NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE – edição129

De: Alvaro Graeff
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Assunto: Sistema 6:1

Estimado Francisco, você desenvolveu o sistema 6:1 (seis dias alimentando seguidos de um dia de jejum) neste verão com suas tilápias? Você pode comentar o resultado comparando com o tradicional 7:0?

De: Jose Maria Couto
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Assunto: Re: Sistema 6:1

Sinceramente, acho que esse negócio de 6:1 não deve existir numa piscicultura profissional, o peixe tem é que comer todo dia mesmo. Que me desculpem aí os catedráticos, mas isso não é preciso estudar e publicar não, o resultado não será o mesmo.

De: Catia Aline Veiverberg
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Assunto: Re: Sistema 6:1

Em outras áreas da zootecnia, como a avicultura, tem se verificado que o regime alimentar com um dia de intervalo (sem arraçoamento) ou até mesmo “2 dias sim/1 dia não” tem garantido resultados semelhantes ou até mesmo superiores aos observados nos animais alimentados diariamente. Isso se deve a uma espécie de “reorganização” metabólica, que se adapta a esse novo método alimentar e resulta em ganho compensatório ao período de restrição. Ainda, se formos considerar as vantagens em termos de mão-de-obra, acho que é perfeitamente viável aprofundarmos estudos nesta área, não apenas do ponto de vista zootécnico, mas também metabólico e de qualidade do produto final (quem sabe reduzir a deposição de gordura em algumas espécies?!). Acredito que temos um campo magnífico pela frente!

De: Ricardo Y. Tsukamoto
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Assunto: Re: Sistema 6:1

Numerosos trabalhos pelo mundo observaram que alimentar a tilápia duas a três vezes por dia aumenta a taxa de crescimento. Porém, isso frequentemente leva a uma queda na conversão alimentar – que é o aspecto mais importante para o aquicultor. Assim, crescer mais rápido não significa crescer com melhor custo benefício. Um interessante trabalho brasileiro a esse respeito foi apresentado no WAS do ano passado em Natal. Feito por pesquisadores da APTA/SP e Embrapa, observou que a melhor conversão alimentar ocorreu nos peixes alimentados apenas por 5 dias por semana (1 x/dia), comparado com frequências maiores de alimentação. Isto vai além do 6:1 questionado nesta lista, e cria o patamar de 5:2! Já na criação de tilápia em viveiros, um trabalho com fazendas de produção nas Filipinas verificou que a melhor conversão alimentar veio da alimentação dia sim – dia não (Alternate day feeding), o que melhora mais ainda. O resumo está em: www.agribusinessweek.com/tilapia-feeding-strategies-for-more-income/. Portanto, muitas surpresas estão ocorrendo com o avanço recente das pesquisas em aquicultura. Muitas outras ainda não publicadas já foram comprovadas.

De: Rudã Fernandes Brandão Santos
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Assunto: Re: Sistema 6:1

Recentemente realizamos um experimento aqui no laboratório com acará bandeira avaliando três níveis de frequência alimentar diária (1, 2 ou 4 alimentações por dia) em esquema fatorial realizando a privação no final de semana ou não (5:2). Esquema fatorial 3×2. Identificamos que o manejo de uma alimentação diária sem privação pode ser utilizado quando se objetiva a manutenção do peso dos peixes (não compromete o fator de condição). O manejo de duas alimentações diárias sem privação e o de quatro alimentações com ou sem privação alimentar resultam em desempenhos zootécnicos semelhantes. Usar o esquema 5:2 realizando somente duas alimentações por dia não é interessante, o peso, a TCE, a conversão foram comprometidas. Quatro alimentações diárias com privação alimentar resultam em peixes com maior peso final (não ocorreu diferença estatística). O manejo de duas alimentações diárias sem privação é o que apresenta os menores custos com mão de obra e ração (mesmo considerando a hora extra nos fins de semana o custo com mão de obra é menor.. A conversão alimentar também foi menor, mas atribuo isso ao fato de que nos tratamentos que receberam 4 alimentações diárias o consumo de ração foi maior).

De: Andrés Wakeham
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Assunto: Re: Sistema 6:1

A origem do 6:1 é diminuir custos numa piscicultura profissional como você diz, já que na atividade profissional se trabalha com funcionários devidamente registrados e se respeita a CLT, portanto tratar no domingo tem um custo elevado. Os catedráticos pesquisam o efeito do 6:1 no animal e o empresário avalia o custo/beneficio e decide.

De: André Pellanda de Souza
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Assunto: Re: Sistema 6:1

Em sistemas semi-intensivos que trabalham com a ração aliada ao alimento natural não tenho dúvidas que pode funcionar, acho que as pesquisas deveriam priorizar os sistemas intensivos de produção, onde ocorre o maior gasto com ração e mão de obra. Outra questão interessante a ser avaliada é a idade do peixe, creio que quanto mais “adulto” o peixe, maior a eficiência destes sistemas de restrições de ração, pois ao alcançar determinada idade ocorre no peixe um maior acúmulo de gordura que pode servir de reserva nutricional.

De: Alvaro Graeff
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Assunto: Re: Sistema 6:1

Quando eu perguntei para o Dr. Francisco se ele tinha colocado em prática o sistema foi porque já tínhamos discutido muito aqui na lista, o que novamente está acontecendo. E eu e minha equipe que desenvolvemos o método ficamos de avaliar, acompanhar e orientar o resultado de quem adota. Pois bem o convite ainda está aberto. Eu não tenho a menor dúvida que o sistema funciona, e como disse nosso colega Tsukamoto, é a ponte para novos estudos. Já estamos estudando e virão novas respostas visando somente viabilizar economicamente os empreendimentos piscícolas.

De: Alexandre Borges
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Assunto: Piscicultura orgânica

O mercado dos orgânicos é um setor que está crescendo bem no Brasil. A demanda por produtos orgânicos e sustentáveis está em alta. Mas o volume de produção ainda é pequeno, principalmente na piscicultura. Devemos incentivar os setores da economia a fazer e garantir o registro na piscicultura orgânica. O próprio mercado não está adequado para produzir alimentos naturais. A indústria de ingredientes, por exemplo, se acostumou a desenvolver elementos artificiais. Voltar aos tempos dos nossos avós, que consumiam tudo fresquinho e com qualidade, é muito difícil. O mercado ainda depende do aumento do número de consumidores desse tipo de produtos para ganhar escala. A massa crítica deste tipo de mercado precisa crescer e os consumidores precisam ser mais bem informados sobre o que são os produtos sustentáveis e orgânicos. Também existem barreiras para um maior crescimento nesse setor: preço alto e falta de conhecimento da população do diferencial dos produtos orgânicos e sustentáveis. É preciso convencer o consumidor de que sabor e saúde são compatíveis.

De: Dacley Hertes Neu
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Assunto: Re: Piscicultura orgânica

Há algum tempo atrás participei de uma palestra sobre orgânicos e alguns dados foram apresentados, dentre eles: os orgânicos representam 1% de tudo o que é vendido no mercado de varejo alimentício do mundo; taxas de crescimento de 25% ao ano (é o segmento alimentício que mais cresce no mundo); preços 10% a 20% maiores que os produtos convencionais; varejistas geralmente pagam no ato da compra; mercado varejista da aquicultura orgânica já movimenta 4 mil toneladas de salmão, 7 mil toneladas de camarões, 2,4 mil toneladas de catfish, 400 toneladas de filés de tilápias e 1 milhão de ostras. Bom, isso já faz algum tempo, então acredito que já pode ter aumentado esses valores. O que realmente precisa é de demanda para diminuir os custos, e que fábricas consigam a certificação para produzir a ração orgânica e, a partir disso alguns pontos poderão ser simplificados, mas o caminho é esse, embora iniciado o percurso, tem muito que percorrer.

De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Re: Piscicultura orgânica

Dacley se for esperar “preço prêmio”, é melhor esperar sentado. Eu também não acredito que exista motivo para produção orgânica ser mais cara. Na PRIMAR é mais barata.

De: Marcelo Lima
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Assunto: Re: Piscicultura orgânica
Alexandre, a carcinicultura orgânica do Ceará, em especial o Camarão da Costa Negra o qual, diga-se de passagem, é o único com “denominação de origem” no mundo, é vendido com preço prêmio. Acho que seria interessante você entrar em contato com Livino Sales para conhecer melhor o que eles estão fazendo.

De: Sérgio Almeida
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Assunto: Falta e super safra de camarão
A notícia a seguir publicada no Jornal Zero Hora procede? 

“Falta de chuva pode favorecer super safra de camarão na Lagoa dos Patos com possibilidade de redução nos preços”. Aberta desde a madrugada desta quarta-feira, a temporada de captura do camarão na Lagoa dos Patos é vista com grande expectativa pelos pescadores. Com previsão de pelo menos 5 mil toneladas do crustáceo, a estimativa é que o preço do animal com casca, para o produtor, fique entre R$ 4 e R$ 5 e menos de R$ 10 o descascado… O otimismo com a safra se dá pela mesma razão que preocupa os produtores rurais: a seca. Isso porque a falta de chuva permite que a Lagoa dos Patos fique salgada pela entrada da água do mar, favorecendo a reprodução dos camarões.

De: Geraldo Kipper Foes
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Assunto: Re: Falta e super safra de camarão

Sim, procede. Há uma perspectiva de captura por volta de 4.000t nesta safra, podendo até ser capturado mais. A Lagoa dos Patos ficou muito salgada devido ao fenômeno La Niña. A água está salgada até próximo a Porto Alegre, que fica mais de 200 km da desembocadura da Lagoa, na cidade do Rio Grande. Hoje foi o primeiro dia da abertura da safra e as imagens da tv mostraram camarões com peso médio em torno de 8-11 g. O mercado está muito aquecido na região sudeste-sul. Acredito que essa quantidade seja absorvida rapidamente.

De: Giovanni Lemos de Mello
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Assunto: Re: Falta e super safra de camarão

No Sul de Santa Catarina já estamos sentindo os efeitos do camarão oriundo da pesca na Lagoa dos Patos. Até semana passada, camarões de cultivo de 9 g estavam sendo comercializados a R$ 11,00/kg. Nesta semana, os preços já reduziram, e a tendência é diminuir ainda mais. Realmente parece que a super safra de 2005 vai se repetir. Em 2005 ainda tivemos outro agravante quando a mancha branca começou a ocorrer em dezenas de fazendas e os produtores tinham que despescar às pressas, sem ter para quem vender o camarão pois, assim como está ocorrendo agora, naquele ano os compradores também estavam em massa por aí (RS). Nem caminhões, nem caixas para acondicionamento haviam em Laguna, foi um caos. Contudo, o sol nasce para todos, e os pescadores do RS também merecem ter seus longos dias de fartura. A carcinicultura brasileira é quem precisa trabalhar melhor a comercialização e a agregação de valor em seus produtos, deixando um pouco os atravessadores de lado. Afinal, a partir de agora, enquanto tiver camarões da pesca sendo vendidos na Lagoa dos Patos a R$ 1,00 – R$ 5,00 o quilo, o número de caminhões subindo para o Nordeste em busca dos camarões de cultivo se reduzirá.

De: Geraldo Kipper Foes
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Assunto: Re: Falta e super safra de camarão

Sem dúvida, naquele 2005 fatídico, havia uma biomassa estimada em torno de 3.000 ton nas fazendas. Não havia compradores, nem beneficiamento suficiente. Foi um caos, como bem disseste.

De: Marcio Bezerra
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Assunto: Re: Falta e super safra de camarão

Geraldo e demais, apenas fazendo um comentário sobre o tema, todavia com outro viés. Acredito há bastante tempo que o camarão da Lagoa de Patos sempre foi o exemplo prático mais real de “blefe” associado à falta de informações comerciais que pairam sobre alguns carcinicultores nordestinos. Nossa! Como teve gente que ganhou (e ainda ganha) dinheiro com essa “desatenção” do pessoal por aqui. Nos últimos anos, quando a carcinicultura brasileira passou a direcionar sua produção para o mercado interno, vimos claramente que nosso mercado absorveu, em média nos últimos quatro anos, e em cenários estatísticos pessimistas, 40 mil toneladas por ano. Onde, com raras exceções e respeitando a sazonalidade, encontramos problemas em vender camarão. Com base nessas informações, foi impressionante  ver por aqui produtores aceitarem, passivamente, compradores/atravessadores (não foram todos) e/ou distribuidores (também não foram todos) baixando preço de forma desproporcional e alegando “excesso de camarão” no mercado interno proveniente da Lagoa de Patos. Tudo isso sem as temerosas “super safras” do camarão do Sul. Talvez sejamos um dos poucos lugares do mundo que entendemos esses números – 5.000 toneladas –  como “super safra”. Coisa de jornalista? Enfim, esperamos que, com o advento das compras internas e sua sazonalidade particular, os produtores invistam melhor em informação para que consigam não só entender melhor essa ciranda da comercialização de camarão em nosso país, otimizando suas vendas, como também possam aproveitar essa demanda que já é reconhecidamente alvo de outros países.

De: Geraldo Kipper Foes
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Assunto: Re: Falta de chuva pode favorecer super safra de camarão

O problema da safra da Lagoa dos Patos é que a quantidade retirada é muito grande e em um período de tempo curto. Isto acaba inundando o mercado, principalmente as regiões sudeste e sul, até o Rio de Janeiro. Além disso, os grandes compradores armazenam o produto, mantendo os preços mais baixos até um período posterior à safra. Uma questão é que a qualidade dos camarões pescados é inferior ao da aquicultura devido ao manuseio do produto pós pesca. Há pouca utilização de gelo e o transporte é feito com condições sanitárias pouco satisfatórias. E por aí que temos que diferenciar os produtos procedentes da aquicultura.