Opinião – Edição 11

AQÜICULTURA ’92 UMA LIÇÃO PRÁTICA PARA O BRASIL

Por: Silvio Romero Coelho,
M.S. Gerente de Aqüicultura
Mogiana Alimentos S.A.


O encontro da World Aquaculture Society, realizado em Orlando, Flórida-USA, de 21 a 25 de maio de 1992, foi considerado um dos maiores eventos já realizados no setor e teve 467 trabalhos apresentados. Destes, 74 (cerca de 16%) versaram sobre os aspectos nutricionais e de alimentação para peixes (37 trabalhos), camarões (19) e outros animais aquáticos (12), além de seis trabalhos sobre temas genéricos. A produção mundial de rações para aqüicultura deverá aumentar dos 4,0 milhões de toneladas produzidas em 1988 para 6,6 milhões de toneladas no ano 2000, sendo que esta expansão de 65% é baseada na sua quase totalidade em rações de boa qualidade, com preços de venda entre US$ 0.80 e US$ 1.20 por kg.

Não é esperada uma significativa participação do Brasil nesse crescimento, já que as projeções mais otimistas indicam nosso potencial de mercado como sendo de 12 a 15 mil toneladas anuais de ração. Além disso, é de consenso geral dos aquicultores brasileiros que o preço máximo a ser pago pelos produtos não exceda US$ 0.50/kg. É interessante notar que os produtores das regiões onde ocorre um significativo desenvolvimento da aqüicultura estão conscientes que a avaliação da participação do alimento balanceado na composição dos custos de produção não é simplesmente a questão preço. Constituem aspectos relevantes o manejo alimentar, a qualidade do produto, o impacto que ele causa no ambiente e o retorno do investimento. Um exemplo ca-racterístico nos foi fornecido pelo Dr. Dean Akyiama, diretor técnico da American Soybean Association para Aqüicultura no Sudeste Asiático.

Ele nos informou que hoje é comum encontrar-se nas regiões de Singapura e da Tailândia fazendas de camarão marinho que produzem de 10 a 12 toneladas/hectare/ano, usando rações de alto grau de digestibilidade que apresentam taxas de conversão alimentar não superiores a (1.3:1) e que são adquiridas por preços médios de US$ 1.25/kg, representando 30-35% do custo de produção. Rações de boa qualidade chegam a ter uma relação custo x benefício mais elevada já que utilizam ingredientes nobres com alto valor nutricional e são resultantes de desenvolvimentos tecnológicos modernos, propiciando melhores índices de conversão alimentar e maiores produtividades quando utilizadas corretamente.

Assim, a grande lição que fica para nós brasileiros depois do encontro de Orlando é a de que a atividade de aqüicultura em nosso país, terá maiores chances para iniciar o seu real desenvolvimento, a partir do momento que o conceito de qualidade e não somente o de preço for inteiramente assimilado tanto pelos criadores nacionais como pelos fornecedores de matérias-primas e fabricantes de ração. Esforços isolados neste sentido tem sido observados, mas não estão sendo suficientes para alcançar o objetivo pleno de colocarmos o Brasil em situação de destaque na aqüicultura mundial.