NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE – edição111

De: Luiz Carlos
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Assunto: A ranicultura anda meio esquecida
Muitos ranicultores estão deixando a atividade, uns pelos altos custos de manutenção dos ranários, outros pelo custo de manejo, da mão de obra ou ainda por falta de incentivo, seja por parte de instituições oficiais ou até mesmo de grupos onde possam discutir, trocar idéias ou informações como acontece na piscicultura. Novas soluções para a criação, alternativas ao método clássico de criação e manejo são necessários para até mesmo incentivar os interessados em começar uma criação. Livros e outras publicações recentes são pouco encontrados. Numa pesquisa na internet fomos encontrar uma publicação de 1988 e sua terceira edição datada de 1995, e estamos em 2009. Estamos engajados num projeto, buscando conscientizar os ranicultores, bem como os interessados em iniciar na ranicultura, da necessidade do desmembramento dos ranários, a exemplo de outras culturas como a piscicultura, a avicultura, etc., pois só assim é que podemos nos aprimorar em cada uma das etapas da criação de rãs. Ter criadores especializados em produzir girinos, outros especializados em produzir imagos e outros que se dediquem ao crescimento e à terminação (engorda). E é certo que com isso, acreditamos que mais pessoas possam vir para a ranicultura, e, o importante, não tendo que montar um ranário completo, ou seja, se dedicando a uma ou mais das fases de criação. E ainda podemos ter um retorno financeiro melhor. Acreditamos também que assim podemos incrementar a ranicultura familiar, a exemplo da avicultura, onde os pequenos produtores adquirem os pintinhos de um dia e numa pequena granja desenvolvem o crescimento e engorda, e em pouco mais de três a quatro meses tem retorno com os frangos para abate. Da mesma forma, como na piscicultura, onde temos piscicultores especializados na produção de alevinos, outros que levam até os juvenis e outros ainda que trabalham com o crescimento e engorda.

De: Andre Muniz Afonso
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Assunto: Re: A ranicultura anda meio esquecida

Assim é realmente difícil. A ranicultura está esquecida há muito tempo. Talvez porque outras alternativas de ganhos de capital mais interessantes tenham surgido; talvez porque alguns outros produtos possuam maior facilidade de escoamento; talvez porque não seja tão fácil assim criar rãs como atividade do tipo “ganha pão”; ou, talvez porque a grande maioria das pessoas conheça alguém que, literalmente, quebrou a cara ao entrar no negócio. Qual das alternativas escolher? Uma? Duas? Todas? Vários podem ser os motivos, mas seguramente podemos dizer uma coisa, e olha que não é exclusividade da ranicultura, falta profissionalismo no ramo!!!

De: Marco Pintaudi
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Assunto: Re: A ranicultura anda meio esquecida
Olá André, você tem razão quando diz das dificuldades da ranicultura. Crio rã há mais de 20 anos e, se quer saber, estou bem desanimado com a criação. Estou começando uma pequena criação de ornamentais, e se pegar gosto pelo negócio penso que até posso encerrar as atividades do ranário. Tem mais um fator que poderia ser colocado nas suas alternativas, funcionário para cuidar de rã não é fácil!!!

De: Saulo Edy Kann da Rocha Santos
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Assunto: Re: A ranicultura anda meio esquecida
Caros colegas da lista, realmente o fator “ração” ainda é um dos principais problemas na ranicultura, mas já estão trabalhando para desenvolver uma tabela com as exigências nutricionais da rã, ficando então mais fácil para formular uma ração específica. A técnica de inseminação artificial na rã já não é mais um bicho de sete cabeças. Acredito muito no crescimento da ranicultura em nosso país.

De: Ricardo Y. Tsukamoto
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Assunto: Re: A ranicultura anda meio esquecida
Na minha visão, a atividade de ranicultura está regredindo por falta de mercado, e não por falta de tecnologia. Os técnicos de ranicultura sempre declaram em congressos, que o Brasil é o país do mundo onde a tecnologia de criação de rã avançou mais. Atualmente há uma variedade de opções de sistema de cultivo: em baia, em estufa aquecida e até em armário com prateleiras. O governo construiu abatedouro para rãs aqui no Sudeste. Um criador de rãs razoavelmente treinado cria seus animais sem problema. O problema real está em alcançar o lucro na atividade. O alto preço com que a rã é vendida em restaurantes desestimula o consumidor potencial. Talvez alguém diga que é o intermediário ou o dono do restaurante que fica com a maior parte do valor, mas isto ocorre também para qualquer outro produto. Devido aos próprios hábitos da rã, o custo de sua produção em cativeiro é inevitavelmente maior que o das outras fontes de carne disponíveis ao consumidor. Por isso, para vender bem, a rã deveria ter uma imagem de produto que justificasse o seu custo. Mas não tem. Não é um produto de luxo. Além de causar repulsa em muita gente, ainda tem a imagem da rã boazinha nos desenhos animados da TV. No século passado, a rã nativa era consumida no interior do país por uma certa parcela da população rural. Era mais um produto da culinária local, como bunda de tanajura frita (abdomen da formiga içá). Nas últimas décadas, a população brasileira migrou para as cidades e vem tomando hábitos de vida cada vez mais globalizados. E isso inclui a eliminação dos hábitos alimentares que os avós tinham no interior, com caça de pequeno porte como preá, rã, lagarto teiú, nhambú e outros. Eu, que sou de outros tempos, já comi de todos e gostei, mas minha filha tem muita pena deles (já da vaquinha da picanha ela não tem…). Como exemplo similar ao da rã, um dos produtos “típicos” da culinária francesa – o escargot – vem decaindo de aceitação pelas novas gerações daquele país. Pelo que ouvi, também no Japão, pratos tradicionais fermentados (e fedorentos), como o natto e o ika-no-shiokara, ou o gafanhoto seco (inago) tem sido repelidos pelas novas gerações japonesas com hábitos cosmopolitas. Assim, não creio que a ranicultura tenha espaço para aumentar a escala aqui. Não vejo novos consumidores entrando no mercado para isso; pelo contrário, os vejo desaparecendo. No máximo, permaneceria como atividade artesanal, caso haja possibilidade do produtor obter algum lucro. Caso contrário, o produtor deveria procurar outra espécie – tilápia, peixes nativos e outros. Muita gente deve discordar de mim, com argumentos como o de que se houver mercado para os subprodutos (couro, fígado, óleo), talvez o lucro viesse. Mas será que vale a pena gastar tempo e recursos privados em uma atividade que esteja moribunda, ao invés de alocar tais recursos para outra com maior potencial?

De: Fabio Sussel
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Assunto: Re: A ranicultura anda meio esquecida
Bom, eu não acho que falta mercado para carne de rã. Há uns quatro anos eu tinha contato com alguns ranicultores e dava suporte a eles. Eram clientes da fábrica de ração na qual eu trabalhava e, apesar do pouco volume de ração que os mesmos consumiam, sempre fiz questão de acompanhá-los de perto, pois, acreditava e ainda acredito na atividade. Nesta época (e não faz tanto tempo assim) o grande entrave destes produtores era a dificuldade em se ter escala de produção. A ausência desta escala era em decorrência de constantes mortalidades na fase de crescimento e terminação. O mercado só não era mais comprador porque não havia oferta constante do produto. Aqueles clientes que queriam repetir a compra, não encontravam o produto na gôndola. Até ao ponto de descobrirem quem era o produtor e então passar a fazer encomendas direto ao mesmo. De acordo com discussões ocorridas no ano passado nesta lista, foi possível constatar que estas mortalidades ainda continuam ocorrendo. Portanto, continua-se esbarrando em problemas técnicos. Lembro-me que a discussão iniciou-se com um produtor procurando por laboratórios que fizessem exames bacteriológicos, pois seus animais estavam morrendo e necessitava de ação rápida. Na época em que eu acompanhava de forma mais direta a atividade, pude presenciar que o ranário se comportava uma beleza durante seis a sete meses e, do nada, iniciavam mortalidades que, em quatro ou cinco dias perdia-se em torno de 50% dos animais. O desespero dos produtores era tanto, que erroneamente entravam com vários tratamentos ao mesmo tempo (antibiótico na ração, desinfecção das baias, limpeza da caixa d’água de abastecimento, abertura total das cortinas da estufa e etc.). A mortalidade parava, porém, ninguém ficava sabendo qual o tratamento tinha funcionado. Passava-se mais seis, sete meses de calmaria e novamente surgiam mortalidades. E a estória do tratamento era a mesma, indicando que havia carência de tecnologia, de informações. Contudo, há que se considerar que houve evolução, sim, das tecnologias empregadas. Nenhuma Ferrari já “nasceu” pronta. Os problemas observados são decorrentes do próprio avanço. Entretanto, esta “questão tecnológica” não depende tanto de pesquisas científicas as quais às vezes demandam de um a dois anos para se obter resultados. Acredito que a curto prazo é possível de se obter avanços na atividade por meio da maior união de quem produz e dos órgãos de extensão. Tanto que foi este o objetivo inicial desta discussão na lista – união dos produtores para troca de informações. A pesquisa científica deve ficar com questões mais refinadas. Portanto, minha opinião é que estamos diante da famosa situação que o mercado é “modesto” porque não há escala de produção. E esta escala vem esbarrando em “dificuldades” técnicas dos sistemas produtivos. Parece-me que esta situação é diferente do que observamos com o escargot e o bagre africano, por exemplo. Estas espécies tinham condições de manter uma escala de produção, porém, foi o mercado comprador que não quis saber delas – diga-se de passagem, eu como comedor de peixe não vejo qualquer problema com a carne do bagre africano. Diante dos vários e-mails postados sobre o assunto pode se constatar também que existem várias tecnologias dando bons resultados, porém, cada ranário domina uma destas. Da a impressão que cada produtor quer ter o seu “pulo do gato”, entretanto de nada adianta cada um ter o seu “segredinho” se a cadeia produtiva não esta fechando. Resumindo meu ponto de vista: o mercado e as tecnologias mínimas existem, falta escala de produção e transferência das tecnologias existentes.