ser utilizada no combate da desnutrição infantil e a outra na geração de renda para novos cultivos. No dia 9 de outubro foi efetuada a primeira despesca, resultando em 400 quilos.

Uma parte do peixe serviu para um curso de preparo do alimento onde participaram 15 índias das 45 famílias da aldeia. O inédito curso com duração de dois dias, foi encerrado com um banquete prestigiado pelos integrantes do projeto desenvolvido no Paraná, que visa acabar com a desnutrição infantil através da piscicultura.

A idéia foi concebida há dois anos por uma mulher, a vice-cacique Irene, líder da Associação das Mulheres Indígenas de Palmas, e implementado pelo médico veterinário Luiz Danilo Muhelmann, da Emater, vinculada à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento.

A iniciativa de Palmas, que passou a ser uma Unidade Referencial da Piscicultura na Área Indígena do Sul, nasceu junto a uma outra unidade no Norte do estado, a partir do apoio da Secretaria de Estado das Relações de Trabalho e financiamento do Programa Fome Zero da Petrobrás. Entraram como parceiros do projeto a Funai, que acenou positivamente com a proposta da produção de proteína animal, a Fundação Terra para gerenciar os recursos financeiros, Senar/Faep no treinamento da manipulação e processamento alimentar de peixe, Funasa, Unioeste, Sema/IAP e prefeituras municipais.

Segundo Muhelmann a decisão de ensinar os índios a criar peixe foi muito acertada, porque as demais fontes de proteína como aves e suínos não fazem parte da cultura indígena, além de que são atividades poluidoras, que podem comprometer a qualidade ambiental da reserva.

Mais de R$100 mil foram destinados à instalação da estrutura e custeio de dois anos para a produção anual de 10 toneladas de tilápia. É prevista para um futuro próximo a introdução do policultivo com espécies nativas como o piau, piapara, pacu e jundiá. Na aldeia é proibida a pesca nos tanques e já há uma rotina para a criação e engorda com ração. Na despesca cada família receberá a quantidade de peixe proporcional ao número de familiares. Os peixes que sobrarem serão vendidos para pesque-pagues. O trabalho operacional de construção dos tanques, dentro das normas técnicas, econômicas e ambientais, foi desenvolvido pelos extensionistas da Emater Miguel Antonucci, de Itambaracá e Adevaldo José da Cunha, de Andirá.