NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE | Edição 161

De: Dijaci Araújo
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Assunto: Alimentação de peixes em intervalos maiores
Houve uma discussão aqui na lista sobre alimentação de peixes com intervalos de dias (com opiniões em sentidos opostos). A discussão era algo como 3 dias com alimentação x 1 dia sem alimentação; 5 dias com alimentação x 2 dias sem alimentação e os possíveis impactos dessa prática. Fiz uma busca por artigos sobre o tema empregando “frequência alimentar”, mas consegui apenas pesquisas com fracionamento diário. Como não encontrei nada após uma busca rápida, peço a ajuda aos colegas com alguma experiência sobre o tema ou indicação de bibliografia. Para esclarecimento, a ideia é fazer uma avaliação em viveiros com tambaquis de 500 g (pretendo levá-los até um 1,0 – 1,5 kg).

De: Catia Aline Veiverberg
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Assunto: Re: Alimentação de peixes em intervalos maiores
Quando se trabalha com ciclo curto de alimentação/restrição (ex. 6/1 ou 5/2), o foco é aumentar a eficiência metabólica e fazer com que diminua a conversão alimentar, mas não há, necessariamente, ganho compensatório. O ganho compensatório vai ocorrer com a realimentação após períodos de restrição mais prolongados. Segue um artigo que encontrei, pesquisando sobre “restrição e realimentação” em Tilápia https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/7/S010384782010000200026.pdf?sequence=1&isAllowed=y

De: Paulo Fernando Colherinhas Novato
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Assunto: Re: Alimentação de peixes em intervalos maiores
A eficiência do fracionamento alimentar vai variar muito conforme o hábito alimentar de cada espécie de peixe. Quanto mais se fracionar a alimentação da tilápia melhor (o melhor seria alimentar a cada 1:10 h), para o pacu isso já não é tão importante assim e creio que uma traíra poderia ficar muito bem sem se alimentar durante alguns dias.

De: Emerson Soares
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Assunto: Re: Alimentação de peixes em intervalos maiores
Em nosso artigo com peixes carnívoros em 2007, testando controle (7 dias de alimentação), 6 dias com 1 dia de privação, e 5 dias com dois dias de privação, observamos que 6 dias tinha o mesmo efeito que 7 dias, em peixes com peso inicial de 130 gramas durante 60 dias, contudo 5 dias não era recomendável. Levamos em conta estudos enzimáticos com próteses e amilases em ambientes com pH 6.0, temperatura 28 graus e oxigênio 5,5 mg/L.

De: Flavio F Lindenberg
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Assunto: Re: Alimentação de peixes em intervalos maiores
Emerson, qual carnívoro vocês estudaram? Pois como o Paulo Fernando bem colocou “vai variar muito conforme o hábito alimentar de cada espécie de peixe”, e entre carnívoros também há muita diversidade no aparelho digestivo e fisiologia ligada à nutrição.

De: Emerson Soares
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Assunto: Re: Alimentação de peixes em intervalos maiores
Estudamos um dos peixes mais chatos para se trabalhar: o tucunaré – Cichla monoculus. Inclusive há um capítulo no livro Espécies Nativas para Piscicultura no Brasil, livro do Bernardo Baldisseroto e do Levy Gomes.

De: Fabrício Menezes Ramos
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Assunto: Re: Alimentação de peixes em intervalos maiores
O que você acha necessário para o tucunaré ser utilizado em cultivo? Aqui no Pará penso numa oportunidade de ser utilizado em pequenas propriedades como alternativa ao uso de ração, agricultores de baixa renda utilizarem espécies nativas forrageiras na sua produção.

De: Emerson Soares
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Assunto: Re: Alimentação de peixes em intervalos maiores
O tucunaré é um peixe muito arisco e pratica canibalismo. Ele aceita ração, mas deve ser treinado. Sua alevinagem deve ser adensada, diminuindo espaços e eliminando os maiores indivíduos que têm tendência de praticar territorialismo e não permitir que indivíduos um pouco menores comam, principalmente com dieta extrusada. Seu treinamento deve ser bem devagar, tendo cuidado de misturar alimentos vivos com dieta inerte. Antes, na sua larvicultura, deve se usar rotíferos alimentados com fitoplancton e enriquecidos com levedura de cerveja e multigain ou super selco. Ao passar para artêmia, estas devem ser enriquecidas com levedura e super selco até a terceira semana de larvicultura, e aí tentar uma microdieta, ou então dietas úmidas com alimentos vivos, fazendo a transição alimentar até eliminar o alimento vivo. Podem ser colocados em tanques-rede com ração, ou em tanques escavados com alimentação viva, sendo esta complementar à ração. Também podem ser cultivados em sistema de policultivo, que acredito, é o mais adequado para agricultores de baixa renda. Acho uma boa ideia consorciar, porque o tucunaré me parece ser bem valorizado na região Amazônica. De acordo com a idade, é melhor trabalhar bem a frequência alimentar, de olho no ritmo diário de alimento e da taxa de evacuação gástrica. Em 18 horas o trato digestivo está completamente vazio, pois são vorazes principalmente nos primeiros meses. É preciso também respeitar a condição de que a pessoa que oferta alimento seja sempre a mesma, por que rejeitam outras pessoas caso não sejam aquelas pelas quais estão acostumados a manejá-los.

De: Frederico Ozanam
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Assunto: Restrição alimentar
Meu nome é Frederico Ozanam de Souza e estou concluindo o curso de Doutorado pela UFMG, meu trabalho foi sobre Planos de alimentação através da restrição alimentar e realimentação para tilápias em tanques-rede. Meu orientador é o professor Dr. Edgar de Alencar Teixeira, e o resumo é esse: “Assim como na produção de animais terrestres, na piscicultura a alimentação está entre os principais gastos para o produtor. Por isso a racionalização do uso das rações é fundamental para o bom desempenho econômico dos sistemas produtivos. O objetivo deste trabalho foi avaliar a adoção de planos de alimentação com restrição alimentar para tilápias. Foram mensurados o desempenho, perfil sérico bioquímico e viabilidade financeira durante um ciclo de engorda de tilápias em tanques-rede. O experimento foi implantado no reservatório de Furnas, Brasil, em 20 tanques-rede de 6,0 m³ com 300 peixes cada. O peso inicial dos peixes foi de 201 ± 10g e o período experimental foi de 98 dias. O experimento foi realizado em delineamento inteiramente casualizado, com cinco tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram diferentes planos alimentares: 1 – Alimentação contínua (controle); 2 – Seis dias de alimentação consecutivos, seguido de um dia de restrição alimentar e realimentação controlada; 3 – Seis dias de alimentação consecutivos, seguido de um dia de restrição alimentar e realimentação à vontade; 4 – Cinco dias de alimentação consecutivos, seguido de dois dias de restrição alimentar e realimentação controlada; 5 – Cinco dias de alimentação consecutivos, seguido de dois dias de restrição alimentar e realimentação à vontade. Ao final do período experimental todos os peixes foram pesados para avaliação do desempenho e 3 peixes/unidade experimental foram anestesiados para colheita de sangue. Os tratamentos 3 e 5 apresentaram melhores resultados em ganho de peso e biomassa, porém foram os que apresentaram pior conversão alimentar e custo de produção. Os tratamentos 2 e 4 não diferenciaram em ganho de peso e biomassa do grupo controle, porém apresentaram menor consumo, conversão alimentar e maior retorno financeiro. Não houve diferença significativa do perfil sérico bioquímico. Conclui-se que em situações de campo onde não existe um controle rigoroso como em experimento, recomenda-se que seja utilizado 1 dia de restrição alimentar, seguido de realimentação controlada segundo tabela do fabricante.”

De: Luiz Claudio de Paula Costa
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Já há alguns anos esta “polêmica” foi levantada, minha experiência no campo garante que o melhor resultado é o 7×7 mesmo. Na época se falou que o principal “benefício” não seria zootécnico e sim “administrativo”, possibilitando, no caso do 6×1, o descanso semanal remunerado aos colaboradores.

De: Frederico Ozanam
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Assunto: Re: Restrição alimentar
O descanso semanal o qual é previsto em lei é uma das vantagens de se adotar este manejo, evitando passivos e muitas vezes estresse nos peixes por consequência da troca do tratador e também desperdício de ração. Mas as vantagens vão além disto, menor disponibilidade de alimento no ambiente e maior retorno econômico são um dos pilares que devemos observar em um sistema produtivo.

De: Roberval Lisboa Viana
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Com qual idade pode-se iniciar?

De: Luiz Claudio de Paula Costa
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Assunto: Re: Restrição alimentar
O Frederico fez a experiência com peixes a partir de 200g, mas os defensores da “técnica” falavam em iniciar nos juvenis e até, pasmem, alevinos.

De: Frederico Ozanam
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Assunto: Re: Restrição alimentar
A idade irá depender de vários fatores, um deles é se o sistema iniciou com alevinos ou juvenil, estado sanitário destes peixes, qualidade da água. O importante é que os peixes estejam adaptados ao local de cultivo e ao tratador, e que estejam pelo menos com peso acima de 150g. O que vale lembrar é que no início os peixes estão em constantes e severas alterações morfofisiológicas, e que é no final do sistema produtivo que acontece o maior custo com alimentos. Adotar esta técnica em alevinos acho comprometedora, arriscada e desnecessária, visto que o custo com alevinos é baixo se comparado com a fase de terminação.

De: Fabrício Menezes Ramos
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Em peixes ornamentais essa técnica funciona muito bem com 5×2, pois visa apenas o número de indivíduos e não a biomassa final, mas analisando outros parâmetros não detectamos diferenças significativas.

De: Edson Falcão
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Parabéns pelo trabalho. Teu orientador é zootecnista? Bem que você poderia trabalhar com uma densidade maior.

De: Frederico Ozanam
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Meu orientador é Médico Veterinário, Doutor e Pós Doutor em Zootecnia. A densidade trabalhada foi determinada, pois é a que melhor resultado tem demonstrado para este tipo de tanque-rede 6,8 m³, ou seja, densidades maiores comprometem a produtividade e densidades menores diminuem o custo benefício. Já chegamos a utilizar até 150 peixes/m³, mas o resultado final não foi interessante quanto a densidade adotada. Outro fator que interfere diretamente na escolha da densidade é a qualidade da água, e o reservatório de Furnas oscila muito e dependendo da época do ano esta qualidade é afetada exigindo muito cuidado e um manejo altamente delicado, controle de alimentação, mudança de local dos tanques, etc.

De: Jean Schuller
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Em experimento com juvenis uma colega corroborou com os resultados 7×7, sendo a melhor viabilidade, não utilizando a restrição. Farei um experimento de campo, avaliando a restrição alimentar no período de inverno com juvenis a partir de 5g.

De: Frederico Ozanam
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Assunto: Re: Restrição alimentar
É importante observar a espécie e as condições em que se utiliza a técnica de restrição, como já relatei são vários os fatores físicos, químicos e biológicos que devem ser acompanhados. Santos, 2009 trabalhando com juvenis de pacu concluiu que a restrição afetou as condições fisiológicas dos peixes, reduzindo células vermelhas circulantes, portanto a espécie e as condições de ambiente interferem diretamente.

De: Catia Aline Veiverberg
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Eu conduzi experimento de restrição alimentar com juvenis de jundiá (peso inicial 10 g) e não houve diferença no ganho em peso entre 7/0 ou 6/1. Só que eu não restringi quantidade total de ração, só forneci de forma diferenciada (todos os grupos consumiam 35% do peso vivo em ração por semana). Isso é uma coisa que precisa ser avaliada para cada espécie e hábito alimentar, e como abordado pelo Luiz Cláudio, depende do “benefício” que se deseja obter: gastar menos ração ou diminuir mão de obra.

De: Frederico Ozanam
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Acredito que podemos aproveitar os dois segmentos em um sistema de restrição alimentar, gastar menos ração e aproveitar melhor nossa mão de obra.

De: Edson Falcão
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Esses experimentos devem aproximar-se o máximo ao sistema comercial, tipo densidade, onde se aumenta competição por espaço e alimentação. O Frederico usou 50/m³, que é diferente de 98 peixes/m³.

De: Luiz Claudio de Paula Costa
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Aqui no reservatório de Paraibuna onde a qualidade da água é excelente, experimentei várias densidades e encontrei como limite superior ideal, 133 peixes por m³ e 1.200 peixes em tanques 3x2x1,5m. Acima disso o resultado é de lotes muito heterogêneos.

De: Frederico Ozanam
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Concordo com você. A densidade de 100 peixes/m³ no nosso caso é melhor.

De: Luiz Claudio de Paula Costa
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Assunto: Re: Restrição alimentar
Costumamos colocar entre 100 e 133, dependendo da disponibilidade de tanques-rede, mas já vi colocarem 75/m³, 1.000 peixes em tanques de 3x3x1,5 sem nenhuma diferença significativa no desempenho zootécnico com relação ao que praticamos.