PESQUISAS EM RANICULTURA

Por: José Mário Franqueira da Silva 
Prof. do Depto. de Zootecnia da
Universidade Federal Fluminense


A farta literatura sobre a avicultura, envolvendo conhecimentos científicos sobre genética, instalações e nutrição, nos leva a concluir que a criação de frangos de corte é a fonte mais econômica de alimento protéico para a humanidade.

Nem sempre foi assim. As primeiras aves tinham um período de reprodução limitado a alguns meses do ano e os 30 ou 40 ovos da postura anual davam origem a descendentes que aos dez meses de vida alcançavam pouco mais de um quilo de peso vivo. Nessa época, a partir de uma fêmea reprodutora era possível obter-se 4,3 kg de proteína por ano. Hoje é bem diferente e já é possível obter-se 47,6 kg de proteína/fêmea reprodutora/ano.

Enquanto os dados e informações científicas sobre a avicultura são bastante amplos na ranicultura não acontece o mesmo. Através de estudos e dados levantados junto aos ranicultores é possível obter-se até 12,48 kg de proteína a partir de uma fêmea reprodutora/ano, o que é um valor quase três vezes maior, em números absolutos, ao que era obtido com a avicultura que deu origem aos frangos recordistas de hoje.

No fascinante mundo da genética e melhoramento animal, os dados de herdabilidade (H2), índice que serve para indicar a capacidade de transferência de determinada qualidade de um reprodutor a seus descendentes, mostram para o fator ganho de peso algo em torno de 0,43 para as aves. O Prof. Claudio Angelo Agostini, da Universidade Federal de Viçosa, estudando rãs nativas mostrou que o H2 para o mesmo fator está próximo a 0,56. Com este resultado pode-se prever uma boa perspectiva para a formação de linhagens de rãs geneticamente melhoradas, tanto ou mais rápido do que ocorreu com as aves.

Independente do que pode ser obtido com os novos conhecimentos da genética, aumentos de rendimentos vêm sendo conseguidos com instalações e equipamentos modernos como as gaiolas do Dr. Dorival Fontanello do IPESCA, de São Paulo, e com o sistema anfigranja do prof. Samuel Lopes Lima, da Univ. Federal de Viçosa, mesmo quando comparados com o primeiro grande marco dos boxes de confinamento preconizados pelo prof. Noé Ribeiro da Silva, da Univ. Fed. de Uberlândia, no verdadeiro início da história da era zootécnica da ranicultura.

No aspecto alimentação os ranicultores vêm conseguindo de forma prática desempenhos regulares com o fornecimento de rações comerciais, apropriadas para trutas, quando as rãs estão no período de pós metamorfose. Sensibilizado com a lacuna que existe nos estudos de nutrição para rãs, no que se refere às exigências nutricionais pós-metamorfose e aos valores nutritivos de ingredientes que possam ser usados em formulações de rações, iniciei, em 1986, uma linha de pesquisa com o abrangente título de “Exigências Nutricionais e Valores Nutritivos de Alimentos para Anfíbios”.

Face à falta de qualquer informação que servisse de ponto de partida para esse trabalho, tornou-se imperioso a determinação prévia de uma metodologia de pesquisa de nutrição de rãs. Através de experimentos sucessivos, venho acumulando informações que serão inseridas na publicação “Sugestões de Metodologias para Pesquisas em Nutrição de Rãs”, que acredito esteja concluída ainda este ano. Essas metodologias prendem-se, primordialmente, a ensaios com consumo voluntário, já que os com consumo forçado parecem ter menos inconvenientes.

A partir da conclusão das metodologias terão início as determinações dos valores nutritivos dos alimentos que dependem de ensaios biológicos, tais como proteína digestível, energia digestível, digestibilidade de aminoácidos e disponibilidade de minerais.

Com o conhecimento dos valores mencionados anteriormente e os de composição química dos alimentos será determinada a ração basal e, daí em diante, os vários ensaios para conhecer as exigências nutricionais das rãs pós-metamorfoseadas, em suas fases do período de engorda.

Até agora os experimentos foram e estão sendo realizados sem qualquer tipo de financiamento, no Ranário experimental de Quintal do Junior, em São José do Rio Preto – RJ. Entretanto, o experimento para o efeito das formas físicas das rações- peletizada e farelada- em andamento está contando com o apoio da Associação de Ranicultores do Rio de Janeiro – ARERJ, que cedeu animais para experimentação e da Rações Anhanguera, com o fornecimento de ração.

Com a pesquisa que estou desenvolvendo, com inovações que vêm contribuindo para o aumento da obtenção de proteína a partir da rã e com agregação de outros estudos e observações práticas, acredito que cada fêmea reprodutora poderá responder diretamente e indiretamente, em menos de uma década, pela oferta de 166,32 kg de proteína/animal/ano, particularmente no Brasil que se encontra na vanguarda da ranicultura.