NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE – edição125

Para fazer parte gratuitamente da Lista Panorama-L vá ao site
www.panoramadaaquicultura.com.br clique em Lista de Discussão e siga as instruções.


De: Ricardo Y. Tsukamoto
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Crítico europeu do Panga muda de
opinião após visita ao Vietnam

Tal como aqui no Brasil, os aquicultores europeus estão cada vez mais preocupados com a crescente importação do panga produzido no Vietnam. A forma de reação comum são as campanhas difamatórias do produto, frequentes na Europa e na internet. Há grande pressão política para tentar conter a importação de panga, adotando os argumentos difamatórios da qualidade do produto e seu impacto ambiental. Anteriormente, missões técnicas ao Vietnam observaram que não havia fundamento nas alegações difamatórias. Mas desta vez, um dos mais importantes políticos europeus que combatia o panga, voltou do Vietnam com uma opinião oposta às suas alegações anteriores. Por ser um Membro do Parlamento Europeu (MEP) e vice-presidente do Comitê da área pesqueira do Parlamento Europeu, a sua posição de estar satisfeito com a sanidade do produto e seu processo devem ter considerável impacto nas pressões anti-panga na Europa. As informações originais estão no artigo adiante. O Brasil, que recentemente criou uma barreira burocrática para tentar conter o panga, acabará tendo que abrandar o combate. Só existe uma solução: os aquicultores brasileiros terão que aumentar a sua eficiência e baixar os custos, para poder competir. Isto já aconteceu antes com outras indústrias brasileiras. Um caso emblemático foi o da indústria têxtil, que praticamente faliu com importações da Ásia, mas após fazer o dever de casa, ressurgiu com grande sucesso.

Escocês Membro do Parlamento Europeu muda de opinião sobre a aquicultura vietnamita – http://www.fishnewseu.com – 23/05/2011
Visto como um dos principais críticos dos padrões utilizados na piscicultura vietnamita, Struan Stevenson, membro do parlamento europeu e vice-presidente sênior do European Parliament’s Fisheries Committee, reconheceu que os consumidores e aquicultores da União Européia têm agora pouco a temer em relação às crescentes importações do pangasius vietnamita, que atingiram 230.000 toneladas em 2010. Stevenson havia demonstrado suas preocupações com os padrões de higiene, alimentação, bem-estar animal e saúde dos peixes nas muitas das 1.600 fazendas no país. No entanto, após uma visita à região, disse que sua própria atitude para importações de peixes cultivados no Vietnã, mudou para melhor. Ele também concluiu que a crescente demanda por esses peixes apresenta uma enorme oportunidade para os negócios na União Européia, que está pronto para participar de um mercado em crescimento. Voltando de sua viagem ao Vietnã, Stevenson comentou: “Até recentemente, eu era um forte crítico da produção do panga, mas tendo visto os métodos de produção e aprendido mais sobre este mercado altamente regulado, estou pronto para admitir que o meus comentários anteriores foram mudados. Só as maiores e mais eficientes fazendas de pangasius no Delta do Mekong exportam para a Europa. Estas instalações foram inspecionadas e aprovadas pela Comissão Européia, e são regularmente auditadas pelos grandes compradores de supermercados como ASDA, Tesco e Carrefour, de modo que os consumidores da UE não têm necessidade de se preocuparem com a qualidade do alimento em suas mesas”, disse Stevenson. E completou: “longe de encontrar uma atividade anti-higiênica, suja e poluidora, eu descobri uma nova indústria dinâmica, que está vindo de encontro ao bem-estar social e normas de higiene, produzindo um produto de qualidade sob condições de primeira linha. Ele também oferece empregos seguros, benefícios da previdência social e pensões para milhões de pessoas extremamente pobres no Delta do Mekong”. Stevenson também acalmou os receios de que a exportação da produção barata de pangasius seria desvantajosa para os produtores da UE, acrescentando: “O nosso setor aquícola escocês em expansão cria principalmente o salmão e a truta, ricos em Omega-3, enquanto o panga é um peixe de carne branca – semelhante ao bacalhau ou haddock e com poucas espinhas. A UE tem se beneficiado da rápida expansão da piscicultura no Vietnã, exportando conhecimentos e equipamentos para cultivo e processamento, e espero que nossos negócios continuem a colher no futuro benefícios deste mercado.”

De: Alexandre Alter Wainberg
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Crítico europeu do Panga muda de opinião após visita ao Vietnam

Você está parcialmente certo quando indica a saída da eficiência para sobrevivência da aquicultura nacional frente a ameaças como o panga do Vietnã. No entanto, o Brasil tem suas peculiaridades que estão fora do alcance do aquicultor intervir. Sua eficiência produtiva fica prejudicada pela carga tributária, gargalos na infraestrutura, relações trabalhistas, legislação ambiental, etc. O tal custo Brasil. O Vietnã é comunista e não tem nada disto. A indústria têxtil brasileira ressurgiu das cinzas devido aos investimentos feitos em máquinas modernas, incentivos fiscais de programas oficiais via BNDES e ganho de escala na produção. Infelizmente, as pequenas e médias tecelagens desapareceram por completo.

De: Ricardo Campos
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Crítico europeu do Panga muda de opinião após visita ao Vietnam

Talvez seja a hora dos piscicultores investirem mais na venda de peixe fresco e peixe vivo. Aqui no Ceará o panga só assustou empresas que vendem merluza, piramutaba, mapará, etc.: congelados. Sobre o setor têxtil, segue dados de um artigo recente: de janeiro a abril deste ano, a indústria têxtil e de confecção brasileira teve um déficit de US$ 1,5 bilhão, ou seja, 44,5% a mais do que o resultado do mesmo período do ano passado, cujo saldo foi também negativo. O Brasil exportou em produtos têxteis e de confecção o equivalente a US$ 463,3 milhões e importou US$ 1,98 bilhão. Agora, anotem: o Brasil, sem saída, terá de estabelecer barreiras ao produto chinês que é do tipo bom, bonito e barato.

De: Álvaro Graeff
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Crítico europeu do Panga muda de opinião após visita ao Vietnam

Infelizmente o mercado mundial tem destas coisas. Eu exporto o que tenho de melhor por preço competitivo e vou importar o que não tenho por preço baixo. Como conseguir isto? Sendo eficiente nos meios de produção. O caso têxtil para nós aqui de Santa Catarina é típico e emblemático: só ficaram os mais eficientes (não os maiores) com mudança de foco. Exemplo? A Hering têxtil passou de só fabricar a fabricar e comercializar seus produtos através de suas lojas de marca. Quanto vale uma marca consagrada? Quanto vale a marca Coca-Cola? Temos que ser criativos e vender marcas estabelecidas. Diferente do que está acontecendo aqui na minha região, onde na mesma gôndola estão sendo vendidas três espécies: panga a R$ 12,00; jundiá a R$ 21,00 e a tilápia a R$ 22,00. Não preciso dizer o que realmente está vendendo bem, não é?

De: Mauricio Emerenciano
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Crítico europeu do Panga muda de opinião após visita ao Vietnam

Só pegando uma carona na discussão, enfocando a questão do marketing e preço que os colegas comentaram. Aqui no México, quando vou aos grandes supermercados (SAM’s, Costco e outras redes nacionais) a tilápia frequentemente encontra-se com o nome “Branco do Nilo”, “Filé Oriental”, “Oriental do Nilo”, etc. e o panga como “Barbero”. Claro, eu sempre dando uma de “detetive” olhando nas embalagens, sempre encontro em letras pequenas “Oreochromis niloticus” e “Pangasius”. Apesar da abundância de peixes marinhos na região (extrativismo), com a oferta em seus períodos específicos (pargos, garoupas, barracudas, robalos, cobia, etc.), nos restaurantes populares, buffet e/ou fast-food (não nos restaurantes de público específico, ex. restaurantes japoneses, de frutos do mar, etc.) só dá tilápia e panga. A resposta parece ser óbvia: preço, geralmente muito mais baratos que os marinhos, uniformidade do produto, excelente apresentação e higiene (o que infelizmente não acontece com os marinhos) e regularidade no abastecimento/ compra.

De: Ricardo Y. Tsukamoto
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Crítico europeu do Panga muda de opinião após visita ao Vietnam

Fiquei muito contente em constatar o enorme feedback de membros da lista à minha provocativa mensagem! Profissionais consagrados da aquicultura, tanto da área acadêmica como da produção, ofereceram a sua visão pessoal do problema, pelo que agradeço a todos. A situação no México, relatada pelo Maurício Emerenciano, é muito interessante. Naquela terra de tradicionais peixes marinhos, os peixes de água doce tilápia e panga sobressaem agora nos restaurantes. Aqui no Brasil, tive a mesma impressão após voltar recentemente a Recife depois de muitos anos. A mudança me impressionou tanto, que aproveitei para fazer uma breve avaliação quantitativa desta nova tendência, a qual tomo a liberdade de reproduzir abaixo:
Capital dos peixes marinhos é dominada pela tilápia: Recife substituiu os frutos do mar pela tilápia

Nos últimos anos, os restaurantes das grandes cidades do Brasil organizam um evento anual de promoção. Cada restaurante oferece um prato demonstrativo de sua culinária, a preço mais baixo que o usual. O evento conjunto permite que os restaurantes aumentem o seu movimento numa época fora da alta estação, ao mesmo tempo em que atraem novos clientes para conhecê-los. Durante 20 dias, 40 restaurantes de médio e alto padrão da Região Metropolitana do Recife realizaram o Festival Recife Sabor e Arte. Cada restaurante participante entrou no evento para demonstrar o que tem de melhor, visando fidelizar o novo cliente. Por isso, este festival se tornou uma excelente oportunidade para quantificarmos o rumo da culinária recifense.

O pescado foi o prato demonstrativo em 58% dos restaurantes, enquanto outros produtos (carnes, pizza, etc.) responderam por 42%, indicando que o pescado continua a ser a prioridade culinária da cidade. Nos 27 restaurantes em que o pescado era destaque, 59 % deles adotaram o prato de peixe, e 42 % frutos do mar – categoria que abrange peixes e crustáceos. Dentre os peixes servidos, a tilápia foi de longe a espécie principal, em 44 % dos restaurantes, seguida de bacalhau e pescada com 12,5 % cada, salmão com 6 %, e o restante dos 25 % dos restaurantes não especificou a espécie de peixe usada no prato. Chamou a atenção, a tendência quase absoluta de apresentar a tilápia grelhada, em 86 % dos restaurantes, enquanto a forma de panqueca foi adotada por 14% deles. Os pratos de tilápia tiveram uma média de preço de R$ 31,77, variando do mínimo de R$ 18,90 ao máximo de R$ 48,90.

No supermercado de linha mais popular Hiper, do Shopping Tucunduva, o filé de tilápia resfriado custava R$ 19,98/kg. Em conclusão, a tilápia desbancou completamente os peixes marinhos, que eram uma tradição secular no Recife e Olinda. Há duas décadas, os pratos tradicionais ali eram o agulha frito e a pescada amarela. No mercado central de Recife, o São José, os peixeiros reclamam que a pescada amarela agora vem de longe, do Pará, pois se tornou escassa no litoral nordestino.

Portanto, na era atual, a fritura de peixe deu lugar ao grelhado, e o peixe marinho foi substituído, na sua antiga casa, pela tilápia cultivada em água doce. Além disso, a nova espécie ganhou ares nobres, aparecendo sempre como “tilápia”, até nos cardápios dos restaurantes mais sofisticados. Contrasta com o Sul-Sudeste do país, onde o preconceito faz com que ela seja referida por estrangeirismos.