Medidas Preventivas: Saúde no Ranário

O controle sanitário dos ranários é de vital importância para o sucesso da criação. Acompanhamentos e exames realizados em animais doentes pela pesquisadora do Laboratório de Biologia Animal da PESAGRO-RIO, Dra. Helena Magalhães, evidenciaram a presença de bactérias patogênicas em lesões cutâneas e orgãos internos de rãs, sendo o Streptococcus sp o agente mais isolado, seguido pela Aeromonas hydrophila. Quando ocorre casos de alta mortalidade dentro do plantel, alguns antibióticos estão sendo utilizados com relativo sucesso, mas um bom manejo profilático aliado a um bom manejo geral do ranário tem evitado o aparecimento de doenças. Em uma situação de confinamento, onde usamos alta densidade de estocagem, a limpeza e desinfecção das instalações, a utilização de uma água de boa procedência, e até mesmo o tratamento dessa água, tem proporcionado a diminuição das taxas de mortalidade. Atualmente realizo o tratamento diário da água no sistema de recria (inicial, crescimento e terminação), em tipos diferentes de instalações. Utilizo cloro líquido, na proporção de 1 ml de cloro para cada 85 litros de água nas baias de crescimento e terminação deixando a água 2 horas sem circular, para só depois recomeçar a circulação. Já nas baias de iniciação (rãs pequenas), a proporção de cloro utilizada é a de 1 ml para cada 100 litros, juntamente com 3 ml para cada 10 litros de uma solução estoque de permanganato de potácio (1 g para cada litro). A adoção desse procedimento vem mantendo a mortalidade em níveis bastante satisfatórios, abaixo dos índices zootécnicos atualmente estabelecidos.

As baias de recria, são limpas diariamente, através da retirada total do resto de ração, limpeza das piscinas e troca da água. Os abrigos devem ser limpos ao se constatar a presença de restos de ração e outras sujidades dentro dos mesmos. Isso vai variar de acordo com o tipo de construção do abrigo, caso venham a se sujar com maior facilidade, metade dos abrigos devem ser limpos no mesmo dia e a outra metade no outro. Assim evita-se levantar todos os abrigos ao mesmo tempo, pois, tal procedimento deixa os animais expostos, levando-os a amontoarem-se uns sobre os outros, podendo acasionar ferimentos, além de submetê-los a um estresse desnecessário.

Após a saida total do lote, a baia deve ser desinfetada, com uma solução superclorada ou com uma solução de formalina a 2%. Deve-se também ser submetida a um vazio sanitário, para só depois entrarmos com outro lote.

No setor de girinos a qualidade da água é o principal fator para o sucesso da criação. O manejo alimentar correto, e uma boa circulação de água evitam os problemas com doenças em girinos. Ao fornecermos o alimento, devemos nos preocupar com a quantidade a ser fornecida diariamente. Essa quantidade está relacionada com a biomassa do tanque, e varia de 10 a 15% de acordo com o peso, fase em que se encontra o girino e a temperatura da água. Quinzenalmente é realizado a pesagem de uma amostra de girinos (5 a 10%), conforme a uniformidade do lote, para alterarmos a quantidade de ração. Ao constatarmos um aumento de mortalidade entre os girinos, devemos aumentar a circulação da água, ou mesmo mudarmos os girinos para um tanque com água limpa. Esse procedimento leva imediatamente a redução da mortalidade. Também quinzenalmente, pode-se fazer uso da solução de permanganato de potássio na água (3 ml para cada 10 litros) e deixá-la por 8 horas no tanque. Após esse período recomeça-se a circulação da água. Quando houver a saída do lote de girinos do tanque, o mesmo deve ser esvaziado e desinfetado, e só depois completado com água novamente, para receber outro lote.

A densidade de estocagem nos tanques de girino, pode variar de 1 litro para 2 girinos nos primeiros 30 dias e ir diminuindo até 2 litros por girino na fase pré-metamórfica.

A seguir apresentamos um conjunto de sintomas, que nos mostram que existem problemas com os animais, e sugerimos de uma forma mais abrangente, recomendações de manejo que evitem esses problemas.

Sintomas que indicam debilidade em rãs:

– Excesso de pele na água;

– Presença na pele de úlceras, tumores, pústulas hemorrágicas e modificações na coloração;

-Comportamento apático e recusa ao alimento. Muitas vezes observamos deformações, atrofias, ausência ou duplicações de membros, ausência de globo ocular, escoliose e retenção das patas anteriores no climax da metamorfose.

Essas deficiências podem ser de origem genética, devida a elevada taxa de cosanguinidade existentes na maioria dos ranários comerciais. Sintomas que indicam debilidade em girinos:

– Manchas esbranquiçadas, pele com aparência aveludada, parecendo tufos de algodão por todo o corpo;

– Pernas inchadas ou corpo inchado, deformados pelo grande acúmulo de líquido entre a pele e a musculatura;

– Pontos hemorrágicos na região ventral; – Dificuldade de nadar.

RECOMENDAÇÕES

– Uso de pedilúvio na entrada das instalações

– Instalações apropriadas para limpeza e desinfecção de utensílios com água e sabão antes da desinfecção.

– Praticar a desinfecção das instalações a cada retirada dos animais, com desinfetantes.

– As sobras de rações, animais mortos e outros resíduos do ranário deverão ser rigorosamente eliminados (incinerados).

– Quanto a visita ao ranário, se permitidas, organizar o horário e dias convenientes. Não visitar animais principalmente no horário da alimentação.

– A água a ser utilizada no ranário deverá enquadrar-se nos padrões biológicos para tal uso, e deve circular nos tanques o suficiente para eliminar dejetos dos animais e restos de ração, reduzindo a proliferação de microorganismos que possam afetar os animais;

– Evitar manejo desnecessário dos animais para que não ocorra estresse.

– Armazenar corretamente a ração, em locais arejados, sobre estrados, evitando umidade excessiva e estar sempre atento aos prazos de validade;

– Controlar a qualidade da ração fornecida aos animais, realizando amostragens periódicas e observações diárias de consumo, que normalmente variam conforme mudança da temperatura;

– No caso de aquisições de animais, não colocá-los imediatamente junto com os já existentes no ranário, deixando-os em observação;

– No caso de suspeita ou mesmo aparecimento de doenças, enviar material para exames laboratoriais, e isolar os animais em instalações afastadas.

Silvia Reis Pereira Mello – Diretora Técnica da ARERJ –
Associação dos Ranicultores do Estado do Rio de Janeiro.