Sair nas páginas do jornal New York Times é quase como ganhar na loteria. É bem verdade que o time de futebol da Bolívia ganhou aquela goleada histórica – 6 x O em Recife, dias após ter ocupado a primeira página do festejado jornal novaiorquino.
Mas uma seleção brasileira também andou acupando bastante o espaço da seção de culinária da edição de 21 de julho do New York Times. Foi a dos nossos peixes amazônicos tambaqui, filhote, pescada, tucunaré entre outros e o destaque da matéria foram os US$ 250 cobrados, por cabeça, para os interessados em saborear pratos desses peixes preparados pelos melhores chefs novaiorquinos. E muita gente pagou.
A festa foi na verdade uma ação da Rainforest Alliance, uma organização não governamental, para arrecadar fundos para suas causas que visam proteger a floresta amazônica através de atividades econômicas na região que não interfiram no seu equilíbrio.
Pratos como Tambaqui ao tempero marroquino com cebolas carameladas, Filhote ao molho de manga e gengibre e Pescada marinada com mamão verde e ervas, levaram todos ao delírio. A piramutaba defumada foi considerada pelos presentes como mais saborosa que o esturjão a que estão acostumados.
De acordo com Leonardo Schwartz, presidente da Rainforest Alliance. a festa serviu não só para o debut dos peixes amazônicos junto aos grandes che[s norte-americanos, mas também para levantar fundos para um programa de cinco anos e US$ 500.000, destinados a proteção da floresta amazônica estimulando atividades que, como a aqüicultura, a torne economicamente produtiva sem devastá-Ia. “Estamos tentando mostrar que o peixe é um importante recurso e que faz mais sentido explorá-Io do que transformar a floresta tropical em pastagens” .
Michael Goulding, membro do projeto e pesquisador da Universidade da Flórida em Gainsville, sustenta apoiado em estudos realizados durante 12 anos no Brasil, que é importante mostrar que a piranha não é o único peixe amazônico, como muitos pensam. É preciso tornar conhecidas muitas das 3.000 espécies que habitam a região. Goulding acha que criando um grande mercado para os peixes amazônicos nos EUA seria possível a implantação da aqüicultura como atividade rentável adequada a região e isso ajudaria a preservar a floresta, criaria empregos para a população local e causaria um impacto muito pequeno, facilmente suportável pelo meio ambiente. E acrescenta: “o desmatamento não destrói somente a terra, destrói também o habitat desses peixes.. “
A matéria do New York Times cita nominalmente onze chefio; presentes à festa e destaca que eles há muitos anos não utilizavam pescados congelados em seus pratos. Aos chefs, explicaram que o congelamento dos peixes amazônicos é fundamental devido ao clima quente da região e as longas distâncias para alcançar os pesqueiros.
Os peixes sairam vitoriosos do teste. A altíssima qualidade d’a carne e o excelente sabor dos peixes amazônicos foi comemorado por todos, diz o jornal, e mais uma vez o tambaqui foi aclamado. A ele se referiram como “”esse peixe alimentado naturalmente com sementes e frutas das árvores das regiões inundadas”.
Mas um alerta é preciso para não levar goleada após sair no New York Times: O mercado internacional, ao que tudo indica, está sendo ampliado e se a aqüicultura não abastecê-Io adequadamente, os estoques naturais desses peixes estarão desde já ameaçados pela inevitável sobrepesca. Vide a seleção boliviana – se preparou… mas não o sufiente.