Por: Marco A. de C. Mathias *
(*) o autor é biólogo e presta consultoria à produtores de peixes e camarões. Tel: (021) 538-1052; Fax: (021) 537-213
Dia desses, ao chegar para uma visita técnica em uma propriedade de peixes redondos no interior paulista, me deparei com um produtor que insistia em me apontar seus viveiros repetindo “…veja, tenho uma água maravilhosa! Chega a ser cristalina!”. Mas ele não entendia porque seus peixes insistiam em não crescer muito bem.
De fato, para um leigo que está visitando uma criação, é muito bonito observar os lagos com águas límpidas e transparentes, que tanto facilitam a visão dos peixes nadando. No entanto, num cultivo comercial, a transparência da água é um importante indicador da sua qualidade, além de orientar os possíveis manejos à serem adotados para melhorar as condições de cultivo.
Geralmente, a coloração da água e a sua transparência são decorrentes da presença de organismos microscópicos, vegetais ou animais, também conhecidos como plâncton, ou ainda pela presença de partículas em suspensão. Então, se temos uma água muito transparente, na verdade temos uma água bastante pobre de organismos do plâncton, fundamentais pois servem de alimento para a maioria dos peixes cultivados.
No Brasil, a maioria dos cultivos ainda é feita de forma extensiva ou semi-intensiva. Nesses casos a ração não é o fator primordial da alimentação, daí a presença do plancton ser muito importante, pois será a base da alimentação dos animais cultivados.
Quando a água está transparente, pobre em plâncton, além dos problemas relacionados ao pouco crescimento dos peixes, nos deparamos com o crescimento de vegetações indesejáveis (flutuantes, submersas ou emergentes) dentro dos viveiros, favorecido pela penetração mais intensa dos raios solares nas águas mais “cristalinas”. Essas vegetações prejudicam as despescas se prendendo e danificando as redes.
Outra desvantagem da água muito transparente, é a facilidade com que os animais predadores (garças, mergulhões, martim pescador, etc.) atuam, já que visualizam melhor os peixes.
Peixes pedindo comida
O oposto, isto é, águas sem transparência alguma, também é muito comum e bastante prejudicial ao produtor. Já encontrei muitos viveiros com águas completamente turvas, como os de uma piscicultora capixaba, que carinhosamente costumava alimentar seus peixes na beira do lago, julgando-os obedientes, quando na realidade o que queriam era tomar ar fora d’água. É comum ouvir produtores dizerem “veja como meus peixes estão treinados! De manhãzinha chego na beira do viveiro e encontro meus peixes já pedindo comida”.
Quando a água está muito turva, e essa turbidez não é ocasionada por partículas em suspensão, indica que está bastante rica em organismos do plâncton. O que promove o desenvolvimento do plâncton é a adubação química ou biológica da água dos viveiros, que quando atingem uma determinada densidade (quantidade de animais/volume de água) causam uma turbidez, deixando-a menos transparente.
A água excessivamente adubada pode trazer efeitos prejudiciais ao cultivo, pois durante à noite, o plâncton abundante irá consumir demasiadamente o oxigênio da água, podendo causar a mortalidade dos animais que nela vivem. Daí, ser importantíssimo para os criadores de peixes e camarões criar rotinas adequadas de adubação da água, visando sempre uma faixa ideal de transparência, que permita o pleno desenvolvimento dos animais cultivados.
Um procedimento fácil, capaz de ajudar a estabelecer a transparência ideal da água, é afundar o braço no viveiro até que os dedos não possam mais serem vistos e, depois medir esta distância. A faixa ideal de transparência para cultivos de peixes e camarões está entre 30 e 40 cm. Quando a transparência for maior que 40 cm, significa que a água está pobre em plâncton e precisa ser adubada, assim como a renovação da água interrompida. Quando for menor que 30 cm, significa excesso de plâncton, devendo ser interrompida a aduba