Por: Jomar Carvalho Filho
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Biólogo e Editor da Revista Panorama da AQÜICULTURA
O pirarucu, Arapaima gigas, está entre os maiores representantes da ictiofauna que habita as águas doces do mundo, constituindo-se em uma espécie com grande potencial e importância para a piscicultura brasileira. Nos últimos anos, a espécie tem chamado atenção da comunidade científica em todo o Brasil e América Latina. Desta vez foi a cidade do Recife (PE) que recebeu, de 29 de setembro a 1º de outubro, a oficina de trabalho “Avaliação da atual cadeia produtiva do pirarucu, Arapaima gigas no Brasil: entraves tecnológicos e perspectivas para seu desenvolvimento”.
O evento, promovido pelo Departamento de Pesca e Aquicultura da Universidade Federal Rural de Pernambuco e coordenado pela professora Maria do Carmo “Carminha” F. Soares ([email protected]), contou com o financiamento do CNPq (MCT/CNPq/Finep no 04/2011), e com o apoio da Universidade Federal de Pernambuco; Superintendência Federal da Pesca e Aquicultura do Estado de Pernambuco; Associação Brasileira de Engenharia de Pesca e, da Noronha Pescados.
Apresentações
Os trabalhos foram abertos pelo pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Alexandre Honkzaryk, que mostrou o que vem sendo realizado na instituição, com destaque para o conhecimento da biologia do peixe e sua caracterização genética. No que se refere à aquicultura, Honkzaryk apresentou os trabalhos de nutrição, com a caracterização dos requerimentos nutricionais e manejo alimentar. Os estudos referentes a adaptação do peixe ao ambiente de cultivo geraram importantes informações sobre os parâmetros físico-químicos da água, transparência e profundidade. O INPA já realizou inúmeros trabalhos de reprodução, envolvendo aí a captura de reprodutores, transporte, manejo e formação do plantel de matrizes. O perfil hormonal dos esteróides sexuais do pirarucu em condições de cativeiro também foi outro tema apresentado por Honkzaryk.
O peixe é um destaque do “Projeto DARPA” (Desenvolvimento da Aquicultura e Recursos Pesqueiros da Amazônia) coordenado pela SEPROR (Secretaria de Estado de Produção Rural) em parceria com diversas instituições, incluindo o INPA, que busca encontrar respostas para a produção de alevinos em larga escala, com a solução dos problemas, principalmente os sanitários e nutricionais, relacionados à baixa sobrevivência dos alevinos, além do aprofundamento dos requerimentos nutricionais e o refinamento dos protocolos para a reprodução natural e induzida.
O Superintendente do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) no Acre, Sami Pinheiro de Moura, um dos pioneiros na produção de pirarucu nesse estado apresentou o diagnóstico da cadeia produtiva do pirarucu realizada no Acre, acompanhado de um estudo de mercado. Sami acredita que a reprodução desse peixe ainda está longe de ser dominada, o que leva os produtores locais a utilizarem alevinos das desovas naturais, que ocorrem de março a junho nos viveiros escavados, onde, em geral, três machos são colocados para cada uma ou duas fêmeas.
Nuvens de alevinos com 3 a 4 mil indivíduos com tamanho de 3 a 8 mm são coletadas. A alevinagem é feita em tanques de 2 mil litros, com recirculação, povoados com densidade de um indivíduo a cada dois litros. O treinamento alimentar se inicia com artemia, que é oferecida por 15 dias. Após esse período é oferecido peixe moído, seguido de ração farelada e extrusada.
A engorda é feita em viveiros escavados rasos, com um pirarucu para cada 10 m2. Os adultos são alimentados com ração extrusada contendo 45% de proteína. Após um ano, quando os animais atingem de 10 a 15 quilos, são abatidos. A conversão alimentar média é de 2:1. No Acre os alevinos são vendidos a R$ 1,00/cm; o peixe fresco de R$ 8,00 a 10,00/kg e o filé (45% de aproveitamento) a R$ 30,00/kg.
O biólogo Hugo Hernam Franco Rojas veio da Colômbia para participar do evento e apresentou os trabalhos que realiza no departamento de Caquetá. Hugo avaliou a densidade e a alimentação no desempenho reprodutivo do pirarucu. Sua pesquisa concluiu que a atividade reprodutiva foi afetada pelo fator densidade e não pelo fator alimentação. Na prática, só foram registradas desovas quando a densidade foi de um reprodutor para cada 400 m2 (ou um casal para cada 800 m2), sem que a alimentação de 1 ou 2% da biomassa tenha interferido nos resultados.
José Celso O. Malta, do Laboratório de Parasitologia de Peixes (LPP) do INPA, apresentou um trabalho extenso realizado em 2007 e 2008, para avaliar o perfil sanitário de juvenis de pirarucu comprados de 10 estabelecimentos de cultivo no Estado do Amazonas. Os peixes foram transportados vivos para o LPP para que fossem necropsiados para a coleta. O cuidado com os resultados levou os pesquisadores a contar todos os parasitos, que foram fixados, conservados e preparados em lâminas para serem identificados. Foram encontrados 13 espécies de parasitas dos filos Platyhelminthes (Monogenoidea, Digenea e Cestoda); Nematoda, Acanthocephala; Arthropoda (Crustacea: Branchiura e Pentastomida) e do reino Protozoa. Ao todo 74.249 metazoários parasitas e 10.160 protozoários foram estimados a partir de raspado da pele.
Outro tema que encantou os presentes foi o do aproveitamento pós-colheita do peixe, apresentado pelo pesquisador do INPA Rogério Souza de Jesus, que levou peles curtidas do pirarucu, já coloridas, que passaram de mão em mão, assim como os artesanatos feitos a partir das escamas. Rogério de Jesus falou também sobre os cortes da carne que em geral são feitos para a comercialização, e o comportamento desses cortes após diferentes períodos de congelamento, mostrando que as características da carne do pirarucu são compatíveis com um bom tempo de prateleira. A comercialização foi abordada por Guilherme Blanke, da Noronha Pescados, empresa que atua no mercado com pirarucus provenientes de áreas de manejo. Os participantes do evento tiveram o prazer de visitar sua empresa, e degustar a carne do pirarucu congelado que comercializa.
Fizeram parte do workshop muitos outros temas, como a resenha das pesquisas realizadas na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), sob a orientação da professora Carminha Soares. O professor Athiê Jorge Guerra Santos, da UFRPE levou ao grupo os resultados de um ensaio de demanda alimentar, e Elba Verônica de Carvalho, também da UFRPE, falou sobre seus estudos com as lectinas. A genética do pirarucu foi o tema apresentado pela pesquisadora da Universidade Federal do Pará (UFPA) Juliana Araripe.
O evento também contou, entre outros, com a presença de João Donato Scorvo, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Carlindo Pinto Filho (Gerente de Aquicultura e Pesca do governo do Estado de Rondônia), Newman Maria Costa, do Sebrae e, Rodrigo Roubach, que falou dos recursos do MPA destinados às pesquisas.
A coordenação do evento ofereceu aos participantes um CD dedicado ao pirarucu, contendo os resumos apresentados em diversos outros eventos científicos, resumos de trabalhos de conclusão de cursos, monografias, dissertações e teses, além de artigos completos publicados em periódicos nacionais e internacionais, matérias publicadas em revistas, incluindo a Panorama da AQÜICULTURA e, alguns capítulos de livros.