Moléculas presentes em peixe brasileiro têm propriedade antimicrobiana

A Agência Fiocruz de Notícias, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), do Rio de Janeiro, publicou nota sobre uma pesquisa desenvolvida pela bióloga Cristiane Martins Cardoso de Salles, cujos resultados apontam que moléculas no muco que reveste a pele de peixes são capazes de destruir bactérias e fungos causadores de doenças em humanos e em peixes.

Segundo o estudo desenvolvido no Laboratório de Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do IOC, os peptídeos e as proteases atuam sobre a membrana das bactérias de maneiras diferentes, mas ambas livram o organismo da contaminação. Os peptídeos rompem a membrana e as proteases a digerem.

Os cientistas já sabem que o pacu, o tambaqui e o tambacu, possuem muco com propriedades antimicrobianas e esperam, agora, formular remédios a partir dessas substâncias. A expectativa é chegar a uma primeira fórmula em cinco anos.

A análise da atividade do muco, produzido naturalmente pelo peixe como proteção, é importante também para os produtores que utilizam antibióticos contra bactérias em peixes cultivados em cativeiro. Uma droga produzida a partir do muco do próprio peixe reduziria custos e proporcionaria resultados melhores, já que as substâncias podem ser sintetizadas no laboratório, sem a necessidade de utilizar os peixes. O extrato será testado também contra microorganismos que causam infecção hospitalar (Staphylococus aureus) e tuberculose (Mycobacterium tuberculosis).

Segundo a pesquisadora, os peptídeos antimicrobianos atuam, na maioria dos casos, desestabilizando a membrana celular dos microorganismos. Já a ação antimicrobiana das proteases está relacionada à fragmentação de proteínas da membrana dos parasitos, fazendo com que esse morra ou se desligue de seu hospedeiro. A partir da molécula que é quebrada por essas enzimas, é possível descobrir as diferentes classes de protease. Se uma droga for desenvolvida no futuro, é preciso que ela se ligue às classes de protease presentes no tambacu. Entre as classes, as serinil e as metaloproteases foram as mais importantes. As enzimas também foram caracterizadas quanto ao seu peso molecular.

Atualmente, os pesquisadores estão na fase de isolamento dessas proteases. O próximo passo será repetir o experimento, desta vez utilizando peixes acometidos com algumas das infecções mais comuns nos criadouros. Outro ponto importante do projeto é comparar os mecanismos de defesa do tambacu com o de outras espécies de peixe para ver se o antimicrobiano pode ser comum. “Já começamos a analisar as enzimas do pacu, que aparentemente tem defesas diferentes contra infecções em relação ao tambacu”, adianta a bióloga Cristiane Salles.