Interferências na Maricultura

Por: Roberto Roche Moreira Jr.


A maricultura já é urna atividade de peso na economia de vários países da América do Sul, corno no Equador e no Panamá, sendo que em 1988 só com a exportação de camarão marinho.

Equador obteve 580 milhões de dólares. No Brasil, embora o setor venha conseguindo progressos nos últimos anos, ainda não dispomos de produção suficiente capaz de atender regularmente a urna parcela da demanda do mercado internacional, apesar da grande extensão do nosso litoral.

Corno a qualidade da água é fundamental para o êxito da maricultura, alguns países já iniciaram as investigações da produtividade em razão da presença de resíduos químicos nas áreas de criação. Particularmente no Equador, onde a água é considerada de ótima qualidade para a criação dos camarões marinhos, está-se verificando que essa qualidade vem sendo prejudicada pela presença de resíduos de agrotóxicos lançados com freqüência nas lavouras próximas à faixa litorânea, onde a maricultura se desenvolve mais intensamente.

No Brasil, principalmente no litoral do Nordeste onde há maior concentração de fazendas camaroneiras, ainda não são conhecidos estudos relativos à influência dos resíduos químicos na qualidade das águas ocupadas com a maricultura. Contudo, podemos admitiu que esses efeitos negativos também estejam presentes e que já é hora de iniciarmos estudos para detectar que produtos e em que quantidades estão sendo lançadas de alguma forma, nas áreas mais promissoras para a maricultura.

Será a partir de resultados das investigações que poderão sei’ solicitadas providências governamentais visando resguardar o nosso litoral para uma exploração econômica racional e que, ao mesmo tempo, preserve o meio ambiente.

Observações levadas a efeito na localidade de Salinas, no Equador, permitiram identificar altos níveis de pesticidas, inseticidas e de metais pesados na água utilizada na produção de pós-larvas Em função dessa constatação também foi observado que animais da espécie Páreos vannamei, preferida pelos maricultores do local, que permanecem por cerca de 30 dias em presença de resíduos de DDT da ordem de 1500 ppm têm agravada a infecção virótica (Baculovirus ptarrei), o que pode resultar em perdas consideráveis de produção e de retorno econômico.

Resíduos Letais

Testes realizados pelo Hazelton Laboratories of America para identificação e quantificação de níveis de resíduos químicos em amostras de águas de Salinas, zona costeira do Equador, verificaram que a dose letal para 50% da população de camarão (LD 50) ocorre quando os animais permanecem por 96 horas em ambientes em que os resíduos de metais pesados sejam da ordem de 0,1 ppm para o cobre e 1,7 ppm para o zinco. O mesmo. ocorre em relação aos resíduos de pesticidas, tais como o Dieldrin (0,7 ppm), Endrin (0,37 ppm), Aldrin (0,057 ppm) e BHC (0,7 ppm) etc..

Também as rações industriais já interferem nos resultados dos cultivos costeiros, principalmente nas fazendas camaroneiras onde o uso destas rações se toma indispensável. Esse insumo preparado com vários subprodutos agrícolas e animais contêm resíduos dos agrotóxicos. Exemplo dessa interferência foi verificado no Panamá onde as rações com resíduos de pesticidas, particularmente Malathion e Pararathion, agiam como uma “pílula tóxica” lançada diretamente nos viveiros.

.Diante dos exemplos mencionados e do conhecimento que temos da nossa realidade, é indispensável que a análise de qualquer projeto de maricultura também seja contemplado com um estudo apurado de localização, seja em função da qualidade da água disponível, seja em função das explorações próximas que poderão interferir futuramente.

Especial cuidado deve ser observado com a água a ser utilizada nos laboratórios de larvicultura, visto que nessa fase os animais são menos resistentes e, por isso, então mais suscetíveis a doenças.

A inobservância. de cuidados com a água e com as rações tem levado muitos projetos à ruína e causado prejuízos consideráveis a investidores em maricultura.

Conveniência Harmoniosa

A maricultura e agricultura não podem ser vistas como atividades concorrentes, muito ao contrário, devem somar seus resultados para o aumento da oferta de alimentos, particularmente de proteínas. As interferências negativas que alguns insumos agrícolas podem provocar em locais adequados para as atividades de maricultura não têm como causa básica os produtos utilizados, mas sim o seu uso quase sempre abusivo, contribuindo para que os resíduos alcancem o leito de rios e sejam carreados às águas litorâneas.

Para que essas atividades se desenvolvam de forma harmoniosa e complementar, se torna imperioso um trabalho intenso de educação, de assistência técnica e de orientação a agricultores e maricultores. Como resultado desse esforço todos serão beneficiados e os produtos e subprodutos das atividades poderão ser consumidos ou utilizados com maior segurança. sem que haja riscos ou interferências.