Qualidade de água e condições do solo
Uma produção eficiente de peixes e camarões em viveiros de água doce ou salobra, depende de uma boa manutenção da qualidade da água e das condições do solo do fundo do viveiro. São muitas as características biológicas, químicas e físicas da água e do solo mas, felizmente, somente poucas dessas variáveis são de fato importantes no manejo de viveiros.
Crescimento de Fitoplâncton e Turbidez
A turbidez é o resultado de partículas – orgânica ou do solo, em suspensão na água dos viveiros e é desejável na medida que reduz a penetração de luz, impedindo a manifestação das macrófitas (plantas aquáticas que crescem no fundo dos viveiros) que são indesejáveis em viveiros de aqüicultura. A turbidez causada pelo plâncton é benéfica, pois acaba por fornecer alimento para o peixe ou camarão e ainda produz oxigênio através da fotossíntese do seu componente vegetal – o fitoplâncton.
Já a turbidez proveniente do excesso das partículas do solo em suspensão, reduz a penetração de luz para o crescimento do fitoplâncton, conseqüentemente diminuindo a produção de oxigênio na água, além de se depositarem no fundo dos viveiros, sufocando os organismos bentônicos (organismos que vivem no fundo).
Nos viveiros onde os animais não são alimentados com ração, o fitoplâncton é a base da cadeia alimentar que culmina em carne de peixe ou camarão. Já nos viveiros arraçoados, o crescimento de fitoplâncton ocorre em resposta aos resíduos metabólicos que entram na água através dos excrementos dos peixes e camarões e das rações não consumidas. O crescimento do fitoplâncton em viveiros arraçoados é importante na dinâmica do Oxigênio Dissolvido (OD), contudo, o excesso desse crescimento pode, paradoxalmente, levar a uma grande queda no OD. Quando o OD está baixo, os animais aquáticos ficam estressados e, conseqüentemente, a sobrevivência e a produção também serão baixas.
Partículas do Solo em Suspensão
Na maioria da vezes, a maior fonte de partículas de solo em suspensão em águas de viveiros é proveniente da erosão dos taludes e dos canais de abastecimento. Esta erosão pode ser evitada em determinados locais, cobrindo com vegetação as áreas danificadas. Nas áreas onde o aqüicultor não tem como fazer este controle, são recomendados tanques de sedimentação para remover partículas de solo na água antes de admiti-la nos viveiros de produção. Tanques de sedimentação são particularmente úteis em cultivo de camarões marinhos supridos com águas turvas. Partículas de solo em suspensão também podem ser resultado de um processo de erosão dentro dos próprios viveiros, como resultado da ação das ondas e da chuva nas superfícies internas dos taludes, e ação provocada pela excessiva aeração.
Fertilização e Calagem
Nitrogênio e fósforo são os dois nutrientes mais importantes na regulação do crescimento do fitoplâncton em viveiros. Entretanto, para que esses nutrientes promovam um grande crescimento (bloom), o viveiro deve ter um pH acima de 6.0 (7 – 8.5 é a melhor faixa) e a alcalinidade total e dureza total acima de 20 mg/l (40-150 mg/l é a melhor faixa). A água também não deve conter excessivas quantidades de partículas de solo em suspensão. Se a alcalinidade total está abaixo de 20 mg/l em viveiros de peixes e abaixo de 50 mg/l em viveiros de camarões, calcário agrícola deve ser aplicado. As taxas de tratamento para calcário agrícola variam de 1.000 a 5.000 kg/ha em viveiros ácidos.
Se com calagem a alcalinidade total alcançar os níveis desejados, o pH e a dureza total serão aceitáveis. A calagem de viveiros de água salgada é raramente necessária porque a água salgada normalmente tem a alcalinidade total entre 50 e 150 mg/l. Para promover o crescimento de fitoplâncton pode se aplicar esterco animal ou fertilização química. As taxas de adubação com esterco normalmente se situam entre 100 e 500 kg /ha (peso seco) por semana.
Os fertilizantes químicos usados incluem superfosfato, superfosfato triplo, nitrato de amônia, uréia, diamônio fosfato e polifosfato de amônia entre outros. As taxas de aplicação variam de 2 – 10 kg/ha de P2O5 e N, e os fertilizantes são aplicados a intervalos de 1 a 4 semanas. Em viveiros de água doce, aplicações de 2 kg de N e 8 kg de P2O5 por hectare a intervalos de 2 a 4 semanas é prática popular. Em viveiros de água salgada, freqüentemente deve ser aplicado mais nitrogênio para estimular um bom crescimento de fitoplâncton, mas fósforo é ainda preciso. Em viveiros onde há troca de água a fertilização deve ser aplicada mais freqüentemente do que em viveiros de água parada (pouca ou nenhuma troca). Fertilizantes líquidos são mais eficientes que fertilizantes granulados porque são mais solúveis e dissolvem antes de chegarem ao fundo do viveiro. Onde fertilizantes líquidos não podem ser encontrados, os fertilizantes granulados podem ser colocados na água (1 parte de fertilizante em 10-20 partes de água) e aí deixados para descansar por 1-2 horas e só então devem ser misturados. A papa de fertilizante pode ser espalhada sobre a superfície do viveiro como uma alternativa ao fertilizante líquido.
Alimentação e Aeração
Em viveiros onde a água não é trocada e não possuem aeração, as taxas de alimentação acima de 30 kg/ha por dia podem ser utilizadas sem grandes perigos com relação a queda de Oxigênio Dissolvido. Sob taxas mais altas de alimentação, trocas de água e aeração devem ser empregadas como medida preventiva para queda brusca de oxigênio. Mesmo com aeração, taxas de alimentação acima de 100 kg/ha por dia não são recomendadas, ao menos que grandes volumes de água possam ser trocados.
Em cultivos com grandes densidades de estocagem de organismos, a aeração proporciona níveis adequados de oxigênio, entretanto, altas concentrações de amônia ocorrerão em resposta a amônia excretada na água pelos camarões e peixes.
Dos diversos tipos de aeração de viveiros disponíveis no mercado da aquacultura, os aeradores de pás (paddlewheel) e injetores de ar são os mais utilizados. As taxas de aeração dependem da densidade de estocagem e da taxa de alimentação, mas pelo menos 2.0 kw/ha (1 HP/acre) deve ser utilizado na taxa de alimentação de 30-50 kg/ha/dia, e 2 a 3 vezes mais serão necessários para taxas de alimentação acima de 75 a 100 kg/ha/dia.
Desta forma, mesmo com altas taxas de aeração, as taxas de estocagem e alimentação não podem ser aumentadas indefinitivamente pois, mesmo quando há bastante aeração para prevenir baixas concentrações de oxigênio, um viveiro sujeito a altas taxas de alimentação terá altas concentrações de amônia e grandes quantidades de matéria orgânica ficarão depositadas no fundo. A amônia é tóxica para animais aquáticos e grandes quantidades de matéria orgânica no fundo do viveiro resulta em baixa de oxigênio no solo e produção microbiana de nitrito, íons de ferro, gás sulfídrico e metano. Estas substâncias podem se difundir na água e intoxicar os animais.
Manejo de Solo
Tanques de sedimentação devem ser utilizados para prevenir que água carregada de partículas de solo em suspensão entre nos viveiros. Taxas moderadas de alimentação e aeração devem ser utilizadas para reduzir o acúmulo de matéria orgânica no fundo e mesmo assim sedimentos irão se acumular no fundo dos viveiros.
A matéria orgânica não se decomporá tão bem em solos saturados de água como em solos secos. Secar o fundo do viveiro entre as safras estimulará o contato do solo com o oxigênio do ar e acelerará a decomposição microbiana da matéria orgânica. Outro tratamento que estimula esta decomposição é a aragem do fundo do viveiro para melhor aeração do solo seguido da calagem para solos com pH abaixo de 7-7.5. O solo dos viveiros não devem ser secos por mais de 2-3 semanas em tempo seco porque podem ficar secos demais para a atividade microbiana.
Resumo
A manutenção de um bom crescimento fitoplanctônico através da calagem, fertilização e controle de partículas em suspensão é muito importante em viveiros sem alimentação. Em viveiros alimentados, uma alimentação moderada, aeração e secagem do viveiro entre as safras pode prevenir os principais problemas relacionados com a qualidade da água Informações adicionais sobre qualidade da água em viveiros poderão ser encontradas no meu livro “Water Quality in Ponds for Aquaculture”. Este livro poderá ser adquirido no Research Information Department, Alabama Agricultural Experiment Station, Auburn University, Alabama 36849 USA.