Piscicultura Ornamental

Por: Philip C. Scott – Biólogo


A piscicultura oferece várias possibilidades de lucratividade, mas é com a criação de peixes ornamentais que o retomo dos investimentos costuma ser maior e mais rápido.

Os ‘peixes de aquário’, como são popularmente conhecidos os peixes ornamentais, são cada vez mais procurados e, por isso, proliferam as lojas especializadas na comercialização desses pequenos animais, que também negociam os múltiplos acessórios – bombas, filtros e vários objetos decorativos. Também nas feiras livres, as vendas crescem.

Embora já estejam identificados mais de 3.000 espécies nativas na América do Sul, uma grande parte é originária da região amazônica. Apesar da proximidade, os exemplares comercializados nas lojas especializadas costumam ser de baixa qualidade e vendidos por preços considerados elevados.

Os principais criatórios naturais estão localizados nos rios amazônicos, onde o sistema predatório de captura é utilizado largamente pelos exportadores, com risco de extinção para as espécies mais visadas. O método mais condenável é o da aspiração dos peixes por moto-bomba, após atraí-los com isca farelada. Os peixes que chegam aos pontos de comercialização, na sua quase totalidade, se apresentam estressados, tem período de sobrevivência bastante curto e, quando chegam a ser exportados, os preços pagos são bastante baixos, quando comparados aos pagos por animais procedentes de outros países.

A procura pelos peixes brasileiros nos mercados da Europa e dos Estados Unidos é bastante grande, apesar de serem depreciados por não serem aclimatados corretamente, receberem doses excessivas de antibióticos a fim de prolongar suas vidas e chegarem aos destinos desnutridos e feridos. As perdas nas exportações brasileiras são estimadas em cerca de 30 % até a chegada aos atacadistas e chegam a 80 % quando os animais chegam às mãos dos compradores finais.

Alguns países já exploram através da piscicultura profissional” e com grande lucratividade, o rico mercado internacional de peixes ornamentais. O México, a Jamaica e mesmo as Ilhas Caiman possuem várias fazendas instaladas objetivando realizar exportações para o mercado norteamericano. O negócio também proporciona ganho em outras áreas, como ocorre com as empresas aéreas da Flórida que faturam anualmente cerca de US$ 500 milhões só com o transporte de peixes produzidos nas fazendas daquele estado dos EUA para outros locais no próprio país. No Brasil, a Lufthansa é provavelmente a empresa aérea de maior experiência no transporte de peixes ornamentais’ para a Europa.

Com um clima predominantemente tropical, o Brasil apresenta condições plenamente favoráveis para tomar-se grande produtor e exportador. A falta de investimentos na atividade decorre, presumivelmente, do pouco ou quase nenhum conhecimento de nossas potencialidades e da escassez de mão-de-obra qualificada para a atividade.

Já em Singapura, onde a piscicultura ornamental é muito desenvolvida, há muitos anos já se cria o neon, peixe amazônico colorido e muito procurado pelos aquaristas, que chega a ser importado por muitos brasileiros.

CRIAÇÃO EM CATIVEIRO

Existe um bom número de peixes ornamentais (Acará- bandeira, Espadas, Molinésias, Pacus, Paulistinha, Cinolébias, etc) que se reproduzem com facilidade no cativeiro.

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Normalmente são criados em tanques escavados em terrenos de baixa penneabilidade. Depois de cheios, são povoados com matrizes stlecionadas. Poucas espécies exigem a indução hormonal para reprodução.

A alimentação é feita com rações baratas e a  suplementação pode constar de farinha de peixe ou de carne. A água habitualmente torna-se rica em plincton, facilitando a produção natural de alimento vivo essencial para que as cores vibrantes dos peixes sejam realçadas. Em intervalos de 60 a 120 dias dependendo da espécie e do manejo, inicia-se a colheita, que pode ser parcial ou total.

Hoje em dia a criação de peixes ornamentais é bem. mais lucrativa do que a criação para abate e consumo. As razões são múltiplas, destacando-se que os peixes de aquário são vendidos por unidade, fazendo com que o preço por quilo se tome dez vezes superior.

Enquanto a colheita de peixes cultivados para o abate demora de seis a 18 meses, tempo necessário para que alcancem cerca de 300 a 1.000 gramas por unidade, as espécies ornamentais podem ser comercializadas com peso variável entre 10 a 30 gramas.

QUANDO O SUCESSO PREJUDICA

A facilidade com que alguns criadores conseguem sucesso na piscicultura ornamental, tem atraído pessoas em busca do lucro fácil e rápido sem o compromisso com a qualidade. Observa-se com frequência criadores sem conhecimentos biológicos suficientes para alcançar a produção em escala. Proliferam piscicultores que aprenderam precariamente algumas técnicas rudimentares, insuficientes para conduzir os cultivos de porte comercial.

Como resultado, o País não tem produção significativa de peixes ornamentais criados em cativeiro, nem peixes  de qualidade, e muito menos uma associação de criadores de peixes ornamentais, capaz de promover o crescimento e profissionalização deste setor promissor. Em contraste, na Flórida – EUA, é possível comprar animais de melhor qualidade dos atacadistas de Tampa por preço inferior ao que é pago aos atacadistas brasileiros.

CRESCIMENTO DO SETOR

O crescimento da piscicultura ornamental está dependendo basicamente da formação de mão-de-obra qualificada e da profissionalização da atividade, além, é claro, da ruptura de alguns pontos de estrangulamento como: a regularização da produção durante o período de inverno; uso correto de profiláticos nos tratamentos pré-embarque; escolha de embalagem apropriada para viagens ao exterior; e critérios mais rígidos quanto à seleção, cor e tamanho dos peixes.

EXPORTAÇÃO

O piscicultor que desejar ingressar no mercado de exportação deve inicialmente primar pela qualidade do produto e, a partir daí, usufruir das seguintes vantagens: recebimento de pagamento corrigido por moeda forte; menor variação na demanda de seu produto por negociar com economias mais estáveis; e valer-se do sistema drawback, que permite importar equipamentos, produtos e matrizes em função do valor das exportações. Não será demais destacar que o sucesso dos negócios com outros países depende do estrito cumprimento dos contratos acertados e de estreitos contatos com o importador.

Para finalizar, a recomendação aos investidores de olho no mercado internacional, é que ganhem experiência na produção por alguns ciclos antes de iniciarem suas exportações.