O PEIXE COMO ALIMENTO: FONTE DE ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS
A tendência nutricional da última década, preconiza uma alimentação saudável, com muita fibra e baixa ingestão de gordura e colesterol. Nesta linha, e associando a mudança no estilo de vida com hábitos alimentares mais saudáveis, surgiram os alimentos funcionais. São ingredientes inovativos, que além de nutrir, apresentam propriedades fisiológicas específicas. O ser humano, assim como os demais mamíferos, têm a capacidade de sintetizar alguns tipos de ácidos graxos saturados e insaturados, mas é incapaz de sintetizar certos ácidos graxos poliinsaturados (PUFAs), sem os quais nosso organismo não funcionaria adequadamente. Por esta razão, esses ácidos graxos são chamados “essenciais” e devem ser incluídos na dieta alimentar.
Os ácidos graxos essenciais para a alimentação humana, são os ácido linolêico (ômega-6) e ácido alfa linolênico (ômega-3). O primeiro, está presente em grande quantidade nos óleos de milho e soja, enquanto o segundo, é encontrado em vegetais de folhas verdes e no óleo de linhaça. Estes ácidos graxos não tem função apenas como fonte de energia. A sua importância está na capacidade de se transformar, dentro do nosso organismo, em formas biologicamente mais ativas (longas e insaturadas), que possuem funções: 1) estruturais nas membranas celulares, 2) desempenham importante papel no equilíbrio homeostático e, 3) nos tecidos cerebrais e nervosos. A alimentação humana, corretamente balanceada, deve atender a uma relação ótima de ômega-6 para ômega-3, de 4 : 1. Porém, o ritmo de vida atual, muitas vezes não permite uma alimentação rica e selecionada.
Os óleos de muitas espécies de peixes marinhos são ricos em EPA (ácido eicosapentaenóico) e DHA (ácido docosahexaenóico), que são as formas longas e poliinsaturadas ativas da série ômega- 3, que podemos utilizar diretamente em nosso metabolismo. Estes ácidos graxos são produzidos pelas algas marinhas, e depois transferidos de forma bastante eficiente através da cadeia alimentar, via zooplânctons, para os peixes. Dentre os peixes, aqueles que contêm maior quantidade de EPA e DHA, são aqueles que habitam as águas frias, como o salmão, a truta e o bacalhau. Estes apresentam não somente os ácidos graxos essenciais, como também são fontes protéicas de altíssima qualidade, ótima digestibilidade e baixo teor calórico. Portanto, são bastante recomendadas para ajudar a manter a boa saúde do coração e da circulação, por aumentarem os níveis de colesterol “protetor”. Também são recomendados para gestantes e lactentes para promover um melhor desenvolvimento cerebral e dos olhos das crianças.
Uma das grandes preocupações da atualidade está associada ao elevado índice de mortalidade por doenças cadiovasculares. Estas doenças têm uma etiologia multifatorial, e sua origem surge de uma combinação de diversos fatores de risco.
Porém, vários destes fatores de risco podem ser positivamente modificados pela ação dos ômega-3 H UFA. Dados experimentais (Kromhout et al., 1985) e epidemiológicos, mostram uma redução sígnificativa no índice de mortalidade por doenças coronarianas, confirmando a atividade cardioprotetora dos ácidos graxos EPA e DHA. Portanto, é bastante justificável, numa orientação dietética, recomendar a ingestão de um ou dois pratos de peixe por semana.
APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS DA TRUTICULTURA
Uma das preocupações dos truticultores, atualmente, é o que fazer com o efluente sólido, ou seja, o que sobra do abate dos peixes. Até pouco tempo atrás, o normal era enterrar as vísceras e as sobras do filetamento. Com o aumento da produção e, conseqüentemente, dos efluentes produzidos, outros procedimentos passaram a ser praticados. O truticultor João Luis Sauer Dias (tel: 35-3799-9992), dá algumas dicas para o melhor aproveitamento desses resíduos: 1) cozinhar as vísceras, retirar o óleo sobrenadante para aditivar à ração que será fornecida aos peixes e a sobra, misturada com farelo de trigo, poderá ser utilizada para alimentação de porcos ou gado; 2) cozinhar as vísceras e as sobras do filetamento, secar, adicionar pó de ração e peletizar, para alimentação dos peixes; 3) congelar as sobras do filetamento e entregar às prefeituras das pequenas cidades, para serem incorporadas à merenda escolar.
Esta procura de soluções tem sido uma constante nos países com grande tradição pesqueira, onde as vísceras, restos e demais sobras de peixes capturados e processados eram jogados ao mar. Algumas firmas de pesca instalaram fábricas de farinha de peixe na própria embarcação, outras instalaram sistemas de processamento em terra para produzir farinha e óleo de peixe, e farinha de osso. Recentemente, a gigante alemã BASF assinou um acordo com uma empresa de pesquisa norueguesa para processar restos de peixes para obtenção de compostos farmacêuticos. A empresa de pesquisa norueguesa RUBIN está pesquisando a obtenção de cosméticos, a partir dos restos de processamento de peixes. E, dependendo do tamanho da sua piscicultura, o produtor pode estar montado em cima de um tanque de combustível. Recentemente foi publicado que a planta de processamento de peixes de Hordafôr, em Austevoll na Noruega, utiliza em todos os seus motores diesel, sejam estacionários ou não, óleo retirado do salmão. Produz cerca de 13.000 toneladas de óleo de salmão por ano e o gerente da planta informa que utiliza o óleo diretamente sem aditivo nenhum, e que os veículos trabalham perfeitamente. É esperar para ver as novas idéias que surgirão.
TRUTAS TRIPLÓIDES
Uma pesquisa realizada no Instituto de Pesca/APTA/SAA/SP em Campos do Jordão, em parceria com o Instituto de Biociências/USP, mostrou que a taxa e a freqüência de regeneração de nadadeira em trutas triplóides são significativamente maiores do que em trutas diplóides.
Peixes triplóides contêm três conjuntos cromossômicos, um a mais do que os normais (diplóides), que é incorporado artificialmente pela manipulação cromossômica. Estes animais são indicados para produção de peixes de grande porte, pois, por serem estéreis não se reproduzem e apresentam maior ganho de peso após atingirem a idade de reprodução (Panorama da Aqüicultura, v.7, n.41, p.14-21, 1997, esgotada e disponibilizada na íntegra na www.panoramadaaquicultura.com.br). Esta melhor capacidade de regeneração dos triplóides poderia ser aproveitada nos cultivos de truta onde as lesões de nadadeiras são bastante freqüentes em decorrência do regime intensivo empregado.
Trabalho publicado integralmente no: Journal of Experimental Zoology, v.287, p.493-502, 2000. Mais informações com Mônica Alonso pelo e-mail: [email protected], ou pelo telefone (12) 263 1021, no Núcleo Experimental de Salmonicultura.
ABRAT
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