De: Jomar Carvalho Filho
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Assunto: GAA concede à Camanor prêmio de inovação
A Global Aquaculture Alliance (GAA) concedeu à Camanor Produtos Marinhos Ltda. o seu prêmio anual de inovação, pelo sistema AquaScience, desenvolvido e implantado na sua fazenda de criação de camarão, localizada em Canguaretama, no Rio Grande do Norte. Dez empresas de todo o mundo concorreram ao prêmio. A Camanor foi reconhecida por utilizar altas densidades e reutilizar a água por muitos ciclos, contribuindo para a não degradação ambiental, além de não usar antibióticos. Mais sobre o prêmio pode ser visto em http://advocate.gaalliance.org/high-density-shrimp-producer-wins-innovation-award/. Em nome da revista Panorama da AQÜICULTURA aproveito para parabenizar a equipe da Camanor pelo seu brilhante trabalho.
De: Marcio Bezerra
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Assunto: Re: GAA concede à Camanor prêmio de inovação
Independentemente do prêmio, a Camanor, com o seu projeto “Aquascience”, nos traz três características que há tempos, de forma geral, não se vê, com a devida frequência, na carcinicultura brasileira: eficiência, profissionalismo e inovação. Diria que, nem de perto, sou um fã desse tipo de sistema, todavia o pessimismo que me contagia é mais por ignorância e pouco contato com o dia-a-dia junto aos sistemas super intensivos de produção de camarão. Entretanto, temos que reconhecer muito positivamente a ação do pessoal da Camanor. Trazer eficiência, profissionalismo e inovação é algo muito importante para um setor que tem sua margem de lucro ao produtor condicionada mais ao aumento dos preços do produto do que ao sucesso profissional no cultivar da espécie. O carcinicultor tem sido “engolido” a cada dia por um custo de produção cada vez mais alto, impostos, taxas, licenças, falta de foco e profissionalismo, alguns insumos com qualidade questionável e, além de tudo isso, cria um camarão num sistema altamente vulnerável. E isso tem se arrastado há tempos. Apesar de tentativas e o esforço de poucas empresas em pesquisa e inovação, o setor, de uma forma geral, não reconhece isso. Não se trata de encontrarmos culpados ou mocinhos por aqui, mas encontrar um produtor que consiga com todas essas adversidades ainda buscar opções que possam parecer as mais complicadas possíveis e conseguir produzir com lucro. É algo que precisamos prestar mais atenção. Entendo que não precisamos ter de forma generalizada um “Aquascience” em sua região ou localidade, mas os princípios que regem o sistema e a atuação da Camanor nessa ação são exemplares. Parabéns ao Sr. Werner Jost e toda sua equipe (Que não sei se tem o melhor sono a noite!… 300-400/m3, não sei se eu dormiria bem… rsrs). Vamos em frente!
De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: GAA concede à Camanor prêmio de inovação
Concordo com suas palavras em relação à importância do investimento em inovação e pesquisa por parte das empresas de carcinicultura no Brasil. Tentei desenvolver alguns sistemas de produção mais inovadores (os quais havia conhecimento de causa) em duas empresas que atuei há alguns anos, mas os investimentos foram aplicados em outras prioridades e hoje estas empresas ainda sofrem com a mancha branca. Minha curiosidade é saber por quê você menciona “Diria que, nem de perto, sou um fã desse tipo de sistema”, tendo em vista as diversas vantagens que os sistemas fechados intensivos trazem, se bem aplicados, como exemplo da Camanor. É apenas uma curiosidade em saber opiniões diferentes, pois tenho visitado diferentes formas de aplicação dos sistemas intensivos (podemos generalizar chamando de sistemas bioflocos), principalmente aqui na Ásia (estou na Tailândia), e vejo que há muita ânsia em se aplicar o sistema visando a alta produtividade e o controle de doenças, entretanto pouco se fala do destino da lama que se remove diariamente, e a importância do tratamento da água antes de voltar ao estuário ou reaproveita-la. Muitos sistemas intensivos, a matéria orgânica concentrada que se remove do centro, volta para o estuário de captação. Vi isto principalmente na China. Agora com a EMS, parece que está havendo uma preocupação maior em controlar e tratar o descarte de matéria orgânica nestes sistemas tendo em vista que há uma relação direta entre concentração de matéria orgânica e de vibrio. Visitei alguns projetos muito bons na Tailândia, onde há a recirculação total de água, com densidades acima de 150 cam/m2, sem EMS. Temos que cuidar para que o aumento da densidade sem controle e investimento adequado não vire um tiro no pé dos produtores.
De: Dijaci Araújo
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Assunto: Camanor x Pesquisa
A equipe da Camanor, que lá atrás reconheci como uma empresa diferenciada, merece todos os méritos. Parabéns! O que me causa certo desconforto é o fato de uma empresa desenvolver um protocolo tão eficiente e a pesquisa brasileira, na qual eu meu incluo, não desenvolver. Foram milhões investidos nas pesquisas com bioflocos no Brasil afora. Vários pesquisadores envolvidos, bolsistas, simpósios, viagens pra lá e pra cá, palestras apresentadas, discussões sem fim e o que temos para o produtor é um calhamaço de artigos científicos e um curso oferecido pela FURG, que por sinal é pago. Tem alguma coisa errada. A Camanor é tão genial assim, ou não estamos trabalhando direito?
De: Sérgio Almeida
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Assunto: Re: Camanor x Pesquisa
Você pôs o dedo na ferida, concordo que ainda são raros os resultados de pesquisa que retornam para o setor em forma de novos negócios, melhor eficiência, maior ganho zootécnico e por consequência, redução de custos com maior retorno econômico. As parcerias universidades/empresas necessitam acontecer com maior frequência. A própria estrutura das universidades e institutos federais é ainda hoje muito engessada, ou seja, não permite ao pesquisador e a sua equipe a participação nos resultados, caso a inovação em produto ou serviço venha a ser comercializada pela empresa parceira. Sou a favor que o resultado das pesquisas científicas realizadas hoje no Brasil possa transpor os muros das universidades! Faz-se necessário uma maior flexibilização da legislação que rege a remuneração dos docentes/pesquisadores, pois estes ficam “amarrados” a minguadas bolsas de pesquisa ofertadas por editais de fomento arcaicos em que o pesquisador muitas vezes tem que devolver o recurso pois não consegue executar as metas previstas. E o empresário que não pode se dar ao luxo de perder tempo, executa a pesquisa e desenvolve os produtos e/ou serviços com recursos próprios, com liberdade de planejamento, execução e operação do projeto muitas vezes em menor espaço de tempo e a custos bem mais atrativos.
De: Marcelo Lima Santos
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Assunto: Re: Camanor x Pesquisa
Você está certo! Felizmente a iniciativa privada está investindo e patenteando inovações tecnológicas. Depois de investimentos fabulosos em viagens, pesquisas e investimentos em modelos produtivos avançados querem e merecem o retorno dos investimentos. Os modelos de produção em ambiente controlado estão tomando impulso depois da chegada da WSSV no Nordeste brasileiro. Vejo que o Brasil está caminhando a passos tímidos para este modelo produtivo, que acredito será o futuro da produção no nosso país. A Camanor, a Fazenda 3M, que possui excelentes resultados em modelo fechado e mais meia dúzia de produtores estão apostando nisso.
De: Luiz Henrique Soares Peregrino
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Assunto: Re: Camanor x Pesquisa
Dijaci, acredito que parte do teu questionamento eu posso responder, bem como tecer alguns comentários acerca do que você abordou. Não vejo a coisa como um comparativo da capacidade ou competência entre a iniciativa privada e a universidade para desenvolver ou não uma determinada linha de pesquisa. O que eu vejo são caminhos um pouco distintos de interesses ou de objetivos entre desenvolver uma pesquisa prática com respostas rápidas ou uma pesquisa científica que passa por todo processo burocrático para sair do papel até chegar ao final.
Eu não vou entrar nesse mérito comparativo porque não tenho capacidade e nem conhecimento para julgar exatamente o que acontece dentro da pesquisa científica das universidades brasileiras, até porque nunca fiz parte dela. Em nosso caso não acho que foi uma questão de “genialidade”, creio que as palavras: necessidade, agilidade, criatividade, praticidade e determinação sejam mais apropriadas para este caso. Vou tentar descrever em detalhes como tudo aconteceu por aqui e aí você poderá fazer seus comparativos e tirar suas conclusões. No primeiro semestre de 2011 a fazenda Cana Brava estava fazendo o melhor ano de produção dos seus 30 anos de história.
De janeiro a julho estávamos com uma média de 94% de sobrevivência, produtividade de 2.000kg/ha, sob uma densidade de 15 cam/m² em uma área total de produção de 120 ha. Estávamos muito animados com um ano que prometia ser excepcional. Porém, nos últimos dias de julho daquele ano, após um longo período de chuvas intensas na região, os primeiros sintomas da presença da Mancha Branca foram detectados. A presença intensa e massiva de garças nas bordas dos viveiros, seguido de animais letárgicos e avermelhados nadando desorientados pela superfície nos indicava a presença da doença. Amostras foram enviadas para análises no Arizona e a confirmação positiva para o WSSV chegou como uma bomba, junto a um misto de sentimento de impotência e desespero.
Nos meses seguintes, tentamos e testamos vários manejos, protocolos e produtos, fizemos dois vazios sanitários de três meses e nada parecia ter o menor efeito. Em 2012, vimos nossa sobrevivência cair para 15% e a produtividade para 154kg/ha. De uma produção anual média de cerca de 750 toneladas em anos passados, a fazenda conseguiu produzir apenas 51 toneladas em 2012, mostrando a gravidade do problema. Antes da Mancha Branca chegar já havíamos iniciado os testes no desenvolvimento de um sistema intensivo de produção, que era o objetivo da Camanor para o futuro.
Os testes iniciais foram conduzidos em parceria com a Aquatec e foi embasado em um protocolo trazido da Ásia, que foi seguido à risca. Os resultados iniciais foram bastante promissores e fez com que investíssemos um pouco mais, ampliando a quantidade inicial de viveiros de 3 para 6. Foi nesse momento que a MB nos pegou e não fez distinção entre sistema tradicional e sistema intensivo, pegava ambos entre 15 e 20 dias de cultivo e eliminava quase toda a população em 5 dias. Mesmo o sistema intensivo sendo operado sob um rigoroso sistema de biossegurança, com três etapas de desinfecção da água de captação e seguindo a risca o protocolo asiático, nada parecia ser suficiente para deter a força do vírus.
Após várias tentativas sem sucesso, algumas coisas ficaram claras na nossa cabeça e a estratégia precisou ser mudada e não adiantava tentar lutar contra o vírus para deixar ele de fora. Tínhamos que encontrar uma alternativa para conviver com ele, não adiantava continuar seguindo o protocolo asiático e sim teríamos que criar um que se adaptasse a nossa realidade; não adiantava tentar continuar com o sistema tradicional de cultivo tão vulnerável às variações do tempo e ao impacto do vírus e precisávamos encontrar uma solução o quanto antes ou estaríamos fechando a Cana Brava por questões financeiras.
No segundo semestre de 2012 fizemos algumas viagens, visitamos alguns projetos de produção intensiva, de sistemas de recirculação, conversamos com várias pessoas e intensificamos bastante os estudos teóricos a fundo em sistemas de recirculação e tratamento de água. Em paralelo, montamos uma estação experimental inicial na fazenda utilizando 12 caixas de água de 1.000L (4 tratamentos com 3 repetições), com o intuito de avaliar diversos manejos, produtos e procedimentos para encontrar o protocolo que se adequasse a nossa necessidade de forma mais rápida e barata. Nesse ponto descobrimos e avançamos muito em apenas 5 meses de testes, e já conseguíamos ter animais acima de 7g sem a manifestação da doença.
No final de 2012, após algumas semanas de trabalho e quase uma resma de papel rascunhado, apresentamos para a diretoria da Camanor o primeiro esboço do projeto que poderia funcionar, embasado em tudo que foi visto, debatido, estudado e descoberto no período. Fizemos a proposta de montar um módulo de produção em campo para testar. A resposta inicial foi negativa, justificada pelo tamanho do investimento para incerteza do resultado final. Continuei insistindo e a resposta novamente foi negativa e que era um sonho muito alto para um projeto incerto num momento de extrema crise. Pensei bastante e a última cartada foi apresentar a proposta de montar o mesmo sistema, porém em uma unidade experimental de escala bem reduzida, utilizando uma estrutura de tanques berçários que já tínhamos montada na fazenda e estava sem utilização.
A resposta que obtive foi que eu poderia fazer o que quisesse, contanto, que não gastasse nada de dinheiro e que tomasse cuidado para não transformar a empresa em uma universidade com tanta pesquisa. O que precisávamos era encontrar a solução para voltar a produzir e poder pagar as contas e não fechar as portas. Caímos em campo e fomos coletar todos os materiais que precisávamos para montar os tanques, sistema de aeração, estação de recirculação de água, bombeamento e etc., com materiais já usados dentro da fazenda, sem ter que comprar absolutamente nada. Reaproveitamos caixa de água furada, canos de PVC remendado, bomba com motor queimado, etc. Nesse ponto demos sorte de ter na equipe de manutenção e usinagem, dois verdadeiros artistas no quesito “arranjo técnico” para não dizer gambiarra, que fizeram o projeto sair do papel em uma semana. No meio de janeiro de 2013 estávamos com um módulo de produção em tamanho miniatura, do projeto que desenvolvemos, pronto para funcionar.
Abastecemos os tanques e iniciamos o processo de preparação/maturação da água com um protocolo bem alterado, de acordo com o que fomos aprendendo nas tentativas e erros dos ciclos passados e na nossa estação experimental inicial. No dia 01 de fevereiro de 2013, povoamos os dois tanques de 40m³ com 300 camarões/m² cada e iniciamos o primeiro teste do que viria a ser o sistema de produção que operamos atualmente. Em conjunto ao início do experimento do novo sistema, trouxemos para a fazenda um técnico indonésio, que trabalhava no Vietnã e tinha mais de 10 anos de experiência em operação de sistemas intensivos, com o propósito de avaliar nosso protocolo e processo de produção que tínhamos acabado de atualizar, e fazer um comparativo na prática com o protocolo deles e assim poder balizar se estávamos no caminho certo ou não.
Povoamos quatro viveiros lonados que foram conduzidos com nosso manejo e dois viveiros que foram conduzidos com o protocolo deles e conseguimos pela primeira vez em campo ultrapassar a fase inicial crítica dos 15 a 20 dias de cultivo sem mortalidade. Porém, ao atingir 7,5g um dos viveiros operados sob o protocolo de fora manifestou a Mancha Branca e em poucos dias espalhou para os demais operados por nós. Ao final conseguimos pescar todos os viveiros ainda com sobrevivência de mais ou menos 90% nos 6 viveiros, com peso médio de 8g. Concluímos esta etapa com a certeza de que nosso protocolo tinha evoluído e que foi aprovado pelo técnico indonésio, se comparado ao dele. Além do relato que a Mancha Branca que ele viu aqui ser bem mais virulenta que a que ele tinha vivenciado na Ásia, e de fato não tinha muito mais o que fazer. Porém, ainda faltava conseguir completar o ciclo até o final sem ser pego pela doença.
Ao mesmo tempo, os tanques que foram conduzidos seguindo o desenho do projeto idealizado do novo sistema, passaram pela fase crítica inicial entre 15 e 30 dias, onde a doença se manifestava no campo sem problema. As semanas se passaram, os animais cresceram, a biomassa ampliou e no dia 03 de maio de 2013, pescamos os dois tanques com uma média de 11g de peso médio, pouco mais de 100% de sobrevivência e produtividade média de 4kg/m² sem sinal algum da manifestação da Mancha Branca. Naquele momento tivemos a comprovação de que estávamos no caminho certo e pudemos provar para a diretoria que o investimento no projeto idealizado para campo valia a pena e poderia ser a nossa salvação. Imediatamente paralisamos todas as operações do sistema tradicional (semi-intensivo) nos 120 ha e concentramos os esforços na reformulação da fazenda para o novo sistema, que até então não tinha sido batizado ainda.
Começamos com uma adaptação do projeto nos viveiros lonados já preexistentes, para ganhar velocidade e já poder produzir de imediato. Em paralelo a construção dos módulos de produção foi seguindo a risca o que tinha sido projetado e a partir daí iniciamos o renascimento da Fazenda Cana Brava para um novo mundo de produção, com os resultados que já foram publicados e é de conhecimento geral. Nesse momento temos em operação, no novo sistema, 27 viveiros em uma área total de 13,8 hectares e nossa previsão para 2015 é atingir as 1,100 toneladas de produção (recorde histórico em 32 anos), sendo que nem todos estes viveiros estão em operação desde o início deste ano, pois foram sendo entregues pela construção ao longo dos meses. Por tudo isso que foi relatado, acredito que as palavras que mencionei no início são mais adequadas ao caso, que “genialidade”, como você mencionou. Necessidade de voltar a produzir para pagar as contas e não ter que fechar as portas de uma empresa com 30 anos de história; agilidade nas tomadas de decisão para poder identificar os obstáculos e poder mudar de caminho de acordo com a necessidade e as descobertas; criatividade e praticidade para conseguir criar um sistema de demonstração sem muito recurso, com materiais reaproveitados e que funcionasse como o projetado; Determinação para enfrentar todas as adversidades, as descrenças, as desconfianças, os nãos, e acreditar que era possível confiar na intuição e seguir em frente. Em minha opinião, o mais difícil de todo o processo foi conseguir convencer a equipe de campo que era possível e que eles deveriam acreditar e seguir o que estava sendo determinado.
Boa parte da equipe, infelizmente, teve que ser substituída por não se adaptar as mudanças e achar que aquilo era loucura e que não iria funcionar. Arriscamos em trocar pessoas bastante experimentes por novatos sem experiência alguma na carcinicultura, mas que estavam comprometidos em seguir a risca as determinações. Percebemos, nesse caso, que a eficiência na operação, correção e aplicação dos manejos foi bem melhor, mostrando que em alguns casos a eficiência supera a experiência. Essa é a história detalhada do que aconteceu durante o processo de desenvolvimento do projeto do sistema AquaScience aqui na Camanor, sem cifras astronômicas como se imagina, porém com muito trabalho, muita pressão e muita vontade de acertar de todos os envolvidos.
De: Dijaci Araújo
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Assunto: Re: Camanor x Pesquisa
Foi uma pergunta retórica, eu sei que não há um gênio na Camanor. O que existe é responsabilidade com o dinheiro investido, é o compromisso e necessidade de acertar, até porque o emprego de muita gente está em jogo. A crítica está na pesquisa brasileira, que diante dos ótimos resultados apresentados por vocês, se mostra completamente ineficiente. O que me incomoda é todo mundo achar normal a Camanor receber um prêmio da GAA em 2015, fruto de um projeto iniciado em 2012 “sem cifras astronômicas como se imagina”, quando a universidade fala de bioflocos há uns dez anos. Com raras exceções, não vejo a universidade pronta para assumir esse protagonismo e situações como essa me deixam mais certo disso. É preciso repensar o modelo e parar de queimar dinheiro.
De: Luiz Henrique Soares Peregrino
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Assunto: Re: Camanor x Pesquisa
Talvez eu não tenha expressado de forma compreensível ao leitor alguns pontos, mas no caso da questão do investimento em um módulo de produção no campo, não foi uma questão de não querer inovar por parte da Diretoria e sim por falta de dinheiro mesmo, porque o investimento seria bastante alto para fazer um módulo com dois viveiros, estação de recirculação e recondicionamento da água, berçários e etc., no tamanho original. Foram quase dois anos sem produzir e fechando mês a mês no vermelho, mesmo assim o Werner segurou a estrutura com muito empenho e eu tiro meu chapéu para ele. Ao contrário, do que foi entendido, a Camanor sempre foi um empresa que apostou bastante em inovação e por isso conseguimos dar a volta por cima com certa velocidade. A nossa estrutura simples de experimentação continua e continuará funcionando sempre, porque todos os dias aprendemos algo novo nela e levamos a campo no processo constante de evolução de nosso sistema. Com certeza ainda temos bastante para aprender e para evoluir. Dijaci, eu entendi perfeitamente a intenção de suas palavras no primeiro e-mail, apenas fiz questão expor as coisa de forma detalhada para que não ficasse dúvida em relação a nossa parte e pudesse dar combustível para discussão tão positiva. Só completando mais um ponto que você mencionou: “O que me incomoda é todo mundo achar normal a Camanor receber um prêmio da GAA em 2015, fruto de um projeto iniciado em 2012 ,sem cifras astronômicas como se imagina, quando a universidade fala de bioflocos há uns dez anos.” Uma questão interessante que precisa ser esclarecida, A universidade fala de Bioflocos há uns 10 anos, mas a Camanor não ganhou o prêmio do GAA porque faz um sistema de bioflocos. Como falei em meu relato, quando a MB chegou por aqui o protocolo asiático de bioflocos também não funcionou. Não é simplesmente o sistema tradicional de bioflocos que opera milagres e vai servir de remédio para tudo, pelo contrário, deve-se tomar muito cuidado com a operação do mesmo. O que a Universidade tem tentado ao longo destes anos é reproduzir o que já é feito há bastante tempo com bioflocos em vários lugares do mundo e isso não é muito novidade. Resolvemos batizar o nosso novo modelo de produção como um “Sistema” porque, de fato, ele é particular, o bioflocos é apenas um dos muitos integrantes que compõem todo o sistema. A engenharia do fluxo de água entre os ambientes, o recondicionamento e reaproveitamento da água entre os ciclos de cultivo, a manutenção da estabilidade ambiental de cultivo durante todo ciclo e a capacidade de produzir na presença da doença, fizeram o GAA e alguns especialistas na área que já viram de perto o sistema, reconhecer que de fato é um sistema de produção particular e diferenciado e não simplesmente um cultivo heterotrófico. Quando eu falo de produção na presença da doença é na presença mesmo, não trabalhamos com o princípio da exclusão do vírus, trabalhamos com o princípio da estabilidade ambiental para convivência com a doença. Nós tentamos de tudo e nunca conseguimos deixar a doença de fora em campo. Várias amostras que enviamos para PCR, de viveiros que pescamos sem problema, com sobrevivência acima de 90% e 18 a 20g de peso médio, atestam positivos para o WSSV para o IMNV, mas simplesmente as doenças não se manifestam. A necessidade nos fez buscar um novo caminho e parar de tentar reproduzir o que já tinha sido feito e que aqui não estava dando certo.
De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Camanor x Pesquisa
Você mencionou algo que já venho percebendo e falando algum tempo. Bioflocos ou BFT ficou como um nome genérico ao sistema intensivo/superintensivo com baixa troca de água e controle dos compostos nitrogenados. Mas com certeza há diversas variações e várias maneiras de se conduzir um sistema com estas características (alta densidade, baixa troca de água, biossegurança, estabilidade dos parâmetros). Como você mencionou muitas vezes as partículas “Bioflocos” aparecem somente em algum momento do cultivo, normalmente quando a biomassa se eleva, mas isto dependerá do manejo, densidade, etc. Acredito muito mais num sistema mais “light”, com menos adição de carbono orgânico e baseado na nitrificação como controle dos nitrogenados. É mais estável e consome menos oxigênio. Em relação ao nome do Sistema que se desenvolve, é uma particularidade de cada um. Estive mais uma vez na Tailândia, e têm aparecido diferentes nomes, “Copeflocs”, Mixotrofic System, Semi-biofloc. Muitos usando tilápias e outros peixes integrados ao sistema. O Bioflocos tradicional, baseado no controle da amônia com a elevação da relação C:N (uso de melaço e grain pellet) e altas quantidades de flocos em suspenção, são poucas fazendas comerciais que operam, devido ao grande input de energia para manter os flocos em suspensão e oferta de oxigênio. Entretanto para berçários funciona muito bem (o Equador tem evoluído muito neste sentido), pois os estágios iniciais do camarão aproveitam muito bem os flocos em suspensão. Para se ter uma ideia, um dos inventores e percursores do sistema Bioflocos, desde o tempo de Beliza, Robins McIntosh, já mudou bastante o modus operandi do sistema dele. Principalmente devido a EMS, que cresce na ração, mudas e matérias orgânicas dentro do viveiro, como foi relatado neste link: http://www.shrimpnews.com/FreeReportsFolder/NewsReportsFolder/ThailandRobinsMcIntoshOnEMSandEHP.html