NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE edição156

De: Diego Maia Rocha
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Assunto: Intensivos x trifásicos 

Recentemente temos acompanhado ainda que de forma tímida, porém interessante, um surgimento maior de sistemas intensivos de engorda de camarões nas áreas afetadas por doenças, que aparentemente vêm sendo uma boa opção de produção. Apesar dos desafios, a produção é certa, frente ao que se tirava antes. Claro que existem muitas contas a serem feitas, mas o fato é que os exemplos desses sistemas intensivos, dia a dia vão aumentando ou se confirmando. Diferentes de outros países, os sistemas trifásicos pouco evoluem no Brasil. Será a falta de exemplos internos? Será que os custos e os riscos não compensam? Há cinco anos não existia tantos exemplos de intensivos no Brasil e o que se falava da Ásia era que não teríamos os mesmos insumos (ração, probióticos e genética) ou as mesmas condições de mão de obra em relação à disciplina, comprometimento, etc.. Com o passar dos anos os exemplos internos foram surgindo, e o interesse aumentando. Não que o intensivo já seja algo consolidado, mas muita coisa mudou em relação ao que se pensava. Já existem alguns resultados com certa frequência, que demonstram que existe uma luz no fim do túnel para quem optar por esse caminho de produção. Levanto essa discussão, na curiosidade, pergunto: será que os trifásicos realmente não são ferramentas? Será que é mesmo a falta de exemplos que impede que essa outra opção de cultivo se desenvolva? Alguém já teve experiência em áreas afetadas, transferindo camarão de 1-2 g? E em ciclos contínuos? Vai ser muito interessante quando a carcinicultura voltar a crescer com mais de uma opção de sistema de cultivo.

De: Marcelo Lima Santos
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Assunto: Re: Intensivos x trifásicos 

Apesar de tímidos, os investimentos são sólidos e concretos. Quem investiu em projeto piloto, como deveria ser feito frente ao desafio experimental, não se conteve para fazer novos investimentos. Como modelo, podemos citar a Fazenda 3M, que depois de investir em modelo piloto, construiu mais oito viveiros e migrou para novos investimentos em outra área onde está ampliando seus investimentos em mais dez viveiros de 1/2 hectare. Outro exemplo é a Camanor que não cessa de divulgar recordes de produção. Tem também a Biomar, com projeto de quatro viveiros, bem como outros exemplos de sucesso e certeza de retorno dos investimentos em menos de dois anos de atividade. Então, comento que este sistema veio para ficar. O problema é o investimento inicial que, se não houver apoio governamental, não vai vingar na velocidade desejada ficando restrito apenas aos empresários que possuem capital próprio para investimentos. Os exemplos já estão confirmados face aos resultados já alcançados. As pesquisas andam no sentido de se aumentar a produtividade. A tecnologia já está dando certo. Acho o sistema trifásico superimportante para a nossa indústria. Digo isto porque os modelos de fazendas que temos hoje implantadas no Nordeste do Brasil podem, com investimentos mais modestos, se adequar a este modelo de produção. É uma tecnologia que jamais poderá ser descartada. Está mais ao alcance dos produtores brasileiros que os modelos intensivos. Na atualidade um empresário optou em construir sua fazenda no RN adotando este modelo. Está construindo 350 hectares em área endêmica da WSSV. Com relação aos insumos, a nossa ração talvez não seja melhor do que a ração asiática. Nos sistemas intensivos a produtividade primária perde importância sendo a ração o principal insumo. Todavia temos percebido resultados extraordinários em modelos intensivos usando o que temos. Em estudos anteriores foi confirmado que nossos plantéis de reprodutores não perderam variabilidade genética. A prova disto é que temos visto os resultados de crescimentos favoráveis em sistemas intensivos praticados na atualidade aqui no nosso meio. É certo que devemos evoluir em material genético e qualidade da ração, não há duvidas. Como comentei o sistema trifásico é a ferramenta que mais se enquadra aos modelos de construção que temos hoje implantados no Brasil. A questão é que a conjuntara econômica brasileira, e a falta de investimentos, dificulta o avanço da tecnologia. Sem dúvida é a mais adequada para a nossa realidade instalada, e a mais barata. Exemplos sempre existiram. Eu particularmente já orientei alguns ciclos usando apenas raceways e os resultados foram fantásticos em zona endêmica da WSSV. Imagina se tivesse usado o berçário! Como falei anteriormente um empresário brasileiro está investindo neste sistema construindo uma fazenda de 350 hectares no município de Galinhos – RN. Esta será a grande referência de que estamos precisando.

De: Marcio Bezerra
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Assunto: Re: Intensivos x trifásicos 

Inevitavelmente, com o surgimento de eventos mais agudos de mortalidade, causados pelas enfermidades virais no Nordeste do Brasil, os empreendimentos terão que, obrigatoriamente, passar por adaptações. Quem quiser ficar, terá que mudar. Essa “mudança” precisa atender uma cultura de produzir com mais equilíbrio e menos risco. É aí que cada um vai fazer de acordo com o que cabe no seu bolso. O risco sempre existirá. Nesse momento, se abordarmos apenas os produtores que trabalham com sistemas abertos e autotróficos, ou seja, a maioria, entendo que ainda não estão capitalizados para fechar totalmente seus sistemas. Temos visto vários exemplos de adaptações, na busca de continuar adotando um sistema aberto de cultivo com intensificação em pelo menos alguma fase do ciclo de produção, mas ainda correndo riscos. Exemplo 1: Adotar o sistema bifásico com berçários intensivos (1ª fase) e viveiros de terra (2ª fase). A 1ª fase apontaria para uma estrutura mais controlada (possibilidade de estufas, etc.) do que a que se fazia há pouco tempo atrás na carcinicultura, com um tempo maior de cultivo (juvenis) e maior controle de vetores e parâmetros físicos, químicos e biológicos da água; a 2ª fase apontando para um rigorosíssimo protocolo de aquisição e povoamento de pós-larvas, desinfecção e tratamento de solo e água dos canais e viveiros de terra, controle físico de vetores potenciais na fazenda, probiose e fertilização complementar, manutenção de parâmetros físicos, químicos e biológicos da água, biometrias amostrais e detecção periódica de enfermidades utilizando métodos de baixa e média complexidade, etc. Exemplo 2: Adotar um “falso” sistema trifásico com berçários intensivos (1ª fase), “currais” com uma área menor dentro dos viveiros de terra (2ª fase) e liberação da área total dos viveiros de terra (3ª fase). Os protocolos de cada fase seguem o mesmo rigor e disciplina abordados no exemplo 1 para a manutenção da biossegurança dos ambientes. Exemplo 3: Adotar sistema trifásico tradicional com berçários intensivos (1ª fase), viveiros menores como raceways (2ª fase) e viveiros de terra (3ª fase). Os protocolos de cada fase seguem o mesmo rigor e disciplina abordados no exemplo 1 para a manutenção da biossegurança dos ambientes. É importante ressaltar que podemos encontrar variações com sistemas «semifechados de recirculação parcial e/ou total da água” que são abertos nos momentos de perdas da qualidade de água do sistema e/ou emergências de eventos, mortalidades e/ou detecção de aumento da carga viral. Outra possível variação seria com os policultivos, etc.. Enfim, são inúmeras possibilidades viáveis. Todavia, o que eu realmente espero é que, mais uma vez, independente do sistema aberto a ser adotado, ou da busca pela intensificação dos sistemas fechados, a carcinicultura brasileira tenha a chance de se recuperar com tecnologia e disciplina para tentar reduzir os riscos de se ganhar dinheiro com isso. Essa retomada requer uma consciência muito mais ampla que simplesmente uma ação isolada de uma fazenda que pode ter todo seu trabalho “enterrado” porque o vizinho de forma “vesga e inapropriada” não segue os fundamentos básicos de uma aquicultura durável. Espera-se também que a indústria dos insumos acompanhe essa linha de responsabilidade, afinal de contas, a “conta” não deve ser paga apenas pelos produtores. Essa é minha real preocupação. Saídas existem muitas, consciência coletiva, vemos muito pouca. Que a técnica vença a pressa!

De: Eduardo Godoy
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Assunto: Re: Intensivos x trifásicos 

Permita-me contrapor este trecho da sua mensagem: “Espera-se também que a indústria dos insumos acompanhe essa linha de responsabilidade… Afinal de contas, a “conta” não deve ser paga apenas pelos produtores.”. É que o produtor (fazenda) é o último dominó da série, é quem leva o último “empurrão”, mas os anteriores (fornecedores) também estão sendo duramente afetados, e normalmente os produtores (fazendas) não se dão conta disso. Laboratórios e fazendas são duas etapas tão próximas, contíguas de uma mesma atividade, mas a maioria dos produtores não faz ideia da batalha e das dificuldades dos laboratórios. Acredito que o efeito devastador do vírus da mancha branca vai forçar a aproximação entre estes dois elos para que se possa vencer este novo desafio e os outros que virão, como a EMS, que certamente chegará por aqui.

De: Marcio Bezerra
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Assunto: Re: Intensivos x trifásicos 

Observando teu contraponto é muito possível que pensemos a mesma coisa, e confesso que dessa vez você foi mais lúcido e sensato do que eu. Faço apenas uma ressalva, a “aspereza” desse trecho do meu comentário se deve ao fato de que, nessas épocas de buscar saídas frente a grandes problemas e desafios na aquicultura brasileira, florescem os “insumos milagrosos” que muitas vezes sabemos, não apresentam nenhuma eficácia. Para nossa sorte, esse desvio é uma exceção. A regra é que, nossa indústria de insumos em geral, tem sido responsável e tem vivido e socializado tanto o ônus quanto o bônus em busca da sobrevivência do setor. Que essa máxima persista. Vamos em frente!

De: Dijaci Araújo
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Assunto: Re: Intensivos x trifásicos 

Um ponto muito importante mencionado é o modelo de produção a ser seguido. Os bons resultados divulgados em sistemas superintensivos são um estímulo nesses tempos difíceis e um desafio para nós técnicos. O gargalo está na capacidade de investimento diante da estrutura necessária e mão de obra capaz (nem falo em mão de obra especializada, pois temos poucos), principalmente para os que estão apanhando da Mancha Branca há alguns anos como é o caso do litoral norte aqui de Pernambuco. Frente a essa realidade, acredito na produção de juvenis em bioflocos como forma de aumentar a resistência dos animais aos desafios em baixa/média densidade; melhorar o desempenho dos animais na engorda por meio do crescimento compensatório e aumentar o número de ciclos/ano. Obtivemos, numa fazenda muito modesta em área fortemente afetada pelo vírus e com complicadores como temperaturas mais baixas e o regime de chuvas (inverno), sobrevivências em cultivos com baixa densidade entre 60 e 66% e pesos finais maiores em dois viveiros povoados com juvenis, contra sobrevivências entre 39 e 47% em viveiros com povoamento direto na mesma época. Os juvenis entraram com menos de 0,5 g e foram bem sob as circunstâncias impostas. Acredito em melhores resultados com animais um pouco maiores produzidos em bioflocos, o que não foi possível diante da falta de estrutura apropriada.