NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE – edição146

De: Rodolfo Petersen
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Equador, linhas genéticas, material tolerante

Sem dúvida, seria interessante para o Brasil importar linhagens já trabalhadas com forte intensidade de seleção para tolerância ao WWSV. Creio que seria muito interessante para complementar as linhas já existentes no Brasil, até para estuda-las. Há três anos queriam me crucificar, hoje talvez nem tanto. Foram investidos milhões na rede Recarcine (Rede de Pesquisa de Carcinicultura). Poderia ser realizada uma introdução através do Ministério da Pesca e Aquicultura. Muito tempo já foi perdido, mas nunca é tarde demais. Não estou dizendo aqui que vai funcionar. O que estou dizendo é que é válido como projeto conjunto de pesquisa e extensão, envolvendo universidade e empresa privada. Uma linhagem SPR/SPF poderia beneficiar laboratórios de menor porte, tornando-os mais competitivos em relação à origem de seu material genético.

De: Walter Quadros Seiffert
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Equador, linhas genéticas, material tolerante

O cultivo de camarões no Brasil passa por uma definição em relação à política sanitária a ser seguida em toda a federação. Essa política passa pela defesa do setor quanto à sanidade aquática (introdução de novas enfermidades e cepas virais distintas das existentes), e também como proteção do mercado e, por conseguinte, pela competitividade internacional do setor. Por isto, a decisão de importação ou não de linhagens tanto SPF puras para crescimento, como SPR crescimento e resistência/tolerância, é uma decisão difícil. Lembro que quando a atividade iniciou, importamos material de vários países sem problemas. Caberia uma normativa exclusiva para centros de pesquisa e quarentenários que permitisse estudos sobre a real adaptação destes materiais em solo brasileiro, para posterior liberação ao setor produtivo. Isto tem um custo pesado. A iniciativa privada do Brasil já encarou sozinha e também algumas universidades (material venezuelano lembra?). Um crescimento superior a 2,0 g por semana e tolerância e resistência a doenças é um “Wet dream”. De acordo com pesquisadores internacionais renomados este sonho molhado já está acontecendo, mesmo que temporariamente, no México (herdabilidade, sempre questionada). Os mexicanos estão tentando, junto com os centros de pesquisa e universidades, superar estes paradigmas e tentar salvar sua indústria da mancha branca e da EMS.

De: Marcelo Lima Santos
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Equador, linhas genéticas, material tolerante

Li seu mail e certamente fiquei preocupado. É do conhecimento de todos que a EMS já está no Oceano Pacífico (México). Segundo informações recentes que me foram fornecidas por pesquisadores do Comitê de Sanidade Aquícola de Sonora, há fortes indícios de que a enfermidade foi transmitida ao território mexicano por meio da importação de reprodutores da Ásia. Pela velocidade com que se disseminou pelo território mexicano existe a possibilidade real (minha opinião) de atingir outros países, como é o caso do Equador, Guatemala e Peru. Outrossim, existe evidência de 12 enfermidades de importância econômica presentes no Equador, sem contar com os diversos sorotipos de um mesmo vírus (Ex. WSSV e TSV possuem cinco sorotipos diferentes, respectivamente), enquanto que no Brasil só há evidência de cinco enfermidades de importância econômica, a saber: NHP-B, IHHNV, IMNV, Vibrioses e WSSV com somente dois sorotipos identificados. Certamente que é uma temeridade a importação de reprodutores do Equador, uma vez que coloca em risco sanitário nossos planteis que, diga-se de passagem, não são tão ruins assim. Em estudos da variabilidade genética de nossos planteis realizado pelo Projeto Genoma do Camarão foi encontrado que ainda estão muito bem. Com relação à tolerância, não falo de resistência porque isso os camarões não possuem, nós temos observado que nossos camarões estão conseguindo evoluir. Basta observar os resultados conseguidos nas regiões afetadas pela WSSV e IMNV em que muitos produtores conseguem produzir uma boa parte do ano, sendo afetados somente pelos desequilíbrios provocados pelas chuvas com os consequentes carreamento de pesticidas para os estuários nestas épocas mencionadas. Lembro também que não sabemos como reprodutores importados do Equador, ou de outro país, poderiam se comportar diante da presença da IMNV, uma vez que nunca foram desafiados por este vírus tupiniquim. Essa importação sugerida pode se tornar em um tiro no pé. Pensem nisto com carinho. Amigo lhe peço uma informação: qual é a sobrevivência média dos camarões cultivados no Equador quando desafiados pelo WSSV? Pergunto isto porque em várias visitas que fiz ao território equatoriano percebi que não era tão alta assim. Não sei se houve tamanha evolução nos últimos dois ou três anos. Com mais de 220.000 hectares implantados, o Equador produz algo em torno de 260.000 toneladas métricas, o que resulta em uma produtividade de pouco maior que 1 tonelada/ha/ano o que não é tão significativo frente ao que se consegue no Brasil. Desculpe-me, mas esta é minha opinião.

De: Rodolfo Petersen
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Equador, linhas genéticas, material tolerante

Marcelo, minha colocação foi para importar, se for o caso, as linhas já existentes SPF/SPR do Texas (Primo Broostock), como fizeram este ano os mexicanos, e não do Equador. Achei isso óbvio. Todos nós estamos lendo o que está acontecendo no México, as postagens do Bob Rosemberry ou a palestra do Chamberlein na Fenacam. Outra colocação que fiz foi a de fazer um primeiro piloto para depois repassar as pequenas empresas de larvicultura. Não falei para importar e ir saindo atirando os bichos no campo. Não estou falando de variabilidade genética, e sim, de tolerância ao WWSV. O Sul está parado, e o Rio Grande do Norte está sofrendo. As larvas da Potiporã são excelentes e tolerantes. Mas, principalmente, pensei como alternativa de auxiliar as pequenas larviculturas que ficam na sombra das grandes, que investem em genética e dominam o mercado. Os pequenos produtores não têm como investir nisso. E olha, também poderia auxiliar as grandes. Walter, são interessantes as suas colocações. Não acho que seja fácil. Você disse que é caro, e até pode ser, mas não muito mais caro que qualquer subprojeto. Nem falo de projeto financiado na Recarcine. Não estou “babando o ovo” desta linhagem, e não é por estas reportagens que as defendo. Tive no embarque dos primeiros juvenis de Guayaquil e acompanho a genética equatoriana faz anos. O que estou querendo dizer é que pode auxiliar, como pode também ajudar um monte de pesquisas realizadas no Brasil na área de carcinicultura, como pode também não dar em nada, como um monte de pesquisas que fazem no Brasil na área de carcinicultura, por exemplo, as que eu faço.

De: Léo Grisi
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Mortalidade de peixes

Estou fazendo despescas parciais em um tanque de tilápias. A última foi há quatro dias. Elas estão com peso entre 1 e 1,2 kg. Hoje, cerca de 30 tilápias amanheceram mortas ou agonizantes. À palpação, percebe-se um amolecimento da região dorsal, de ambos os lados, numa faixa que se estende da cabeça à cauda. Fazendo uma incisão nesta região há drenagem de pus. As vísceras parecem normais. Os peixes, mesmo ainda que vivos (embora em fase terminal) já exalam mau cheiro. Até então, não notamos diferença na quantidade de ração ingerida. Os demais aspectos parecem também normais à inspeção: as escamas estão íntegras, a viscosidade é normal, os olhos não parecem ter alteração. Alguém teria alguma sugestão para me orientar?

De: Luiz Claudio de Paula Costa
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Mortalidade de peixes

Léo, pela proximidade com a despesca, tudo indica que a causa é o estresse da movimentação. Se em ocasiões anteriores o problema não ocorria, alguma coisa pode ter mudado, como por exemplo, os níveis de amônia e/ou oxigênio da água. A frequência das despescas pode ser também o motivo, pois os peixes que “ficam” no tanque sofrem constantes movimentações. Como solução você pode tentar na fase anterior a despesca utilizar rações que possuam probióticos e são feitas especialmente para o manejo, pois sobre a “pressão” da movimentação o sistema imunológico dos peixes fica debilitado.

De: Ricardo Y. Tsukamoto
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Mortalidade de peixes

A causa parece ser muito clara – o repetido estresse e excesso de movimentação causado pelas despescas parciais no tanque. Nestas condições, o combustível da célula muscular e sua respiração se esgotam, a reação hormonal de estresse no peixe (hormônios corticóides) se torna excessiva, e toxinas celulares são geradas internamente. O conjunto de fatores deletérios causa a morte das células musculares na região mais exigida. O mesmo fenômeno ocorre também em seres humanos, principalmente em desportistas, numa patologia conhecida como rabdomiólise. Existem vários trabalhos publicados sobre a ocorrência de miólise focal em tilápia como consequência de exposição do animal a substâncias tóxicas. São trabalhos experimentais, e não relato de caso no campo. Mas uma revisão sobre estresse em peixes menciona a miólise resultante do estresse de captura: Artigo disponível na íntegra em: http://ilarjournal.oxfordjournals.org/content/50/4/387.full.pdf. Em geral, a miólise é causada por um conjunto de fatores. O estresse e excesso de movimentação podem ser os principais, mas outros fatores acessórios podem potencializar a morte celular, como infecção por bactérias e vírus, cianobactérias, falta de oxigênio, e outros. Por isso, muitos outros indivíduos podem ter sido afetados no seu tanque, além dos 30 peixes que morreram, em intensidade menor que não cause a morte, mas possa comprometer a qualidade/sanidade da carne ou a sobrevivência futura dos peixes. Assim, este tipo de ocorrência deveria ser muito interessante como material de pesquisa para os patologistas, pois afeta justamente a parte comestível do peixe. Ademais, apesar de incomum, uma das causas mais frequentes de rabdmiólise em gente, inclusive no Brasil, é a ingestão de peixes.

De: Léo Grisi
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Mortalidade de peixes

A primeira impressão que tive, ontem, ao me deparar com as 30 tilápias mortas ou agonizantes e já mal cheirosas foi exatamente a mesma das orientações que recebi de vocês: estresse. Até porque só afetou o tanque que está sendo manipulado. Desde então parei a despesca neste tanque e passamos a pegar os peixes de outro tanque. Hoje, morreram mais oito peixes. Vou deixá-los em paz um tempo para ver se resolve o problema. Achei o probiótico também uma boa ideia. Quanto ao oxigênio, não tenho tido problemas: cada tanque tem um sensor que determina a quantidade de oxigênio dissolvido na água de forma contínua. O sensor transmite a informação para um painel, que controla os aeradores. Como a zona de conforto das tilápias se situa de 4 mg/l para cima, eu regulo o painel para disparar os aeradores em 5 mg/l (como margem de segurança) e para desligar quando atinge 6 mg/l (não preciso mais que isso). Assim, descartei a possibilidade de estresse por hipóxia. Quanto aos níveis de amônia, vou arriscar uma convicção pessoal: a tilápia não dá a mínima bola para os níveis de amônia considerados habitualmente tóxicos. As tabelas que existem no mercado servem para peixes ornamentais, em aquário. Não se aplicam para tilápias a campo.

De: Ricardo Y. Tsukamoto
[email protected]
Para: [email protected]
Assunto: Re: Mortalidade de peixes

Como você bem observou, a tilápia é consideravelmente mais resistente que outros peixes à amônia. A concentração de amônia que mata metade da população de tilápia em um dia está na ordem de 7 ppm ou mg Amônia-N/litro*. Porém, bem abaixo disso, a tilápia já está sofrendo estresse físico e metabólico pela amônia. E tal desgaste se reflete tanto na taxa de crescimento como na resistência a doenças** e a outros fatores prejudiciais. Veja as fotos do artigo***, que mostram a estrutura da brânquia da tilápia já danificada sob uma concentração “baixa” de 2 ppm de amônia. Com uma brânquia nestas condições, uma tilápia tolera muito menos estresses do que se estivesse saudável. No ser humano, tal comprometimento do órgão respiratório seria equivalente à pessoa ter enfisema pulmonar, mas ainda estar viva e comendo. Assim, na piscicultura, toda a população de tilápias já sofre de “enfisema” bem antes que apareça alguma mortalidade. Além do efeito da amônia em si, uma parte da amônia presente na água é continuamente convertida em Nitrito por bactérias nitrificantes do tanque. O Nitrito impede a respiração do peixe por inativar a hemoglobina do sangue. E se o peixe já tinha brânquias degeneradas pela amônia, a conjuntura predispõe a um efeito mais drástico. Portanto, mesmo que a tilápia não chegue a morrer por amônia, o piscicultor já está perdendo dinheiro pela queda no desempenho potencial e pelo risco de enfermidades e morte numa possível combinação com outros fatores de estresse (despesca, frente-fria, toxinas de fungos na ração, toxina de cianobactéria, etc.). Seguem alguns artigos sobre efeitos da amônia em tilápia, disponíveis na íntegra para baixar:

*https://ag.arizona.edu/azaqua/ista/ISTA8/mohamedshreif12.pdf
**http://digitalcommons.unl.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1536&context=usdaarsfacpub
***http://dergipark.ulakbim.gov.tr/tbtkveterinary/article/download/5000029467/5000029704