Notícias & Negócios On Line_edição 56

De: Panorama da AQÜICULTURA
Para: Panorama-L
Assunto: Lernea

Tem chegado à esta redação informações sobre fortes infestações de Lernea em vários estados: PR, SC, SP, MG, BA e AL. Alguém sabe mais sobre a gravidade e dos prejuízos (financeiros e ambientais) que este problema pode estar trazendo?

De: Walter Boeguer
Para: Panorama-L
Assunto: Re: Lernea

…o assunto é “sigiloso”. Há quase 10 anos estou trabalhando em diversos aspectos associados a esse crustáceo parasito e sei bem que “ter lernea” no viveiro é considerado como evidência clara de pouco cuidado no manejo sanitário e, dificilmente se encontra alguém que reconheça ter o problema… Uma tese de doutorado de um de meus alunos teve que ser mudada porque NINGUÉM reconhecia que seus peixes estavam infestados por esse parasito! Acho mesmo difícil que você tenha alguma informação sobre o problema que pode estar ocorrendo por “debaixo dos panos”. Isso sem considerar os demais agentes patogênicos que estão se tornando cada vez mais comuns no país e nós continuamos de olhos fechados ao problema, como se enfermidades não fossem um dos maiores impedimentos a qualquer atividade de criação…

De: Alexandre Hornczaryk
Para: Panorama-L
Assunto: Re: Lernea

…em relação a Lernea, considero que nenhum produtor, seja de peixes ou de alevinos, queira se expor sobre suas instalações pois estaria simplesmente cavando seu próprio buraco. Mas, venho colocar as observações sobre a lernea aqui na Amazônia, onde já está presente em tambaquis. Tenho observado somente formas adultas já infestando a cavidade bucal (e somente ela) . Ocorre que estes tambaquis co-habitam o mesmo tanque com matrinxãs, tucunarés, curimatãs e em nenhuma dessas espécies há ocorrência (pelo menos visualmente) da lernea.

De: Walter Boeguer
Para: Panorama-L
Assunto: Re: Lernea

Alexandre e todos. Cuidado em chamar o parasito de tambaqui de lernea! Até onde sei não é. O Dr Thatcher do INPA descreveu como um novo gênero há alguns anos atrás. Aliás, cuidado com lernea…existem várias espécies descritas em todo o mundo e há pouco tempo uma nova foi descrita para o Rio Grande do Sul!

De: José Celso Malta
Para: Panorama-L
Assunto: Re: Lernea

A espécie Lernaea cyprinacea Linnaeus, 1758 que tem causado problemas no sul do país, não é a espécie que ocorre na Amazônia. Há registros dela parasitando o tambaqui na região Sudeste. A espécie que ocorre naturalmente aqui, parasitando o tambaqui é: Perulernaea gamitanae Thatcher & Paredes 1985. Há registros desta espécie também em cultivos aqui na Amazônia Central.

De: Alvaro Graeff
Para: Panorama-L
Assunto: Re: Lernea

Em Santa Catarina quem pela primeira vez relatou o aparecimento, isto lá pelos idos de 1990, foi a colega Carolina, da Epagri/Itajaí, em uma propriedade no alto vale de Rio do Sul, a qual entrou com um processo contra o fornecedor dos alevinos de carpas húngaras por perdas e danos. Em nossa região (Centro-oeste ) o pesquisador Evaldo Pruner tem um projeto para o levantamento de incidência, patologia e danos financeiros do parasito Argulus foliaceus nos empreendimentos comerciais e, conjuntamente, tem levantado também a incidência de lernea. Ele afirmou que já foi muito maior o problema em anos anteriores, onde foram observados infestações em peixes nativos tais como lambaris, traíras, cascudos, jundiás e também em rãs!!!!!. O que colaborou em diminuir a incidência talvez tenha sido a maior preocupação dos fornecedores de alevinos em controlar seus estoques de reprodutores bem como os compradores de peixes para pesque-pagues que passaram a evitar peixes infestados. Também existe no mercado uma ração com um produto, que não lembro o nome, que controla eficazmente a lernea, colaborando também para a diminuição do problema. Aliás, os extensionistas dizem que lernea não é mais problema, dizem até que quando são informados pelos produtores de presença de lernea nos viveiros é somente para concluir que já controlaram seus estoques com Dimilin!!!, largamente utilizado para seu controle. Com a palavra os patologistas.

De: Walter Boeguer
Para: Panorama-L
Assunto: Re: Lernea

… A coisa funciona mais ou menos assim: sem técnicos e serviços especializados na orientação do controle de enfermidades em piscicultura (aqüicultura, em geral, na verdade), um produtor se vê assustado com a possibilidade de perder sua produção e se torna altamente “aberto” para novas “opções”. É dessa forma que os aproveitadores, falsos especialistas e mágicos conseguem “vender seu peixe”. Assim tem sido com “mágicos” que prometem resolver qualquer problema por uma “bagatela” (já ouvi até “preços” de R$ 4.000,00). Curiosamente, o “especialista” some depois do “tratamento”. Essa ração não pode ser “mágica” pois isso não existe (acho eu…) portanto, no mínimo, seu fabricante teria que obrigatoriamente indicar quais os produtos incluídos ali a torna tão eficiente contra lernea. Na minha opinião, comprar essa ração sem conhecer o princípio que a torna tão eficiente, é uma atitude irresponsável. O grande problema na pisicultura hoje, em relação à ictiopatologia, é o uso irresponsável de produtos químicos. Esse problema tem conseqüências ainda piores do que a lernea. Enquanto a lernea pode causar problemas ao processo produtivo em si, o uso indiscriminado e irresponsável de produtos químicos altamente agressivos sem orientação e metodologia adequada, traz conse-qüências gravíssimas à saúde humana. Não vai ser estranho se no futuro breve, as pessoas mais esclarecidas não mais consumirem peixes cultivados. Eu mesmo já penso duas vezes. Acho que esses eram os problemas ambientais e de saúde aos quais o Jomar se referiu. Acreditem, não sou contra tratamento. Sou contra irresponsabilidade e tratamento burro. Tratamento irresponsável é aquele que, mesmo sabendo dos possíveis problemas para o meio ambiente e consumidores, o produtor ainda utiliza compostos químicos não regulamentados para a atividade. Tratamento burro é aquele que, apesar de caro, vai trazer conseqüências ao próprio produtor e ao processo produtivo.

De: Andrea Costa
Para: Panorama-L
Assunto: Re: Lernea

… uma atitude simples, barata e econômica, se pensarmos a longo prazo é a quarentena, que não significa exatamente 40 dias, mas apenas um período em que os peixes que chegam, por mais que venham de um local confiável, permanecem estocados em observação, até que se possa ter alguma certeza de que não estão com parasitas ou doenças. Depois que o ladrão entrou, não adianta fechar a porta. Assim que chegam, o produtor até nota que os peixes estão estranhos e o mais correto seria recusar o lote suspeito, mas não diz a palavrinha mágica ao transportador: NÃO!