De: Rodolfo Nardez Sirol
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Mercado Parado!
Caros panoramanautas, na Zona da Mata Mineira, aparentemente, a safra de alevinos 98/99 está sendo superior à 97/98, possivelmente devido à algum fenômeno climático favorável(?), maior eficiência dos produtores(?), inclusão de alevinos de espécies “novas” (piauçu, bricons, tilápias revertidas e “surubins”)(?). São alguns argumentos que poderíamos justificar a queda de preços acentuada que os alevinos estão apresentando nessa safra (10 à 50%). Interrogado por alguns produtores que estão com seus tanques cheios de alevinos, respondi que o momento econômico não está sendo favorável e que os preços dos insumos para a engorda, associados com a queda dos preços do peixe gordo, têm diminuído a margem de lucro dos produtores, desencorajando quem ainda não tem boa eficiência na engorda ou não tenha um mercado garantido para seu peixe. Será que estou certo? Esse fenômeno está acontecendo em outras Regiões? Será que a piscicultura está enfrentado uma diminuição na sua velocidade de crescimento, outrora de 30%/ano? Será um efeito temporário? Agradeço novas idéias e comentários.
De: Fernando Andre Salles
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Re: Mercado Parado!
Especificamente, com relação aos Brycons, acredito que a baixa nos preços seja devido a um maior número de produtores com acesso a matrizes (especialmente de matrinxã) e melhoria da sobrevivência na fase de larvicultura.
De: “Antonio Ostrensky”
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Uma “pesquisa” informal realizada na Região Metropolitana de Curitiba também aponta para essa tendência de retração de mercado. Sei que a região não é lá um parâmetro muito significativo, dada a sua pouca expressão em termos de consumo de alevinos, mas conheço produtores que estão realmente preocupados. Há também alguns produtores e/ou atravessadores de alevinos da Região Oeste que estão “cobrindo qualquer oferta”, tudo para conseguir vender o seu peixe. Há que se considerar que a Região Sul passou por um grande período de chuvas contínuas, o que tende a prejudicar o movimento nos pesque-pagues, mas também não saberia precisar se isso justificaria uma eventual tendência de queda na venda de alevinos.
De: Rodolfo Nardez Sirol
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Agradeço as informações apresentadas, já podemos até sinalizar que o que está acontecendo na Zona da Mata de Minas não é um fenômeno isolado, mas que também não é uma tendência geral para o mercado. Aguardo informações de outros colegas para que possamos discutir o assunto.
De: Carlos Rogério Poli
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Amigo Ostrensky, tenho lido suas mensagens sobre o mercado de alevinos, etc. Gostaria de saber o seguinte: Como esta o mercado do peixe produzido no Paraná? Gostaria de saber se há oferta regular de tilápia com um peso médio ao redor de 200-250 gramas. Quanto seria possível comprar semanalmente? Tenho ofertas de alguns compradores para até 14 toneladas por semana. É possível encontrar alguém que tenha condições de fornecer peixe para uma indústria?
De: “Antonio Ostrensky”
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Prezado Poli, o maior problema da comercialização industrial de peixes hoje no Paraná é, ao meu ver, a falta de uma maior organização por parte dos produtores. Você me pergunta se é possível encontrar alguém que tenha condições de fornecer peixe para uma indústria. É muito difícil que haja uma pessoa ou empresa rural com capacidade para gerar a quantidade solicitada por você. Por outro lado, o Paraná produziu em 1998 algo em torno de 19.000 toneladas de peixe (primordialmente tilápias). Ou seja, há produção, mas ela está diluída em milhares (e não é nenhum exagero) de pequenas propriedades. A maior parte da produção está concentrada na Região Oeste do Estado (Toledo, Cascavel, Palotina…), com grande crescimento da produção na Região Norte (Londrina, Cornélio Procópio). Há processadoras (3 ou 4) localizadas nas regiões Oeste e Sudoeste e, geralmente, elas exigem tilápias com 350-500 gramas para filetagem, evitando comprar peixes menores. Vejo, por isso, uma oportunidade comercial para os produtores a venda de peixes com 200-250 g, pois isso permitiria tranqüilamente a obtenção de dois ciclos anuais na região. O problema, como já coloquei, é a falta de organização do setor produtivo. As associações, via de regra, são meramente figurativas, pouca representatividade tendo junto ao setor. Somente com associações ou cooperativas fortes seria possível garantir uma produção em escala industrial, mas isso ainda não ocorre no Estado. Para garantir o funcionamento regular de uma indústria, penso que seria necessário fazer um estudo de viabilidade econômica para se determinar um raio máximo em torno da mesma em que seria viável a aquisição de peixes. Em uma segunda etapa, seria necessário o estabelecimento de contatos com produtores, para que se inicie uma espécie de programa de integração com a indústria. Sem isso, dificilmente haveria escala e constância de produção. É preciso lembrar que a piscicultura paranaense ainda está muito voltada para o atendimento do mercado dos pesque-pagues, geralmente menos exigentes e profissionalizados que o setor industrial. Por outro lado, esse mercado pratica preços bastante atrativos para os piscicultores e é difícil a competição para a indústria.
De: Alexandre Diogenes
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Com referência a este assunto, gostaria de comentar que no nosso Estado, Mato Grosso do Sul, este problema também vem ocorrendo já há algum tempo. Por aqui os peixes mais cultivados são os nativos (pacu, piauçu), um pouco de tambacu e agora começando o pintado e a tilápia (principalmente na divisa com o estado de São Paulo). Concordo com o Antônio Ostrensky quando ele diz que o maior problema é a falta de organização do setor. Os produtores ainda não se conscientizaram que sozinhos não vão muito longe, um ou outro terá condições de sobreviver, mais a grande maioria será excluída do mercado, caso não se unam. Pelo que pude perceber, a maior fonte de demanda do pescado de piscicultura ainda são os pesque e pagues. Até quando? Quando acontece algum problema climático (excesso de chuvas) ou problemas econômicos, e os pesque-pagues diminuem suas vendas, estabelece-se o caos. Os produtores não tem para quem vender a produção e ficam com toneladas de peixes encalhadas, afetando toda a cadeia, desde os produtores de alevinos até os fornecedores de insumos. No Mato Grosso do Sul, estamos enfrentando este problema, e estamos tentando resolvê-lo através da conscientização dos produtores para a necessidade da organização do setor, pois caso contrário a piscicultura será a meu ver, em pouco tempo, uma atividade de elite, pois só os grandes empresários terão condições de produzir com competência eliminando do mercado os pequenos empresários.
De: “Sergio Tamassia”
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
O que está sendo feito? Aos amigos internautas da Panorama-L, concordo com todos os participantes da lista que consideram a organização do produtor/produção como peça fundamental para o desenvolvimento pleno da aqüicultura. principalmente a piscicultura de águas interiores. Mas esta discussão levantou uma curiosidade: o que está sendo efetiva e praticamente feito neste sentido para evitarmos o caos apontado pelo Diogenes? Será que os pesque-pagues são as únicas opções de comercialização? Ao que me recordo, em 1995 só no Oeste do Paraná já existiam mais de 5 Frigoríficos. O que aconteceu com eles? Na minha opinião, o problema apresentado como sendo do mercado não está exclusivamente no mercado, mas sim na produção, pois, em decorrência principalmente dos sistemas de cultivo adotados, os custos de produção não são compatíveis com os requisitos de um mercado mais amplo. Não devemos esquecer que existe disponível outros tipos de carne, inclusive pescados, a preços muito mais atrativos ao consumidor. Assim sendo, acredito que se não formos capazes de diminuir drasticamente os custos de produção, não serão apenas os grandes que ficarão na atividade, mas sim um pequeno número de produtores, e estes, mesmo apresentando baixa eficiência econômica/produtiva, obterão lucros somente pela exclusividade/exoticidade do produto e pela falta de concorrência. Apesar de estar constatando que este problema está se manifestando em várias regiões, a sua ocorrência não é generalizada. Tenho também observado, com satisfação, que muitas regiões produtoras estão evoluindo, a pequenos passos, mas de maneira firme e segura, e como regra geral estão adotando sistemas de cultivo simples mas intensamente adaptados às características sócio-econômicas, culturais e ecológias da região. Acredito que cada vez mais, por razões de ordem econômica e ecológica, devemos nos abster de perguntar: “O que meu peixe pode fazer por mim?”, mas sim nos preocuparmos com a questão: “O que eu posso fazer pelo meu peixe?”. Parece estranho, mas não devemos nos esquecer que um peixe feliz em decorrência do bem estar que lhe proporcionamos (conforto, segurança e alimentação), retorna carne, e esta é que pode converter-se em lucro!!
De: Carlos Rogério Poli
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Amigo Ostrensky, fiz este tipo de pergunta a você, mas não me surpreende sua resposta. O mesmo acontece aqui em Santa Catarina. A produção é bastante elevada mas na hora que você precisa dela num único lugar para comercializar é uma tarefa impossível. Um caminhão teria que dar uma volta completa pelo estado coletando peixes para poder industrializar alguma coisa. Não sei se você concorda comigo, mas não temos ainda uma piscicultura organizada. Bom, você já disse isto e acho que daqui para frente temos que incentivar mais a aqüicultura no sentido da organização. Grupos compromissados com uma determinada quantidade, ou produtividade (que envolve produção + tempo) para que realmente possamos colocar esta atividade como produtora de renda para o estado. Gostaria de saber que resultados está tendo o PRONAF, com a tal piscicultura familiar. Isto lembra-me que um camponês por criar quatro ou cinco galinhas não será nunca um avicultor. E com este tipo de avicultura nunca teríamos feito a avicultura crescer. Houve um planejamento industrial sobre o consumo e uma integração. Pesque e pagues não creio que seja a solução. A piscicultura de água doce está parada no meu entender, não por falta de mercado pois as ofertas de compra são constantes. Veja o cara que quer comprar peixe e que me fez a oferta, está trazendo da Argentina, peixe digamos “lixo de água doce” e vendendo tudo. Não acredito mais nestes programas de ensinar piscicultor, motivar piscicultor. Ou partimos para coisas maiores ou chegamos a um limite.
De: “Sergio Tamassia”
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Prezado Prof. Poli, lendo o seu replay, concordo com você, e com todos os outros que já colocaram que a organização é a pedra angular para qualquer atividade – as empresas/atividades de sucesso diferem das que não obtiveram sucesso devido apenas/principalmente a organização de todos os fatores requeridos para colocar um sistema de produção em movimento. Entretanto gostaria de colocar algumas considerações, principalmente acerca de sua colocação: (>>Não acredito mais nestes programas de ensinar piscicultor, motivar piscicultor, ou partimos para coisas maiores ou chegamos a um limite.) a.) Dentro desta perspectiva, quem é que produzirá? Somente grandes empreendimentos poderão ter sucesso? (O caso da Itália, e outros países mostram que pequenos núcleos de produção podem ser até mais eficientes que grandes grupos em termos de distribuição de riquezas, otimização de custos, diminuição de impacto ambiental, etc..) b) Se somente os grandes empreendimentos forem produzir, Santa Catarina está fora do processo (até hoje, a maior parte da produção da piscicultura está centrada no pequeno produtor); c) Se o pequeno produtor não for treinado, não somente para as atividades da piscicultura, mas para as atividades agrícolas como um todo, irá para a cidade (periferia com mais probabilidade). Será que os benefícios trazidos pelo desenvolvimento de uma piscicultura baseada em grandes conglomerados, compensarão os custos sociais da migração rural? d) Quem está disposto a custear o surgimento de uma nova SADIA/PERDIGÃO do peixe? e) Para se produzir eficazmente economicamente/socialmente/ecologicamente) o produtor tem que dispor de conhecimento!! Hoje o nosso homem do campo ainda não dispõe de todo o conhecimento necessário!!! Se não os treinarmos, a produção vingará?
De: “Antonio Ostrensky”
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado!
Prezados Tamassia e Poli, sinceramente, eu não vejo incompatibilidades em seus respectivos posicionamentos. A aqüicultura familiar tem tido um importante papel econômico-social para o país. No entanto, é preciso sempre lembrar que ainda não conseguimos nos destacar em nenhuma área da aquicultura. Mesmo se considerarmos o âmbito da América do Sul (que, no geral, não é lá grande coisa a nível mundial), não conseguimos nos sobressair em nenhuma área. Perdemos na produção de peixes para o Chile, de camarões para o Equador, não temos nenhuma representatividade na produção de algas e assim vai. Com isso, é fácil concluir que o país precisa do investimento de grandes grupos para que sua aqüicultura possa se desenvolver e, com isso, beneficiar até mesmo os pequenos produtores. É só observar o que aconteceu com a carcinicultura no Nordeste do Brasil, onde há bem pouco tempo a produção estava limitada aos grandes empreendimentos e hoje a participação dos pequenos produtores é bastante significativa. Quem conhece a realidade do Nordeste sabe como a carcinicultura tem sido importante para melhoria de vida dos pequenos produtores. Há conflitos nessa convivência entre grandes e pequenos? Sem dúvida, mas o balanço final é positivo, pois há a possibilidade de exploração de diferentes nichos de mercado. A entrada desses grandes grupos na piscicultura abriria novos mercados, contribuiria para o desenvolvimento de novas tecnologias e faria com que o país não fosse apenas conhecido por seu “imenso potencial hídrico”. Os pesque-pagues são e serão por muito tempo importantes, mas a piscicultura brasileira não pode ficar limitada a eles, uma vez que esse, como qualquer mercado, tem limites de expansão. Quanto ao PRONAF, questionado pelo Poli, penso que ele cumpre o seu papel, uma vez que os créditos para os pequenos produtores são limitados e o custo desse capital no mercado financeiro é altíssimo. Recentemente, foi lançado o PRONAF agroindústria, que permite o financiamento de até R$ 600.000,00 para pequenos grupos (máximo de 12 pessoas) que pretendam industrializar a sua produção (inclusive a aqüícola). A pergunta agora passa a ser a seguinte: terão os pequenos produtores organização e qualificação para assumir uma dívida de tal monta? Penso que sem qualificação e apoio NÃO, o que por si só já justificariam os cursos e campanhas de capacitação técnica e de organização do setor produtivo. O mais triste é que em um momento de crise e supervalorização do dólar o Brasil (com toda a sua potencialidade) não tem nem produção e nem organização suficientes para explorar os mercados externos. Os produtores de laranja e de vários outros comodities internacionais estão rindo a toa, e os piscicultores? Não estariam preocupados com um provável aumento dos custos da ração, uma possível retração do mercado dos pesque-pagues? Desculpem-me, amigos, se me empolguei demais. Mas, acho que nós todos temos uma grande responsabilidade em pensar esse país e propor caminhos para o seu desenvolvimento.
De: Alexandre Alter Wainberg
[email protected]
Para: Lista Panorama-L
[email protected]
Assunto: Re: Mercado Parado! OU PEIXE INFELIZ?
Prezados colegas, na minha opinião o maior problema da piscicultura é a dispersão de espécies cultivadas. Para o caso da industrialização e para redução do custo dos insumos é necessário que seja escolhido um modelo regional com apenas uma espécie que receberia todo apoio e pesquisa (no máximo 2, com uma principal e outra secundária). Temos que ter em mente que processar/vender uma tilápia é diferente de processar/vender uma carpa. Com isto, o volume produzido viabiliza a industria terceirizada, e o aumento do consumo dos insumos específicos aumenta o interesse dos grupos fornecedores aumentando a competição e baixando os preços. O file de tilápia tem que ser colocado nas prateleiras dos supermercados por um preço competitivo com a merluza, o que é impossível com ração a R$ 0,50. É uma questão de economia de escala.