O Instituto de Pesca acabou de reformar e ampliar seu laboratório de carcinicultura em Cananéia–SP, e reinicia a produção de camarões nativos para atender, ao longo de todo o ano, os cultivos realizados pelos pescadores do litoral sul do estado. Em virtude da pequena estrutura foram produzidas, em 2006, apenas 250 mil pós-larvas, mas espera-se, com a recente ampliação, que em 2007 a produção atinja mais de 500 mil pós-larvas das espécies nativas do camarão-rosa Farfantepenaeus paulensis (conhecido como ferrinho) e Farfantepenaeus brasiliensis (carijó), para serem usados, na região, como isca viva na pesca esportiva, principalmente na captura de robalos e pescadas.
Com o laboratório, o Núcleo de Pesquisa do Litoral Sul de São Paulo, do Instituto de Pesca-IP, está desenvolvendo uma alternativa para o problema da falta de isca viva, já que durante o inverno a captura de camarões para este fim diminui sensivelmente, comprometendo o turismo e a subsistência dos pescadores.
Assim, com o objetivo de viabilizar o cultivo de camarão para a produção de isca viva, o Instituto de Pesca, através do projeto “Gestão Pesqueira – Litoral Sul – SP” financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente – FNMA vem, desde abril de 2004, realizando junto aos pescadores artesanais, alguns cultivos experimentais em tanques-rede utilizando as espécies nativas do camarão-rosa.
Inicialmente, as pós-larvas utilizadas nesses cultivos experimentais eram adquiridas no Laboratório de Carcinicultura da Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG, que também desenvolve pesquisas com cultivo de camarão nativo em estruturas alternativas, junto à comunidade de pescadores artesanais do estuário da Lagoa dos Patos, no Rio Grande – RS. Desde meados de 2005, com a entrada em funcionamento do laboratório de Cananéia, os experimentos de engorda já vêm sendo realizados com camarões produzidos no litoral paulista.
As capturas dos camarões para isca viva eram feitas tradicionalmente com a utilização de diversas artes, principalmente o gerival, os covos e peneiras. Porém, ultimamente, a captura de camarões para isca viva vem se tornando uma atividade predatória, devido à utilização indiscriminada de petrechos de pesca predatórios, como o cambau e o picaré. Vale lembrar que as capturas visam os camarões em estado juvenil, visto que os indivíduos adultos da espécie vivem em alto mar.
A ampliação do laboratório faz parte dos objetivos do recente projeto aprovado para transferência de tecnologia de cultivo de camarão em tanque-rede e capacitação dos pescadores artesanais do complexo estuarino-lagunar de Cananéia-Iguape-Ilha Comprida, financiado pela SEAP, através de uma emenda parlamentar da deputada federal Mariângela Duarte, contando ainda com a parceria da Fundação São Vicente.
Estão previstas a realização de cursos de capacitação e o repasse da tecnologia de manejo de tanques-rede para os pescadores artesanais da região e a construção e instalação de 40 tanques-rede, em seis comunidades nos municípios de Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, locais em que também será feito o monitoramento da qualidade da água junto aos sistemas de cultivo.
Na prática, as pós-larvas ( PL25) produzidas no laboratório do IP, em Cananéia, são transferidas aos pescadores para realizarem o berçário e a engorda em tanques-redes instalados no estuário.
A região das comunidades e do cultivo está inserida na Área de Proteção Ambiental Cananéia-Iguape-Peruíbe (Apa-cip), uma Unidade de Conservação Federal de uso sustentável gerida pelo Conselho Deliberativo da Área de Proteção Ambiental Cananéia-Iguape-Peruíbe (CONAPA-CIP).
Através da Câmara Técnica de Pesca do CONAPA-CIP, estão sendo discutidas propostas para o ordenamento da aqüicultura na região, visando diminuir os impactos ambientais para que os cultivos tenham sustentabilidade. Além disso, o projeto de cultivo das espécies nativas em tanques-rede para produção de isca viva objetiva, também, gerar informações que dêem suporte à implantação de outros cultivos sustentáveis no litoral sul do Estado de São Paulo