João Pessoa mostrou que não é somente palco de desavenças políticas disputadas a tiros na boca e de muita impunidade. Apresentou também seu outro lado, o da capital de um estado com um grande potencial para a aqüicultura e com muita vontade de atrair investimentos de grande porte. Pretende, e tudo indica que em breve conseguirá, ser o maior polo da atividade no Nordeste brasileiro, ponto de referência e norteador dos rumos da carcinicultura marinha brasileira.
Organizado pela MCR Aqüicultura, João Pessoa recebeu de 22 a 27 de novembro último, pesquisadores e aqüicultores brasileiros e estrangeiros para o que foi o maior evento da aqüicultura brasileira no ano de 1993.
Com um número de participantes certamente abaixo do esperado pelos organizadores, o IV Simpósio Brasileiro Sobre Cultivo de Camarão não deixou de surpreender os presentes, tanto pela organização como pela boa acolhida.
A Feira de Tecnologia e Produtos, com certeza encantou a todos. Lá estavam importantes nomes da indústria nacional, com toda sorte de produtos, quase todos voltados para melhoria do manejo e aumento da produtividade. Estavam também presentes quatro empresas norte-americanas, uma peruana e uma equatoriana contribuindo bastante para o sucesso da exposição.
E no plenário, como não podia deixar de ser, houve de tudo. Desde a exposição da mais pura tecnologia até papos que muitos já se cansaram de ouvir.
A impressão que ficou ao término de uma semana de evento, é que a maioria absoluta dos presentes certamente concordaria com o Itamar Paiva Rocha, presidente da comissão organizadora, que ressaltou a rara oportunidade para os congressistas nacionais tomarem conhecimento dos problemas e dos avanços da aqüicultura mundial. Isso pelo fato de que, dentre os 20 conferencistas internacionais encontravam-se representantes de 10 países, destacando a China, Filipinas, Taiwan, Equador, E.V.A., Bélgica e Alemanha.
De resto, foi a tradicional confraternização diária, inevitável em todos os eventos, que dificulta para muitos estarem inteiros no plenário pontualmente as 8:00 horas da manhã.
Notícias Paraibanas
• o Brasil, aos olhos dos produtores norte-americanos de Artemia, deve estar se comportando como futuro grande consumidor desse microcrustáceo desejado por 10 entre 10 produtores de camarões. Vários produtores e/ ou envazadores de Artemia estavam presentes, Prime Inc., INVE, Aquafauna Biomarine e outras, com distribuição farta de amostras e farpas na concorrência. Tudo bem diplomaticamente, é claro. Se acontecer o que eles estão pré-sentindo a carcinicultura brasileira está decolando: E o que muitos torcem e poucos fazem por onde.
• Por falar em Artemia, a quantas anda a exploração desse crustáceo nas salinas brasileiras? A última notícia é que tinha virado produto nobre, o filé mignon das artemias vendidas no mercado internacional, que dizem serem cotadas a US$ 1 OO.OO/kg. Folclores à parte, algum problema deve existir, caso contrário estaríamos com grande produtores internos querendo morder este bolo que está assando e, ao que parece, só as empresas norte-americanas estão sentindo o cheiro.
• João de Aquino Limaverde, Superintendente de Planejamento e Desenvolvimento Social do Banco do Nordeste do Brasil falou dos objetivos do BNB em incentivar a aqüicultura para suprir o déficit alimentar e dos planos para interiorizar a atividade fixado-a junto a outras atividades produtivas. O BNB financia no semiárido projetos de até US$ 2 milhões e fora do semi-árido até US$ 500 mil. A estratégia é atuar levando em consideração a infra-estrutura local, proporcionando condições de consórcio com outras atividades e estimulando a produção de pós-larvas e alevinos. O crédito está condicionado a uma boa assistência técnica e visa permitir a construção de Viveiros, infra-estrutura e edificações, máquinas, veículos e utensílios. Os prazos vão de 8 a 12 anos com 3 a 4 anos de carência, com TR + 8% ao ano. Até o momento o BNB já deu crédito à 41 projetos de aqüicultura sendo 2 no PI, 1 em CE, 2 no RN, 1 na PB, 4emPE, 6emAL, 14 no SE, 9naBAe 2emMG,num total de 487,6 ha.
• Muitos congressistas ficaram aliviados quando o Governador não apareceu para a cerimônia de abertura. Temiam que sua presença ali pudesse transformar a inauguração do evento em cenário de bang-bang.
• A PURINA trouxe George Chamberlain, da Ralston PURINA International, responsável pelo desenvolvimento de produtos. A empresa montou um estande no evento, onde modernos discos de Secchi foram distribuídos como brindes. No plenário Chamberlain falou das qualidades dos insumos e das características finais que uma ração deve ter para atender bem às espécies que alimentam e, evidentemente, todos os conceitos e critérios por ele apresentados, devem refletir a estratégia que sua empresa pratica internacionalmente e praticará no Brasil. A PURINA, como ficou claro, está disposta a retomar o espaço que lhe foi tomado na carcinicultura brasileira. E não parece ser somente isso. Sabe:-se que sua linha de rações para peixes tropicais está sendo testada no interior paulista, junto a Cachoeira das Emas.
• Mike Sipe, o homem da tilápia vermelha da Flórida, faturando com uma apostila feita de xerox e capa colorida. Muita gente comprou mesmo sem saber para quê. Marketing is marketing, isn’t?
• Daniel Bennetti apareceu em João Pessoa. Para os que não o conhecem, Daniel trabalhou com peixes marinhos no Brasil, no antigo IPqM, em Arraial do Cabo, até mudar-se para a Miami University, onde se especializou ainda mais e hoje dá consultaria no Equador. Além de Daniel, outro brasileiro que vive no exterior, com especialização em piscicultura marinha e que também apareceu em João Pessoa, foi Mario HoffmanI), atualmente trabalhando para a INVE na Bélgica. E bom saber que boas cabeças estão voltando novamente ao Brasil, mesmo que de passagem. Ainda mais para relatarem suas experiências com a piscicultura marinha.
• André Bruger, atualmente no mestrado da UFSC, mostrou que também anda atrás da piscicultura marinha. Apresentou na seção de poster um trabalho com engorda do Centropomus parallelus, o nosso robalo, em tanques-rede flutuante, realizado em Angra dos Reis RJ.
• Carla Canzi apresentou um poster sobre os materiais utilizados na construção de tanques-rede no reservatório de Itaipu, com destaque para rede tratada com produto anti-fouling.
• Foi formado durante o Simpósio, um Grupo de Trabalho que terá como objetivo a pesquisa e o desenvolvimento da carcinicultura de água doce no Brasil. O Grupo coordenado por Lourinaldo B. Cavalcanti, enviou ao presidente do IBAMA, um documento assinado também pelos presidentes da ABRAq e da ABCC, solicitando apoio para viabilizar a reunião que deverá ocorrer de 7 a 8 de abril de 1994, para elaboração das diretrizes à serem seguidas pelos pesquisadores e produtores.
• O trabalho feito em conjunto pela MCR e Marine e apresentado como poster, mostra os resultados médios de vinte e nove cultivos de Penaeus vannamei com densidades de estocagem, variando de 2,77 a 15 cam/ m2. São eles: peso final de 12,3 g, 650 kg/ha/ciclo de 100 dias, sobrevivência de 70,65% e conversão alimentar de 1,54: 1. O trabalho foi feito com a ração Agrocamarão da Agroceres e mostra a excelente performance desta espécie exótica.
• Na mesa redonda sobre cultivo de M. Rosembergii em seu país. O cultivo no Peru teve início em 1993 com pós-larvas de Israel e Panamá. Hoje, o Peru possui 85 hectares em produção, com um potencial de expansão de 200.000 ha. Lá funcionam 5larviculturas que produzem 1.000.000 de PL/mês e vendem o milheiro de 25 a 30 dólares. A produtividade média é de 1.200 a 1.500 kg/ha/ano num sistema intensivo, multifásico ou contínuo. A ração é artesanal, feita diariamente e ofertada em forma de farelo. A produção peruana está muito longe de cobrir a demanda, pois é muito forte a tradição de comer camarões de água doce. Para se ter uma idéia, o preço de comercialização do M. rosenbergii varia normalmente de 12 a 17 dólares o kg e chega a 24 dólares na época do defesa do camarão nativo. Muitos produtores brasileiros presentes já estão de olho neste mercado.
• Na mesma mesa redonda Louis D’ Abramo apresentou dados interessantes sobre o cultivo de M. rosenbergii nos EUA. Com a ajuda de um selecionador de grades, utilizado para separar os juvenis maiores dos menores, está sendo possível obter animais com peso médio de 41 gramas em 5 1/2 meses de cultivo povoando com 4 a 5 pós-larvas por m2 e obtendo de 75 a 80 % de sobrevivência com despesca completa.
• O IV Simpósio Brasileiro sobre Cultivo de Camarões, foi também oficialmente chamado de I Congresso Brasileiro de Aqüicultura. Com certeza esse não foi o primeiro nem o quinto congresso brasileiro de aqüicultura (mesmo que não tenha sido assim chamado). Isso pode dar margem aos pouco informados, a imaginarem que nenhum outro evento, digno deste nome, tenha sido realizado anteriormente no Brasil.
• Feliz por estar na terrinha e aproveitando para dar uma faturada, Frederico Baby Cox, o braço direto brasileiro da importante empresa norte-americana Aquafauna Biomarine, distribuiu simpatia em João Pessoa. Foi sua oportunidade de ver in loco à quantas anda a aqüicultura no país.
• Patrícia Abelim também presente, vinda de Utah USA, onde está morando e trabalhando para a INVE. O estande da corujinha esteve movimentado e, segundo Abelim a INVE chegou para ficar no Brasil, através de um forte representante.
• Aquarius Apollo, IBRAM e Biobac estavamjuntos num estande muito visitado. Ricardo Macari, diretor da empresa, muito feliz mostrando sua linha de equipamentos para tratamento de água com filtros biológicos, abrandadores para controle de dureza, compressores além da linha completa dos famosos kits da HACH para análise de água.
• À começar pela simpatia de toda a equipe da empresa – todos afinadíssimos entre si e com a extensa linha de produtos, a Bernauer foi, sem dúvida, a Estande de Bernauer Aquacultura grande atração da feira. Além disso, a beleza do estande fez com que o mesmo passasse a ser parada obrigatória de todos os participantes que eram brindados com cervejas vindas diretamente da Oktoberfest. Os alimentadores automáticos se rivalizaram com os aeradores de pás, na preferência do público e contribuíram para o grande sucesso de vendas da Bernauer em João Pessoa.
• Todas as fábricas de rações brasileiras enviaram seus representantes à João Pessoa sendo que alguns desfilaram secretamente para não serem identificados.