NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE – edição147

De: Bruno Scopel
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Assunto: Camarão em bioflocos

Os cultivos intensivos com baixa troca de água são uma alternativa viável aos produtores de camarão. Hoje, diversos projetos neste sentido estão em andamento no Brasil, com excelentes resultados. Inclusive têm sido uma alternativa para as áreas contaminadas por doenças. Não por causa da alta densidade em si, mas sim por toda conjuntura do sistema, a aplicação de protocolos de biossegurança, Pls livres de doenças, etc. A alta densidade em questão, é apenas uma possibilidade e alternativa possível ao sistema fechado, tendo em vista uma maior capacidade de carga do sistema, através do controle e equilíbrio dos parâmetros da qualidade da água. A alta densidade por si só, não está relacionada com o baixo crescimento, baixo desempenho dos animais ou aparecimento de doenças. Estes paradigmas já foram quebrados. Muita coisa foi aprendida com os cultivos de alta densidade e baixa troca de água no Brasil e no mundo e, com certeza, a maneira que se faz hoje é bem diferente dos sistemas de altas densidades do passado, onde se propagavam doenças devido ao manejo mal feito, juntamente com as grandes trocas de água. O sistema chamado bioflocos hoje pode ser feito com menor gasto energético, através de um melhor manejo da qualidade de água e maior controle de matéria orgânica. Muitos pesquisadores já passaram a chamar o sistema de semi-biofloc ou mixotrófico, tendo em vista que o sistema possibilita uma menor carga orgânica gerada e consequentemente menor gasto energético, assim como melhores taxas de conversão alimentar e menor utilização de água, espaço, etc. Em todas as minhas viagens ao redor do mundo, este sistema foi o que mais tem apresentado bons resultados diante de doenças (ou mesmo em locais sem doenças), seja na Ásia ou na América. Sistemas abertos, mesmos em baixas densidades, correm um risco muito maior de serem atingidos por doenças. A Mancha Branca apareceu primeiro em Santa Catarina, onde as densidades não passavam de 20cam/m2. A utilização de água doce, água de poços oligohalinas, etc., já são bem comuns nos cultivos no Nordeste. É claro que a adição de sais e íons pode e deve ser feita, seja na ração ou na água. Estes sais especiais para estes casos já estão disponíveis no Brasil. A questão é que esses tipos de projetos devem ser feitos de forma completa, com todas as etapas e requisitos implementados se não, a chance de fracasso é realmente grande. A falta de oxigênio é o de menos, tendo em vista que a utilização de geradores é bem comum e imprescindível nestes sistemas. A questão principal para o bom funcionamento deste sistema é a estabilidade e equilíbrio dos principais parâmetros de qualidade de água e uma compreensão aprofundada da dinâmica microbiológica do sistema (bactérias heterotróficas, nitrificantes, microalgas) e sua relação com a manutenção da qualidade de água. Lógico que a viabilidade econômica dependerá de vários fatores, mas normalmente a alta produtividade e o preço do camarão como está, compensa, e muito, os investimentos. Estamos diante de novas alternativas e de tecnologia de ponta, onde utilizamos os processos bioquímicos e a microbiologia em nosso favor, sem adição de produtos químicos e/ou antibióticos. Muito pelo contrário, os bioflocos agem como probióticos e imunoestimulantes naturais. Temos que ser menos céticos à estas possibilidades, principalmente porque os maiores especialistas do mundo em camarão vêm acreditando e aprimorando estes sistemas de produção, como alternativa às doenças, por diversas vantagens. Vale lembrar que, projetos feitos pela metade e/ou mau manejados, são sim um risco muito alto. Se for investir, que faça de maneira completa. Acredito que devemos gastar nossas energias em aprimorar as tecnologias, pois muita coisa pode melhorar, ao invés de irmos contra totalmente. A diminuição, redução e reaproveitamento do lodo residual é uma delas. A utilização de plantas halófitas, como a salicórnia, é uma possibilidade muito interessante e possível.

De: Ricardo Tsukamoto
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Assunto: Re: Camarão em bioflocos

Os sistemas de bioflocos podem ser muito interessantes sob certas condições, e não tanto em outras, como tudo nesta vida. A questão é que cada um dos itens que você mencionou tem um custo adicional (“sais especiais”, etc.), para gerar um produto commodity.
Em particular, por mais que se otimize o sistema de bioflocos em termos energéticos, o consumo elétrico será sempre muito elevado, comparado com sistemas tradicionais, pois é obrigatório manter todo o sistema permanentemente produzindo a movimentação dos flocos, além de fornecer oxigênio tanto para sustentar a biomassa de animais como para os microorganismos e plâncton, com baixa contribuição de produtividade primária. Se faltar energia elétrica, em algumas horas todo o sistema estará morto. Num país como o Brasil, em que é comum o apagão, queda de torres e postes, especialmente na zona rural, a perda do estoque pode levar à falência. Você mesmo admite isso, ao colocar que “a falta de oxigênio é o de menos, tendo em vista que a utilização de geradores é bem comum e imprescindível nestes sistemas.” Ou seja, ao contrário de ser “o de menos”, pela sua colocação, a necessidade de suprir oxigênio é tão fundamental que os geradores são imprescindíveis. Mas quantos produtores conseguem ter geradores com capacidade para suprir toda a necessidade de oxigênio do sistema (quase sem entrada de oxigênio atmosférico), com operação contínua dos geradores durante pelo menos uma semana? Muito poucos, e a que custo? E a que risco de sobrevivência? Assim, como você bem disse, não é questão de levantar polêmica. Mas só estou lembrando que devemos sempre considerar tanto as vantagens como as desvantagens de uma estratégia, mesmo que a gente esteja muito entusiasmado com ela.

De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Camarão em bioflocos

Concordo totalmente com o que você colocou. A incorporação de oxigênio 24 horas é imprescindível em sistema BFT. Não só pela necessidade fisiológica do camarão, mas também para a microbiologia presente, principalmente as bactérias nitrificantes, que demandam muito oxigênio para fazerem o processo de nitrificação completo. Assim como para o melhor desempenho das bactérias heterotróficas (probióticos) para oxidarem a matéria orgânica e não a reduzirem, de forma que contaminem a água e causem algum tipo de colapso. O oxigênio é importantíssimo também para a volatilização de gases tóxicos e para a estabilidade do sistema. Não se deve trabalhar com sistemas fechados de alta densidade com oxigênio menor que 4,00mg/L. O custo energético disto? Talvez seja muito maior que sistemas convencionais, talvez esteja aí uma excelente tese de pós-graduação. Mas no ponto de vista monetário, pode ser pago pela altíssima produtividade. Mas algumas coisas podem ser otimizadas. Por exemplo, antigamente se colocava fontes de carbono (principalmente melaço), elevando a relação C:N para cerca de 15 a 20:1 para controle da amônia, através das bactérias heterotróficas, as quais consomem muito oxigênio para fazer este processo. Além de que a geração de matéria orgânica na água, com aplicação de C-orgânico, gera mais amônia, formando um ciclo vicioso e uma bomba que pode explodir lá na frente. Isto é um erro crucial. A utilização de C-orgânico deve ser feita de forma pontual e sem excessos, e não somente se baseando na elevação C:N. Até porque as bactérias nitrificantes que oxidam a amônia para nitrato, não utilizam Carbono orgânico neste processo, e a relação C:N é muito menor, consumindo muito menos oxigênio e energia. O desafio é fazê-las dominar o sistema sem que haja picos elevados de amônia e nitrito. Os sais minerais são importantíssimos para qualquer tipo de sistema de produção de camarão marinho, como você próprio já me explicou diversas vezes, principalmente em baixas salinidades. Acontece que em sistemas com alta biomassa e baixa troca de água, os minerais vão sendo consumidos da água e do solo, podendo prejudicar o desenvolvimento dos camarões e a estabilidade da água. A aplicação de sais minerais é muito comum na Ásia, inclusive é umas das recomendações contra a EMS e o WSSV!! A maioria se engana ao se basear na relação 1:3:1 de Ca:Mg:K, achando que esta relação deve ser equilibrada sempre. Mas se esquecem que nem sempre estes elementos, lidos nos aparelhos de medição, estão realmente biodisponíveis aos animais. O mesmo engano acontece na leitura de Alcalinidade Total (em CaCO3). Além de que Ca, Mg e K são apenas uma parte de diversos macro e microminerais importantes para a  vida de forma geral. A aplicação de micro e macrominerais biodisponíveis necessários na água ou na ração, é mínima, porém essencial, o que não eleva muito os custos. Já existem no Brasil, sais prontos para serem aplicados para estes fins, com excelentes resultados. A obrigatoriedade da utilização de geomembranas nestes sistemas também é outro mito. Nem sempre você precisa instalar geomembranas para fazer sistemas BFT. Mesmo com WSSV. A geomembrana em todo o viveiro pode ser útil para diversas coisas (menor tempo entre ciclos, solos arenosos), mas não é uma condicionante. Estas são apenas algumas questões, de inúmeras outras, que o produtor deve compreender para o sucesso em cultivos BFT, mixotrófico, etc. Mas poucos têm o conhecimento e não investem em técnicos qualificados. Por estes motivos, vimos muitos destes projetos falharem e trazerem muitos prejuízos. Não é tão fácil quanto parece. Se é viável ou não, dependerá de cada situação e resultados. Estamos vendo todos os tipos de casos e a maioria ainda falha, principalmente por falta de conhecimento técnico ou por fazerem as coisas pela metade. Muita cautela e estudo antes de investir! Agora, que pode dar certo, com certeza. Já está mais que provado e não é novidade pra ninguém. Com produtividade acima de 20, 30, 50 ou 100T/ha dependendo da tecnologia empregada. Com estas produtividades e com o preço do camarão como está, alcançando boa sobrevivência, baixo F:C:A e crescimento rápido, pequenas fazendas podem gerar milhões de reais. Mas para alcançar estes resultados, muito investimento em tecnologia, em conhecimento e em pessoas qualificadas. E ainda tem que ter algum dinheiro sobrando, porque a maioria erra muito no início até aprender.

De: Dijaci Araújo
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Assunto: Desempenho da carcinicultura em 2014

Fiquei surpreso com o aumento da produção de camarões cultivados nos últimos anos, principalmente diante dos debates na nossa lista abordando a presença de enfermidades aqui no NE. Entre os grandes produtores, apenas o Ceará não vinha sofrendo. Segundo os dados que tive acesso, nossa produção saltou de 65 mil para 90 mil toneladas entre 2009 e 2014, algo relevante diante da redução das densidades praticadas e mortalidade causada pela mancha branca em vários estados. Inclusive, durante a última Fenacam encontrei um colega aflito diante da chegada da mancha branca numa fazenda com 100 ha gerenciada por ele em Sergipe. Como anda a situação da produção? Aprendemos a conviver com a doença ou a produção está ocorrendo em outros locais? Entre outros, gostaria muito de ouvir a opinião dos vendedores de insumos que por ventura façam parte de nossa lista. São pessoas que rodam muito e, por terem uma visão mais global da coisa, podem traçar um panorama interessante.


De: Diego Maia Rocha
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Assunto: Re: Desempenho da carcinicultura em 2014

Tentando esclarecer um pouco, ao menos do meu ponto de vista e fazendo um breve resumo, destaco alguns pontos que podem ter influenciado para esse aumento de produção:
– Houve um aumento de área bem interessante nos últimos três anos. De 2011 a 2013 foram mais 2.153 ha, sem falar das expansões de 2014, atrelando diretamente a densidades mais altas nessas novas áreas na Paraíba, sul do Ceará e norte do Sergipe. Enfatizo, principalmente, a participação do Ceará para um aumento de participação maior na produção.
– Em relação aos estados envolvidos com a MB que você havia mencionado, é preciso que entenda que a participação desses estados percentualmente antes da MB já era baixa comparada aos principais produtores (RN/CE), somando isso ao motivo acima foi possível esse aumento. É fato que a doença afetou o Rio Grande do Norte, mas ainda pode-se dizer que as maiores fazendas (em área) do estado estão na parte não afetada.
– Sobre o relato do seu colega, isso é a prova que as mortalidades continuam aparecendo em lugares novos, onde podemos dizer os mais recentes: Sergipe Norte e Paraíba águas interiores.
– Conversando com um amigo em Santa Catarina, o mesmo estava me dizendo que as produtividades para essa época do ano giravam entre 2.000 a 2.500 kg/ha, produtores de Canavieiras relatam 1.500 a 1.600 kg/ha para camarão > 15 g, já mais para cima podemos ver as produtividades oscilarem de 400 kg a 1.000kg/ha para um tamanho menor, cada região tem sua peculiaridade (densidade de produtores, temporada de chuvas e etc.), cada produtor tem sua estratégia ou não tem nenhuma estratégia. Sobre se aprendemos a conviver com a doença, não posso falar pelos produtores, mas estamos vendo muitas mudanças em algumas regiões, assim como quase nenhuma em outras. Alguns exemplos:
– Reativação e/ou construção de berçários tem provocado um aumento na produtividade. Na última Fenacam se falou muito em utilização de raceways para fazer a fase 2 e é um assunto muito interessante que alguns produtores já resolveram investir.
– Tratamento de esterilização da água com cloro e cal hidratada. Isso tem surtido algum efeito.
– Utilização de tilápia em bacias e reutilização dessa água para viveiros de camarão.
– Policultivo com tilápia.
– Alguns resultados impressionantes com cultivo intensivo e que já demonstram ser promissores, embora com conceitos novos dos praticados anos atrás, antes restrito apenas a um produtor e hoje já vemos outros buscando, muito embora pontual.
– Utilização de produtos para aumentar produtividade.
O fato é que se percebe um esforço. Muitos a cada ciclo estão aprendendo a conviver e achar um ponto de equilíbrio financeiro para viabilizar a continuidade de seus empreendimentos, alguns mais satisfeitos e outros não. Uma notícia boa é que uma das grandes fazendas que foi afetada pela MB, depois de alguns anos parada está voltando, vejo isso como um bom sinal para carcinicultura, assim como outras possibilidades que podem surgir esse ano como a volta das exportações. Claro que os desafios nunca vão deixar de existir.