Peixe, que nome tem?

Admiro as pessoas que entendem de peixe. Sinto inveja de quem lê no menu “peixe ao molho de alcaparras” e logo pergunta para o maître: que peixe é? Gente que sabe o que esperar de um pargo ou de um namorado. Eu não. Eu não entendo xongas de peixe…

Assim começa um interessante artigo publicado no dia 19 de junho no Jornal da Tarde (e-mail: [email protected]) que revela de forma bem humorada como o pescado ainda está distante do consumidor comum. Raros são os que comem peixe e conhecem, de fato, o que estão ingerindo. Habituados aos tradicionais pratos oferecidos nos restaurantes, como “peixinho frito”, “peixe a escabeche”, “peixe à moda da casa”, “moqueca de peixe”, e tantos outros, o cliente começa agora, com a maior quantidade de pescado oferecido e, principalmente com os já costumeiros sushis e sashimis, a deparar-se com sua total falta de conhecimento com relação ao que está sendo consumido.

…eu vou precisar nascer de novo para saber a diferença entre um congro-rosa e um marlin azul, entre um pintado e um dourado. Eu considero um namorado à belle meunière do mesmo jeito que Ivete Sangalo considera Luciano Huck: como um ex-namorado. Para mim, caiu na rede é peixe. Genericamente, quero dizer. Minto. Com o passar dos anos e mais idas a restaurantes do que o necessário, acabei aprendendo uma coisa ou outra. Quando um peixe cresce e fica mais alto do que a média, ele fica conhecido nos meios pesqueiros como robalo.

Quando achatam um robalo com um martelo de amassar bife, ele passa a ser conhecido como linguado. A um tubarãozinho que ainda não se alimenta de surfistas se dá o nome de cação. Peixes da raça laranja são conhecidos de maneira geral como salmões. Já os atuns, existem de dois tipos: o atum vermelho, que nasce fatiado e é servido cru em restaurantes japoneses e o atum moído, que pode ser cultivado pelo homem em grandes tanques de maionese e é usado na confecção de sanduíches naturais.

O problema com os peixes é que existem muitas marcas e e modelos, e absolutamente nehuma divulgação. Quando você vai ao supermercado e vê, digamos, o sabão em pó Ariel, você já teve a oportunidade de conhecer na televisão o que o fabricante promete, e contra quem ele está competindo.

Com os peixes, no entanto, isso não acontece. Um belo dia você vai a um restaurante e está lá no menu: bacalhau fresco. Como assim, fresco? O que aconteceu com o velho e bom bacalhau salgado? Por que mudaram a fórmula de uma hora para outra? Ninguém mandou sequer uma mala-direta para você explicando do que se trata. Isso que o bacalhau é um peixe famoso. Mas para complicar a vida de nós que não entendemos nada de peixe, ainda existem milhares de peixes de âmbito estritamente regional. Peixes artesanais, de pequena produção e distribuição inexistente. Veja o caso do porquinho, por exemplo. Eu jamais comeria um peixe chamado porquinho, assim como não compraria um presunto com escamas. Mas daí você vai ao Guarujá e todas as barracas vendem “porquinho frito”.

Por que não “peixe frito”? Peixe frito eu compro. Porquinho frito nem pensar, que eu não sou maluco de comer um peixe cujo nome contém colesterol.

Agora inventaram esse tal de saint-pierre. Todo restaurante descolado tem que servir saint-pierre. Quem é saint-pierre? Minha impressão de leigo é que privatizaram a truta e venderam para um grupo estrangeiro (certamente associado a algum fundo de pensão estatal), que trocou o nome da truta para saint-pierre e demitiu todas aquelas amêndoas – que hoje devem engrossar a fila dos que pedem emprego nas fábricas de chocolate. Pensam que me enganam, né? Eu, de minha parte, prometo continuar imune a esses truques mercadológicos. Continuarei a consumir apenas peixes de espécies conhecidas e raças compatíveis com a dieta humana – como os filés, as postas, os escabeches, as moquecas, e sobretudo esses filhotinhos de pele deliciosamente crocante, as iscas à milanesa…