NOTÍCIAS & NEGÓCIOS ON-LINE – edição159

De: Cesar Dalloglio
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Assunto: Floração de Euglena sanguinea

Estou buscando sugestões sobre como evitar a formação dessa colônia de algas (Euglena sanguinea) na superfície de um dos meus viveiros. No momento estou usando três aeradores de 1CV e meio cada, tipo chafariz, com adição de microrganismos. O açude mede 5.000 m2, a transparência é de 25 cm, alcalinidade de 20 mg L CaCO3 e a renovação da água é inferior a 5%. Viveiro de policultivo de pacu, jundiá, carpa capim, prateada e cabeça grande. O açude é usado para pesque-pague e esse tapete formado pelas algas na superfície está atrapalhando bastante. Qualquer sugestão é bem-vinda, principalmente sobre algicida e biomanipulação de nutrientes.

De: Léo Grisi
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Assunto: Re: Floração de Euglena

Tive o mesmo problema em mais de uma ocasião. Esta proliferação foi causada pelo excesso de material orgânico nos tanques (produtos em decantação, especialmente fezes e restos de ração). Quase sempre os níveis de amônia tóxica estavam acima do desejável ou no limite. Jogar sal grosso ajuda, e eu espalhei cinco sacos de 25kg para cada 1.000m². O problema diminui, mas retorna.

Durante o dia, eu retirava o cano externo de revestimento do monge, para que a água da superfície pudesse sair, levando as algas. “Varrer” as algas em direção ao monge ajuda muito a limpar a superfície, mas também é uma solução paliativa. O que resolveu foi diminuir a quantidade de dejetos do fundo do tanque.

Como meus aeradores são do tipo chafariz (ou vulcão), coloquei 1 metro de cano de 300 mm na boca de sucção: cortei a tela de proteção no tamanho do cano e fixei o cano na própria tela de proteção, fazendo pequenos furos no cano na altura da tela e amarrando com presilhas plásticas.

A boca do cano tem de vedar totalmente o local da hélice do aerador, de tal sorte que a aspiração puxe a água a 1metro de profundidade. Aliás, aeradores de 1,5 CV não funcionam com um cano maior que 1 metro, o motor esquenta e desliga. Meus tanques têm profundidade de 2m. Esta sucção aspira do material orgânico o dissolve na água, e assim ele pode sair pelo monge de decantação junto com a água de renovação.

Quanto maior o volume de renovação, mais eficiente é o método. O monge tem que estar dentro de um cano de maior diâmetro, com aberturas amplas (10cm x 10cm) e a 10cm do piso para possibilitar que a água suja que será expulsa seja a de baixo do tanque. A Panorama da AQÜICULTURA publicou este método num exemplar do ano passado – num artigo do Fernando Kubitza. Foi este artigo que me orientou na ideia acima.

Coloquei o aerador com o cano de sucção inicialmente a cerca de três metros do monge de saída, deixava funcionando a noite toda e, a cada três dias, distanciava 1 metro para longe do monge. O ideal seria esvaziar o tanque e fazer uma remoção completa dos dejetos. Como no seu caso isto não parece viável de imediato (como não foi viável para mim), o jeito é fazer a limpeza desta forma, aos poucos. Mas o sistema tem de ser colocado em prática continuamente.

Em tempo: aspirar a matéria orgânica em decantação e dissolvê-la na água traz mais três vantagens, pelo menos. Primeiro evita a formação de extratos de temperatura, que prejudica muito os peixes e pode causar a morte deles. Segundo possibilita que esta matéria orgânica em suspensão seja oxigenada, diminuindo a fermentação anaeróbica e, com isso, diminuindo a amônia tóxica. Terceiro, melhora muito a oxigenação, porque traz para a superfície água de áreas mais profundas, onde não há fotossíntese, porque a luz não penetra até lá (a transparência, segundo você informou, é de apenas 25 cm).

De: Álvaro Graeff
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Assunto: Re: Floração de Euglena

Uma prática que funciona é utilizar cal virgem na quantidade de 200 quilos por hectare.

De: Diego Costa
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Assunto: Fazendas com
potencial aquícola

Existem algumas fazendas na Bahia e Piauí, com grandes reservatórios de água (alguns com até 5 ha de lâmina d’água e 4 m de profundidade), que são utilizados para irrigação. Esses reservatórios possuem grande potencial para exploração aquícola. Vocês saberiam indicar empresas que fazem parcerias para exploração aquícola em propriedades com potencial para tal fim? Ou ainda que façam aquicultura integrada?

De: Marco Peixoto
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Assunto: Re: Fazendas com potencial aquícola

Alguns pontos devem ser desmembrados em relação a utilização da água de irrigação para produção de peixes. Os pontos positivos para o empresário: aproveitamento da água limpa (pobre em matéria orgânica) utilizada na irrigação tradicional para produção de pescado, fonte de proteína animal de alto valor biológico; incorporação de nutrientes como matéria orgânica oxidável, fonte da série nitrogenada e fonte de fosfatos que melhoram as trocas iônicas e aumentando o CTC (capacidade de troca iônica de cátions), sendo que a adubação via irrigação poderia ser fonte de NPK via adubação foliar durante o processo na água que será utilizada na irrigação.

Como dificuldades: manejos dos peixes produzidos (despesca, ciclo produtivo) podendo utilizar all in all out ou despescas parciais; resíduos sólidos podem interferir na manutenção dos bicos dos aspersores e nos custos de manutenção. Dentro das opções dos sistemas de produção, podemos ter a produção diretamente dentro das piscinas com peixes soltos ou contidos por telas simulando gaiolas; circulação de água em tanques paralelos as piscinas retornando a água ao reservatório.

Algumas ponderações também são pertinentes como a escolha das espécies. Nas piscinas onde a lona fica dobrada, podemos verificar mordidas feitas por tambaquis, isso compromete a integridade da lona. Isso pode também acontecer com piau. Ter aeração de emergência, caso em períodos de chuva o sistema de bombeamento fique desligado, ou com baixo nível de água.

Algumas empresas estão criando pirarucus nas piscinas, alimentando com ração e introduzindo peixes forrageiros, híbridos de pintados, mas ainda com poucas informações zootécnicas. Já é descrito que esse processo é utilizado em outros países, até mesmo antes da década de 80 como nos EUA, Israel, etc.

Com o crescimento do agronegócio no Brasil e mais investimentos realizados devido à irregularidade das chuvas, os sistemas de irrigação continuarão crescendo. Devemos desenvolver as adaptações para o aproveitamento desse potencial.

De: Diego Costa
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Assunto: Re: Fazendas com potencial aquícola

Obrigado, você tem razão. O produtor, cuja propriedade tem potencial para exploração aquícola, mas que não trabalha com aquicultura, tem certa resistência para entrar na atividade.

Desconheço empresas que fazem esse tipo de parceria, na qual a empresa explora o potencial aquícola das propriedades e em contrapartida o produtor fornece, além da área para cultivo, mão de obra para manejo diário (os custos de produção, fornecimento de insumos, divisão da receita, etc., tudo previamente acordado), e por isso perguntei aos colegas da lista.

Essa espécie de integração é muito comum na avicultura de corte. Você ou outros amigos da lista, teriam conhecimento sobre empresas que trabalham com esse modelo de produção?

De: Francisco José
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Assunto: Re: Fazendas com potencial aquícola

Vamos por partes: primeiro é preciso definir qual a atividade principal da empresa/fazenda. Estabelecidas as prioridades de produção agrícola, no caso, sendo a atividade principal, precisa-se saber quanto a renovação diária/semanal de água no reservatório/açude em função da irrigação; presença de peixes exóticos ao cultivo no reservatório; qualidade e volume de água disponível para o cultivo de peixes; capacidade econômica do produtor (isso define o sistema de cultivo de peixes: extensivo, intensivo, etc.), mercado consumidor local para definir que espécies produzir; tempo de residência e/ou disponibilidade da água durante as diversas fases do ano; disponibilidade de alevinos na região; sistemas de drenagem existentes (formas de despesca), etc. O planejamento é tudo e custa mais barato que a frustração do negócio.

De: Elias de S. Santos
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Assunto: Reversão

Assim como é feito a reversão ou inversão da tilápia para macho, é possível fazer o mesmo com piau para fêmea?

De: Ricardo Y. Tsukamoto
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Assunto: Re: Reversão

Sim, é possível fazer a reversão para fêmea no piau e em outras espécies. Na verdade, na maior parte das espécies brasileiras de peixe cultivadas, a fêmea é maior que o macho. Por isso, seria interessante produzir lotes só de fêmeas para o cultivo, tal como é tradicionalmente realizado com a truta.

Entretanto, o procedimento para realizar a reversão varia com cada espécie de peixe. Existe um período exato no qual as gônadas estão se formando (“diferenciando”) nos alevinos ou juvenis de cada espécie.

O tratamento com hormônio só dará certo durante aquele período exato da diferenciação, e com hormônio na dose adequada – o que também varia. Por isso, antes de tudo, é essencial conhecer quando ocorre a diferenciação sexual numa determinada espécie. Isso varia bastante: na tilápia, é logo que os alevinos começam a comer até antes de uns 15mm de comprimento, mas na carpa é 4 meses mais tarde – na fase já de juvenil.

A diferenciação sexual somente é reconhecida ao microscópio. A gônada dos bichinhos desde pequenos é processada para formar cortes histológicos sequenciais, onde é identificada a formação das células primordiais que darão origem à gônada. É bem trabalhoso e geralmente consome o tempo de fazer uma tese de mestrado.

Além das centenas a milhares de cortes histológicos a serem observados no processo, é também necessário haver um orientador que seja do ramo, e saiba previamente identificar o tipo de célula. Não são muitos no Brasil ou em outros lugares do mundo. E como é que um piscicultor pode participar do processo? Como é ele que faz a reprodução do peixe, cria as larvas e depois os alevinos e juvenis, o produtor pode coletar os animais nas várias etapas do crescimento.

Tipicamente, a cada semana desde o nascimento, passando a cada duas semanas após um mês de idade. Os exemplares coletados são imediatamente fixados em formalina 10% tamponada, e ficam à disposição do pesquisador que vai processar o material. Mas tem que ter o projeto combinado antecipadamente com o pesquisador, pois as amostras ficam ruins para processar depois de um certo tempo, e aluno para processar o material.

Espere, que esta é apenas a primeira etapa. A seguir, já conhecido o período de diferenciação sexual daquela espécie, são preparadas rações com diferentes concentrações do hormônio, que serão ministradas por tempos distintos (em início e duração).

Cada grupo de peixes que recebeu uma determinada combinação de concentração de hormônio x tempo determinado é mantido em crescimento, até o tamanho em que já se pode reconhecer visualmente o sexo da gônada de cada indivíduo dissecado. Não quer dizer criar o animal até a vida adulta, apenas até o ponto em que já se pode observar pequenos ovócitos em formação ou tecido de testículo no animal juvenil. Isso é geralmente observado a olho nu ou sob uma lupa. Não precisa chegar a fazer corte histológico nesta etapa.

Na terceira etapa, já se sabe: (1) quando começar a dar a ração com hormônio; (2) qual a concentração melhor do hormônio na ração e, (3) a melhor duração do tratamento. São as informações básicas necessárias, e que já permitem arriscar produzir uns grupos iniciais revertidos.

Como tudo na vida, o procedimento fica mais fácil e mais eficiente com a experiência que se vai ganhando a cada lote produzido. Como você pode ver, é plenamente factível atingir a reversão em outras espécies de peixe. Pode ser feito com um mínimo de infra-estrutura de laboratório, requerendo apenas o material de histologia básica que existe em qualquer universidade.

Para um piscicultor, o processo pode parecer complicado, mas para o pesquisador é uma atividade normal de pesquisa. Inclusive por que o desenvolvimento do trabalho poderia ser compartilhado entre o pesquisador e o produtor, cada um fazendo o que lhe é convencional, sem necessidade de investimento extra.

Para obter o que? Informação que pode valer muito dinheiro. Se o lote animal produzido cresce mais ou tem maior eficiência na conversão alimentar, tal vantagem faz com que os criadores se interessem em criar aquele lote animal. A tilápia revertida é um exemplo bem conhecido no Brasil, mas a truta revertida é um caso semelhante de sucesso.

A maior parte dos ovos embrionados e alevinos de truta, atualmente produzidos, são do tipo «100% fêmea», por aproveitar a taxa de crescimento maior da fêmea, além de evitar a mortalidade/enfraquecimento dos machos pela maturação sexual. A produção de caviar de truta é outra possibilidade vantajosa quando se tem uma população 100% fêmea.

Todos os animais de produção, incluindo os peixes, tem uma alta taxa de crescimento na fase juvenil, desacelerando ou encerrando com a maturação sexual (puberdade). A partir dali, a missão de vida do animal passa a ser maximizar a reprodução (inclusive muitos homens…), e não mais a sua biomassa. Por esta razão, muitos animais domésticos para abate são castrados cirurgicamente antes da puberdade, para continuar com bom crescimento e se manter dóceis.

Em peixes a castração cirúrgica não funciona, pois a gônada pode regenerar. A alternativa adotada em peixes e moluscos de cultivo é a produção de lotes geneticamente triplóides – que são reprodutivamente estéreis.

De: Luciano Xavier
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Assunto: Indução de tilápias

Alguém tem algum trabalho sobre indução hormonal de tilápias? Um pequeno produtor veio me perguntar sobre o assunto, ele queria trabalhar com reprodução desta forma. Até então, não encontrei nada também para repassar para ele.

De: Jomar Carvalho Filho
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Assunto: Re: Indução de tilápias

Fiquei curioso sobre a sua solicitação de trabalho com indução hormonal da tilápia. Entendi que você está interessado na propagação artificial desse peixe. Não me lembro de ter visto nenhum trabalho sobre isso. Mas fiquei curioso pra saber a razão do seu pedido. É um programa de pesquisa?

De: Ricardo Y. Tsukamoto
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Assunto: Re: Indução de tilápias

Lá pelos idos de 1985, eu estava no Japão e consegui um único exemplar de tilápia vermelha tailandesa – linhagem que naquela época era guardada a chave pelos tailandeses. Era um macho, e para realizar testes de progênie dele (para ver dominância na cor), fizemos várias induções hormonais de fêmeas de tilápia nilótica.

O protocolo foi o tradicional de duas doses de 10% e 90% do total, com extrato de hipófise ou com GnRH análogo. Não houve qualquer dificuldade em obter ovulação, na qual, por extrusão saíam de 200 a 500 ovócitos por fêmea. As mesmas fêmeas podiam ser induzidas novamente após um mês ou dois.

Em contraste aos peixes tradicionais de cultivo, o macho de tilápia produz uma quantidade bem pequena de sêmen, que, além disso, sai bem ralinho (praticamente transparente). Provavelmente isso ocorre por que o macho é obrigado a produzir espermatozoides o ano todo, à espera de uma fêmea em ovulação que possa eventualmente aparecer na sua frente.

E por funcionar o ano inteiro, o testículo maduro se mantém pequeno (comparado a peixes de desova total) e o sêmen é diluído. Porém, em compensação, a motilidade do espermatozoide em água doce dura cerca de meia hora, comparado a 30 seg-1 minuto nos outros peixes. Com isso, o espermatozoide da tilápia tem 30 vezes (ou 3.000%) mais tempo para chegar até a micrópila de um ovócito e fecundá-lo.

De: Arthur Fernandes
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Assunto: Re: Indução de tilápias

Quando estava no LAQUA-UFMG tivemos a mesma necessidade para um projeto que envolvia fertilização in vitro. Testamos diversos protocolos e no final desenvolvemos o nosso próprio protocolo, o que resultou em uma publicação. Talvez seja um bom começo para você. www.researchgate.net/publication/247770736_Production_of_Oocytes_of_Nile_Tilapia_Oreochromis_niloticus_for_In_Vitro_Fertilization_via_Hormonal_Treatments