Ostras e Vieiras sofrem alterações fisiológicas de origem desconhecida

Vieira (Nodipecten nodosus) apresentando alterações nos rins

No dia 7 de maio, produtores da Associação dos Maricultores da Baía da Ilha Grande (AMBIG) no Rio de Janeiro, detectaram modificações fisiológicas nos moluscos cultivados. As ostras apresentaram alteração na coloração do líquido intravalvar, que se mostrava esverdeado, enquanto as vieiras apresentavam os rins com um volume maior do que o normal e com a coloração vinho, quando normalmente é marrom claro. Apesar das alterações fisiológicas, não foram registradas mortalidades entre os animais.

Diante do fato, amostras de ostras e vieiras, bem como da água de cultivo foram encaminhadas, já no dia seguinte, ao Laboratório de Fitoplâncton do Departamento de Biologia Marinha da UFRJ. As análises não detectaram presença de algas nocivas ou qualquer outra anormalidade.

Pesquisadores do Laboratório de Toxinas Marinhas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), no dia 14 de maio, coletaram novas amostras da água de cultivo, mexilhões, ostras e vieiras, e iniciaram uma bateria de análises, tendo como suspeita uma possível contaminação bacteriana. Material semelhante foi também levado para a FIOCRUZ. Nessa ocasião, uma checagem em todos os cultivos, constatou que todos os animais apresentavam as mesmas alterações fisiológicas, inclusive as vieiras selvagens coletadas por mergulhadores.

Diante desse quadro de incertezas, os produtores da AMBIG, invocando o princípio da precaução, decidiram, por conta própria, interromper a comercialização dos moluscos cultivados e iniciaram um processo de mobilização, no sentido de buscar novas informações que pudessem colaborar com os pesquisadores das várias universidades que, a essa altura já estavam envolvidos na tentativa de identificação do problema.

Considerando a descoberta de víbrios e Aerobacter sp nas análises realizadas, o presidente do Comitê Nacional de Controle Sanitário de Moluscos Bivalves (CNCMB), Felipe Suplicy, assinou, em primeiro de junho, uma portaria proibindo “a coleta, a colheita e a comercialização de moluscos” para toda a região da Baía da Ilha Grande.

A partir desse momento e, principalmente, depois de divulgadas as análises realizadas pelo Laboratório de Bacteriologia da UFRRJ, muitas informações desconectas começaram a circular. Esse laboratório encontrou quatro espécies de víbrios (Vibrio metschnikovii, V. vulnificus, V. funissii e V. hollisae) totalmente diferentes das outras quatro espécies encontradas pelo laboratório da FIOCRUZ (Vibrio aestuarinuns, V. alginolyticus, V. carchariae e V. costicola). E, em nenhum dos laboratórios foi encontrada a Aerobacter sp. mencionada na portaria do CNCMB para proibir a comercialização.

Foi montado um programa de análises para se conhecer, afinal, o que aconteceu com os moluscos. Apesar da urgência dos resultados, somente no dia 26 de junho, um mês e meio após o início das ocorrências, foram coletados novos animais para a análise.

Ao fecharmos essa edição, na tarde de 9 de julho, fomos informados da assinatura de uma nova portaria do CNCMB revogando a proibição anterior, “considerando que as alterações físicas observadas nos moluscos bivalves de áreas de cultivo na região de Angra dos Reis nos meses de maio e junho de 2007 não estão mais presentes” e “que os resultados de análises microbiológicas da água do mar e da carne de moluscos de cultivo na região do município de Angra dos Reis está dentro dos padrões estabelecidos pela legislação vigente”.

Segundo Felipe Suplicy, “passada a crise, o momento é de estruturar um serviço de monitoramento mais eficiente e organizado, de forma a não ter que lidar no futuro com situações sérias como esta, na base do improviso.”

Infelizmente, porém, todo esse processo causou prejuízos graves, entre eles o da empresa Rio Maricultura (ver edição 95 da Panorama da AQÜICULTURA) que, por ter que ficar todo esse tempo sem comercializar, foi obrigada a demitir a metade de seus funcionários.