O Litopenaeus vannamei, a exemplo do Peaneus monodom, camarão marinho muito cultivado em vários países asiáticos, adapta-se muito bem e desenvolve-se em águas doces com características próprias, também conhecidas como águas oligohalinas (ver definição na matéria do Alberto J. P. Nunes, edição 66). Esse fato está operando uma curiosa mudança no perfil dos empreendimentos de cultivo de camarões brasileiros, já que os cultivos de vannamei em águas oligohalinas continuam a se multiplicar por vários estados, ocupando áreas outrora impensáveis para o engorda de um camarão marinho.
Um bom exemplo da dinâmica do desenvolvimento desta modalidade de cultivo é a expansão das parcerias que a tradicional empresa cearense CINA – Cia. Nordeste de Aqüicultura e Alimentação, vem formalizando num raio de 70 km ao redor do município de Fortim, ao sul de Fortaleza.
A CINA, pioneira no cultivo de camarões marinhos desde 1984, também inovou nos últimos anos ao buscar parcerias com pequenos e médios produtores, operando um bem organizado sistema de integração onde os produtores são totalmente financiados pela empresa.
Dos 420 hectares que a CINA administra em parceria com terceiros, 130 pertencem a produtores que engordam o L. vannamei em água oligohalina. São ao todo 26 parceiros, sendo que 24 têm toda a produção financiada pela empresa, recebendo a assistência técnica e até a mão-de-obra da CINA deste o calcareamento dos viveiros até a despesca final.
Exportação
Segundo Yuri Souza Mamede Aguiar, diretor industrial da CINA, enquanto o laboratório da empresa não ficar pronto, o que é esperado para o primeiro semestre do próximo ano, a empresa ainda adquirirá as pós-larvas (PLs) de laboratórios de terceiros. “Solicitamos aos laboratórios de larvicultura que nos entreguem as PLs em águas com as salinidades mais baixa que puderem, e as recebemos geralmente entre 12 e 15 12 ppt” diz Yuri Mamede. A CINA tem estimulado os produtores a construir seus próprios pré-berçários, e quase todos já estão fazendo a aclimatação final das PLs a água doce na própria fazenda, afirma Mamede.
Nas fazendas integradas a CINA, o desempenho do L. vannamei nos viveiros de água oligohalinas tem sido extremamente satisfatório. Segundo Yuri, os viveiros de água salgada da empresa, se operados sem aeradores, produzem ao redor de 3.000 kg por hectere por ciclo. No caso dos viveiros de água oligohalinas as produtividades ficam ao redor de 1.900 kg.
Os camarões cultivados na água oligohalina são normalmente um pouco mais claros do que os convencionalmente despescados em viveiros de água salgada, apesar de ser comum despescar também camarões bem claros, também em água salgada. Segundo Mamede, os clientes internacionais aceitam sem nenhum problema o vannamei cultivado em águas oligohalinas, não havendo oposições ao sabor ou a qualidade. Até hoje, em apenas dois viveiros tivemos um pequeno problema com uma proliferação de algas que se concentraram na cabeça (cefalotórax) dos camarões, e modificou o sabor quando comidos inteiros. Na cauda (filé) o sabor das algas não foi percebido, diz Yuri Mamede.
Os resultados do programa de parceria da CINA têm sido animadores. Além dos benefícios sociais gerados nas comunidades associadas, como geração de empregos diretos e indiretos e geração de renda, o programa está contribuindo para a expansão de uma carcinicultura responsável e ecologicamente sustentável, bem como um incremento na área produtiva e efetivamente na produção do país, atesta Mamede. Toda a produção obtida com o programa de parceria é incorporada a produção dos viveiros da própria empresa e tem sido destinada, com sucesso, aos mais exigentes mercados da Europa e EUA.