Notícias & Negócios Online – edição 134

De: Márcio Bezerra
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Assunto: Biossegurança em Aquicultura

Os sistemas “biosseguros” em aquicultura não são novidade, principalmente, nos países onde a aquicultura já se desenvolve há algum tempo. Contudo, no Brasil, a prática anda longe de ser generalizada. Uma das razões, além do desconhecimento de aplicação e operacionalidade técnica da estrutura biossegura do empreendimento, é o seu custo de implantação. Portanto, pergunto: é caro “biossegurar” uma fazenda? Alguém poderia abordar a questão de custos de implantação/investimento (R$/ha), já que os benefícios são indiscutíveis? É lógico que isso pode variar muito entre sistemas de produção, entretanto, acredito que qualquer contribuição seria válida.

De: Marcelo Lima
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Eu concordo com você que no Brasil a prática de sistema biosseguro na aquicultura anda longe de ser generalizada, todavia não concordo com você de que não existe conhecimento da aplicação. Existe sim! Somente ainda não estão sendo aplicadas por razões, creio, de recursos para os investimentos necessários. A tecnologia já é de nosso conhecimento e acho que é uma questão de tempo, e de licenças para liberação de financiamentos, a sua aplicação. Após haver retornado de uma intensa peregrinação por países asiáticos (no mês passado) alguns investidores brasileiros estão dispostos a investir em projetos pilotos de sistema biosseguro. Por ocasião da Aquapesca Brasil (Salvador/BA) e Gran Shrimp Festival (Acaraú/CE) eu tive a oportunidade de apresentar palestra sobre o tema e estou disposto a apresentar novas palestras e dar cursos para grupos de interesse no assunto. Também houve a palestra do Maurício Emerenciano sobre cultivo de camarões com uso de sistemas de bioflocos que me pareceu muitíssimo interessante.

De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Acredito que existem diferentes níveis de biossegurança. Você pode implementar algumas medidas, mas que nem sempre lhe garantirão 100% de confiança. Por exemplo, clorar a água antes de utilizá-la é uma medida de biossegurança, mas não garante que não vá haver outros meios de contaminação. E é caro. Se colocar estufas e/ou lonas, sua biosseguridade irá aumentar muito. Mas é caro também. Agora, algumas medidas mais básicas como higiene de funcionários, pedilúvio, rodilúvio, utilização de larvas SPF (pra camarão no caso), análises presuntivas, etc. São medidas importantes para aumentar a biossegurança e são baratas. Mas também não garantirão que não irão ocorrer problemas. Se for aplicar todos os itens de biossegurança, com certeza sairá caro, tudo depende de sua problemática e o nível de necessidade de biossegurança do seu empreendimento. Mas acredito que, de forma geral, biossegurança nunca é caro, tendo em vista retornos melhores e mais garantidos.

De: Marcelo Lima
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

A garantia de que você terá sucesso em sistema biosseguro é a qualidade da larva. A larva terá que ser isenta de enfermidades específicas de importância econômica. Não adianta sistema biosseguro sem a disponibilidade de larvas limpas. É lógico que se a larva vier contaminada fica caro mesmo, e nada do que foi aplicado na biossegurança poderá ser eficiente! O resto é manejo e medidas de biossegurança eficientes. O treinamento da equipe para trabalhar em sistema biosseguro é mais do que necessário. Com relação ao custo da implantação tudo será compensado com o aumento dos ciclos de cultivo e da produtividade. Não adianta investir em sistema biosseguro e trabalhar com baixa densidade. Assim não compensa.

De: Márcio Bezerra
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Apenas esclarecendo, a falta do conhecimento de aplicação que me referia está relacionada à provável incapacidade de uma grande parte de nossos técnicos em trabalhar com sistemas biosseguros. É lógico que existem exceções. Quem dera que essa grande “massa” de técnicos tivesse a oportunidade que você teve para reciclar conhecimentos e dominar essa área. Então, não quis generalizar. Como fui superficial no comentário, talvez tenha deixado transparecer isso. Aproveitando o embalo dessa boa discussão, coloco duas questões: 1) A garantia de qualidade não deveria ser estendida aos outros insumos (possíveis vetores) na indústria aquícola? Caso positivo, então é possível que o custo aumente mais ainda, não? Sem escala, será que essa conta fecha? 2) Sempre que olho pra sistemas fechados e biosseguros com bioflocos, me lembro da salinidade de muitas zonas estuarinas do meu Ceará. Apesar de ter escutado o colega Maurício (e sua bela palestra no Aquapescabrasil 2012), ainda tenho dúvidas com relação a viabilidade desses sistemas em nossas áreas e suas épocas de altas salinidades. Exemplo, em Acaraú, a salinidade de algumas fazendas hoje está em 55 ppt! E aí, tens alguma opinião sobre o tema? E os colegas? Alguém poderia indicar o(s) limite(s) de salinidade para a viabilidade técnica desse tipo de sistema biosseguro?

De: Flávio Farias
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Não vejo problemas em usar salinidades altas como 55. Mas em sistemas com baixas renovações ou renovação zero, como é o caso do sistema com bioflocos, você pode ajustar a sua salinidade e completar o que se perder por evaporação com água subterrânea (doce). Não existem limites estabelecidos para reuso destas águas, portanto, na despesca você manda esta água para uma bacia de sedimentação e pode bombeá-la para outra unidade de produção (viveiros, raceway, etc.).

De: Pedro Martins
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Acredito que um ponto básico dessa discussão é conhecer qual a percepção que o produtor tem da rentabilidade obtida e pretendida em seu negócio, de acordo com um nível de risco assumido por ele. Avaliando geograficamente essa percepção verificamos como os diferentes grupos de empresário estão planejando e operacionalizando suas criações. Outro ponto importante é conhecer os agentes etiológicos que podem interferir nesses resultados anteriormente citados (rentabilidade e risco). Com essas premissas é possível construir o sistema biosseguro do setor.

De: Marcelo Lima
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Marcio, Você não generalizou nem foi superficial. É a realidade! Preocupada com isso a ABCC está negociando recursos com o MPA para um amplo programa de treinamento em Procedimentos de Boas Práticas de Manejo e Medidas de Biossegurança para a Carcinicultura Brasileira. Acho que não demora a sair os recursos. Tomara! Os cuidados maiores recaem sobre o uso de produtos frescos na alimentação dos camarões por questões sanitárias. A biossegurança proíbe o uso de produtos frescos com ressalva aos produtos testados por PCR e garantidos como livres de enfermidades específicas de importância econômica, como é o caso de poliquetas importadas da Europa que são usados na maturação de reprodutores no Brasil. Há outros casos como é a questão dos cistos de artemia e lula fresca. Os custos, neste caso, não aumentam. É uma questão somente de certificação. Quem quiser vender produtos frescos tem que certificar sem ônus para os produtores. É uma exigência crescente e que vai garantir a permanência de quem estiver no mercado. Quem não certificar vai ser excluído. O sistema de bioflocos é apenas uma das alternativas. Existem os sistemas limpos, que dominam a carcinicultura asiática, e os sistemas mixotróficos que está em 2º lugar nos sistemas asiáticos. Apesar de existir desde os anos 2000, o uso de bioflocos é uma tecnologia que está mais recentemente sendo avaliada em sistemas produtivos. Estive no Equador recentemente e vi excelentes resultados deste sistema sendo utilizado nos berçários intensivos e raceways. Em viveiros de produção comercial acho que deverá ser levado em conta os custos deste modelo. É, sem dúvida, o mais oneroso por questões de manejo, uso de insumos e controles. Com relação às limitações impostas pela salinidade no sistema com uso de bioflocos quem poderia te dar informações mais precisas é o Mauricio Emerenciano. Ele é especialista neste tema.

De: Davi Dias
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Não haverá o sistema “quase” biosseguro. Ou é ou não é. Quando tentamos implantar um sistema biosseguro onde já existe um totalmente aberto fica mais complexo com toda certeza. Entretanto, se teu projeto for fechado por completo a biossegurança (por alto, por baixo e funcionários) será menos traumática. No curso de BFT na semana passada ouvi, acho que do Mano ou do Dariano, a seguinte frase: “Não se adequa o sistema BFT ao meu projeto (aberto), meu projeto deverá ser modificado para compreender todo o conceito BFT ou biosseguro”. Exemplificando: Não adianta ter uma larva SPF se deixas de realizar qualquer um dos outros procedimentos. É como o APPCC na indústria, todos os pontos críticos devem ser eliminados. No BFT o sistema é fechado, e poderás realizar o controle de tudo, inclusive da salinidade da forma que quiseres e em concentrações diversas. Ou seja, em Acaraú ou no deserto do Saara, em Jaguaruana ou na beira do rio São Francisco, poderás controlar a qualidade do teu sistema e manter teu bioflocos vivo.

De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Com certeza o sistema Bioflocos é uma medida de biossegurança, tendo em vista que os bioflocos se formam de forma natural, após um acúmulo de matéria orgânica e inorgânica na água e consequente crescimento microbiano em grande quantidade. Tudo isto acontece devido à redução ou eliminação da renovação de água. Ou seja, a formação de bioflocos é consequência da alta densidade, alta aeração e baixa renovação de água. Na realidade todo sistema de baixa renovação de água vai ser mixotrófico ou híbrido (Van Wyk, 2006), como alguns chamam. As formas de remoção de amônia nestes sistemas são principalmente três: bactérias heterotróficas, bactérias nitrificantes e microalgas. Cada um destes microorganismos têm uma dinâmica diferente na água, utilizando fontes de C e N diferentes. A aceleração da formação dos bioflocos se faz com adição de algum tipo de açúcar (normalmente melaço), mas isto apenas para reduzir a amônia de forma mais rápida, tendo em vista que as bactérias nitrificantes demoram mais para aparecer no sistema inicialmente e um bloom de microalgas (o que é normal na zero renovação), provoca muita flutuação no pH e no oxigênio. Porém SEMPRE teremos estes tipos de microorganismos na água, a não ser que se faça o cultivo no escuro, o que eliminaria as microalgas. Entretanto as microalgas tem um papel fundamental na nutrição dos camarões. Em resumo, a prevalência de um outro microrganismo dependerá do estímulo (adicionando açúcar ou não) e da preferência do produtor. Mas todos os três tipos de remoção de amônia (microalgas, heterotróficas e nitrificantes) terão fundamental papel no sistema. O mais difícil é manter o equilíbrio entre os três, já que disputam entre si nutrientes e espaço na água. Na verdade então, há muitas denominações para o mesmo princípio da não renovação da água. Mas no fundo é a mesma coisa (Bioflocos, mixotróficos, ZEAHS, BFT, Photosynthetic suspend-growth , MESI-Minimal exchange super intensive, Organic detrital algae soup-ODAS, Actived sludge Ponds, etc.). Sem esquecer que existem bioflocos (microorganismos) que fazem bem e bioflocos que fazem mal. Ou seja, o produtor que quiser implementar um sistema de baixa renovação de água e alta densidade, tem que ter um conhecimento básico de microbiologia e como manipulá-los, pois são os microorganismos que irão diferenciar os resultados. Mas sem dúvida este é o sistema com maior biossegurança: zero renovação e reutilização da água. Em relação à alta salinidade, o ideal é diluir com água doce, para que a evaporação não aumente ainda mais a salinidade. A salinidade alta tem a vantagem de reduzir a incidência de cianobactérias, toxidez da amônia e do nitrito, tendo em vista que estes compostos irão de uma maneira ou outra ter picos na água, tornando o ambiente menos estressante aos animais neste momento, chamado momento crítico. Em baixa salinidade é o inverso, é muito perigoso ter estes picos de amônia e nitrito, o que pode ser altamente toxico aos camarões, principalmente salinidades abaixo de 5 ppt. Para evitar estes picos de compostos nitrogenados, há estratégias: segurar só com melaço pode ser um tiro no pé, já que irá estimular as bactérias heterotróficas excessivamente ao longo do cultivo, e alguma forma de remoção tem que ser implementada. Ou se reutiliza uma água “madura” com as nitrificantes já presentes, ou se inocula nitrificantes, mas esta estratégia ainda está em estudos. A relação C:N e a luz é que irão fazer prevalecer um ou outro microorganismo.

De: Marcelo Lima
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Davi, compreendi perfeitamente tua colocação. Tem lógica. Sem dúvida os sistemas cobertos dão uma maior segurança. Todavia te comento que mais de 90% dos sistemas biosseguros da Ásia são abertos por cima e, acreditem, muitos viveiros não possuem revestimentos interno. Lá existe uma sopa de organismos patógenos, aves, caranguejos, siris… Interessante que os procedimentos deles têm dado resultados e produzem aproximadamente 90% de todo o camarão cultivado do mundo. Biossegurança são critérios que você vai implementando de acordo com as necessidades. O certo é que o básico, dentro da biossegurança, tem que ser feito. A CP da Tailândia é um dos exemplos de sistema biosseguro sem cobertura (8.000ha em uma única fazenda). Outra fazenda na China possui 1.000ha de sistema coberto, impressionante! É uma questão de investimentos. Quem tem condições deverá fazer o melhor, quem não tem deverá fazer o necessário. É por aí.

De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Davi, não disse em sistema “quase” biosseguro. Disse em sistema mais ou menos biosseguro. Pode ser um conceito que nem exista nas bibliografias, mas na prática é fato. Pegando o exemplo do Marcelo. “A CP da Tailândia é um dos exemplos de sistema biosseguro sem cobertura (8.000ha em uma única fazenda)” ou seja, a CP faz todos os procedimentos de biossegurança, ou quase todos, menos a estufa, então teoricamente ainda há o risco de contaminação aérea por aves (talvez eles usem redes anti-pássaros). “Outra fazenda na China possui 1.000ha de sistema coberto…impressionante!” E porque os Chineses fazem isso, assim como algumas fazendas no norte do Peru? Além de elevar a temperatura, claro, elimina a contaminação aérea. Apesar de mais caro na China, tenho quase certeza que as produtividades e resultados na CP da Tailândia são bem melhores, por vários motivos. E provavelmente porque as linhas colocadas sob os viveiros eliminam a contaminação aérea, ou este tipo de contaminação não gera resultados negativos para eles. Na Indonésia se usa cloro, crustacida e um tal de tea seed cake para tratamento de água de abastecimento, como medida de biossegurança. Estes dois últimos produtos são proibidos no Brasil, ou seja, só temos a opção do cloro. Mas já que o cloro mata quase tudo, menos alguns esporos de bactérias e vírus, então podemos dizer que nossos sistemas não serão biosseguros? Ou eles serão menos biosseguros? Outro exemplo: existem fazendas em que é impossível fazer remoção de terra nos viveiros, devido a baixa altitude em que foram construídas. Já que o recomendado para a implantação de sistemas seguros e zero renovação são viveiros de até 1ha, como reduzir o tamanho dos viveiros? Aterramento é caro. Se 99% dos viveiros construídos no Brasil tem mais de 1 ha, ou mais de 2 ha, fica muito difícil a readequação para um sistema biosseguro e funcional de fato. Acredito na possibilidade de sistemas intermediários. Tanques grandes (2-3ha), com lona, densidade moderada (60-100/m2), próbioticos e zero renovação. São sistemas “biosseguros”, mas muito mais baratos e fáceis de construir.

De: Flávio Farias
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Concordo em parte com o Bruno. Acredito que as medidas têm que fazer sentido, têm que ter uma lógica. Por exemplo: de que adianta eu clorar a água se eu não fizer uma filtração antes? Mesmo os crustacidas ou o tea seed cake, não são viricidas, mas se você retirar o máximo de matéria que puder com filtração, a ação destes químicos são potencializadas. De que adianta eu clorar a água e não fazer uma proteção anti-caranguejo? Eu não preciso cobrir com plástico todo o meu viveiro, mas no mínimo tenho que ter uma forma de afugentar as aves ou impedir o acesso das mesmas ao meu viveiro. Não é preciso fazer tudo, mas tem que se fazer um conjunto de medidas para garantir o mínimo de biossegurança e o investimento (que não é baixo), não virar apenas dinheiro jogado fora.

De: Alexandre Alter Wainberg
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Sem dúvida o sistema é lindo e promissor, mas também é caro, de manejo difícil e de altíssimo risco financeiro. As mensagens recentes e reportagem da Panorama da AQÜICULTURA não me permitiram ainda chegar a conclusão da sua viabilidade. São vários os motivos: 1- Custa R$ 350 mil/hectare para implantar 2- Possui pré requisitos importantes tais como pls spf, rações adequadas, probióticos, e demais insumos cujo conjunto ainda não parece estar totalmente disponível no Brasil a preço competitivo 3- Não temos mão de obra treinada e experiente, ou seja, se eu tiver R$ 3,5 milhões no bolso (10 hectares) não existe ninguém com 2-3 anos de experiência em uma fazenda de bioflocos que venha aqui e coloque o sistema produzindo sem ter que fazer experimentações e adaptações. 4-Não é totalmente biosseguro, porque isto simplesmente não existe. Não concordo com o Bruno e o Marcelo que dá para fazer adaptações tupiniquins com viveiros maiores ou aplicando somente alguns pontos do conceito e outros não. Na minha opinião, é tudo ou nada. Ou adere total ou vai falhar. Eu me preocupo bastante com esta tendência de adaptar ás suas necessidades ou capacidades e troquei mensagens com o Dr. Avnimelech antes do WAS 2012 em Natal demonstrando minha preocupação com a tendência brasileira de ler somente uma parte do texto ignorando o todo (vejam abaixo). Ele se comprometeu a alertar-nos (run the bell), mas não o fez. A sessão bioflock foi quase um evento de propaganda. Muitos produtores brasileiros saíram da WAS/Fenacam dizendo que a solução estava ao alcance, pois é só lonar os viveiros. Muita água vai rolar embaixo da ponte antes de eu ficar convencido da viabilidade do sistema. Como já dizia Raul Seixas: quem não tem colírio usa óculos escuros. Quem não tem dinheiro não vai para o biofloco, tem que ir para o orgânico. O orgânico tem uma visão diferente sobre doenças, doentes e biossegurança. Como não podemos evitar que existam as doenças é melhor evitar que os animais fiquem doentes. O sistema orgânico faz isto preventivamente fortalecendo o fator ambiental (qualidade da água e solos, nutrição, etologia, etc.). O animal é portador do patógeno, mas não manifesta a doença ou esta é menos virulenta.

De: Marcelo Lima
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

É importante afirmar que na Ásia o preço do camarão comercializado vivo viabiliza os custos da implantação dos sistemas biosseguros com cobertura e tudo o mais. Não é que os chineses fazem isso. É porque às vezes compensa fazer. Na realidade este sistema coberto de 1.000 hectares na China é um exemplo. Lá existem sistemas biosseguro sem cobertura e sem revestimento. Como já falei, depende das condições financeiras e da rentabilidade da comercialização da produção. Tudo há que ser analisado. Outra coisa: se você for atrás de produtos autorizados para uso em carcinicultura no Brasil tu quase não acha nada. Há registros para uso em peixes que são estendidos para camarões. Assim sendo o cloro não é autorizado no Brasil para uso em carcinicultura, mas somente para assepsia de superfícies e não para a aplicação na água. Há muito que se fazer no Brasil. Com relação aos vírus WSSV, por exemplo, o cloro elimina os vetores da enfermidades e as partículas virais não resistem mais do que 3 dias fora do hospedeiro. Por essa razão seria prudente não povoar o viveiro nos 3 primeiros dias após o tratamento da água, até mesmo porque poderá ainda existir resíduos do produto desinfetante. Ademais, em ensaios realizados por Dr. Lightner foi verificado que o vírus da mancha branca não é transmitido por meio de fezes de aves mas as aves podem soltar camarões enfermos capturado em um viveiro contaminado dentro de um viveiro não contaminado e assim transmitir a enfermidade. Na mesma publicação foi reportado que o vírus de taura (TSV) pode ser transmitido por meio das fezes de aves. Aqui no Brasil, ensaios feitos com o IMNV também reportou que não existe a transmissão do vírus pelas fezes de aves, e assim vai. Dá-lhe biossegurança ou biosseguridade como queiram chamar. Na Guatemala eles investiram em biossegurança e estão produzindo com satisfação em um país onde a WSSV, e tudo o mais, é endêmico. Lá os viveiros são similares aos nossos e os resultados são uma realidade. Camarão orgânico é uma alternativa, sem dúvida, mas temos que ter consciência de que o Brasil precisa produzir para atender a demanda do mercado interno e evitar o perigo da importação. Com orgânico, apesar de ser uma solução viável, não dá!

De: Bruno Scopel
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Uma forma interessante de unir o que cada sistema apresenta de vantagem, seria fazer berçários intensivos biosseguros na fazenda, para as Pls ganharem peso em um sistema bem controlado e mais eficiente e então transferir para viveiros com baixas densidades, tipo orgânico. No Equador parece que existem empresas investindo nisso, com bons resultados. Este sistema poderia ser considerado orgânico também. Ou os berçários intensivos descaracterizam um camarão orgânico?

De: Daniel Arana
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Assunto: Re: Biossegurança em Aquicultura

Na verdade o México (mais que Equador) vem fazendo há muito tempo cultivo em berçários intensivos nas fazendas. Levam a larva de 6 miligramas até 140 miligramas em 21 dias. Chegam a 18 gramas para a despesca em 108 dias (25 ind/m2) com FCA de 1,5 gramas. O México também tem problemas muito graves com a Mancha Branca (Estado de Sonora, principalmente). Além da biossegurança, o México também tem um plus e é a temporada de povoamento. A Guatemala também suspende seus cultivos na época de inverno. Por outro lado, fazer um camarão orgânico não é só baixar a densidade, precisa também que seja manejado e certificado com práticas de fertilização e alimentação, incluindo em alguns casos a pós-larva.