De: Francisco Elder Barroso
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Assunto: Camarão/tilápia
Em viveiros consorciados camarão e tilápia quais as possibilidades do camarão ser predado pela tilápia?
De: Fábio Sussel
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Assunto: Re: Camarão/tilápia
Há uma grande possibilidade das pós-larvas serem predadas quando os alevinos de tilápia são soltos primeiro que elas, e os alevinos forem menores que 30 gramas. E praticamente nenhuma possibilidade quando as Pls são soltas primeiro e, uma semana após, ocorrer a soltura das tilápias com peso maior que 30 gr.
De: Fernando Gonçalves de Souza Filho
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Assunto: Re: Camarão/tilápia
Eu já trabalhei com consorcio camarão/tilápia e não houve predação. Povoei meu viveiro com camarão e tratei-os durante 30 dias (10 camarões p/m²). Após os 30 dias povoei com tilápia – alevinos de 10g e densidade de 3/m². A partir daí apenas passei a tratar as tilápias. O camarão se alimentava dos dejetos da tilápia e do alimento natural. Tive uma sobrevivência final de 70% camarão e 95% tilápia.
De: Fábio Sussel
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Assunto: Re: Camarão/tilápia
Como houve vários interessados no assunto, vou tentar esclarecer melhor a questão. Não existe uma receitinha padrão entre tamanho e intervalo de povoamento. É mais importante entender o funcionamento da coisa, e aí fazer o seu próprio manejo, do que seguir um protocolo padrão. Seja para o vannamei (marinho) ou rosenbergii (água doce), haverá alguma predação das PL’s de camarão pelos alevinos de tilápias, quando este último “identificar” as PL’s como zooplâncton. Quanto menor o alevino, mais planctôfogo ele é. A partir de 20 – 30 gramas o alevino de tilápia continua ingerindo plâncton, porém, realizando a filtragem na coluna da água e não através de uma captura seletiva como nos primeiros dias de vida. Portanto, de 20 – 30 gramas em diante, a tilápia “não dará muito bola” para a PL de camarão. Ao considerarmos que o vannamei e o rosenbergii possuem ciclos de produção diferentes (3 e 5 meses, respectivamente), faz-se necessário estratégias de policultivo diferentes. Para o rosenbergii (água doce) (regra geral cinco meses de cultivo e 15 gramas de peso médio). Povoa-se primeiro com as PL’s de camarão e após uma semana, tempo suficiente para as PL’s já terem se recuperado do estresse e já estarem distribuída pelo viveiro, no meio do capim, pode se soltar juvenis de tilápia com 20 – 30 gramas. Juvenis com este peso, já possuem ao menos um mês de vida pós-reversão. Aí, com 5 meses de cultivo, esta tilápia estará com 500 – 600 gramas (regra geral) e os camarões com 15 gramas, ou seja, ambos no ponto de abate. Podemos povoar a tilápia (20 – 30 gramas) um mês depois do camarão? Sim, podemos, sem problemas! Os camarões irão crescer mais que 15 gramas. Podemos povoar um mês depois com alevinos de tilápias recém revertidos (1 grama)? Pode, pois, com um mês os camarões já estarão com 1-2 gramas e os alevinos não vão predar os camarões. Uma semana após o povoamento com PL’s de camarão, pode povoar com tilápias de 100 – 150 gramas? Sim, podemos, as tilápias vão sair com 700 – 800 gramas. O que NÂO podemos é soltar as PL’s depois que o viveiro já estiver povoado com tilápias. Como resposta ao estresse, as PL’s de camarão ficam esbranquiçadas, destacando-se na água, além de também estarem lentas e “perdidas” no ambiente novo. Estes fatores tornam as PL’s uma presa fácil para a tilápia, a qual, se não engolir a PL, vai ao menos dar umas mordidas (curiosa que é) e descartar. O que já é suficiente para debilitar ainda mais a PL. Para o vannamei (marinho) (regra geral três meses de cultivo e 12 gramas de peso médio), confesso que nunca acompanhei in loco um cultivo de tilápia com camarão marinho. Colegas com alguma experiência que quiserem colaborar com o tópico serão bem vindos! Mas, considerando que três meses de cultivo para a tilápia é pouco, sugiro que o cultivo seja estendido para 4 meses (despescando camarões com 14-15 gramas) e o povoamento seja feito com tilápias em torno de 50 gramas. Por outro lado, entendo a dificuldade que é adquirir juvenis de tilápias neste tamanho em grande quantidade. O ideal é que alguns viveiros ficassem exclusivamente para a produção de juvenis de tilápias. No mais, todas as outras ponderações abordadas para o camarão de água doce, valem para o marinho. A mensagem final é: o que dá errado é colocar a tilápia primeiro que o camarão. Policultivo é sinônimo de otimização do ambiente de cultivo. Pra isto acontecer, é necessário conciliar tempo de cultivo com peso de abate entre as espécies que estão sendo produzidas.
De: Douglas Alvaristo Fernandes
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Assunto: Re: Camarão/tilápia
Concordo com o Fábio, não há protocolo específico para o policultivo, minha pontuação foi feita de acordo com as experiências que tive e um pouco de precaução, que visava a garantia de que o animal estaria adaptado as condições do viveiro (boa parte das experiências eram “primeira viagem”), mas de acordo com livros e etc. existe a recomendação de após um mês ser feito o povoamento da tilápia. Cada caso é um caso, não havia pensado no povoamento com tilápias maiores, porém não temos infraestrutura para tal.
De: Fernando Gonçalves de Souza Filho
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Assunto: Re: Camarão/tilápia
No meu caso consegui despescar o camarão quase todo com 18 gramas. Como todos sabem o peixe só sai no final e peguei um dia em que o camarão estava rodando. Fiz a despesca e o camarão saiu quase todo. Alguns peixes que saíram eu devolvia pro viveiro, desta forma despesquei meu camarão com 4 meses e 18 gramas e despesquei a tilápia com 6 meses, com media de 600 gramas. Assim você também dá uma respirada, pois entra dinheiro na fase mais crítica, onde as tilápias estão comendo muito. Minha produção de tilápia foi toda vendida pra Fortaleza.
De: Douglas Alvaristo Fernandes
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Assunto: Re: Camarão/tilápia
Aproveitando o gancho quanto conseguiu pela tilápia? Qual o volume de produção aproximado? Aqui no norte do Espírito Santo, mais precisamente com o público que trabalho (pequeno produtores) a comercialização é um ponto crítico, pois o valor pago em média é de R$3,50/kg vivo, o que muitos não veem como interessante devido aos gastos. Porém, venda garantida. Por outro lado existe a venda direta na propriedade, feiras, mercados, Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), etc. em que se paga aproximadamente R$6,00/kg vivo, porém venda parcial. São os “poréns” de quem está na ponta.
De: Fernando Gonçalves de Souza Filho
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Assunto: Re: Camarão/tilápia
Meus viveiros são de 5 ha (50.000 m2). Consegui uma biomassa aproximada de 9.500 quilos de tilápia. Vou te falar o preço, mas não se pode levar em conta, pois esses policultivos aconteceram há um ano, ou mais. De lá pra cá a coisa mudou bastante e, na época, vendia a R$ 4,00 o quilo da tilápia, e o camarão a R$ 0,07 a grama. Hoje consigo vender esse camarão a R$ 0,09 a grama.
De: Léo Grisi
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Assunto: Ferro na água de tilápias
Um amigo pretende iniciar criação de tilápias em tanques-rede numa lagoa situada em Planaltina de Goiás, cidade do entorno do Distrito Federal, também conhecida como Brasilinha. Ocorre que a água na região é rica em ferro. Alguém tem informação a respeito? Por exemplo: há um limite para a concentração de ferro na água da criação, além do qual o ferro se torna prejudicial às tilápias? Em outras palavras: sob este aspecto, convém que ele providencie uma análise da água antes de iniciar a criação?
De: Ricardo Y. Tsukamoto
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Assunto: Re: Ferro na água de tilápias
O ferro só se mantém dissolvido na água se ela não contém oxigênio dissolvido, como uma água recém-saída do poço. Tão logo a água entre em contato com o oxigênio da atmosfera, o oxigênio irá se dissolver na água e oxidar o ferro dissolvido (íon ferroso) para uma forma de ferro (íon férrico, Fe+3) que se precipita na água em pouco tempo. O ferro dissolvido NÃO tem cor, ou seja, uma água com ferro dissolvido é transparente. Na presença de oxigênio, o ferro dissolvido é precipitado na forma de um pó fino de cor laranja, que é um gel de ferrugem (hidróxido de ferro). Isso é comumente observado com a água de poço. Ao sair do poço ela é transparente. Mas, ao permanecer num copo durante algumas horas em cima da mesa, ela vai mudando de cor para alaranjado e depois aparece um precipitado laranja no fundo. O mesmo fenômeno acontece nas gamboas, onde a água mina do solo e forma brejos, em geral com palmeiras típicas de brejo (buriti, outras). Neste tipo de local é comum aparecer o pó fino cor de laranja na água – mas isto indica que o ferro já foi precipitado. E ferro precipitado não tem nenhum efeito sobre os peixes. O próprio solo do Brasil contém grande quantidade de ferro precipitado. Por isso a terra aqui tem aquela cor laranja-avermelhada, e os nossos tijolos e telhas (produzidas de barro) têm a mesma cor. Os estrangeiros acham muito estranho isso. No caso da água de poço com ferro dissolvido ser usada para aquicultura, basta deixar esta água passar por uma represa para se aerar naturalmente, ou então aerar artificialmente (obviamente mais caro) para precipitar o ferro. A lagoa que o seu amigo pretende usar com certeza não tem ferro dissolvido, a não ser que seja uma calha abandonada de mineração ou de extração de areia, com água bem ácida. Neste caso, o fundo da calha poderá conter o minério pirita (sulfeto de ferro), cuja oxidação natural libera ferro solúvel. Mas aí o problema principal seria o pH muito ácido da água.
De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Ferro na água de tilápias
Tenho observado exatamente isto na água de poço que tenho utilizado para produzir camarão marinho. A salinidade da água do poço é de 8ppt e com a alcalinidade elevada (>200). Observei esta precipitação do ferro (pó laranja) após aerar e deixar a água parada por um tempo. A ressuspensão deste material na água pode causar algum dano aos animais? Se não houver um tratamento prévio do ferro (forte aeração) e colocar esta água direto nos tanques (como em uma troca de água, por exemplo), pode ocasionar problemas aos animais?
De: Danilo de Castro Faria
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Assunto: Re: Ferro na água de tilápias
Bruno, isso ocorre com a gente aqui também. O fenômeno foi muito bem descrito pelo Ricardo Tsukamoto. Depois de aplicarmos uma forte aeração o ferro se transforma nestas partículas que se sedimentam. Após essa sedimentação, usamos a água normalmente no nosso sistema de cultivo.
De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Ferro na água de tilápias
Além do ferro você problemas com gás sulfídrico também?
De: Ricardo Y. Tsukamoto
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Assunto: Re: Ferro na água de tilápias
O gás sulfídrico é comum no solo e subsolo litorâneo, como consequência da redução do íon sulfato abundante na água do mar sob as condições anaeróbias do solo. O odor desagradável típico de manguezal é justamente o do gás sulfídrico, produzido pela condição anaeróbia resultante da decomposição da matéria orgânica vegetal, bem como das bactérias redutoras de sulfato (bactérias quimiossintetizantes). Paralelamente, uma condição anaeróbia e redutora no subsolo também pode fazer com que o ferro se mantenha solúvel na água. Geralmente nesta condição o pH é mais baixo que o característico da água do mar (pH 8,3). Tanto o gás sulfídrico (sulfeto) como o ferro dissolvido pode ser removido por aeração ou a agitação superficial da água. O ferro precipitado não causa problema aos peixes, se a concentração não for tão alta que o precipitado comece a entupir as brânquias (ocorrência muito rara). Já o íon sulfeto é altamente tóxico a peixes e camarões, podendo matar estes animais em pouco tempo por bloquear a respiração nas células do corpo. Esta ação mortal pode ocorrer quando uma frente fria entra no Brasil e causa uma reversão térmica em certos corpos d´água. A água do fundo, que contém sulfeto, sobe na coluna d´água e mata os peixes. Casos famosos e recorrentes são – no mar, a Lagoa Rodrigo de Freitas (RJ) e em água doce, muitas lagoas naturais e represas pelo Brasil afora. A água de poço pode também conter alto teor de sulfeto. A região carbonífera de SC tem frequentemente água de subsolo (ou das cavas de mineração) com alto teor de ferro e de sulfeto, além de ser muito ácida – o que ajuda a manter o ferro solúvel e o sulfeto sem volatilizar para a atmosfera como gás sulfídrico.
De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Ferro na água de tilápias
É uma condição parecida com a que eu encontro na água de poço que temos utilizado. Elevados níveis de Ferro e um cheiro forte de gás sulfídrico. Entretanto o pH não é baixo, cerca de 8,3 e a alcalinidade cerca de 260! Antes do povoamento a aeração forte ajuda a eliminar estes compostos tóxicos, entretanto nas renovações de água, esta água entra diretamente nos tanques, o que acredito prejudicar as Pls. Não temos mortalidades massivas, entretanto os resultados não são tão bons.
De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Mancha Branca
A mancha branca continua atacando forte durante este inverno e a situação está péssima no estuário da lagoa de Guaraíras e em Canguaretama. A temperatura da água foi recorde negativo de 20 anos de operação da minha empresa – PRIMAR, alcançando 22,3°C no início de agosto. A temperatura está demorando a subir este ano e ainda tivemos 24,5°C esta semana. A sobrevivência na PRIMAR era de 85% sem mancha branca e caiu para 35-73% no verão (set-maio) e para 14-53% neste inverno. O povoamento é de 4/m² sem ração.
De: Marcio Bezerra
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Assunto: Re: Mancha Branca
Grato por repassar esse feedback sobre a mancha branca em sua região. É muito importante. Me permita aproveitar sua boa vontade para perguntar: há alguma evidência de ocorrência da doença de forma aguda mais ao norte do RN? Com esses índices de sobrevivência, qual o peso final e tempo de cultivo médio do teu produto na despesca? Seus resultados técnicos, na fase aguda da doença, são similares (piores ou melhores) aos resultados dos seus vizinhos?
De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Re: Mancha Branca
Não ouvi falar sobre diferenças na virulência entre diversos locais. O estuário da lagoa de Guaraíras é crítico por ter mais de 1200 hectares divididos em cerca de 100 produtores para uma lamina d’água estuarina de 1800 hectares. Eu continuo fazendo camarão de 11 gramas em cerca de 50-60 dias no verão e 60-75 dias no inverso. Não tenho os números dos vizinhos.
De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Um dia na vida do aquicultor
Ontem:
1 – Chega o fim de mais um dia de trabalho. Passamos o dia manejando os reprodutores de ostras sob um chuvisco incessante e irritante. Troquei de roupa três vezes.
2 – A tardinha, deitado na rede da varanda, vejo a chuva aumenta para um toró. Que bom que estou em casa.
3 – Vou dormir às 9, depois do jornal, e a chuva está mais forte!
4 – Acordo a meia noite para mijar (coisa de velho!) e a chuva está mais forte ainda. Parece uma parede de água. Devo voltar para cama? Os viveiros me chamam. Que preguiça…
5 – Três horas da matina e cada vez que penso que vai diminuir parece que vem uma rajada para desmentir. Não posso adiar mais. Visto a capa, pego a lanterna e saio para a chuva patinando na lama. Sair com o carro é atolar na certa.
6 – Os viveiros estão super cheios. O V2 subiu 22 cm. Isto mesmo, 220 mm !!! Abri todas as comportas e volto para casa para fazer um cafezinho e esperar raiar o dia para mais uma jornada de trabalho. Tudo bem.
Adoro ser aquicultor, mas tem umas horas….