Nutrição e Alimentação de Tilápias

Devido a sua extensão, o texto “Nutrição e alimentação” foi dividido em duas partes. A parte 1 foi publicada na última edição 52 – março/abril da Panorama da AQÜICULTURA. Sua referência bibliográfica encontra-se disponível em nossa redação e poderá ser enviada por fax ou e-mail aos assinantes que a solicitarem. Parte II – Final


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Por: Fernando Kubitza – Ph.D.
Consultoria e Treinamento em Aqüicultura


Pós-larvas de peixes crescem rapidamente, portanto, são bastante exigentes em nutrientes. Devido às pós-larvas apresentarem reservas corporais mínimas de nutrientes, qualquer deficiência na nutrição das mesmas é prontamente notada e, invariavelmente, catastrófica. As pós-larvas de tilápias possuem trato digestivo completo e conseguem utilizar adequadamente rações de moagem fina, boa palatabilidade e nutricionalmente completas na primeira alimentação exógena.

4. Nutrição e manejo alimentar durante a reversão sexual

Em condições naturais e em viveiros, o primeiro alimento das pós-larvas de tilápias são o fitoplâncton e os copépodos e cladóceros. Estes organismos possuem alto valor energético e podem conter níveis de proteína na matéria seca variando de 20 a 60%. Isto talvez explique o motivo dos melhores resultados de crescimento de pós-larvas de tilápias terem sido obtidos com rações contendo entre 40 a 50% de PB (como apresentado na Tabela 2) e energia digestível entre 3.600 a 4.000 kcal/kg.

Devido a necessidade de moagem fina para obter partículas de tamanho inferior a 0,5mm, as rações para pós-larvas estão sujeitas a maiores perdas de nutrientes por dissolução na água, principalmente os minerais, as vitaminas hidrossolúveis, proteínas e aminoácidos livres. Para minimizar estas perdas é preciso que estas rações apresentem boa flutuabilidade, reduzindo o contato das partículas com a água e assim as perdas de nutrientes por dissolução. Uma boa flutuabilidade das rações pode ser alcançada com a correta combinação de ingredientes e moagem fina da mistura. As rações usadas para pós-larvas e alevinos durante o período de reversão sexual devem ser fortificadas com pelo menos 3 vezes mais vitaminas e minerais do que o mínimo recomendado. Na Tabela 7 é apresentada a sugestão de enriquecimento para estas rações, bem como um exemplo de enriquecimento vitamínico e mineral de rações com 40 a 45% de proteína que vêm garantindo bons resultados na alimentação de pós-larvas de tilápias em pisciculturas de São Paulo.

Manejo alimentar. A reversão sexual deve ser iniciada com pós-larvas entre 9 a 12mm. A ração com 60mg de metiltestosterona/kg deve ser fornecida em 5 a 6 refeições diárias. Em cada refeição, a ração deve ser fornecida até o momento em que os peixes estiverem saciados. Isto é conseguido através de contínuo fornecimento de ração e atenta observação do consumo e atividade dos peixes. Deve se evitar excessiva sobra de ração nas unidades de reversão. Anéis de alimentação flutuantes são úteis para evitar que a ração se espalhe, sendo muito usados quando a reversão é feita em “happas”. Os peixes devem receber rações com metiltestosterona por um período de 28 dias. Cerca de 600 a 800 gramas de ração são necessárias para cada 1.000 alevinos de 4 a 5 cm produzidos.

Desempenho na reversão sexual. Os seguintes parâmetros indicam um bom desempenho após os 28 dias de reversão sexual: a) Tamanho dos alevinos: 4 a 5 cm (0,8 a 1g); b) Sobrevivência > 80%; c) Índice de reversão > 99%. Para alcançar este desempenho é necessário adequar o manejo nutricional e alimentar dos reprodutores; atentar para a qualidade nutricional das rações, à qualidade da água e ao manejo alimentar; adquirir hormônio de fornecedor idôneo; uso de práticas auxiliares de manejo, como exemplo a classificação periódica dos alevinos por tamanho e eliminação de peixes que não apresentaram bom desenvolvimento durante a reversão. Maiores detalhes sobre as estratégias de reversão sexual de tilápias podem ser encontrados nos trabalhos de Popma e Green (1990), Contreras-Sánchez et al (1997), Desprez et al (1997), Gerrero III e Guerrero (1997), Rani e Macintosh (1997), Mainardes-Pinto et al (1998) e Sanches e Hayashi (1998).

5. Nutrição e manejo alimentar na recria e engorda

A importância do alimento natural, notadamente o plâncton, no crescimento das tilápias já foi ressaltado anteriormente. Muitos sistemas de produção combinam os benefícios do alimento natural com o uso de rações suplementares ou completas, visando um aumento na produtividade e melhora na conversão alimentar. Os piscicultores e nutricionistas devem estar atentos para ajustar a densidade dos nutrientes nas rações e o manejo alimentar em função do sistema de cultivo adotado, otimizando a produtividade e minimizando os custos de produção.

5.1. Recria (5 a 100g) em viveiros com plâncton

Enquanto a biomassa de tilápias em viveiros de recria com plâncton não ultrapassar 4.000 kg/ha, rações com 24 e 28% de proteína, 2.600 a 2.800 kcal de ED/kg e sem enriquecimento vitamínico e mineral podem ser utilizadas mantendo adequado crescimento e conversão alimentar. Durante esta fase os peixes devem ser alimentados entre 2 a 3% do peso vivo ao dia, quantidade dividida em 2 refeições diárias. O uso de rações flutuantes permite melhor ajustar a quantidade de ração fornecida. Alimentar os peixes tudo o que eles podem consumir numa refeição maximiza o crescimento, o que é desejado nas fases iniciais. Porém, tal prática pode não ser a melhor estratégia do ponto de vista econômico, principalmente nas fases de engorda (Tabela 9).

Tabela 9. Influência da taxa de alimentação diária sobre o ganho de peso e conversão alimentar de alevinos de tilápia do Nilo em aquários (Xie et al 1997) e de tilápia vermelha da Flórida, híbrido entre O. hornorum e O. mossambicus, cultivadas em Tanques-rede (Clark et al 1990)
Nível de arraçoamento
Ganho de peso (%/dia)
Ganho de peso relativo
Conversão alimentar
Conversão alimentar relativa
(% do PV/dia)
       
1% PV
0,48
100
1,85
210
2% PV
1,67
348
0,88
100
3% PV
2,20
458
0,92
105
4% PV
2,35
490
1,14
130
Saciedade
2,71
565
1,85
210
Xie et al 1997
 
 
 
 
(% do consumo voluntário)
Ganho de peso (gramas/dia)
Ganho de peso relativo
Conversão alimentar
Conversão alimentar relativa
110%
1,63
166
2,26
144
90%
1,58
161
2,11
134
70%
1,47
150
1,68
107
50%
0,98
100
1,57
100
Clark et al 1990
 
   
 

Estes níveis de arraçoamento de 2 a 3% do PV ao dia podem parecer insuficientes para peixes deste tamanho. No entanto não deve ser esquecido que os peixes consomem plâncton o tempo todo, complementando o nível de ingestão de alimentos. A conversão alimentar na recria em tanques com plâncton deve ficar abaixo da unidade, com valores de 0,8 sendo bastante comuns. Se isto não se confirmar, pode estar ocorrendo problemas na qualidade da ração, qualidade da água, manejo alimentar, produção de plâncton, qualidade dos alevinos, doenças, ou baixas temperaturas.

Quando a biomassa nos viveiros ultrapassar os 4.000 kg/ha, o plâncton disponível não é capaz de complementar a nutrição e manter os mesmos índices de desempenho dos peixes na recria. A partir deste ponto é recomendável o uso de rações com 28 a 32% de proteína, energia digestível entre 2.900 a 3.200 kcal/kg (Tabela 6) e suplementação mínima de vitaminas e minerais (Tabela 7). Deve ser esperada uma piora nos índices de conversão alimentar a partir deste ponto, devido tanto à diminuição no plâncton disponível por animal, quanto à deterioração progressiva na qualidade da água. Ainda assim valores de conversão entre 1,0 e 1,2 devem ser obtidos. Sob condições adequadas de temperatura da água (28 a 32 °C), tilápias de 1g atingem o peso de 100g após 60 a 70 dias de recria em viveiros com plâncton. Se isto não ocorrer, confira as densidades de estocagem, a qualidade da água e das rações, a abundância de alimento natural, o manejo alimentar e a qualidade dos alevinos.

A importância do plâncton e como estimular a sua formação

· Com a estocagem dos peixes e início da alimentação a água começa a adquirir uma coloração esverdeada, o que indica a presença de plâncton.

· O plâncton contribui de forma significativa na alimentação das tilápias, produz oxigênio e remove a amônia da água, favorecendo assim um rápido desenvolvimento dos peixes. Além disso o plâncton sombreia o fundo dos tanques, impedindo a entrada de luz e o desenvolvimento de algas filamentosas e plantas submersas.

· Se houver muita troca de água no início das etapas de recria o plâncton não se forma e o desenvolvimento dos peixes será prejudicado. A água fica muito transparente, facilitando o desenvolvimento de algas filamentosas e plantas aquáticas no fundo dos tanques, o que pode prejudicar a qualidade da água e dificultar as operações de despesca.

· Se a água estiver muito cristalina no início das fases de recria, a formação do plâncton pode ser estimulada fechando toda a entrada de água e aplicando 2 a 3 kg de uréia/1.000m2/semana e cerca de 4 a 6 kg de farelos vegetais/1.000m2/dia. Farelos de arroz, trigo ou algodão, por exemplo, podem ser usados e também servirão de alimento para os peixes estocados.

· O ideal é deixar a água ir adquirindo uma coloração esverdeada até atingir transparência entre 40 a 50cm, o que pode ser medido com o auxílio do Disco de Secchi. Atingida esta transparência, pode se interromper o uso de uréia e farelos.

· Quando a transparência da água for reduzindo e se aproximar a 30cm, é hora de começar a renovar um pouco de água. A quantidade de água renovada deve ser ajustada de forma a manter a transparência da água entre 40 a 50cm.

· Lembre-se que o excesso de renovação de água é o principal fator responsável pelo insucesso na formação de plâncton.

5.2. Recria (5 a 100g) em tanques-rede e raceways

Em tanques-rede e raceways a disponibilidade de alimento natural é limitada e os peixes estão submetidos a uma maior pressão de produção e estresse. Portanto, é recomendável que as rações sejam mais concentradas em proteínas (36 a 40%), energia digestível (3.200 a 3600 kcal/kg) e recebam um enriquecimento mineral e vitamínico ainda maior, conforme sugerido nas Tabelas 6 e 7. Descuido com este detalhe pode resultar em grandes perdas econômicas devido a distúrbios nutricionais e uma maior susceptibilidade dos peixes às doenças. A taxa de alimentação diária deve ser ajustada para 70 a 80% do máximo consumo diário, ou cerca de 3 a 4 % do peso vivo ao dia, em função principalmente do tamanho dos alevinos, da temperatura da água e da concentração em nutrientes da ração. Esta quantidade de alimento deve ser dividida em 3 refeições. O consumo pode ser aferido periodicamente alimentando os peixes tudo o que eles puderem consumir durante um dia, permitindo assim reajustar a taxa de alimentação para 70 a 80% do máximo consumo. A conversão alimentar esperada nesta fase deve girar entre 1,1 e 1,3.

5.3. Engorda (100 a 600g) em viveiros com plâncton

Durante a engorda em viveiros até o limite de 6.000 kg/ha, o piscicultor pode utilizar rações sem suplementação mineral e vitamínica, entre 24 e 28% de proteína e energia digestível de 2.600 a 2.800 kcal/kg. O nível de arraçoamento deve ficar entre 1,5 a 2,% do peso vivo ao dia, dividido em 2 refeições. O tempo necessário para que as tilápias alcancem 600g não deve ultrapassar 110 dias sob condições adequadas de temperatura. A conversão alimentar deve fica entre 1,3 a 1,5. Se o objetivo é produzir mais do que 6.000 kg de tilápia/ha, a partir desta biomassa é recomendável o uso de uma ração suplementada com minerais e vitaminas e com maior concentração protéica (28 a 32%) e energética (2.800 a 3.000 kcal/kg). Deve ser esperada um piora nos índices de conversão alimentar (1,5 a 1,7) e uma redução na velocidade de crescimento, devido à diminuição no plâncton disponível e a progressiva redução na qualidade da água.

5.4. Engorda (100 a 600g) em tanques-rede e raceways

Rações com 32 a 36% de proteína e 2.900 a 3.200 kcal ED/kg e enriquecidas com pelo menos níveis duplos de vitaminas e minerais devem ser usadas na engorda de tilápias em raceways e tanques-rede (Tabelas 6 e 7). O arraçoamento diário entre 1,5 a 2,5% do peso vivo deve ser dividido em 3 refeições. A expectativa de conversão alimentar é de 1,5 a 1,8. Sob condições adequadas de temperatura (28 a 32 °C). Cerca de 130 dias serão necessários para os peixes chegarem a 600g.

6. Nutrição e manejo alimentar de reprodutores

A crescente demanda, tanto em quantidade como em qualidade, por pós-larvas e alevinos de tilápias vem exigindo atenção especial no que diz respeito à nutrição de reprodutores. A intensa coleta de pós-larvas ou ovos gera a necessidade de fornecer aos reprodutores um alimento nutricionalmente completo. Diversos estudos demonstram a importância da correta nutrição sobre o desempenho reprodutivo dos peixes, à semelhança do observado com outros animais. Alguns exemplos são listados na Tabela 10.

Tabela 10. Efeitos da nutrição no desempenho reprodutivo de algumas espécies de peixes.
Espécies
Condições / deficiências
Efeitos na reprodução
Truta arco-íris (Oncorhynchus mykiss) Microminerais (Zn e Mn) Diminuiu a fecundidade, o tamanho e a porcentagem de ovos embrionados, e a taxa de eclosão
  Reduzida taxa de alimentação Atraso nas desovas; redução no número de fêmeas que desovaram e no tamanho médio dos ovos
  Ácidos graxos essenciais Reduziu a fertilidade e taxa de eclosão
Lebistes (Poecilia reticulata) Reduzida taxa de alimentação Menor número de pós-larvas produzidas
  Baixo teor de proteína na dieta Reduziu o peso das gônadas, a quantidade de ovos por fêmea e o número de fêmeas com ovos e embriões
Carpa comum (Cyprinus carpio) Vitamina E Reduziu o peso dos ovários e atrasou o desenvolvimento dos oócitos
  Ácidos graxos essenciais Reduziu a taxa de eclosão
Ayu (Plecoglossus altivelis)   Reduziu a sobrevivência de embriões e de larvas
Pargo (Chrysophys major) Carotenóides Maior incidência de anormalidades nas larvas

 

A seguir são listados alguns exemplos da influência da nutrição sobre o desempenho reprodutivo de tilápias:

Tilápia de Mossambique / Oreochromis mossambicus:

Rações deficientes em vitamina C resultou em reduzida taxa de eclosão, aumento na proporção de embriões deformados, atraso no crescimento e redução na sobrevivência das pós-larvas e dos alevinos (Tabela 11).

Tabela 11. Efeito da suplementação ou não de rações com ácido ascórbico sobre o desempenho reprodutivo e o desenvolvimento das pós-larvas de tilápia de Mossambique, Oreochromis mossambicus (Soliman et al. 1986)
 
0 mg/kg de ração
1.250 mg/kg de ração
 
Efeito no desempenho reprodutivo
Taxa de eclosão (%)
54
89
Larvas deformadas (%)
57
1
Concentração de vitamina C
 
 
no ovos (ug/kg)
Não detectado
202
nas larvas (ug/kg)
Não detectado
135
 
Efeito no desempenho das pós-larvas
Peso inicial (mg)
5
7,25
Peso final (mg)
30

237

Conversão alimentar
5,00
1,05
Sobrevivência (%)
1,8
86,4

 

Tilápia-do-Nilo / Oreochromis niloticus:

Baixos níveis de proteína na ração resultou em atraso na maturação sexual (puberdade) e no desenvolvimento e maturação dos oócitos (Gunasekera et al 1995)

Machos alimentados com ração contendo farelo de algodão apresentaram atraso na maturação dos testículos e redução no número e na motilidade dos espermatozóides (Salaro et al 1998a). Em fêmeas houve atraso e diminuição do número de desovas (Salaro et al 1998b). Estes efeitos foram atribuídos ao gossipol, fator anti-nutricional presente no farelo de algodão. Rações contendo 40% de farelo de folhas de leucena resultou em redução na produção de pós-larvas e no peso corporal das fêmeas. Estes efeitos foram atribuídos à mimosina, composto anti-nutricional presente na leucena (Santiago et al 1988).

7. Conversão alimentar (CA) de tilápias

O índice de conversão alimentar (CA) é calculado dividindo-se a quantidade total de ração fornecida (em um viveiro, tanque-rede, ou raceway) pelo ganho de peso dos peixes. O ganho de peso é calculado subtraindo-se da produção obtida em um viveiro, tanque-rede ou raceway, o peso total dos peixes na estocagem. Muitos piscicultores esquecem deste detalhe, e subestimam os índices de conversão alimentar obtidos. A correta determinação da CA e do tempo de cultivo é fundamental para avaliar a relação custo/benefício das rações comerciais disponíveis. Diversos fatores afetam a conversão alimentar dos peixes. Alguns deles são comentados a seguir:

Qualidade do alimento. Quanto mais próxima for composição em nutrientes disponíveis nos alimento das exigências nutricionais do peixe, melhor será a CA. Outros fatores como o grau de moagem dos ingredientes, a palatabilidade e a estabilidade das rações na água também afetam a conversão alimentar.

Espécie de peixe. As espécies de peixes apresentam respostas diferenciadas quanto à demanda energética para atividades essenciais (natação, respiração, osmorregulação, captura de alimento; expressão do seu comportamento; reprodução; digestão do alimento e metabolismo dos nutrientes assimilados, entre outras). Portanto, é natural que estas diferenças influenciem os índices de CA de cada espécie.

Idade ou tamanho dos peixes. Dentro de uma mesma espécie, peixes menores (mais jovens) apresentam melhores índices de CA, o que pode ser explicado pelo fato dos peixes menores apresentarem uma maior relação taxa de crescimento/exigência de manutenção comparados a peixes de tamanho maior. Peixes de menor tamanho também são mais eficientes na utilização do alimento natural quando este for disponível.

Sexo e reprodução. No caso específico de tilápias este fator é muito importante. Por exemplo, as fêmeas de tilápias-do-Nilo direcionam grande quantidade de energia dos alimentos para a produção de ovos e cuidado parental, portanto crescem mais lentamente e apresentam piores índices de CA que os machos. De uma forma geral, quando os peixes entram em fase de reprodução os índices de conversão alimentar tendem a piorar devido ao maior gasto da energia com as atividades relacionadas à reprodução (formação de gônadas, côrte e disputa pelos parceiros, construção e defesa de ninhos, cuidado parental, entre outros).

Disponibilidade e capacidade de aproveitamento do alimento natural. Anteriormente foi discutida a importância do alimento natural no crescimento das tilápias. Como os cálculos de CA são feitos com base na quantidade de ração fornecida, uma maior disponibilidade de alimento natural nos tanques e viveiros contribui para a redução dos valores de CA. Peixes como as tilápias, que aproveitam bem o alimento natural disponível tendem a apresentar melhores índices de CA do que, por exemplo, peixes carnívoros, que não possuem habilidade no aproveitamento do plâncton e outros alimentos naturais disponíveis nos viveiros.

Qualidade da água. Quanto melhor for a qualidade da água melhor serão os índices de conversão alimentar. Reduzidos níveis de oxigênio dissolvido, elevada concentração de gás carbônico e metabólitos tóxicos como a amônia e o nitrito resultam em redução no consumo e no aproveitamento dos alimentos, prejudicando os índices de CA.

Densidade de estocagem. O aumento na densidade de estocagem geralmente piora a CA, pois reduz a disponibilidade de alimento natural por peixe e acelera a degradação da qualidade da água devido aos maiores níveis de arraçoamento exigidos.

Temperatura da água. O peixe é um animal pecilotérmico, portanto sua atividade metabólica aumenta com a elevação na temperatura da água. Cada espécie exige uma faixa específica de temperatura (zona de conforto térmico) para melhor expressar o seu potencial de crescimento e utilização do alimento disponível, o que influencia sobremaneira os índices de CA. No cultivo de tilápias a zona de conforto térmico está entre 28 a 32 °C. No inverno a conversão alimentar das tilápias piora sensivelmente.

Nível de arraçoamento. Se o nível de arraçoamento for muito baixo, é possível que os peixes consigam ter atendidas apenas as suas necessidades de manutenção, resultando em ganho de peso zero. O aumento nos níveis de arraçoamento acima das exigências de manutenção melhora a CA. Níveis excessivos de arraçoamento (Tabela 9), mesmo não havendo desperdício de ração, geralmente promove uma maior velocidade de passagem do alimento no trato digestivo, o que reduz a sua digestão e assimilação, piorando a CA. Na Tabela 12 são resumidos os índices de conversão alimentar obtidos com tilápias de diferentes tamanhos, mantidas em ambientes distintos e alimentadas com rações de composição e formas de apresentação variadas.

Tabela 12. Índices de conversão alimentar (CA) de tilápias de diferentes tamanhos, mantidas em ambientes variados e alimentadas com rações de diferentes composições e formas de apresentação
Referências
Ambiente
Tamanho (g)
PB das rações (%)
CA mín.
CA máx.
Forma das rações
Furuya et al 1998
Aquário
2 a 11
28
1,14
1,23
Peletes densos
Olvera-Novoa et al 1997
Aquário
0,2 a 6
45
0,76
0,82
Não especificados
Siddiqui et al 1988
Aquário
40 a 170
30
1,70
1,75
Peletes densos
Siddiqui et al 1988
Aquário
0,8 a 20
40
1,90
1,90
pó fino
Xie et al 1997
Aquários
10
35
0,88
1,14
Peletes densos
Abdelghany 1997
Aquários
3 a 40
34 a 39
1,35
1,73
Peletes
Rojas e van Weerd 1997
Aquários
7 a 45
39
1,24
 
Peletes
Bhikajee e Gobin 1997
Aquários
0,5 a 70
 
1,21
1,62
Não especificados
Mires e Amit 1992
Recirc.
30 a 400
30
1,30
2,00
Peletes
Rosati et al 1997
Recirc.
20 a 670
36
1,70
 
Peletes flutuantes (extrusados)
Siddiqui et al 1991
Raceways
20 a 120
34
1,7
2,3
Peletes densos
Siddiqui e Al-Harbi 1995
Tanques
0,5 a 28
34
0,98
1,46
Peletes densos
Siddiqui e Al-Harbi 1995
Tanques
30 a 100
34
1,50
2,20
Peletes densos
Pouomogne e Mbongblang 1993
Viveiros
11 a 45
28
2,02
3,06
Farelada
Gur 1997
Viveiros
45 a 120
40
1,18
1,33
Peletes densos
Gur 1997
Viveiros
45 a 400
35
1,42
1,68
Peletes densos
Gur 1997
Viveiros
20 a 300
33-34
1,28
1,70
Peletes
Mainardes Pinto et al 1989
Viveiros
10 a 590
25
1,53
1,83
Peletes
Viola et al 1988
Viveiros
80 a 500
29-31
1,65
2,50
Peletes
Gur 1997
Viveiros
50 a 300
33-34
1,01
1,51
Peletes flutuantes (extrusados)
Kubitza e Halverson (não public)
Viveiros
4 a 450
32
1,00
1,20
Peletes flutuantes (extrusados)
Lovshin et al 1990
Viveiros
5 a 160
3600%
2,20
2,40
Peletes flutuantes (extrusados)
Viola et al 1988
Gaiolas
120 a 330
25
2,6
3,4
Peletes densos
Clark et al 1990
Gaiolas
10 a 160
32
1,57
2,26
Peletes flutuantes (extrusados)
Ono (não publicado)
Gaiolas
30 a 530
32
1,62
2,00
Peletes flutuantes (extrusados)

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