De: Rodolfo Petersen
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Assunto: Resistência WSSV
Já foi apresentada no WAS de Natal (RN) uma empresa panamenha que apresentou resultados de resistência diferencial de suas linhagens ao WSSV. Já existe uma empresa americana vendendo reprodutores resistentes ao WSSV. Seria essa uma boa solução para o sul do Brasil?
De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Re: Resistência WSSV
Rodolfo, apesar de questionada por vários profissionais aqui no Brasil, a resistência é um fato. Isto já não é mais discutido no Equador, Colômbia, Panamá, etc. Resta saber se a cepa que temos aqui é a mesma de lá. Se não for, não deverá funcionar. Se for a mesma cepa poderemos ganhar anos na recuperação das áreas já atingidas e, talvez, evitar o colapso futuro das áreas livres. De qualquer forma, o trabalho e burocracia envolvidos na importação destes animais é uma loucura e leva vários anos. Que o diga a Aquatec que levou anos e teve que construir uma quarentena para trazer seus SPF.
De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Resistência WSSV
A questão de resistência (SPR), livres de doença (SPF), speed lines, etc. independentemente da complexidade de programas genéticos, é extremamente importante para a competitividade do setor. Mas, em paralelo a isso, há questões mais básicas e tão importantes, como as que os produtores do Sul (pelo menos alguns) estão passando. A resistência é muito linda, mas é impressionante a diferença de crescimento entre camarões do mesmo lote. São muito desparelhos, jogando o peso médio para baixo e consequentemente jogando o preço final para baixo. E isso já dura há alguns ciclos para diferentes produtores (os que sobrevivem). Precisamos urgente de larvas de qualidade através de novas linhagens, para o bem dos produtores. Estou no norte da Itália, onde não há tradição alguma no cultivo de camarões, visitando uma produção indoor de alta densidade (500cam/m3) e zero renovação, e nesse momento os tanques apresentam 7kg/m3 de camarão. O crescimento é de 2,00 a 3,00 g/semana, e a sobrevivência é acima de 90%. Estas larvas vêm dos Estados Unidos facilmente importadas todos os meses para povoamento. Precisamos renovar e modernizar, as linhagens, a tecnologia, as rações, se não ficaremos para trás.
De: Rodolfo Petersen
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Assunto: Re: Resistência WSSV
Bruno, concordo contigo, mas os milhares de hectares latino-americanos não se transformarão em cultivos intensivos e superintensivos, pelo menos eu não acho que isso aconteça a curto ou médio prazo. Concordo também contigo, que existe uma correlação genética negativa entre taxa de crescimento e resistência, mas se os camarões morrem você fecha a fazenda, mas se crescem “lentamente” e você consegue ter um manejo zootécnico e administrativo correto, o que termina mandando mesmo é o custo de produção versus o preço de venda.
De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Resistência WSSV
Rodolfo, nem eu acho e espero que isto aconteça. O que aconteceria se todos os milhares de hectares no mundo se transformassem em sistema superintensivo? O exemplo desta tecnologia aqui é viável pelas particularidades mercadológicas locais, pois os restaurantes pagam melhor por um produto fresco e de qualidade e não há concorrentes diretos. No Brasil somos apenas mais um produtor de commodity. A corrida é pela redução de custos. Mas usei de exemplo, porque nossas preocupações estão ainda em questões básicas, como crescimento e uniformidade do camarão, enquanto os outros países só pensam em desenvolver tecnologia de ponta e reduzir custos com isto. Se contentar com crescimento lento é achar que o ruim tá bom, sem se preocupar com o futuro. Emprego de tecnologia, crescimento rápido pode estar sim, relacionado com redução de custos. A entrada de camarão de fora é uma questão de tempo, assim como a necessidade de exportação também. Nunca seremos mundialmente competitivos se nos mantivermos atrasados em tecnologia. Também não é uma particularidade ou outra que transforma a produção, mas uma série de fatores. Genética, ração, tecnologia, biossegurança, administração, mercado, etc…
De: Ana Paula Guerrelhas
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Assunto: Re: Resistência WSSV
Acompanhando a discussão, não pude deixar de compartilhá-la com nossa equipe. Gostaria então, para acrescentar mais à discussão, e pedir licença para compartilhar a opinião da nossa diretora, Ana Carolina de Barros Guerrelhas, aqui na lista: “Ao longo destes 23 anos de produção de pós-larvas de camarão marinho e sonho de poder ter um produto que suporte os inúmeros desafios que ocorrem no ambiente dos viveiros de engorda, aprendi que não temos um fator mais importante do que outro, mas um conjunto de fatores que juntos vão produzir um resultado surpreendente: instalações, manejo, pós-larvas e ração. O melhoramento genético, seja para crescimento ou para resistência, é apenas um fator e sua importância é função das instalações e manejo nos viveiros. Hoje se busca a linha de resistência para Mancha Branca, mas ela sozinha não chega a lugar algum e por isto vemos que a mesma linha apresenta resultados tão diferentes de um viveiro para outro ou de uma fazenda para outra. Por que as linhas de resistência exigem que se baixe a densidade? Onde se usa linhas de resistência para MB com densidades acima de 15? Se fixar só no melhoramento genético é tapar o sol com a peneira, ou seja, ao invés de se cobrar a existência desta ou daquela linha, o produtor tinha que olhar mais para suas instalações e manejos: se quer continuar com viveiros grandes, rasos, então tem que se conformar com a presença de doenças, com densidades baixas, tamanhos pequenos de pesca para não perder a produção toda, instabilidade de resultados e sobrevivências de 50-60% com as possíveis linhas de resistência. Ou pode mudar de espécie e não usar mais camarão, ou ainda misturar camarão e peixe e por aí vai. Não tem mágica: o melhoramento é um aperfeiçoamento que vai mostrar mais resultado, ou não, em função das instalações, manejo, cultivo, qualidade da PL e qualidade da ração/nutrição. Os produtos melhorados geneticamente que apresentam melhor performance são aqueles usados em ambientes controlados, com boa PL e boa nutrição. O exemplo do Equador e outros países latino-americanos que parecem conviver com a mancha branca, com sucesso(?), abriram mão de aumentar sua produtividade. Para aumentar a produção tem que ter mais área de cultivo e se não podem ter estas áreas ficam limitados em produção. O melhoramento que hoje se referem nestes países, funciona desde que não se mude nada no ambiente e no cultivo, pois se acontecerem mudanças ambientais os resultados vão mudar com uma fragilidade incrível. Sei que é o caminho mais difícil, mas acho que valeria mais a pena os produtores começarem a falar e discutir sobre instalações e manejo do que melhoramento genético. Cabe a pergunta: o que a indústria quer realmente? Sobreviver ou crescer? Acho que “sobreviver” é um desejo muito pequeno.”
De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Mancha Branca na PRIMAR
A mancha branca atingiu fortemente a PRIMAR esta semana. Despescamos dois viveiros ontem, onde o camarão já estava com peso comercial (10-11g) e os resultados foram muito abaixo do normal. A sobrevivência foi de somente 22% e 54%, quando normalmente gira em torno de 85%. Estamos com outros três viveiros sintomáticos e as garças estão comendo os camarões moribundos. Infelizmente, o peso médio atual é de apenas 4,5 gramas e não existe nenhuma possibilidade de despencá-los neste tamanho. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Nós iniciamos as medidas de contenção econômica desde setembro do ano passado prevendo antecipadamente que isto iria acontecer mais cedo ou mais tarde. No entanto, mesmo quando esperado, o choque é enorme. Até a semana passada estávamos isentos de problemas e conseguindo manter o quadro de pessoal intacto. Afinal, temos colaboradores com mais de 10 anos de casa e são “quase da família”. Infelizmente teremos que diminuir também o quadro de mão de obra e tomar outras medidas contingenciais. Estou bastante pessimista quanto à situação a partir de maio quando o tempo esfria e começa a temporada chuvosa. Afinal, estamos com mancha branca com temperatura >28ºC e oxigênio dissolvido > 3 mg/l às 5:00 hs e salinidade 34 ppt.
De: Andres Wakeham
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Assunto: Re: Mancha Branca na PRIMAR
Péssima notícia, em especial vindo de você que foi quem cansou de exigir uma reação das autoridades competentes frente a este problema. Está aí senhores, o vírus não vai deter seu avanço pelo fato de nós não querermos aceitar sua existência. Cito aqui as palavras de Ana Carolina na última edição da Panorama da AQÜICULTURA em relação ao que vem sendo feito: “…nada que trouxesse uma mudança de mentalidade e postura.”
De: Romeu Campos
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Assunto: Re: Mancha Branca na PRIMAR
Sinto muito Alexandre. Estamos todos em suspense esperando a nossa vez. Ao menos, parabéns pela coragem de se manifestar.
De: Ricardo B. Borges
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Assunto: Re: Mancha Branca na PRIMAR
Lamento profundamente pelo ocorrido, ainda mais que você foi o principal alertador deste problema. Agora vem a pergunta: o que fazer? Seria um “vazio sanitário” local ou regional uma possível solução? Sei que isso é um tabu, pois implica cortar na própria carne. Esta sua notícia quer dizer que a doença está realmente rumando ao norte do RN? Boa sorte.
De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Re: Mancha Branca na PRIMAR
Não acredito neste tipo de solução. Podemos fazer um vazio sanitário geral, mas como limpar os estuários? A MB está em todos os crustáceos, cracas, siris, caranguejos e zooplâncton. Impossível limpar. Em minha opinião o Brasil terá que fazer o mesmo caminho do Equador, com seleção massal dos sobreviventes por gerações e gerações até alcançar um nível de resistência que resulte em sobrevivência dentro do nível econômico. Infelizmente, o caminho que está sendo escolhido pelo meu fornecedor de pls é o de SPF. Esta estratégia só é efetiva para fazendas que podem se isolar completamente do meio ambiente. Eu não conheço nenhuma.
De: Luiz Henrique Soares Peregrino
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Assunto: Re: Mancha Branca na PRIMAR
Aqui, em Canguaretama, também estamos passando por este aperto desde o final do ano passado e mesmo agora, assim como você mencionou em relação aos parâmetros de temperatura e oxigênio dissolvido mais elevados, achavamos que a situação iria melhorar e não melhorou em nada, continuamos com os mesmos índices baixos de sobrevivência de 5% até 55% (média de 25%) para camarão de 7 a 8g. Tomando o teu caso como exemplo, podemos concluir que a densidade de estocagem não faz muita diferença em relação a deixar o vírus de fora, tendo em vista, que pelo teu tipo de produção orgânica as densidades de estocagem são muito baixas e mesmo assim a doença, tardou um pouco, mas infelizmente te afetou também. Nós já tínhamos adotado em nossa produção protocolos de biossegurança e de boas práticas de manejo há alguns anos, desde que fomos afetados pelo IMNV em 2004 e mesmo assim fomos atingidos agora pela MB. Todos estes procedimentos de biossegurança e de manejo foram revisados e outros tantos foram adotados após o surgimento da MB e mesmo assim não adiantou muito. O grande problema, no nosso caso, e que não temos como controlar é que estamos localizados em um estuário com grande quantidade de outros produtores que continuam fazendo os seus ciclos de produção, fazendo com que a carga viral no estuário se mantenha atuante e elevada, isso associado ao modelo de produção aberta com viveiros, relativamente grandes, de terra, que a maioria de nós, produtores brasileiros, adotamos no passado, fazem com que estas mudanças de processo (biossegurança e BPM) sejam pouco eficientes ou não surtam o efeito esperado, já que não temos como garantir totalmente que o vírus fique de fora. O vazio sanitário, como um amigo perguntou anteriormente seria a solução ideal? Talvez não, como você mesmo mencionou o vírus está no ambiente, nas diversas formas de hospedeiros, além do que, na prática isto tem sido feito e tenho notícias de alguns produtores que tiveram um primeiro ciclo um pouco melhor, mas no segundo após a parada os resultados pioraram novamente. Acho que ainda vai levar um tempo para as coisas se equilibrarem nas áreas mais afetadas e que concentram mais produtores, como também acho que a solução sairá do próprio setor e não do Governo, assim como foi com todas as outras enfermidades que já afetaram o nosso setor, por isso a solução que nos resta é trabalhar e seguir a diante. Concordo contigo em relação aos animais resistentes se continuarmos com este modelo produtivo, mas se as formas de pensamento dos produtores evoluírem, para que a atividade evolua junto, os SPF também serão a saída, para sistemas mais intensivos e controlados de produção. Parabéns pela coragem em se expor desta forma.
De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Re: Mancha Branca na PRIMAR
Luiz, um dos problemas é que as lideranças do setor não estão “alarmando” os produtores na medida do problema. Apenas dizem que vamos superar como o Equador, etc. Esta postura faz com que muitos produtores não se preparem convenientemente para quebra da produção e do seu fluxo de caixa. Existem produtores investindo em reformas muito caras bem ao lado da minha fazenda e simplesmente perdem a produção no primeiro povoamento. Tenho notícias que no Ceará a expansão física e de intensidade está de vento em popa. Não seria melhor se houvesse um alerta para serem cautelosos? Antes não teria MB no Brasil porque Deus é brasileiro. Aí teve em SC e Deus é nordestino. Aí teve na Bahia e a Bahia não é realmente nordeste porque tem frio no inverno. Aí deu no norte da BA até litoral oriental do RN. Será que agora Deus é Cearense?